domingo, 30 de junho de 2013

Destinos Românticos III - Marbeha

JUNTO À COSTA

Deixámos Torremolinos pela marginal que leva a Benalmadema. O trajecto tem muitas 'bossas' de desaceleração, semáforos e algumas rotundas. Com pouco trânsito, torna-se agradável uma vez que o percurso permite estar praticamente sempre com o olhar no cenário mediterrânico. De tal maneira, que fomos aproveitando alguns lugares mais aprazíveis para insistir sobre o paisagem, ora parando à sombra, ora rodando lentamente ao ritmo daquelas ondas diminutas.
Chegámos a Marbelha ainda sob uma bela temperatura. Já perto do hostal, em plena rua, ouviu o barulho característico de um pneu a calcar algo. Não liguei. A verdade é que quando chegámos a casa reparei que o pneu estava cortado. Terá sido um objecto cortante no chão ou fruto da ira tacanha de algum vizinho?

MERGULHO NO MEDITERRÂNEO


O fim da tarde tentava e a água seduzia. O sol já começava a amarelar as fachadas e a própria areia. Já havíamos agendado perceber qual era a temperatura do Mediterrâneo. Já que estávamos ali, fomos mesmo dar um mergulho.
Apesar de a água ser relativamente choca, não haver ondas e sermos obrigados a pisar dois ou três metros de calhaus antes de mergulhar, a temperatura da água estava magnífica. Ficámos preparados para voltar à “happy hour” e desfrutar de outra noite mediterrânica amena e tranquila.

NOITE NO "CASCO ANTIGUO"

Vadiamos pelas praças, andámos próximo das muralhas do castelo, voltamos às ruas estreitas, floridas e concorridas. Parámos para fotografar, para olhar para as ementas, para "ver quem estava", descobrir novidades ou simplesmente moinar.
Voltámos à Plaza de Los Naranjos e à Casa del Corregidor, o edifício do século XVI que a domina. Passámos pela parede de vasos da Rua Carmen, próximo do castelo, e percorremos mais uma quantidade de vielas, algumas em estreia. Ficámos satisfeitos.

REGRESSO A CASA


Saímos cerca das nove da manhã. Desta feita, optámos por seguir até Algeciras e apanhar a via rápida até Jerez de la Frontera, depois a auto-estrada para Sevilha. No regresso, África não se vislumbrava e Gibraltar via-se mal. Aliás, notava-se uma mancha brumosa a meio do estreito, a tal que há de trazer D. Sebastião. Andámos devagar. Sobretudo até Estepona, repetem-se rotundas e a A7 anda sempre entre urbanizações, divisando-se de vez em quando, uma ou outra praia.
Em linha recta, estávamos a cerca de quatrocentos e sessenta quilómetros de casa. Mas, no regresso, percorremos mais de setecentos. Um pouco mais de quatrocentos até Olhão, trajecto que incluiu uma fila dolorosa na via rápida (também em obras) desde Sevilha até Matalascanas – sevilhanos ávidos de praia – sob um ardente sol andaluz. Só a partir da ponte internacional sobre o Guadiana começámos a sentir uma brisa algarvia ligeiramente mais fresca.

ALMOÇO EM OLHÃO

Antes de almoço, voltámos a aquecer atrás de um funeral nas estreitas ruas de Olhão. Fomos lá de propósito. No Livramento, um restaurante junto ao parque e à ria, cozinham bem, desta vez, uma muqueca e uma açorda de marisco. Andámos a fazer a digestão ao longo do cais e descobrimos uma nova marina.
O vento acompanhou-nos desde a serra algarvia, mas não estava tão bera como na Páscoa do ano passado quando regressávamos de Marrocos. Parámos mais duas vezes e por volta da "happy hour" estávamos em casa.

SÍTIOS QUE DEIXÁMOS PARA A PRÓXIMA

Mijas, indiscutivelmente. É um lugar mágico, no cimo da serra do mesmo nome. Tem “burros-taxi”, uma praça de touros de bolso, um pequeno museu de miniaturas (ou serão micro-miniaturas ) e uma paisagem notável.
Puerto Banús também nos fará ir à procura do tal glamour que não descobrimos em Marbelha, talvez através do Golden Walk, o percurso através das moradias de luxo que levam lá desde Marbelha.
Outro sítio que ficou por ver foi o das termas romanas do Rio Verde, um dos melhores sítios de azulejaria romana da Península.
Mais acima, fica a Torre de Istan, outra paisagem de suster a respiração, que fica no cume dos montes que encimam San Pedro de Alcantára.
E, acabadinho de actualizar, também é preciso ir ao "Pescador", um restaurante low cost junto ao porto de pesca, na entrada leste de Marbelha. Só me disseram assim que cheguei... 

ALGUNS MITOS LÁ DO SÍTIO

A areia não é dourada como repetem os folhetos turísticos. O mar praticamente não tem sal. Não há ondas, a água parece choca e a entrada na água faz-se sobre calhaus (felizmente) rolados...
Nas ruas, não há “famosos” nem gente com “ultimos modelos”, embora se veja muita gente chique. Não se descobre um sheik árabe, nem um Rolls branco descapotável, nem uma Bimota. Diz-se que estão todos em redor de Puerto Banús...
Aqui também há hostais a preços acessíveis. Janta-se no Clube Náutico com custos ligeiramente acima da média, mas também é possível tomar uma refeição suficiente por metade do preço num dos bares da marginal..

Destinos Românticos II - Marbeha


CURVAS DE RONDA

Acabámos na parte nova da cidade, numa rua comercial exclusiva a peões. Era quase meio-dia, hora limite para deixar o hotel. Fui buscar a moto ao parque subterrâneo, subi a rampa, peguei a Julieta e partimos para as “curvas” de Ronda.

Voltamos à “nacional”. Continua a existir pouco trânsito, mas cruzamo-nos com algumas motos que sobem a caminho de Ronda. Passados os quilómetros iniciais, os olhos ainda vão para a paisagem verde do planalto de Campillos e dos montes que circundam Ronda. Está fresco, bem melhor do que lá em “baixo”, em Ronda, onde já aquecia quando a deixámos.

Depois, a estrada enrola-se na fronteira do parque natural da Sierra de la Neves, ziguezagueando entre pedregulhos que escondem uma riqueza geológica relevante plena de falésias, poços, grutas, abismos e sumidouros.

A partir de sensivelmente metade do trajecto, da paisagem sistemática de encostas passa-se a vislumbrar o azul do Mediterrâneo, ao fundo, a dominar todo o horizonte. A descer, o trajecto é mais exigente, algumas curvas são fechadas e o precipício está lá para segurar os entusiasmos.

Antes de chegar a San Pedro de Alcántara, os últimos quilómetros mostram onde estão muitos dos investimentos imobiliários dos últimos anos, tantas são as urbanizações destinadas ao turismo. Muitas estavam vazias. Toda aquela encosta parece um Cargaleiro mas em versão acimentada.

Chega-se perto do mar e a melhor opção é tomar a A7, uma via rápida que liga a Costa do Sol pela planície costeira e só em Fuengirola trepa a montanha, para a descer depois após Torremolinos. Marbelha está perto, hoje logo a seguir a Puerto Banús.

Por ali, - e recordando a última vez que lá estive de moto - uma das primeiras sensações que surge é a de que há mais trânsito, mais casas, mais gente. Com efeito, mais de vinte anos modificaram bastante um espaço. Nessa altura, ainda havia muitos baldios entre Marbelha e Puerto Banús.

Música: Blake Aaron, Bumpin' on the West Side
Ver neste formato


MARBELHA POR DENTRO

Se bem que em Ronda tínhamos optado por reservar um quarto no hotel Maestranza, no dia anterior, em Marbelha não tivemos grandes opções. Meia hora antes de partirmos na quarta-feira, ainda andávamos perdidos entre os poucos disponíveis quatro-estrelas de centena e meia de euros e os esgotadíssimos três estrelas. Optámos, à antiga, por um hostal na zona inicial de Marbelha, por quarenta euros com moto à porta.
Se existisse um prémio para a rua mais florida do burgo, a do Hostal Pilarica ganhava destacada. Só na zona histórica há ruas semelhantes, mas com outro envolvimento, outras lojas, outras habitações, habitualmente mais sofisticadas.
É nessa zona, sobretudo nas ruas sem trânsito automóvel que o ambiente é mais cativante. Por um lado, todas as ruas têm lojas, o que lhes dá uma estética variada e um ambiente feérico. Por outro, é aí que se concentram os monumentos mais representativos da urbe.

O “CASCO ANTIGUO”

Marbelha teve ocupação pré-histórica mas, a mais marcante, foi a presença árabe ainda bem visível na configuração das ruas e no castelo na zona histórica. A urbe organiza-se em vários espaços relativamente homogéneos. Os mais salientes são a zona histórica / “casco antíguo”  – que percorremos demoradamente e onde dormimos -, e a beira-mar - onde passeámos e demos um mergulho.
A primeira mantém um padrão estético que preserva a arquitectura das aldeias mediterrânicas, com ruas estreitas, praças pequenas com fontes e estátuas, casas baixas imaculadamente brancas, com janelas floridas e coberturas com telhas de barro. A zona do “paseo marítimo” é semelhante à de diversas localidades turísticas da orla mediterrânica espanhola. O longo passeio que se estende por cerca de meia dúzia de quilómetros, é marginado por edifícios de apartamentos, cujos pisos térreos albergam restaurantes, bares e lojas comerciais.
Já a zona antiga, também um espaço simpático e acolhedor, tem como característica ruas estreitas e casas brancas ou de cores fortes decoradas com flores. Mesmo assim, para o número de pessoas que por ali deambulam, é possível andar à vontade. Tentámos repetir alguns sítios que visitamos há anos, mas também alargar o perímetro do passeio a toda a zona.
Enquanto estivemos em Marbelha nunca precisámos de nos deslocar de moto. As duas zonas percorrem-se a pé sem dificuldade, percursos facilitados quer pelo perfil praticamente plano, quer por não haver trânsito automóvel, quer pelo piso fácil. Talvez por isso tenhamos feito, no primeiro dia, cerca de meia dúzia de quilómetros com as pernas, sem queixas, mantendo a tradição de não haver portugueses a rezar por estas paragens...


Na zona histórica são as ruas e alguns edifícios que surpreendem. É raro deparar com ruas tão floridas, com tantos vasos e com tantas superfícies (incluindo as paredes) preenchidas com flores. Além da faceta decorativa, o ambiente  respira uma frescura que contrasta com temperaturas acima da tabela…

“PASEO MARITIMO”

È igual a tantos outros, extenso, simpático, desafogado. O azul do mar contrasta com o beije das fachadas altas e a areia compete com a calçada. A oferta de restaurantes e bares multiplica-se quer do lado da praia quer (mais) do lado dos prédios. É agradável percorrer o passeio da marginal devagar, aproveitando sobretudo o pôr-do-sol que, ali, deixa uma tonalidade alaranjada na areia e um anilado na superfície tranquila do mar. Nesse passeio, há espaços que se dinamizam e as pessoas param para ver um desempenho, ou para aproveitar uma “happy hour” com caipirinhas a metade do preço. 
Juntámos ambas, sentados praticamente na entrada da marina, distraídos com as bolas de sabão que também faziam as delícias das crianças. A marina não é grande, aliás como a maior parte das marinas construídas entre Málaga e Estepona. Destina-se sobretudo a barcos pequenos, embora disponha de um cais para iates de passageiros. Dispõe de meia-dúzia de restaurantes-bares com ambientes diferentes, simples e tranquilos e preços não muito elevados.
Jantámos uma ‘paella’ excelente no Clube Marítimo praticamente pelo mesmo preço do arroz negro no dia anterior num restaurante do “casco antíguo”. Apesar do ambiente fresco, da vista tentadora e do serviço simpático, apenas tinha clientes no vasto terraço que o circundava.
Nesse dia, o por do sol excedeu-se. O fim do dia acinzentou o céu e o mar, ao mesmo tempo que alaranjou as copas dos chapéus de colmo e da areia da praia. Isto, sem vento e sem arrefecimento do ar. Afinal, sempre há algum luxo por ali.

AO LONGO DO MEDITERRÂNEO



No segundo dia, optámos por andar um bocado ao longo da zona costeira, ver como estava a velha Torremolinos, mas sobretudo aproveitar a paisagem fresca da orla mediterrânica. Se para lá fomos de blusão, ali andámos longamente sem eles, especialmente a meio da tarde quando se multiplicaram semáforos e rotundas em Fuengirola.
Um dos lugares mais emblemáticos da zona costeira, praticamente plana, ficava num monte onde, há quase três décadas, avistámos uma silhueta de um castelo, subimos o morro em terra batida, de moto, e deparámos com uma ruína, mas de onde se tinha uma paisagem notável sobre a zona.

CASTELO DE SOHAIL

Hoje, o castelo de Sohail está reconstruído, tem em redor um parque e uma pequena marina. Junto à água, está agora uma praia cuidada, com os equipamentos habituais e uma urbanização turística recente. Tão fresca que ainda tinha arruamentos em obras que terminavam numa pequena rotunda, local que não estava pensado para camiões poderem circular. Por isso é que o branquinho da foto deitou abaixo barreiras e primeiro que conseguisse estacionar, até foi preciso tirar a moto do caminho…
A partir de Fuengirola, a A7 trepa a serra de Mijas. Da via-rápida não se percebe que o Mediterrâneo fica no meio de duas Terras, Europa e África. O lado de lá mal se vê, sobretudo quando a neblina lambe o mar espelhado. Por isso, fomos descobrindo aquilo que os espanhóis multiplicaram encosta acima: urbanizações.

CHIRINGUITOS 2013

Descemos a Torremolinos por uma questão de memória. Há quase trinta anos que não íamos à praia do Bajondillo – lê-se Barrondilho – onde, salvo erro no mesmo ano mas em ocasiões diferentes, a Julieta dormiu dentro de um mini e eu participei num jogo de futebol “Marrocos – Resto do Mundo” em redor de uma piscina…
A praia continua escura e extensa, de fraca rebentação mas com corrente e terá porventura mais restaurantes em plena areia. Almoçámos num deles, curiosos com a maneira de assar o peixe. Já tínhamos reparado que em Marbelha o sistema era o mesmo. Em vez de assentarem a grelha do peixe sobre as brasas, colocam-na ao alto e o carvão ao lado a favor do vento, tudo sobre uma espécie de "chatas" (pequenos barcos) cheios de areia.
Enquanto esperávamos por umas sardinhas assadas, confirmávamos que também esta praia estava muito mais cuidada do que as nossas. Os toldos em colmo, a limpeza, as passagens de madeira, duches e lava-pés, e restantes equipamentos são recentes e completos. Mais, há várias zonas da praia que dispõem de palmeiras e relva, óptimas para quem precise de sombra e não goste daquela areia escurecida. Tudo muito certinho, embora me pareça feioso o morro que alguns dos vizinhos das traseiras vêm quando vão à janela....
Sentámo-nos no último restaurante, antes do morro que separa a praia do Bajondillo da de La Carihuela. Quando as sardinhas chegaram, verificámos que eram petingas no espeto, assadas segundo a técnica vertical. Estavam boas, tal como o polvo à galega e os restantes acepipes tradicionais espanhóis para “picar”. Todos os restaurantes junto à praia exibiam a denominação ”chiringuito”, que significa isso mesmo, restaurantes de praia…
Passeámos depois pelo centro de Torremolinos. Tentámos encontrar alguns lugares típicos de há anos, mas como era de esperar, o famoso 'Bar Inglês' perto da Nogalera, já não existe, a 'Vaca Sentada' e o 'Pipers' também já lá não estão. A zona central, outrora com uma rede de pequenas ruas, dispõe agora de espaços mais amplos mas descaracterizados.

Música:Katsuji Amazaki, Blue Ocean



Destinos Românticos I - Ronda



Não chega a seiscentos quilómetros. Um pouco antes entra-se em Ronda, depois de cumprir a via rápida e a “nacional” que vai de Sevilha e passa nas curvas de Grazalema e Setenil. Jornada com pouco trânsito - até mesmo na ponte do V Centenário na capital andaluza - bom piso, boa sinalização, curvas abertas, uma temperatura excelente. 

Saímos por volta das três da tarde e chegámos perto das nove da noite. Durante essas seis horas, fizemos uma paragem na área de serviço de Loulé e outra antes de Sevilha. Depois andámos mais devagar na “nacional”, precisamente porque vamos de vale em vale, primeiro entre colinas, depois já à vista de alguns picos valentes. Vamos, por isso, sendo testemunhas de uma paisagem que sobe e desce serenamente, vai circundando tranquilamente os montes, rompe através de um misto de solo dourado e de encostas verdejantes. O suficiente para estes "viajeros romanticos". 

RONDA BY NIGHT


Às dez, já estávamos a jantar o tradicional rabo de boi rondano no hotel Dom Xavier. Às onze, já andávamos na zona histórica. Começámos pelo Parador e pela famosa ponte Nova sob o rio Guadalevin, que liga a cidade velha, a sul, à cidade nova, a norte. Daí a pouco, caminhávamos entusiasmados com a tipicidade das portas dos edifícios mais antigos e com a profusão de brasões nas fachadas das casas senhoriais.

Depois da Ponte Nova, o ex-libris da cidade - que também já aderiu ao fenómeno dos cadeados - prosseguimos para o museu Lara - o do operador de câmara na varanda - metemos pelas vielas da zona antiga e desembocamos na praça da Câmara, o único lugar onde ainda havia pessoas na esplanada.
Ruas calmas, iluminadas, embora numa espécie de calçada irregular, pareciam desertas, um ambiente óptimo para a descoberta das fachadas amareladas pela luz, de alguns pátios interiores escondidos, sem um papel no chão. 
Foi por aí que descobrirmos as primeiras torres de estilo mudejar. Andava pouca gente na rua. A noite estava fresca, mesmo para uma terra andaluza. Os mais de setecentos metros de altitude do lugar também sugerem que se vista uma camisola à noite.

Música: Mary e Juan, Mistery
Ver neste formato

CASTELO DE RONDA

No dia seguinte, tínhamos a ideia de descer o desfiladeiro em passeio pedestre e passar por baixo da ponte. É coisa para demorar três quartos de hora, a descer. Deixámos para a próxima. Em substituição – já não sei se o medieval nos persegue, se o contrário - voltámos à zona antiga e seguimos até ao castelo, depois de voltarmos a atravessar à zona histórica.
Uma das maneiras de observar de fora as muralhas é fazer um pedestre pela encosta, entre o odor do mato seco e o sibilar das lagartixas, pedra abaixo cova acima. O caminho leva ao longo da muralha situada a sul, mas também desemboca nas termas romanas.

No fim da picada, surge a ponte romana, um lugar de onde é possível vislumbrar a zona antiga, a ponte árabe e a ponte Nova, além do respectivo desfiladeiro. Quer por um lado quer pelo outro, é possível trepar ao longo do desfiladeiro. São caminhos exigentes mas têm um charme marcante. É uma das partes românticas do trajecto.

Música: Vincent Burnay, Spanish Samba
Ver neste formato

DESFILADEIRO E PONTES
Trepámos pelo lado novo. Por ali acima é possível contemplar o Palácio de Mondragón e o Palácio do Marquês de Salvatierra. Mais visível, também por estar em obras há já muito tempo, está a casa do Rei Mouro e o seu excelente jardim em socalcos.
Lá em baixo, muito abaixo, está o rio. Até lá é a falésia, as pontes e os vestígios coevos que dominam. Mas a vista, sempre atraída para a vertigem do declive consegue, ainda assim, fixar-se no ex-libris da Ponte Nova.

Música: Mary e Juan, Fantasy
Ver neste formato

Casa de Santa Marta, Cascais

A casa de Santa Marta está situada num local idílico. Tem um farol por protector e o mar por horizonte. Assiste em lugar privilegiado ao nascer do dia e vê diariamente o pôr-do-sol reflectido na entrada do Tejo. Está num sítio fascinante. Foi morada da filha de um aristocrata e depois do colecionador de arte José Lino. Foi o irmão deste, o arquitecto Raul Lino, que a ampliou e lhe deu a configuração que tem hoje, uma casa extensa que acompanha um pequeno braço de mar que termina na actual biblioteca Castro Guimarães.
Data do início do século XX. Há quem lhe chame palácio O’Neil, nome do primeiro proprietário, ligado à indústria do tabaco, que também mandou construir a Torre de São Sebastião, situada a dois passos, hoje museu Condes de Castro Guimarães.
A Casa de Santa Marta albergou algumas personalidades históricas, já como propriedade da família Espírito Santo, mas é o seu conjunto arquitectónico e artístico que seduz, consequência de, além de Raul Lino ter sido um arquitecto de renome, o irmão, José Lino, ter sido um notável colecionador.
Foi este último que preencheu as paredes interiores da casa com um conjunto admirável e diversificado de azulejos figurativos e de padrão, quer em painéis, quer individualizados – que preenchem a cozinha, as salas e as escadas - e os madeiras pintadas a óleo nos tectos de toda a casa.
Uma das dependências possuiu um pequeno altar. É aqui que os painéis de azulejo decoraram grande parte da parede com o seu “peso” barroco. O tecto desta sala e da seguinte, mais ampla e com um “pé direito” mais elevado, são formidáveis quer como obra quer como património.
A ideia que fica é que a configuração da casa acompanha o pequeno braço de mar que vai até à praia do museu Castro Guimarães. Por tal, parece construída por dependências que se estendem ao longo da falésia, numa sucessão que permite ter sempre uma boa proximidade à paisagem e à água.
Surpreendente é também a luz que a casa parece absorver. Apesar de não serem grandes, as muitas janelas viradas a leste deixam entrar a luz do sol e o reflexo deste no mar ilumina admiravelmente o interior. Talvez também o facto do espaço interior ter pouco mobiliário pareça inundá-lo de luz.

O espaço exterior é inspirador. Além de se abrir para o cenário oceânico ali a dois passos, complementado pelo farol de Santa Marta a sul e pela marina de Cascais a leste, os terraços solarengos convidam a estar e a desfrutar do sol e da luz que os inundam.
A vista é gratuita. De manhã, é capaz de ser o melhor período do dia para a vista, quando a luz do sol invade a casa. Tal como nesta ocasião, é frequente haver pequenas exposições de arte. Desta feita, eram pinturas e esculturas na sala do piso superior.

Música: Dancing Fantasy, Blue Bamboo
ver neste formato