Escusado será dizer que o acesso ao interior da medida, onde se situava o nosso riad (espécie de hotel de charme e turismo de habitação), estava mais prejudicado, pelo que tivemos de alancar com a bagagem ao longo de meia dúzia de ruas curtas mas animadas. E voltar para completar a transferência. Alguns recorreram à oferta de transporte de carga em carros de mão. Ainda tentámos arrumar as motos numa garagem, mas já não havia pachorra para as recuperar da teia de veículos que, entretanto, se formara à sua volta.
Ficámos alojados num riad, uma espécie de hotel de charme, em que o exterior não prometia nada, mas o interior revelava tudo. Apesar de, inicialmente, não nos terem sido atribuídos os quartos correctos, depois transferiram a bagagem para outros. Nós ficámos num triplex pintado de um verde seco quase terapêutico. Essaouira foi uma surpresa agradável. Uma medina simpática, aberta e coquete, com lojas e galerias de arte, vestuário e artesanato, aliando arquitecturas tradicionais a outras mais recentes. Notável, a profusão de estrelas de seis pontas (e de outros símbolos cristãos, como rosáceas ou pombas estilizadas) nas ombreiras das portas, a denunciar a existência de um mellah, bairro judeu, a provar que a coexistência pacífica entre alegados rivais é possível.A parte marítima está defendida por muralhas de estilo manuelino, construídas pelos portugueses no início do século XVI. Com efeito, a presença portuguesa alarga-se às peças de artilharia e ao pequeno forte existente na ilha de Mogador, em plena entrada da baía.
Um dos detalhes das muralhas da fortaleza portuguesa é a abertura circular na ameia, de onde se entrevêem as da cidade. Perpendicularmente, vislumbra-se outro adarve, também ele pleno de antigos canhões de proveniência espanhola e inglesa. Não vi referências, indicações ou informações respeitantes à história da fortaleza. Aqui não há guias, apenas guardas de viaturas.
Um dos produtos pelos quais Essaouira é conhecida, os trabalhos em madeira executados pelos artesãos marceneiros de Thuya - uma espécie de madeira de cedro - está patente em muitas das bancas da medina. Eram sobretudo as caixas e os tabuleiros, trabalhados quer em madrepérola, madeira de ébano, ou fios de metal prateado, que sobressaiam. Muito requeintado. Mas a criatividade não ficava por aqui.
A Medina estende-se até ao porto de pesca no qual visitámos a pequena lota. Curioso, o facto da maioria dos barcos não ter nomes escritos em árabe. Singular, o caso de todos os barcos terem como cor dominante o azul. Corajosos, mas pouco saudáveis, os mergulhos de miúdos mais audazes para uma infecta espécie de lagoa próxima da doca.
Antes, o périplo levar-nos-ia pelo mercado de 2ª mão – colchões, móveis, tapetes, bicicletas, num bric-a-brac de espólios mais velhos do que antigos - que dominava uma praça na parte mais setentrional da medina. Saímos rápido, evadindo-nos de uma loja de jóias em que os tesouros de Ali-Baba já começam a surgir em catadupa. A tempo.
Os aperitivos que tomámos ante jantar estavam marcados para um restaurante-bar na orla de um dos baluartes das muralhas portuguesas. Enchemos a varanda que se debruçava sobre as ameias e, entre cervejas e chá, combinou-se o local de jantar, por sinal, escolhido ali próximo, numa cooperativa de artesãos.
Música: Al Di Meola - Indigo
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