terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Casa de Macau. Mais Oriente


Toda a gente já ouviu falar de Macau. Talvez menos da Casa de Macau. Naus e descobridores partiram daqui perto. Faz-se a pé até Belém ou até ao Terreiro da Paço. Agora, estão por lá muitos testemunhos desse encontro e, talvez mais importante, pedaços da cultura que se descobriu e muito nos influenciou. Macau foi um ponto/porto referencial para Portugal e para o mundo.


A rua da Junqueira, sítio que atraiu a nobreza e a grande burguesia especialmente durante o século XIX, está “pejada” de palácios. O dos Marqueses da Ribeira, o palácio Burnay, o palácio das Águias, o palácio de Lázaro Leitão. O Centro Científico e Cultural de Macau, Casa de Macau simplificando, está alojada no antigo Palácio Burnay.

Já foi arrecadação e palheiro, enquanto esteve sob administração militar, mas passou para a Quinta Burnay no século XIX. Também já foi Vila de Santo António, como regista um azulejo numa das paredes que dá para o jardim, espaço habitacional dedicado aos operários da Companhia dos Eléctricos.


Por ali, também esteve alojada a Cruz Vermelha e a Legião Portuguesa, durante as duas Grandes Guerras, tendo ainda recebido o IARN após o 25 de Abril. Depois, o edifício degradou-se significativamente, até ser recuperado e remodelado para utilização da Casa de Macau.

O edifício dispõe de cinco pisos, onde se distribuem, o Museu, o Auditório, a Cafetaria, a Sala Polivalente e gabinetes de trabalho. O pátio de entrada, com jardim de estilo oriental, com, além de espécies vegetais autóctones e com uma fonte e um pequeno lago, num ambiente muito agradável.


Trata-se do único Museu histórico-cultural sobre Macau fora da República Popular da China. Contempla também um um laboratório de investigação histórica e cultural sobre a história das relações luso-chinesas e a história de Macau.

A colecção permanente é testemunha do encontro de Portugal (e da Europa) com a China. Por outro lado, salienta a importância milenar herança da civilização chinesa. São estas as duas facetas principais dos conteúdos do museu.


Ao nível das peças, o museu também possuiu um acervo bipartido. Por um lado, um conjunto de objectos que caracterizam as formas de espiritualidade chinesa, e outro que identifica Macau como centro de difusão histórico do cristianismo na Ásia.

Par além das peças ligadas ao budismo, confusionismo e taoismo, também o cristianismo está presente através dos diversos testemunhos dos missionários jesuítas que, inclusivamente, criaram o Colégio de S. Paulo, a primeira universidade europeia na Ásia.


A língua, mas ainda mais importante a (tipo)grafia, nasce em Macau, por mão dos missionários. A primeira biblioteca europeia de livros chineses tem origem em Macau, com obras filosofia, religião, história, botânica e geografia. A difusão do cristianismo tem como objecto carismático e raro uma arca altar portátil de madeira.

Outro dos acervos mais importantes do museu passa pela colecção de arte chinesa, doação de um coleccionador, António Sapage. Esta colecção reúne terracotas, bronzes, grés e muitas porcelanas. Mostra também a importância de Macau como difusor da arte chinesa na Europa.


O museu encerra cerca de quatro mil objectos. Só a colecção de arte chinesa possui desde as já mencionadas cerâmicas, até objectos de ópio, passando também pintura, mobiliário, têxteis, documentos gráficos, numismática e ourivesaria.

Uma das peças mais interessantes da exposição é uma maqueta de uma nau. O corte longitudinal da nau permite identificar, além do que era transportado, onde era transportado e o tipo de distribuição de produtos, com os mais pesados e numerosos – as barricas – em baixo e os mais leves em cima.


Consegue perceber-se também, através da distribuição entre espaço para pessoas – uma quinta parte - e o espaço para carga – quatro quintos - a quantidade e a importância das transacções. Apenas os consumíveis viajavam em cima, perto das pessoas.

Depois, surgem as cerâmicas, muitas do século XVII: pagodes, personagens, divindades – do sol e da lua -, objectos (incensório, candelabro, cimalha) – e até uma garrafa, mandada fazer, no século XVI, por um rico mercador de Freixo de Espada à Cinta, Jorge Alvrz.


A arca-altar, feita em madeira, couro e pregaria, é um peça exemplar. Além de púlpito e altar, guardava todos os objectos litúrgicos destinados à manutenção do culto a abordo e, posteriormente, à função de evangelização em terra, sobretudo em regime nómada.


Não há muitos objectos originários da combinação técnica e/ou produção conjunta luso-asiática. Em exposição há uma peça portuguesa, malaia e singalesa, um mosquete dos séculos XVI/XVII, em bronze e madeira, que testemunha essa manufactura conjunta.


Passando à arte chinesa, é possível desfrutar de um variedade enorme de objectos. De salientar, os cachimbos de ópio em cobre, tartaruga e marfim, e as lamparinas de ópio, em cobre, vidro e esmalte, bem como um leque “Mandarim” do século XIX, em papel, marfim e seda.


De destacar ainda, no capítulo da cerâmica e dos esmaltes, as figuras de duas personagens – a patrona das donas de casa (e única mulher do grupo dos imortais) e o patrono dos jardineiros – objectos da dinastia Qing, ícones do panteão taoista e budista chinês.


Outra pela excelente é um prato de porcelana decorado com esmalte, possuindo o escudo português e a inscrição “Palácio do Governo de Macau”. Há, ainda, adereços em marfim e prata dourada, e também moedas de metal do início do século III.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Vieira da Silva. Exposição Emersiva




Toda a gente conhece Vieira da Silva, a pintora casada com o também pintor Arpad Szenes, cujas composições abstractas são mundialmente reconhecidas, inspiradas na configuração das grandes cidades estilizadas em traços suaves, geometrias coloridas e sublimes.

Ver 35 das suas obras celebradas num experiência emersiva de arte digital e multimédia é raro. Sobretudo quando tal acontece fora dos circuitos tradicionais das galerias e dos museus. A exposição aconteceu na Praça Central do Centro Comercial Colombo, conciliada com novas perspectivas visuais e auditivas.

Do ponto de vista das artes visuais, os responsáveis foram Oskar & Gaspar, especialistas em mapeamento de vídeo, projecção 3D e design de palco. A componente musical esteve a cargo de Rodrigo Leão, a arquitectura foi concebida pela KWY.studio e a selecção das obras feita pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.

Também para assinalar os 25 anos da abertura ao público do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, a exposição aposta em animações, efeitos emersivos, ilusões de óptica, técnicas estéticas e lúdicas habitualmente utilizadas em eventos de grande dimensão.

Música: Sirius Beat, Anti Hero