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sábado, 10 de dezembro de 2011

CB 750 Tour - Mediterrâneo II [1983]


Saímos num sábado, 13 de Agosto. Percebe-se porquê.
Eram sete da manhã.
Doze horas depois, às sete da tarde,
 estávamos no hostal "El Reloj", em Gualajarara.
Domingo, 28 de Agosto,
regressámos a casa.
Ainda fumávamos.
Entretanto, passaram 28 anos.
Muito tempo se levava até ao estrangeiro.
A chegada das férias estourava a imaginação com destinos mais longínquos e ousados. Já era habitual. O frenesim e o planeamento começavam nos meses anteriores. A preocupação era sobretudo com a logística. E a poupança tinha importância central.

Depois, vinha a preocupação com certas peças e as ferramentas que podiam fazer falta. Mas, também, com a componente burocrática, passaportes e autorizações de saída do veículo. Para o fim, ficava a revisão da moto e a escolha dos equipamentos. O itinerário era delineado com a ajuda de mapas normais e dos célebres mapas detalhados do ACP.

Nesta altura, vestuário e equipamento era ainda um misto entre funcionalidade, segurança e estética, e talvez não por esta ordem de prioridade, nem seguramente com grande grau de rigor. Mesmo assim, considerávamo-nos privilegiados com a possibilidade de, pelo mesmo, dispormos de duas rodas para viajar.
À saída...
Mais mala menos mala, mais saco menos saco, era preciso garantir um espaço mínimo suficiente para condutores e penduras poderem desfrutar de uma viagem agradável. Eu já devia preocupar-me mais do que os restantes com o conforto, uma vez que era o único que dispunha de uma pequena carenagem que envolvia o farol dianteiro e assegurava uma protecção mínima contra a pressão do ar em andamento.

A idade e a vontade, aliada à experiência de viagem que havíamos acumulado de jornadas anteriores nos mesmos itinerários – Jarama, Andorra, Benidorm, Torremolinos – empurrava-nos de novo para a estrada e, desta vez, também não íamos sózinhos.

A ideia era, de novo, “dar uma volta a Espanha” e, de preferência, pela costa mediterrânica, uma espécie de reedição da nossa viagem de 81. Todos dispúnhamos de Hondas 750, modelo CB: uma K2, uma F1 e uma rara F2. Éramos seis, três casais de solteiros, praticamente vizinhos, colegas de liceu e amigos sem grandes queixas.
...sacos à frente e atrás...
Apesar de todos trabalharmos, o dinheiro disponível para o périplo não permitia grandesr desvarios. Daí, o horizonte com despesas de alojamento e alimentação ser relativamente apertado, sobrando pouco, muito pouco para extras.

Aliás, a duração e o destino das viagens dependiam sempre do factor económico e sobretudo financeiro. Por tal, havíamos acordado que a opção campismo seria a melhor hipótese de não ultrapassarmos o orçamento. Isso implicaria que cada moto levasse um "contentor" de bagagem que contemplasse uma tenda de dois lugares, sacos cama, almofadas e colchões em duplicado. 

Isto aliado à roupa para duas pessoas (duas e meia, que as penduras levam mais…) para uma dezena de dias. E também aos apetrechos de higiene, às toalhas de praia e aos habituais vários pares de sapatos (da pendura). Enfim, um puzzle terrível para refazer a seguir a cada acampamento. Daí que, além das malas laterais, também dispusessemos de um saco de topo e ainda um saco de depósito.
... prontos para arrancar.
Era hábito pararmos após percorrermos cem quilómetros, o que coincidia mais ou menos com Montemor-o-Novo. Outras vezes, o ponto de paragem entre Lisboa e a fronteira do caia era Arraiolos. No Caia, a rotina repetia-se: paragem, exibição dos passaportes, controlo de divisas, carimbo no passaporte.

Do lado de Badajoz, o costume era semelhante, substituindo o controlo de divisas pela troca destas e pela subscrição do seguro internacional, o inevitável papelinho cor-de-rosa. A partir daqui, surgia o calor. Porém, o piso melhorava, a via alargava-se e a estrada passava a contar com mais rectas.

Após passar Badajoz, o brilho dourado dos campos voltava a envolver-nos. Depois, era apenas a (pene)planície que se abria à nossa frente, rara de aldeias. E, como era habitual, pouco trânsito, um ou outro camião, um ou outro tractor, a proximidade dos amigos.

A meio caminho entre Badajoz e Madrid levantavam-se os contrafortes da serra de Gredos, um marco habitual nas viagens que tinham a capital espanhola como destino. Quer pela diferença do relevo, quer por ser um local de reabastecimento tradicional, a “serra” – que contemplava uma quantidade razoável de curvas largas, mas sobretudo meia dúzia de ganchos de respeito – ou melhor, a “bomba da serra” era um lugar incontornável de paragem.
PASSAGEM NA "SERRA"

A estrada trepava suavemente alguns quilómetros antes da área de abastecimento, descia e, depois, voltava a subir de forma mais abrupta, para terminar a descer e finalizar com três valentes “ganchos” praticamente à vista da bomba. Um momento excelente de quebra de monotonia ao fim de uma tirada de cerca de duzentos quilómetros.

Almoço na famosa "bomba da serra", local d eparagem habitual a caminho de Madrid.

Almoçámos à beira do Tajo, sob a sombra de árvores portentosas e de um calor terrível. Hoje, para lá chegar há que sair da via rápida para Romamgordo ou Casas de Miravete.

Ainda chegámos a parar em Talavera de la Reina. A entrada em Madrid deu-se ao fim de uma tarde cálida. O acesso  a Guadalajara fazia-se (ainda se faz, também) através de uma via rápida que atravessava a zona industrial leste, uma vai-rápidaa (já) com muito trânsito.

Chegámos ao anoitecer. Procuramos hostal na zona antiga, mas já não dei com aquele onde havíamos ficado anteriormente. Desta vez, optámos pelo “Reloj”, que possuía um pequeno pátio andaluz, sedutor e espaçoso. Estacionámos as motos à porta. Saímos para jantar já de noite.
À porta do hostal "El Reloj".
De manhã, arrumamos a bagagem e tomamos o pequeno-almoço já próximo do acesso à via rápida. Aproveitamos a frescura da manhã naquelas paragens - no planalto árido chega a estar muito frio nesta altura do ano - para cumprir as longas rectas que levariam a Medinaceli, e enfrentar depois os meandros da serra a caminho de Calatayud.

Excluindo estes dois oásis, o quadro viário passava de longas rectas a curvas sucessivas quer em planície quer em zona montanhosa onde uma quantidade de camiões tornava a progressão mais lenta.
Andorra La Vella, estacionamento da loja Campisport.
Almoçamos no início da autoestrada que liga Saragoça a Lérida e segue para Barcelona, o único troço com portagem até ali. A partir de Lérida, regressava a estrada nacional plena de rectas entre campos cultivados no percurso inicial.

Depois, o trânsito aumentava, a estrada tornava-se mais sinuosa e, a partir de Seo de Urgel, surgiam cada vez mais curvas que se estendiam quase até à capital andorrana. A quantidade de motos com que nos cruzamos também aumentava significativamente, sobretudo com destino ao paraíso de artigos motociclísticos que era Andorra.

ANDORRA, UM OÁSIS DE MONTANHA

Os últimos quilómetros que antecediam a fronteira eram deliciosos, não tanto pela qualidade do piso, mas sim pelo encadeado de curvas que acompanha os meandros do rio Valira, enfiado num desfiladeiro de sonho, para depois se espraiar numa albufeira de um verde espantoso, e onde era imprescindível parar.

Camping Valira, Andorra La Vella.
 Dali para a frente, fizemos mais “meia dúzia” de curvas e paramos na fronteira. Olharam-nos sem interesse especial e deixaram-nos seguir de imediato na direcção de Andorra-La-Vella, capital do principado, nesta altura governado em parceria pelo bispo de Urgel e pelo presidente da república francesa. Dez anos depois, em 1993, Andorra tornar-se-ia independente.

Tal como há dois anos, optámos por ficar alojados no parque de campismo Valira, situado na margem esquerda do rio com o mesmo nome, no início de uma encosta que bordeja o sul da cidade. O parque tinha uma vista impressionante quer sobre a cidade quer sobre o penhasco do outro lado do rio, um maciço xistoso que se levanta íngreme durante centenas de metros. 
Uma bota a secar...
A noite foi calma. Jantamos num pequeno restaurante na ponta leste da cidade já em Encamp. Durante a refeição foi preciso cortar o bife a quem tinha pouca experiência de lidar com a quantidade de curvas que antecediam o principado e tenha ficado sem força nos pulsos.
Tabaco a 85 pesetas em Andorra. Provavelmente um pacote inteiro...
A estória do dia seguinte resume-se num loja a loja. Passamos uma quantidade de horas a comparar os preços com os congéneres portugueses. É que, de loja para loja, o preço do mesmo artigo podia ter uma diferença que chegava a mais de 20 por cento. Raro era o artigo com o preço aposto, raro o comerciante de fotografia ou de electrodomésticos que não fosse de origem indiana.
Pequeno-almoço no camping Valira.
Já havia muitos portugueses no comércio, na restauração e nas obras. As grandes marcas japonesas de motos tinham lá representante, assim como a BMW. Além disso, uma quantidade de lojas multimarca vendiam essencialmente equipamentos. Muitas lojas deste género eram espanholas e já possuíam materiais modernos e de qualidade.

Outro lugar mítico destinado a compras era Pas de la Casa, já na fronteira com França. Apesar de ser um pequeno burgo, os equipamentos para motociclistas era habitualmente de marcas francesas. Fomos lá pela manhã, e rapamos um frio tremendo após termos trepado a vintena de ganchos que nos põe a mais de dois mil metros de altitude. Depois, verificamos que os artigos expostos na Andorra 2000, a única loja de motos da urbe, eram mais interessantes do que os da capital, mas também mais caros. 
Em Pas de La Casa.
 Durante a noite choveu, choveu muito. Tanto que, de manhã, verificamos que os  colchões e os sacos-cama estavam molhados. Além das botas e de outro vestuário que havia ficado no chão da tenda. Passámos  amanhã divididos entre o cenário altivo dos Pirenéus e o da roupa a secar em cima das motos. 
Sacos-cama a secar ao vento.

EM FRANÇA POR UMAS HORAS

Quando abandonámos Andorra, voltámos a Escaldes, Soldeu e repetimos os ganchos na direcção de Pas de la Casa. Passamos a fronteira e continuámos a descer os Pirenéus franceses, não sem antes atestarmos os depósitos de gasolina a um preço delicioso, ainda do lado andorrano. 
Paragem para arrefecer discos de travão.
 Já em terrenos mais planos, seguimos para as já nossas conhecidas Prades e Milas, depois de termos feito uma pequena paragem, ainda antes de Mont Louis, para descanso e arrefecimento de um par de discos.
Continuamos para Perpignan com céu limpo e uma temperatura que não deixava de subir desde que havíamos deixado os Pirenéus. O ar estava quente e o sol queimava. Por isso, paravamos frequentemente, aproveitando todas as sombras disponíveis.  
Ainda a arrefecer, noutro ângulo.
Em todas as paragens, havia que hidratar o corpo, arrefecer os motores e sobretudo livrarmo-nos dos blusões durante um bocado. Só quando voltámos a passar os Pirenéus, na zona fronteiriça de La Jonquera, sentimos a temperatura baixar, a par do aparecimento da floresta. 

ÁGUAS MORNAS EM TARRAGONA 

Mais uma paragem, mais uma sombra.
Almoçamos numa área de serviço de auto-estrada - já em território espanhol - aproveitando a frescura de um self-service, à porta do qual estacionamos as motos, de maneira que, à saída, arrancassemos rapidamente. Sem estarmos muito tempo ao sol.
À porta do self-service.
Só voltamos a deixar a auto-estrada a meio da tarde, quando saímos para Tarragona. Paramos no parque de campismo Mont Roig e gostamos do aspecto. Depois, entramos e percebemos que dispunha de muitas sombras e do Mediterrâneo a 20 metros. E ainda que era atravessado por uma via férrea. 
Sombras magníficas no parque de campismo perto de Tarragona.
Montámos as tendas sob as árvores e paramos definitivamente as motos. Jantamos, espreitamos a discoteca e acabamos o dia, por volta da meia-noite, a sentir a água quente da ténue ondulação do Mediterrâneo. A noite passou, assim como um ou outro comboio...
Desmontagem das tendas no Mont Roig.
BENIDORM SOB CHUVA

Saímos cedo. O tempo não estava nem tão soalheiro nem tão limpo como era costume. Não tardou a sermos obrigados a entrar numa área de serviço, para nos protegermos de uma chuvada que parecia iminente. E também para um ou dois privilegiados vestirem os fatos de chuva.  
Ao abrigo da chuva...
Dali a Benidorm era um instante. Chegamos por volta da hora de almoço e paramos próximo da praia, num Burger King, uma novidade para nós naquela altura. Desta vez, queríamos ficar num apartamento que alojasse os seis, perto da praia e das discotecas.
A caminho de Benidorm.
Depois de andarmos pelas agências, conseguimos alugar um, num dos muitos arranha-céus da cidade, com dois quartos e uma sala com sofá-cama. E com uma varanda, onde cabia uma pequena mesa redonda e uma cadeira. Tinha uma vista excelente. A oito andares do chão. 
Ao fundo, a praia entre arranha-céus.
Durante o tempo que passamos em Benidorm o padrão não se alterou: viver entre a hora de almoço e a madrugada seguinte, entre a praia e a discoteca, entre o bar da praia e a discoteca, ou seja, entre a Playa de Levante e o Papillon, entre o bar da Playa de Levante e o Pacha. Foram três dias em que poupamos os almoços. 
Jantar no "Triângulo".
O calor tanto se percebia no ar como na areia. O tempo aqueceu de tal maneira que, num dos dias, choveu, com tal intensidade que, daí a pouco, corriam rios de água, encostas abaixo. Ainda nos sentimos ameaçados, quando verificamos que tínhamos estacionado as motos à porta do prédio, exatamente no sítio por onde a torrente de água passava… 
O rio que passava sob as motos, em Benidorm
Como o horário de abertura das disciotecas estava marcado para depois da meia-noite, até lá, deambulavamos quer pela avenida marginal, quer pela playa de Poniente, uma zona mais moderna e ampla, onde havíamos estado, salvo erro, dois anos antes. Depois, ainda passámos pela marginal, junto à praia, paravamos em frente de um bar com música e esperavamos que a noite começasse. 
Fim de noite no miradouro.
Durante a estada, também poupamos nos capacetes, cuja ausência era tolerada na cidade. Por isso, o pouco que andávamos, fazíamo-lo sem capacete. Era à noite que pegávamos nas motos para ir às discotecas que ficavam na periferia, Circo, Papillon, etc. Para lá chegar, porém, era preciso entrar na estrada nacional. Aqui, o uso de capacete já era obrigatório e, uma noite, a polícia confirmou-o com a respectiva multa. 
No dia de chegada a Benidorm. Fotografado desde o Burger King.
Afogámos as mágoas, já às tantas, com umas cervejas, numa espécie de miradouro – uma plataforma entre prédios – situado na encosta nascente da cidade. Daí, vislumbrava-se quase toda a cidade, mas sobretudo a primeira linha de praia, uma longa marginal polvilhada de prédios altíssimos. Tão tarde nos deitamos, que não conseguimos acordar a tempo de sairmos naquele dia. Ficámos mais um.
Às tantas da noite, no miradouro do Levante.

GRANADA SEM ALHAMBRA

Sabíamos de antemão que a “nacional” tinha muito trânsito. Por isso, optámos pela autoestrada - que posteriormente ligaria a Málaga - nessa altura, já com muitos troços abertos. Saímos da AE em Lorca – onde parámos para esticar as pernas - e seguimos depois pela estrada nacional rumo a Granada. Entrámos no deserto de Tabernas ou de Almeria, sem qualquer noção da distância que nos separava do destino, do espaço seco que iríamos atravessar ou do calor que iríamos sofrer.  
Mais um reabastecimento.
Andámos durante uma quantidade de quilómetros sem avistarmos uma árvore, acompanhados por pedras, montes e calor. Por isso, parámos no primeiro restaurante de estrada que avistámos, ilhéu naquela aridez. Lembro-me que fomos servidos pelo filho deficiente do casal que geria o restaurante.
Em Lorca.
Só voltamos a parar à vista dos arredores de Granada. Tal o calor e a secura, que parecia nunca mais chegarmos. A cidade nunca mais aparecia no horizonte. Quando tal aconteceu, e ao não vermos o Alhambra, pensei que nos tínhamos enganado. A placa com o nome da cidade estava vinte metros mais à frente. 
À vista de Granada.
O parque de campismo ficava próximo da praça de touros e não muito longe do centro. Acampámos paredes-meias com um autocarro de campismo onde se dormia em camadas. Estava tanto calor que, após montarmos a tenda, ao sol, todos mergulhamos na piscina. E "fomos ficando".
No parque de campismo de Granada.
Entretanto, próximo do fim da tarde, lembramo-nos que devíamos aproveitar estar ali para visitar o Alhambra. Pegamos nas motos e trepamos até à colina "vermelha". Devido ao adiantado da hora, já não foi possível visitar qualquer dos lugares. Ficámos à porta do palácio de Carlos V…
À porta de Carlos V.
A noite não nos mostrou grande coisa da cidade. Saímos com a sensação de que havíamos deixado muito (tudo, praticamente) para ver na cidade. Ficou a promessa de lá voltarmos passado pouco tempo. De manhã, saímos de Granada passando junto à praça de Touros.
À saída de Granada.

SILHUETAS DE TORREMOLINOS

Saímos pela "nacional" na direcção de Antequera,onde fizemos uma pequena paragem. Daí, flectimos para sul, passámos por Málaga e paramos em Torremolinos. Optámos por ficar em quartos de aluguer. Salvoeero, era o quarto ano consecutivo que por ali ficavamos…
Paragem perto de Antequera.
De tarde, reconhecemos os sítios habituais: praia do Barrondillo - a mais próxima e extensa - bem como a Vaca Sentada e a Gamba Alegre - os restaurantes mais populares do centro. A noite foi pelo bar Inglês - lugar de encontro de alguns portugueses - e pela discoteca Piper’s - a mais central de Torremolinos.
Em Mijas, junto a um burro-táxi.
No dia seguinte, pegamos nas motos e trepamos a Mijas (diz-se "Mirras"), um lugar na falésia entre Fuengirola e Benalmadema, com pequenas casas de um branco miraculoso, conhecida pelos seus típicos burros-táxi. Do alto, estende-se o olhar para o mar e domina-se uma extensa faixa litoral da Costa do Sol.
Paisagem desde o miradouro de Mijas.
Continuamos até Puerto Banus, poucos quilómetros a seguir a Marbella, lugar que já conhecíamos. Continuava simpática, a pequena marina andaluza, mas com preços de restauração elevados. Bebemos um café e regressamos a Torremolinos.
Um capricho a dois
A meio da tarde, apreciamos o talento de um artista que fazia silhuetas, isto é, apaixonamo-nos por nós, e os "retratos" levaram-nos o dinheiro que restava para emergências...  
"Retratos" por mil pesetas. Foram dois...
Por ali, naquela altura, era fácil ser seduzido. Pouco antes, havia sido a estrada costeira que acompanha o Mediterâneo a fazê-lo. Apesar de haver muito trânsito, fazer aquele percurso de moto - uma espécie de marginal Cascais-Lisboa, mas com o dobro dos quilómetros - continuava a ser excelente. Ainda hoje, fora da época de Verão, é um passeio muito agradável.   
Em Puerto Banus, próximo de Marbella.

SOB O CALOR DO COSTUME

A etapa seguinte levarnos-ia a casa. Optámos por sair via Málaga, seguir por Sevilha e apontar a Zafra. Estrada fora, voltamos a andar sob o calor habitual da Andaluzia que, no Verão, também empresta à paisagem um tom afogueado. Também nós saíriamos dali torrados, não fossem algumas sombras proporcionadas pelas paragens para reabastecer.

Mais um reabastecimento, mais uma sombra.
 Desta vez, não havíamos estabelecido qualquer paragem especial durante a ultima etapa. Por isso, cumprimos apenas os rituais de reabastecimento e as paragens a que os cóccix obrigavam, mesmo que para tal tivessemos de parar à beira da estrada. A última fotografia em Espanha é disso testemunha.
Paragem à beira da estrada, entre Zafra e Badajoz.
Por volta de Sevilha, deixámos uma das motos a caminho do Algarve. Foi já no Alentejo que tiramos a última fotografia da viagem. Estava preste a terminar mais um périplo pela Península, em que havíamos percorrido cerca de 3300 quilómetros, neste Verão de 1983.

Última fotografia da viagem, já em Portugal.
Segundo os registos daquele livrinho insuspeito, o nosso ipad dos anos 80:
- O seguro na fronteira espanhola, para Espanha, custou 250 pesetas;
- Ficamos no hostal em Guadalajara por 1320 pesetas;
- A portagem em Lérida foi às 220 pesetas;
- O seguro para França/Andorra custou 160 francos;
- Na discoteca Pacha, uma cerveja e uma Coca Cola, ficaram por 275 pesetas;
- A multa, em Benidorm, custou 1600 pesetas.






terça-feira, 9 de novembro de 2010

Espanha Árabe

Se pudesse escolher uma imagem que ilustrasse o tema da Espanha Árabe teria sido uma da Mesquita de Córdoba, um dos monumentos que representa o legado arquitectónico árabe em Espanha. Outra do Alhambra, das Alcabazas de Málaga ou Sevilha, também seriam elucidativas dessa riqueza estética. Porém, a opção recaiu num enlace entre essa excelência, o gótico e o barroco, representados na torre da Catedral de Sevilha.  
A ideia deste périplo era ir ao encontro sobretudo da arte que os árabes deixaram em Espanha. São três séculos em que o Al Andaluz recriou a arte visigótica, contribuiu para a invenção do mudéjar, produziu o nazari e deixou muitos elementos arquitectónicos de uma beleza incomparável.
Mapa do passeio á Espanha Árabe
Embora utilizasse materiais pobres, o efeito decorativo que obteve foi de uma opulência ímpar. Facilmente reconhecidos, o arco de ferradura (de origem visigótica) e o arco lobolado, são os mais característicos da arte árabe em Espanha.
Exemplos desta arte tão fascinante são a mesquita de Córdoba, o palácio de Medina-Azahara, e a imponente Alhambra de Granada. Falhámos o primeiro, o segundo não estava planeado, mas dominamos o terceiro.

Previsto

A proposta fechou-se com a visita a uma mesquita, um alcazar e duas alcazabas. Faríamos paragens de descanso e visita em Jaen (castelo), em Nerja (miradouro) e, perto de Marbelha, na marina de Jose Banus. Não cumprimos tudo, mas pareceu-me que ficámos com uma noção abrangente do que pretendíamos.
Fugimos em tempo oportuno do temporal. De Lisboa, diziam-nos que a manhã de tempestade já criara problema na "Baixa". No Caia, porém, sentimos especialmente frio, mas não chovia. Aliás, o céu mostrava-se auspicioso a caminho de Espanha. No entanto, como era costume dizer-se, "de Espanha nem bom vento, nem bom casamento". Desta vez, porém, seria apenas o vento.
Proveitámos estar perto e fomos visitar o Ricardo. É português, mecânico de motos, possui uma oficina em Badajoz e teve uma história de vida agreste. Trabalhou com o Armando Borges e o destino levou-o a Espanha onde, agora, vive dividido entre a família e a mecânica das motos. Há anos que não nos víamos. Um salutar encontro.

Chegámos por vagas ao restaurante, em Zafra, onde havíamos combinado reunirmos todo o grupo. A maioria já tinha chegado ao Ramirez. Depois apareceram os restantes. Serviram rapidamente, mas a comida não convenceu. Mesmo assim, demorámomo-nos e saímos mais tarde do que o previsto. Passámos pelo Parador – um castelo apalaçado do século XV – e perdemos um bocado de tempo para abastecer.
Serviço rápido nem sempre é sinónimo de boa cozinha
Como não há viagem sem um desencontro, o Quim e o Arlindo lá foram andando, tendo sido os primeiros a chegar a Córdoba. Para lá, as planícies estremenhas mostraram-se frescas, ventosas, monótonas, mas com bom piso, curvas largas e pouco trânsito.
Choveu, mas nada de especial. Parámos antes de Córdoba para acordar com um café e entrámos na cidade próximo da zona industrial para, depois, nos abeirarmos do Guadalquivir que serpenteia pelo burgo.


Aquele habitual caos saudável 
O acesso ao hotel – e também à Mesquita – estava vedado devido a obras. Esse facto obrigou-nos a passar para a outra margem, o que nos deu a possibilidade de poder observar de longe a parte histórica ao longe.

À volta da Mesquita

O hotel ficava exactamente no limite dessa zona histórica. Arrumámos as motos na garagem subterrânea – exceptuando a de Málaga, todas as garagens eram subterrâneas – e tivemos conhecimento pela primeira vez de que seria difícil visitar a Mesquita.
Saímos a pé. Estávamos a cerca de 800 metros do monumento. Apanhámos uma das muitas ruas apenas destinada a peões, cada vez mais frequentes nos centros históricos das localidades espanholas, e fomos até ao turismo, situado numa praça simpática também exclusiva para peões.
Aí, advertiram-nos de que a visita à Mesquita não tinha vagas… até 5 de Novembro! No email, haviam dito apenas que não reservavam. Mesmo com visitas nocturnas, não havia hipótese de visitar o ex-libris de Córdoba. Ficaríamos pelo exterior, vedado que estava o acesso ao interior da mesquita.
Jantar em camisa, num pátio, em Córdoba, no final de Outubro
Sem essa condição, demos prioridade ao jantar. Fomos para a judiaria. Encontrámos um restaurante com pátio andaluz e jantámos sob um tecto de tecido que o cobria. O “rabo de boi” foi um sucesso.
Depois, partimos a caminho da Mesquita. Chuviscou e ninguém quis arriscar uma gripe. Nós aventurámo-nos nessa tempestade de segundos. Ficámo-nos pelas paredes exteriores da mesquita ao longo da dezena de portas em estilo árabe que dão acesso ao interior.
A dois passos, fica a ponte romana dominada a norte por uma porta e a sul por uma torre. A primeira, a Porta do Poente, estava em obras. Perto, um museu junta memórias das culturas muçulmana, cristã e judaica. A segunda, a Torre de Calahorra, do outro lado da ponte, destinava-se a proteger a entrada na cidadela.
Depois, arremetemos para as muralhas que ficam perto do Alcazar. Fomos desde a porta de Sevilha até à de Almodóvar e perdemo-nos por ali. A Julieta conseguiu reconhecer o local por onde entrámos – a avenida do parque – e conseguimos recuperar o trajecto até ao hotel.

Do cimo de Jaen

Na manhã seguinte, saímos perto das 9 da manhã. Estava enevoado a prometer chuva. Esta tombou pouco antes de Jaen mas sem convicção. Não tinha sido aquele itinerário que havia delineado, mas pareceu-me que seria mais interessante do que optar pela autovia.

Por isso, rodámos pela “nacional” entre colinas e mais colinas. Tantas, que ao fim de uma quantidade de quilómetros a indicação de Jaen ainda não aparecia. Saímos para um desvio para verificar o mapa. Foi a polícia que nos confirmou estarmos no bom caminho. 
Perto de Baena foi preciso confirmar o caminho
O frio manteve-nos atentos e a convidar a um café. Fomos tomá-lo ao castelo de Santa Catalina. Este domina toda a cidade que parece um tapete de telhados aos pés do cerro.

 Na verdade, são 3 castelos, de épocas diferentes, que se juntam através da parte ocupada pelo Parador. As origens remontam ao período de ocupação árabe, mas também foi abrigo de uma guarnição de soldados franceses de Napoleão.  
O bar do Parador de Jaen
A leste do cerro, onde as muralhas são mais elevadas, é onde se reconhece quer a sua antiguidade quer vestígios da ocupação oitocentista. É a parte visitável e de onde é possível vislumbrar com um olhar panorâmico toda a cidade. Fiquei a saber que o castelo está a 820 metros no topo de um penhasco do mesmo nome.  
Jaen aos pés do castelo de Santa Catalina
Na parte do Parador é onde os salões mais impressionam pela dimensão, os objectos de decoração surpreendem, os materiais deslumbram e o requinte deste tipo de hospedagem melhor se nota. O tecto do salão feito com os habituais pequenos tijolos árabes é excelente. Também notável, o preço do café igual ao da área de serviço de Montemor.

Alhambra imprescindível

Descemos o cerro, metemos gasolina e apanhámos a via rápida que leva a Granada. Foi rápido. Dai a pouco estávamos no periférico que circunda grande parte da cidade. Esperava-nos uma valente fila de trânsito, aparentemente devido a obras numa das avenidas principais. Fomos entrando com alguma dificuldade e quase todos chegámos ao hotel pelo mesmo sentido.
Depois, foram duas ou três rampas para estacionar as motos em três exíguos lugares para carros numa garagem sob o hotel, onde conseguimos arrumar as 9 motos. Pagámos 17 euros por cada uma, o estacionamento mais caro da jornada, mas apenas ocupámos 3 lugares de carros. Alguém disse que devíamos ter estacionado cada moto num lugar de carro.
Duas horas à mesa num bar a romper pelas costuras
Não tardou em darmos três passos e abancarmos no primeiro bar. Uma tapa puxou outra e só nos levantamos quase ao fim de duas horas, tão demorada estava a cozinha. Foi a refeição mais demorada da joprnada, mas também a mais barata, já que a ficámos a dever aos três resistentes que aguentaram ainda mais_não_sei quanto tempo à espera da conta.
Daí a pouco, um representante do operador espanhol aparecia para nos informar sobre a visita ao Alhambra. Como ameaçava chover, apanhámos 3 táxis e lá fomos. Subimos por entre ruas estreitas onde os lugares de estacionamento são exclusivos de quem tem garagem. Mas ainda não eram as vielas do bairro Albaicín.
Entrámos no Alhambra pelos jardins/hortas, avançámos para os vestígios da zona residencial e chegámos ao palácio mandado construir por Carlos V. Este é uma jóia de arquitectura que foi buscar inspiração aos clássicos gregos e romanos, a contrastar com o envolvimento de estética árabe que o envolve. Dizia-se que era um palácio para a eternidade. Para lá caminha.

No pátio do Palácio de Carlos V
Apesar da cor já não ser notória ou estar ausente, quer os “arabescos” (o habitual baixo-relevo com inscrições corânicas), quer os arcos polilobados, lanceolados ou em ferradura (os mais frequentes na arquitectura árabe) dominam o espaço edificado. Só raramente se notam alguns azuis, dourados ou vermelhos, Julgamos que podemos imaginar o que seria a coloração de todas a aquelas superfícies, mas acho que nos enganamos.
Nos tectos, ainda se notam pequenos espaços pintados de azul
A paisagem que se abarca das janelas cai sobretudo sobre os bairros alcantilados. Para sul, é o cenário da serra Nevada que domina. Embora não o tenhamos visto, o pôr-do-sol costuma ser arrebatador. Mas, para o observar, é preciso trepar às muralhas junto da zona militar. De preferência no Verão.

No pátio das recepções, onde a ilusão dominava
Tivemos o privilégio de contar com uma guia que falava português do Brasil e nos evidenciou alguns dos detalhes mais interessantes do complexo. Acompanhou-nos depois ao longo das muralhas. Mesmo assim, não acedemos nem à zona militar nem aos jardins do Generalife que ficavam mais afastados da entrada.     
Pátio dos Leões, mas cujos felinos, após recuperação da pedra (ainda) estão expostos na sala contígua 
Depois percorremos a orla do bairro Albaicín, numa rua que o separa do monte e das muralhas do Alhambra. Foi lá que bebemos um aperitivo, antes de descermos à zona histórica, num bar que passava flamenco num televisor. Ali perto, era grande a profusão de lojas com objectos decorativos "made in Morocco". 

A catedral estava aberta, a aguardar por um casamento. Porém, foi a animação das ruas que surpreendeu. Estávamos a chegar ao Halloween e a movida jovem já invocava os deuses primitivos aos berros calles acima e abaixo.
Vista sobre o bairro Albaicín desde as janelas do Alhambra
Jantámos no “Centro de Granada”, um restaurante situado numa simpática praça da zona antiga da cidade, que parecia ter sido assaltada por pequenos pássaros que chilreavam no topo das árvores. Estava fresco, mas não chovia. Depois de um passeio pelo centro histórico, ainda sobraram pernas para alcançarmos o rio e acabarmos a caminhada entre pontes.

Ao sol no Balcon de Europa

Esperávamos que a Serra Nevada nos gelasse, uma vez que íamos rodar no sopé ao abrigo do sol que, naquela manhã, não apareceu. Depois, esperar-nos-ia a vertente mediterrânica da serra, com uma altitude significativa. No entanto, o frio não foi além do razoável, mesmo que tenhamos estado a dois passos de cumes nevados.

Parece Verão em Nerja
O que surgiu bravo foi o vento, sobretudo nos muitos viadutos que atravessámos a caminho de Motril. Abrandou, assim que atravessámos aquela localidade costeira, mas regressou mal tomámos a via rápida para Nerja. Disseram-me que a Pan estava a fazer um ângulo de 45º com o asfalto, um autêntico veleiro.
No Balcon de Europa com a típica paisagem mediterrânica
Deixámos as motos num parque de estacionamento próximo da zona de circulação pedestre que leva ao “Balcon de Europa”. Trata-se de um promontório mandado fazer pelo rei Afonso XII, que lá tem uma estátua em bronze. O sítio é desafogado e permite vislumbrar muitos quilómetros de costa, pequenas praias e o cenário alvo das casas penduradas nas escarpas.
Nerja
Na Alcazaba de Málaga

Regressámos à estrada da ventania. Só na zona urbana de Málaga o vento nos deixou. Rodámos sempre perto uns dos outros e, quando chegámos juntos ao hotel Bahia de Málaga, a porta da garagem já se abria devagar.

Almoçámos ali perto e, como habitualmente, saímos a pé para a zona histórica por volta das 4 da tarde. Parámos a meio percurso para assistir ao streep tease de uma palmeira provocado pelo vento e a um convívio musical de imigrantes de leste.  
Uma das simpáticas pequenas praças na zona histórica
Optámos por subir à Alcazaba, ao longo das duas plataformas / jardins que levam aos aposentos do sultão, onde dominam os pátios, a água e sobretudo uma excelente varanda que serve de miradouro. Desta vez, uma dançarina e um músico animavam o que presumo ter sido uma imitação pequena do Pátio dos Leões do Alhambra.   
À entrada da Alcazaba, em Málaga
À saída da Alcazaba apareceu um autocarro do tipo "city tour". Foi impulsivo. Corremos para lá como se fosse o último comboio do dia. A volta vale a pena: percorre vários bairros, passa pelo porto e pela praça de touros, trepa ao castelo. Mesmo com a cara gelada da brisa ao anoitecer, e os ouvidos arranhados pelo som embrulhado dos auscultadores chineses, ficámos a conhecer a cidade de alto a baixo. 
Ver Málaga desde o sótão do autocarro
Tal como os anteriores "cascos viejos", também este possui várias ruas exclusivas para peões. A partir daqui percebemos que, tal como os de Córdoba ou de Granada, também neste centro histórico a zona edificada havia sido criteriosa e praticamente toda recuperada: as pedras limpas, as paredes pintadas, os estores substituídos, as estátuas limpas, o piso melhorado. Semelhante a alguns centros históricos nacionais, protegidos por milagre. 
A única torre acabada da Catedral de Málaga
Entrámos para um aperitivo no Puerta Oscura, um bar decorado à antiga, onde fomos pondo em dia as novidades do périplo e antecipando o dia seguinte. Voltámos às ruas sem trânsito do centro histórico onde a animação do Halloween estava em crescendo.
Espanha mantém o gosto pela estatuária
Desta vez, o jantar foi num primeiro andar, num restaurante decorado com o tema do cinema e acompanhado ao piano por uma estranha personagem. Segundo me confidenciou um dos empregados, quando eu observava uma primitiva máquina de filmar, o restaurante pertence a Antonio Banderas. Não era difícil adivinhar: os preços estavam de acordo com os cachets do actor.
Os espanhóis levam o Halloween a sério. Até os pianistas...
Espanha Árabe 1 - De Zafra a Ronda
Música: Yanni, Aria

Em busca de El Chorro

De manhã, o dono do hotel aconselhou-nos a alterar o roteiro. Estava previsto irmos beber um café a Puerto Banus, logo a seguir a Marbelha. Depois, "subiríamos" para Ronda, pela estrada que trepa a montanha. Disse-nos que estaria muito vento, muito trânsito e contaríamos com muitas motos a descer de Ronda, o que podia ser perigoso. O melhor seria optar pela região de Ardales e El Chorro em plena Rede Patrimonial de Guadalteba. A estrada não teria tanto trânsito e a paisagem seria fabulosa. Era tentador.
Dizia, a lápis: "Ardales, embalses, El Chorro"
Rabiscou algumas indicações num mapa tirado da net e pegou na GS 1200. Depois, deixou-nos na saída de Málaga, sem perceber que o nosso grupo se havia dividido entre os que queriam cumprir o percurso e os que acabariam por ir à descoberta. Daí a pouco, estavam 4 motos - 2 ST's e 2 STX's - a caminho do parque natural e seis STX's rumo à zona costeira. Seis a quatro, ganhavam os "solteiros". 
Ardales
Aliás, desde cedo se organizaram 2 grupos: o dos "casados" e o dos "solteiros". Se bem que no almoço do primeiro dia tenha sido conjunto, só em Málaga voltámos a almoçar juntos. As refeições estavam programadas em regime livre, o que nos dava toda a liberdade de escolha gastronómica.
Pizarra: o que se vê desde a falésia
Acabamos por verificar que a sugestão viária, mas sobretudo a paisagística, havia sido excelente, mas também por saber que não tinha havido vento na estrada costeira e o trânsito não iria além do habitual. Além disso, o tempo estava bom junto ao Mediterrâneo. Um falso alarme, à espanhola.  
António Carvalho em Pizarra
A sugestão apontava El Chorro como local a visitar. Não demos com ele. Em vez disso, embrenhámo-nos na montanha a caminho de Bobastro, a cidade de Omar Ibn Hafsún, um povoado muralhado dos séculos IX-X, onde ainda são visíveis as ruínas de uma basílica. Os vestígios ficam na alta montanha e é preciso trepar em terra até lá. Não estávamos apresentáveis para tanto.
Estava frio no cimo de Pizarra 
Por isso, fomos mais para a frente, até a estrada terminar junto de uma casa situada logo após uma represa. Ladrava um cão, não havia café e estava um frio de rachar. Mas a paisagem era soberba desde aquele píncaro, um misto de Picos de Europa e Pirenéus. Estávamos num sítio que o "google" identifica como Pizarra, que deve ter como tradução algo semelhante a "gelo"... 
A zona de Pizarra, já próxima do fim do mundo...
   Na Ponte Nova de Ronda


Voltámos para trás e fomos até Ardales beber café. Daí para a frente, a estrada estreitou, ma o piso não se alterou. Deste lado, também nos cruzámos com bastantes motos. Suponho que Ronda seja um destino privilegiado de motociclistas, quer pela beleza do sítio, quer pela estrada plena de curvas que lá chega, quer desde Marbelha, quer desde Ardales. Foi lá que há anos vi duas motos com matrícula japonesa.

Nas tapas, em Ronda
Como não é possível estacionar nas proximidades da ponte, arrumámos a motos num parque exclusivo para as duas rodas, mas que já estava praticamente cheiro. Daí a pouco, chegavam 3 ingleses com trails e mais um espanhol com uma chooper. Algumas motos ficaram numa rua sem trânsito. De lá ao centro foi um ápice. Há sempre lugar para uma moto. Neste caso, para meia dúzia.
Um pequeno palácio na falésia de Ronda
Quem gosta de contrastes, gosta de Ronda. A ponte é o seu ex-libris, um monumento de pedra do século XVIII que liga a parte antiga, a sul, à parte nova, a norte. Andámos de um lado para o outro, atraídos pelo precipício a fotografar o declive, os pombos, o declive, as casas "colgadas", o declive, o fio de água que corre no fundo, o declive, os pequenos palacetes, gente a trepar a fraga. Arrebatador, aquele declive, medonho o precipício!
A famosa Ponte Nova de Ronda
Aos pés da cidade, para poente, um vale esverdeado de vegetação baixa mostra o quão alto estão os dois penedos. Pouco depois, volta-se a notar as silhuetas de outros montes. Para leste, a montanha reaparece ali próximo quase como muralha que separa Ronda do Mediterrâneo. Parece cercado o burgo, mas nem por isso está isolado.

O pequeno ponto vermelho é um escalador,
dos muitos que trepam a falésia próximo da ponte

O centro de Sevilha está deslumbrante

À medida que nos aproximamos de Sevilha a campina volta a dominar, a envolver a estrada nacional, de bom piso e pouco trânsito. Foi assim que entrámos na capital andaluza e, em pouco tempo, chegámos ao hotel Dom Paco.
No topo do hotel a espreitar o cocuruto de Sevilha
Liguei ao outro grupo, mas não consegui estabelecer contacto. Mensagens também não saiam. Entretanto subimos ao telhado onde talvez se pudesse garantir melhor rede, mas a comunicação não melhorou. No entanto, descobrimos uma piscina e um cenário que mostrava os telhados de Sevilha, aquela hora a exporem-se em silhueta.
Telhados de Sevilha
Deixámos o hotel a pé ainda com a luz do dia a iluminar o bom tempo. Estávamos a cerca de mil metros da catedral que percorremos ao longo das ruas estreitas que levam até ao centro histórico. Entrámos na maior catedral de Espanha, mas apenas tivemos acesso a meia dúzia de metros quadrados no interior.
O fim do dia projectado no campanário
Fora, já tinha sido notório a qualidade da recuperação urbana que os bairros típicos que circundam a zona histórica apresentavam. Quer as ruas, quer os prédios, pareciam novos, com as cores fortes a sobressair num céu azul de bonança.
A maior parte do centro histórico foi alvo de substituição do pavimento. Este está agora sem desníveis. Sobre carris, passa uma espécie de metro de superfície pelo meio do trânsito pedestre. As fachadas dos prédios estão irrepreensivelmente limpas.  
Pátio do hotel Afonso XIII
Aproveitámos para entrar no hotel Afonso XIII, uma jóia de arquitectura, construído no final dos anos vinte do século passado, que espelha bem o traço cuidado da herança árabe da Andaluzia. À entrada, as cinco estrelas estavam acompanhadas pelas letras “G” e “L” (iniciais de Grande Luxo) dizem muito do que se pode encontrar no interior.
Catedral de Sevilha, a maior de Espanha
Depois, voltámos à rua no intuito de procurar um restaurante para jantar. A escolha caiu sobre o Dom Raimundo, um espaço que mais parece uma loja de antiguidades, e que alia um bric-a-brac de objectos a um menu bastante diversificado. Aqui, a garrafa que escolhemos inicialmente para acompanhar a refeição também pareceu fazer parte mais da lista de antiguidades do que da carta de vinhos.

Dom Raimundo, entre a restauração e a antiguidade
De manhã estava fresco mas ensolarado. Deixámos Sevilha em bandos. Uns sairiam mais cedo a dois, outros mais tarde sozinhos, outros ainda mais tarde mas em grupo. Nós acompanhámos os primeiros quilómetros destes últimos até perto de Las Pajanosas. Abastecemos pouco depois e só voltamos a fazê-lo em Badajoz. Comemos qualquer coisa na área de Serviço de Montemor e a meio da tarde estávamos de regresso a casa. Nós e os restantes. 13 à partida, 13 à chegada. 
O grupo dos "solteiros" deixa Sevilha
Nota: As fotos anteriores a Ronda foram cedidas pelos participantes, já que um dos cartões SD onde fotografei e filmei não quis devolver as imagens

Espanha Árabe 2 - Sevilha
Música: Yanni, Deliverance