terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Pedestre em Queluz



Passear em Queluz, a pé, passando por alguns dos sítios mais emblemáticos da antiga vila. Era a proposta para um domingo que devia ter estado (sempre) solarengo. Mas lá fomos, encasacados ou nem tanto. Começamos no parque de estacionamento mais próximo da rotunda dos ‘Arcos Reais’. Já passava das dez da manhã.


Popularmente, o troço do aqueduto que está mais próximo do rio Jamor é conhecido por Arcos Reais. O nome institucional é Aqueduto da Gargantada, uma infraestrutura aquífera setecentista que corre maioritariamente em troços subterrâneos – que também tivemos oportunidade de ver - mas que mostra a sua arcaria a mais de vinte metros de altura quando acompanha e transpõe o Jamor, se estende até ao chafariz de D. Carlos e se esconde na rua Carlos Seixas.


A “nascente” fica no sítio de Gargantada e a caleira da arcaria levava água de Carenque ao Terreiro do Paço. A água não se destinava porém às habitações do percurso, mas sim as cavalariças de D. Pedro II, independentemente de existirem alguns chafarizes mandados construir pelo rei para distribuição de água às populações.



As casas que rodeiam o aqueduto já lá estão há muitos anos. Algumas perspectivas colocam os arcos à frente das janelas dos prédios Os mais próximos serão certamente vítimas da ausência de luz e sol. Mas também tem o privilégio de serem vizinhos daquela obra monumental daquele que seria o futuro D. Joao V.  


Logo após o arranque, passamos a Ponte Pedrinha e metemos a caminho do Mercado. Parámos antes de uma pequena ponte antes envolta num caniçal medonho onde os mais novos ou amedrontados não entravam sozinhos. Ali perto falta um ou outro prédio, vítima sobretudo das inundações de 1967.


Trepamos até à estação de Queluz, hoje irreconhecível face a aquela época em que ainda havia armazém de mercadorias e uma passagem de nível. Descemos pela “rampa da estação”, uma subida tremenda para quem tinha/tem de a trepar todos os dias para ir trabalhar, sede da célebre empresa J. Pimenta.


Continuamos pela rua de D. Maria para fazer uma vista à Marianita. Diz quem sabe que são os melhores pastéis de nata de Portugal. A paragem coincidiu com a primeira bátega de água. Esperamos ainda assim envolvidos pelo aroma do café e dos bolos.


Voltamos aos “Arcos”, passamos o largo da Ponte Pedrinhas e subimos as escadas junto ao aqueduto. Prosseguimos pela Carlos Seixas até que paramos por baixo de um dos arcos do aqueduto. Dali, é possível divisar uma bonita panorâmica do parque urbano de Queluz, vendo-se também em primeiro plano o bairro de Nossa Senhora da Conceição, o chamado Bairro Económico, onde vivi durante mais de 20 anos.


Dali, fomos a caminho da Elias Garcia, uma das artérias viárias urbanas mais extensas de Portugal, mais de cinco quilómetros, desde a Ponte Pedrinha (onde ainda é avenida) - o nosso ponto de partida - até à Estrada de Benfica, às Portas de Benfica.  


Chegamos aso “Quatro Caminhos”, célebre cruzamento queluzense que marcava simbolicamente o centro da cidade. Há anos era mesmo o local mais central de Queluz, onde muita gente combinava encontrar-se. Era o sítio dos cafés, meio caminho entre casa e o liceu, entre a estação e o palácio, onde a rapaziada do liceu se encontrava depois das (e alguns durante as) aulas.


O casario ainda é dessa época. Alguns cafés, porém, desapareceram. O Lena e o Laúrea mantêm-se. O Mina Velha e o Mina Bela há muito que deram lugar a um supermercado e a uma loja de fast food. Mas o sítio continua a fazer parte do património de Queluz e a ser um dos locais mais movimentados da cidade.


Descemos pelo “Parque” e comentamos o facto de o parque infantil dispor de equipamento novo e sofisticado mas de não lá crianças a brincar já lá vai muito tempo. No meu, havia lá areia e baloiços, escorregas e cimento. E tinha crianças. As crianças de Queluz – não devem ser muitas nas casas antigas do centro – ficam apenas com o “Jardim” para brincar.



É nesta avenida, a da República, que se situa a Junta de Freguesia, a Casa de “Os Belenenses” e a farmácia Zeller (no rés do chão de um prédio em ruínas). Esta avenida, historicamente relevante em Queluz, é uma das que mostra mais ruínas. 



Dali fomos até à travessa da Bela Vista, lugar de onde se vê grande parte do Monte Abraão e Queluz Ocidental, o bairro “Económico”, o bairro da “Estação Nova” , o parque da Matinha, e ainda a parte norte dos jardins do palácio de Queluz.


Depois, metemos por uma viela no final da rua Vasco da Gama e desembocamos no largo Mouzinho de Albuquerque junto do chafariz. Subimos um bocado da avenida da República à procura de uma das mais bonitas moradias de Queluz. Foi nessa altura que caiu a segunda carga de água da manhã. Abrigamo-nos debaixo de uma varanda.




Descemos pela paralela a caminho do palácio, passamos em frente do quartel do Regimento de Artilharia 1 e do chalet da família do conde Almeida Araújo e entramos num dos ex-libris de Queluz, o bairro Almeida Araújo, mais conhecido pelo Bairro Chinelo.


O bairro nasceu com o palácio. Foi lá que os trabalhadores que o construíram, e depois quem serviu no palácio, se alojaram inicialmente. São casas baixas outrora de madeira, pedra e cal. Hoje, a maioria das habitações estão recuperadas. Com essa restauração, a pequena e escondida aldeia setecentista de artífices está mais simpática, ganhou cor e alguma diversidade populacional.  

Falhamos a Fonte da Carranca e atravessamos para o palácio já passava do meio-dia. Ainda entramos na recepção mas decidimos deixar a visita para oura oportunidade. Seguimos junto ao muro baixo dos jardins que dão o parque urbano ao longo de um laranjal que envolve o curso do rio Jamor dentro palácio.



Pouco depois, entramos no bairro de Nossa Senhora da Conceição, o tal das Casas Económicas. Passamos pela “praceta” e descemos a rua de Angola tentando recordar ou descobrir quem morava onde. Acabámos onde começamos, com o sol a permitir despedidas e a promessa de novo passeio para breve. Podíamos ter sido mais de vinte, mas a gripe só perdoou quatorze. Com corações rebeldes ou não.

Música: Sérgio Godinho, É tão Bom






























Azulejos em Museu



O azulejo é um material antigo, que tem acompanhado o tempo sem sobressaltos renovando-se parcimoniosamente no quotidiano, recriando-se no ambiente artístico e distinguindo-se na esfera cultural portuguesa. 

O Museu Nacional do Azulejo junta um espólio rico, abrangente e interessante que contempla as diversas fases da azulejaria portuguesa.

Depois de ter sido anexo da Casa Pia e do Museu de Arte Antiga, o Museu do Azulejo acoitou-se nas instalações do antigo Convento da Madre de Deus, um edifício do século XVI fundado pela mulher de D. João II, destinado inicialmente a um pequeno núcleo de freiras franciscanas.



O museu reúne uma colecção permanente, que vai da herança islâmica e chega até à actualidade, distribuída por diversos espaços cujas dimensões e arquitectura se adequam perfeitamente à exposição. Não reparei, porém, em qualquer exemplar do tempo romano.





Mas há muitos exemplares de azulejos hispano-mouriscos, cuja tradição deixou um exagero decorativo mesmo com o alvor do Renascimento e que passou mais tarde para o revestimento exterior dos edifícios e moradias.

Continuando quer pelos corredores quer pelas salas, quer inclusivamente pela sacada que circunda o pátio do edifício, nota-se a influência dos mestres italianos e flamengos, aliás como é habitual na arte dos séculos XVII e XVIII. O azul domina os painéis.

O rococó traz a dimensão cenográfica para o azulejo. Se o Renascimento já havia recuperado a natureza, agora é a vez de se juntar os temas mitológicos, bélicos, religiosos e as cenas do quotidiano aos vastos painéis de azulejos.


Com a segunda metade do século XIX o azulejo sai do interior dos palácios e dos edifícios oficiais e estende-se a muitas fachadas de edifícios.

Lisboa e Porto têm exemplos ímpares do que foi o ressurgimento económico pós invasões francesas e levou a burguesia a ostentar esse incremento no exterior das habitações, depois alargado durante as primeiras décadas do século XX.

É nessa altura de surgem Raúl Lino, Rafael Bordalo ou Jorge Barradas. A cerâmica das Caldas da Rainha é também desta época. 

A arte do azulejo é levada para o estrangeiro através de exposições e feiras, sofisticando-se artisticamente em meados do século com aplicações arquictetónicas abrangentes.

A ARTE SUBMERSA


Nasceu na Suíça, mas vive e cria no Algarve. A Arte Submersa 2014, de Sylvain Bongard - http://www.studiobongard.com - espanta de imediato. Trata-se de escultura cerâmica inspirada no mar. Peixes, redes, plantas e o tema da poluição formam um conjunto luminoso, colorido, brilhante e expressivo, onde também surge a figura humana.
A natureza e os ecossistemas, com os detalhes, as cores, os brilhos e um toque imaginativo e divertido nas formas e nas texturas dos animais marinhos. Não fosse o aspecto patusco, turbulento ou por vezes burlesco das obras, e pareceria que as peças tinham vida. É essa animação tão bem conseguida que surpreende.

A harmonia das cores, a leveza das formas e o fulgor dos traços torna cada peça num objecto especial e único.  Um peixe-balão, um pregado, um cavalo-marinho, ou rostos humanos que parecem ter saído do Circo do Soleil, ou um relógio estilizado, atraem a atenção e maravilham. 

LUGARES ONDE ESTAREI


Cristina Bolborea é uma ceramista romena. Pega em objectos do quotidiano e ‘embrulha-os’ nos seus tecidos cerâmicos. As cores e as formas, ausências de brilho e as harmoniosas linhas que identificam os conteúdos das peças são alguns dos elementos que marcam o exotismo das obras expostas.
Os panos parecem milenares, os “tecidos” tem uma robustez pétrea e a luz do vidro dá vida às peças. Até quando o brilho desaparece as peças resplandecem através das formas, da textura, da leveza, da proximidade ao real.
Muitos tapetes e toalhas, um relógio ou uma manta, reproduzem um olhar exótico da ceramista, por vezes talvez mágico, sobre os objectos reais. Altos e baixos-relevos expostos pela primeira fora da Roménia.  
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CONVENTO DA MADRE DE DEUS


O Convento da Madre de Deus, foi mandado construir em 1509 pela rainha D. Leonor, mulher do Rei D. João II. 

A igreja, porém é de meados do século XVI e a sua decoração é já dos dois séculos seguintes. A talha barroca e rococó e, claro, a azulejaria figurativa, dominam uma pequena igreja.
O claustro é mais recente, neomanuelino, com arcos e coberturas de diferente configuração e altura no piso térreo e no superior. O formato deixa entrar luz suficiente para que se possa apreciar as peças expostas nos corredores. 

No centro do jardim do claustro não obras expostas, apenas uma fonte em mármore ladeada por buxos. Num dos corredores do claustro, à porta da igreja, estão enterradas a primeira madre superior e D. Leonor, a fundadora do mosteiro.
 

Música: Ringppinstons, Tourist in Paradise