segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Jurásico Garve


Vestígios jurásicos na Praia dos Aveiros?
É uma zona de rochas esbeltas, areia dourada, mar e céu azuis, uma vizinhança elegante e simpática. As rochas abraçam-se ao sabor das ondas e a areia recolhe-se ou mostra-se de acordo com a maré. Furnas, baías e cavernas decoram grande parte da arriba rochosa, por onde o mar bate mordaz e sistemático.  

Uma furna na Praia dos Aveiros
Situada entre a Oura e Albufeira, a praia dos Aveiros é um pequeno e simpático areal ladeado por duas formações rochosas em desagregação (como tantas outras no Algarve). Próximo, duas unidades hoteleiras com algumas décadas servem de pano de fundo às falésias. Mais antigos, porém, podem ser os vestígios que estas deixam ver.
Falésia desgastada pelo mar e pelo vento 
Apesar de aparentemente suave, a erosão marítima e eólica tem mudado o cenário das rochas que envolvem aquela pequena praia. Alguns pedregulhos têm caído, em especial durante o Inverno passado, o que levou à colocação de sinalização de perigo (como em tantas outras praias algarvias). Mais, o solo das falésias é deveras irregular.
As falésias em redor da praia têm uma morfologia semelhante 
É habitual ver muita gente, especialmente turistas – não tantos como em anos anteriores, mas mesmo assim ainda bastantes - a percorrer os caminhos estreitos entre as rochas que levam da praia da Oura à praia de Albufeira, ou vice-versa, e a apreciar a diversidade de furnas daquelas falésias.
O recorte da costa repete-se até à praia de Albufeira
Este ano, passou por lá inclusivamente uma visita guiada de um grupo de franceses que se demoraram quer nas passagens mais apertadas quer na observação cuidada do recorte da costa e dos diversos edifícios hoteleiros que preenchem o litoral.
Pequenas praias que ficam à vista apenas na maré baixa
Por vezes, a curiosidade leva a sítios que têm tanto de deleite, como de perigoso, como de interessante. Percorrer as falésias algarvias pode ter esses condões: encontrar uma enseada aprazível, uma furna oculta ou uma depressão na rocha que parece um vestígio de uma garra ou de uma pata animal. 
Muitos dos "buracos" na rocha parecem marcas feitas por pressão
Num dia de Verão, dei por mim a tentar identificar uma forma esbranquiçada, talvez um espaço habitualmente ocupado rapidamente pelo mar na maré cheia, que parecia coberto de sal. Aproximei-me e insisti com o olhar. Pareciam dois dedos grandes de um palmípede e uma espécie de buraco que os antecedia: seriam três dedos, tendo um deles com uma unha forte e gigantesca capaz de “cavar” um buraco na rocha?
Uma pata com dois dedos?
Lembrei-me de que aquela forma podia corresponder a uma pegada de dinossauro… e, embora não seja sequer um curioso da matéria, pareceu-me interessante a semelhança. Em redor, havia mais vestígios. Peguei na máquina e fotografei-os. Voltei no ano seguinte e repeti algumas fotos. Um ano depois, descobri mais meia dúzia de buracos, alguns deles também preenchidos por uma camada salífera.
A mesma, em outra perspectiva.
Um aspecto que chama a atenção é a disposição dos vestígios, como se fosse uma "pista". O trilho parece pertencer a vários animais. A dimensão dos vestígios, por heterogéneos, pode fazer supor tratar-se de animais com diferentes dimensões. O sentido do movimento parece indicar que a manada ia a caminho do mar…
Cada buraco parece corresponder a uma patada ou a uma unha...
Procurei em tipologias de pegadas e de patas de dinossauros encontrar algo semelhante. Não descobri grande coisa. Raras são as imagens parecidas e não há uma única igual. Dos vestígios da Lourinhã, aos da Praia Grande, do Mondego ao Espichel, passando pelos do barlavento algarvio, não há grandes semelhanças com as formas que observei. Ainda li sobre as pegadas de dinossauros no Barlavento algarvio, mas não me pareceu existir algo parecido. São capazes de ser apenas isso: formas, muitas formas.
Marcas profundas...
É notório como são tantas, de tamanhos difentes, na mesma direcção e como os sulcos são fundos. Seria a rocha inicial (sedimentar) vulnerável à pressão de umas toneladas?  Teria sido a dimensão do grupo a contribuir para a notoriedade das marcas? Ou são apenas acidentes geológicos?
Mais marcas...
Imaginação ou não, ficam as imagens e a especulação. Julgo que era muito interessante se se tratasse de uma pista de dinossauros, tanto pela urgência da investigação, tanto pela preservação dos vestígios, tanto pelo contributo para melhor percebermos mais um pedaço da história da Terra. Era giro, era...

A coisa está aqui

...sim era.
Mas, como diria o especialista que teve a paciência de efectuar uma pesquisa aplicada a este caso, há que saber se a "idade das rochas é (ou não) posterior à extinção dos dinossauros que ocorreu há cerca de de 65 milhões de anos (no final do Msozóico)". Sabendo, por  consulta ao mapa geológico daquela zona, "confirma-se que as rochas são do Miocénico, ou seja, muito posteriores à extinção dos dinossauros".
Acabou-se a magia. Mas fica a areia dourada, as formas sugestivas das rochas, um mar calmo e cálido a perder de vista, três condições não jurásicas, mas fantásticas, que o Algarve ainda proporciona. 




quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sintrarte


O que é que junta
um homem voador
a um jogo de flippers
e a traços de lápis de cor projectados numa sede camarária?

Uma ideia,
que tem muito em comum:
a luz, o itinerário, as estéticas. 
Tal como o palácio de Sintra sarapintado
ou as ilusões de óptica num espécie de espelho mágico.
Foi a arte à solta na Sintra romântica.

Com efeito,
o Sintrartes estendeu-se
desde a estação de Sintra,
passou pela Volta do Duche,
foi à zona do Turismo, 
e continuou até às vielas
que vão para a Fonte da Pipa.

 A iniciativa levou milhares de pessoas
ao longo de um percurso urbano, 
cuja paisagem estava polvilhada
com intervenções artísticas de luz e multimédia, 
muitas com propostas de interactividade.

Surpreendente,
quer pela dimensão
 quer pelos efeitos projectados, 
quer ainda pelas plataformas interactivas, 
as obras possuíam autorias nacionais e estrangeiras
e deram uma animação rara às noites de Sintra.
 
Este "Camões voador"
intitulava-se “Grande Volante VIII”
Estava projectado na parede de uma casa particular
junto à estação de Sintra e foi desenhado a partir de sombras
de pequenas peças de chapa recortadas capazes de lhe dar aparentes leveza e movimento.   
Na sede da edilidade
projectavam-se pinturas efectuadas por crianças do concelho,
fazendo coincidir perfeitamente os esboços com a dimensão real do edifício.  
No Museu do Brinquedo,
era uma máquina de flippers que estava projectada
 com som correspondente - aqueles estalidos electrónicos -
e que mostrava imagens de lixo que o mar empurra para as praias.
No palácio da vila
projectava-se o maior cenário virtual
que incluía quer elementos decorativos
quer imagens em movimento de Rui de Carvalho
que narrava o poema “Camões” de Almeida Garrett.
Elementos decorativos com inspiração árabe 
Elementos decorativos com inspiração africana
No fachada do Turismo de Sintra
relevava-se a beleza da luz da Lua, quando o oceano a recebe e espalha.
No interior do edifício
a proposta era verificar que até a sombra
é intemporal e se pode repetir indefinitivamente.
2 minutos de vídeo
(Pode ser visto em ecrã cheio)