quarta-feira, 13 de abril de 2016

Ao Encontro do PORTO



Por muito que se ande por aqui ou por ali, se espreite para acolá, se ouça isto ou aquilo, se leia sobre uma coisa ou outra, fica sempre algo por desvendar. O mote era esse, ir ao encontro do Porto numa perspectiva de descoberta. Encontramos o Porto, algum do que já havíamos descoberto, mas sobretudo muito que desconhecíamos. Podemos mesmo cuidar que fomos ao encontro de vários Portos.
Para lá, juntamo-nos ao João Almeida na área de serviço de Loures. Perto de Óbidos já chovia a cântaros mas, a espaços, o céu descobria-se como incentivador da viagem. Sem que o encontro estivesse combinado, quando parámos na área de serviço da Mealhada, já lá estava o casal Pacheco. Depois, o Zamith, o Abel, o Mariano e respectivas penduras foram chegando, já com o Arlindo a fazer-nos companhia.
Voltamos à AE quando o céu se voltou a retalhar, embora a chuva fosse enfraquecendo à medida que nos aproximávamos do Porto. Paramos na Ascari, uma livraria na Constituição, única no género em Portugal, especializada em publicações sobre automóveis e motos. Infelizmente, não estava o Manuel Pinheiro, um dos sócios, que foi também um dos co-autores do livro “Viajar de Moto”, com um texto sobre uma viagem à Croácia. E saímos 

AO ENCONTRO DO CASTELO DE SANTA CATARINA


Pouco depois, entravamos na Residencial Castelo de Santa Catarina. Estacionamos as motos junto do elevador panorâmico, subimos ao jardim e entramos em outro mundo, num edifício de finais do século XIX, mandado construir por um industrial do têxtil, que o ornou com elementos decorativos e arquitectónicos de rara beleza. 
Passado mais de um século, o edifício está irrepreensivelmente bem cuidado, constituindo a respectiva decoração uma mais-valia para a estada. É sobretudo nas áreas comuns que o capricho, o talento e a harmonia decorativa é mais patente. Talvez se possam notar detalhes kitsch mas não são dramáticos.

Muitos aproveitaram esta verdadeira galeria de peças decorativas, paredes pintadas e de revestimentos em madeira nobre, lustres e jarrões, para deambularem escadas acima. Não é preciso subir muito para apreciar a vista para o Douro e para o Monte da Virgem, reconhecendo-se imediatamente em linha recta a antena da RTP nas instalações de Gaia.

No nosso quarto, sobressaíam a cama e as mesas de cabeceira antigas que contrastavam com a casa de banho moderna. Cada sala está decorada de maneira diferente, alguns móveis e candeeiros surpreendem, bem como a pintura pelo requinte e manutenção. E nem falta um gato. 
Supõe-se que ainda andará por ali uma tia velha… que talvez vá também

AO ENCONTRO DA NOITE DO PORTO


Foi aqui que o Clube ficou alojado neste passeio ao “Encontro do Porto”. Aproveitamos o declive favorável e fomos a pé jantar, escoltados por uma noite fria mas seca. Já próximo dos Aliados, enchemos meio Tasco, atraídos pelos acepipes, excelentes, alguns bastante repetíveis. E ninguém saiu com fome., aliás demoramos a sair.

Somos quase meia centena de comensais com a expectativa de um fim-de-semana cultural, quer gastronómico, quer histórico-patrimonial. Talvez seja a noite em que estejamos mais à mesa. E a primeira componente, a gastronómica já havia cumprido. A fasquia ficava à mercê as refeições do dia seguinte.

E fomos pela noite, já chuvosa, ao encontro da noite do Porto. Andamos pelo Porto Tónico, pelo Radio Bar, pelo Galeria de Paris, entre a rua Cândido dos Reis e a rua Galeria de Paris, uma das zonas mais animadas da movida portuense. As caipirinhas demoraram no Galeria de Paris, mas por 2,5€ cada também não se pode exigir muito mais…


Já não chovia quando voltamos à rua. Regressamos a pé ao Castelo superando os dois quilómetros que nos separavam. A metade caminho foi a vez do Gonçalo e da Joana nos encontrarem a meio da Santa Catarina. Estavam chegando, como dizem os alentejanos.

Para a manhã seguinte estava previsto começarmos nos Clérigos, descermos a São Bento, treparmos à Sé, arriarmos aos Grilos e baixarmos até à Ribeira. Depois, atravessaríamos para Gaia e regressaríamos à Invicta. Parece pouco Porto, mas foi muito mais do que isso. Por tanto, vamos começar por ir


Músicia - Gnomon, Amanbagh 
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AO ENCONTRO DE NASONI


De manha o céu voltou a toldar-se, tal como estava previsto. Já pingava quando entramos na torre dos Clérigos, uma das obras emblemáticas de Nicolau Nasoni no Porto. Aliás, nesta manhã de sábado era o artista e o arquitecto que nos serviria de arranque cultural na cidade.
Desta feita, andaríamos de mão dada com a história, sobretudo com a história da arte. E não andaríamos ao sabor da curiosidade ou da descoberta amadora do património. A acompanhar-nos o interesse e a cevar-nos o intuito estaria o professor doutor Tedim, lente da Universidade Portucalense.
Seria ele o nosso anfitrião por um Porto que todos parecemos conhecer mas que pouco sabemos da sua história e estética. O professor Tedim seria aquilo que todos desejamos ser quando entramos num templo antigo, num edifício histórico, num terreiro memorável: um especialista em património, turismo e cultura!
Porém, o professor Tedim acumula outros talentos. Além de guia é também lente em História e um notável inspirador. Foi com o seu mote das “duas janelas” - aliás com o vazio entre elas – que iniciamos um périplo que nos levou dos Clérigos a São Bento, da Sé à igreja de São Lourenço e daí à de São Francisco.
Foi nos Clérigos que nos enfatizou o talento cenográfico de Nasoni, traço que ficou nas suas obras do Porto e não só. Quer no interior, quer na fachada, é notório a ênfase decorativa do ambiente cenográfico. O interior da igreja dos Clérigos parece um teatro e os detalhes da fachada mostram muito essa arte de contrastes.
Nasoni trouxe de Itália, da sua Toscania, o fascínio pela altura, pelas formas esguias – lembram-se das torres de San Gimignano? – bem como a paixão pela estética dramática, que se traduzirá nas manifestações grandiosas e sensitivamente apoteóticas que a igreja dos Clérigos encerra.
Foi esse “cenário” que vimos no interior da igreja, na altura da nave, nas colunas junto do altar e nos restantes elementos decorativos dignos de uma representação teatral ou mesmo do palco de uma ópera. No exterior, a fachada reproduz também o ambiente cenográfico de um palco, propositadamente virado para a plateia da rua dos Clérigos.
Mas é a torre que dá nome à obra., mesmo que tenha sido a última parte do conjunto dos Clérigos a ser construída. Foi o edifício mais alto de Portugal a meio do século XIX, com os seus 75 metros de altura, seis andares e uma escadaria em espiral com 240 degraus.

Do cimo, o Porto parece estar aos nossos pés. Até Gaia está ali à mão. Olhando para leste, percebe-se a concorrência que a Sé lhe faz. A perspectiva top/down sobre os telhados e as fachadas do Porto, não fossem algumas coberturas reflectirem a claridade do tijolo, confirma a escuridade do burgo. Sem pressas vamos


Música: Heróis do Mar, Brava Dança dos Heróis 
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AO ENCONTRO DE SÃO BENTO


Pouco mais de quarenta anos nos separam da estação de São Bento, a estação ferroviária central do Porto, que apesar de ter sido construída mesmo no término do século XIX, só começou a ser utilizada plenamente em 1916.
A denominação da estação provém do mosteiro de São Bento da Avé-Maria, construído no século XVI tendo sido aproveitada a sua nave principal para servir de átrio à estação.
É este átrio que surpreende, não apenas pela dimensão, mas sobretudo pelo preenchimento das paredes com azulejos que representam temas históricos e etnográficos.
Estão lá figurações do Torneio de Valdevez, da apresentação abnegada de Egas Moniz ao rei de Castela, da entrada de D. João I no Porto e da conquista de Ceuta. Mas também da vida campestre e da aurora dos caminhos-de-ferro em Portugal.
Na fachada não é o estilo italiano que domina, mas sim a influência francesa pelo punho do arquitecto Marques da Silva, salientando-se as duas torres nos extremos que dão ao conjunto uma imponência renascentista aliada à elegância da Arte Nova. Vamos a seguir

AO ENCONTRO DA SÉ



Saímos da estação de São Bento e trepamos para a Sé. Em pouco mais de quinhentos metros o Porto envelheceu sete séculos, embora se reconheça a frase, “antiga, mui nobre, sempre lela e invicta cidade do Porto”, inscrita numa das paredes da torre medieval, uma epígrafe introduzida no brasão da cidade em meados da primeira metade do século XIX, reinava D. Pedro IV.
No terreiro da Sé, é sobretudo a igreja – séculos XII/XIII - e a torre fronteira que nos alertam para o medieval, para o tempo em que as cidades tinham portas, para uma época em que a igreja a par do rei dominava a política e a economia dos burgos e dos reinos.
Essa vetustez excede-se quando olhamos a fachada da Sé. O românico da fachada, pesado, imponente, rude, embora posteriormente refeito por Nasoni, abre-nos para o interior esguio, escuro, majestoso e solene onde espreita o gótico mais visível no claustro que não visitamos.
Ficamos mais pequenos sob o peso simbólico da pedra e da dimensão sobretudo da altura. As janelas altas e estreitas remetem para dentro para a introspeção e temor devido à divindade. Essa pressão está contudo minorada pelos diversos elementos decorativos que o barroco foi introduzindo, alguns pela mão do “nosso” Nasoni. E vamos

AO ENCONTRO DOS “GRILOS”



A origem jesuíta nota-se na divisa da Companhia de Jesus patente na fachada. Popularmente conhecida por Igreja dos Grilos, a igreja de São Lourenço data do último quartel do século XVI e está associada ao Convento do mesmo nome, onde funcionou um colégio na altura envolvido em polémica.

É ainda notória a ligação do edifício aos Távora, sendo ainda visível o brasão de frei Luís de Távora, próximo de uma Cruz de Malta – de que foi comendador – o patrocinador principal da igreja e do colégio e que está sepultado nesta igreja num túmulo semelhante aos dos Jerónimos.
Após a expulsão dos jesuítas, o convento foi comprado pelos frades Agostinhos. Estes, provenientes de Espanha, estabeleceram-se inicialmente em Lisboa, no sítío dos Grilos. Daí a popularização do nome e dos próprios frades, como frades-grilo, quando ocuparam o convento no Porto.
Num dos altares laterais, revestido a talha dourada é notória a proliferação de nichos com reproduções de santos, possuindo cada um espaço cilíndrico onde eram guardadas as respectivas relíquias, partes do corpo ou peças que lhes haviam pertencido em vida. Deixámos os Agostinhos e baixamos

AO ENCONTRO DOS FRANCISCANOS


Próximo da igreja de São Lourenço, ou dos Grilos, é possível espreitar a margem esquerda do douro e perceber os diversos patamares ecológicos e históricos de Gaia, com o Cais comercial em primeiro plano, a antiga área habitacional a seguir e em fundo a zona nova, descobrindo-se com alguma facilidade a nova pérola hoteleira de Gaia, o Yeatman.

Descemos lentamente o bairro da Sé pelas suas ruas estreitas, íngremes e escuras. Fomos espreitando uma ou outra casa mais antiga (ou degradada - cada vez há menos), uma outra loja mais peculiar, como a de confecção de buréis.
Passámos o renovado mercado Ferreira Borges e parámos junto da estátua do Infante D. Henrique antes de seguirmos para a Igreja de São Francisco. Em pouco mais de seiscentos metros, baixámos dois séculos, desde a igreja dos Grilos até à de São Francisco.
Do modernismo da primeira, regressamos ao gótico da última. A rosácea na fachada identifica-a ainda como gótica, mas o portal já é barroco. Não é fácil perceber que no início dos anos 1400 a igreja já estava erigida, sendo a sua estrutura o melhor exemplo de arquitectura gótica do Porto.
Relevante sobretudo é o revestimento levado a cabo durante o início do século XVIII que contemplou a maior das paredes interiores, colunas, capelas e telhados com uma cobertura em talha dourada, onde não falta uma reprodução do que teria sido o martírio dos Franciscanos em Nagasaki.



O barroco deixou muita talha dourada, alguma mais dourada que outra, um pouco por todo o país na maioria das igrejas portuguesas. Esta contudo parece ter sido bafejada com uma profusão de tal forma intensa que, apesar do ambiente semi-obscuro típico das igrejas, emana uma claridade quase ofuscante. E seguimos


Música: A Gente Não Lê, Isabel Silvestre
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AO ENCONTRO DA TOCA DO LAPIN


Descemos a caminho do rio, entramos da rua da Reboleira, passamos por duas das casas mais antigas do Porto, e seguimos ao encontro do Chez Lapin, nome bem conhecido no Porto do restaurante que fica na Ribeira sob as arcadas da rua dos Canastreiros.

Pisamos a placa “Victorino” e pensei que não estaríamos no Chez Lapin. Na net, dizem que é ao lado. Mas foi naquele espaço estreito, longo e pétreo que almoçamos. O interior é acolhedor, o serviço é rápido e os filetes de polvo não estavam mal. Mais saboroso pareceu-me ser o ambiente – aliás estávamos ali todos – e a decoração, com elementos das fainas piscícolas e campestres sobre granito.
No exterior, pode mesmo surgir a ideia de que estamos na Idade Média, quer pelo ambiente granítico das paredes espessas, quer pelas vigas grossíssimas de madeira mais do que empedernidas, quer pela atmosfera soturna da galeria.
Por outro lado, algumas fachadas mais coloridas dos edifícios e a proximidade do Douro levam muita claridade à Ribeira. Vista do lado de Gaia a Ribeira continua a deslumbrar como arte pública, permanente, peculiar e que se deseja perpétua.
Os rabelos, as janelas e os telhados, os cais, as colinas, as torres e as igrejas, as pontes, os recortes. E muito mais. Quase podia ser Lisboa. Mas não é. É diferente e diversa, igualmente cativante e estupenda.
O tempo soalheiro ajuda a iluminar o cenário que se vê desde Gaia. As fachadas cintilam e as cores resplendecem, o alinhamento dos edifícios parece mais rigoroso esbatido num céu praticamente azul onde a silhueta do rabelo lhe esgota a identidade. Foi também à procura de uma identidade peculiar que fomos

AO ENCONTRO DE SANDEMAN


Pouco depois de o teólogo escocês Robert Sandeman ter falecido, o seu conterrâneo George Sandeman decidia comercializar vinhos de Jerez e do Porto. Em Portugal, a marca Sandeman tornou-se famosa, não apenas pelo seu afamado vinho, mas também através da sua imagem de marca, a silhueta de um homem de capa com um copo de vinho na mão.
Era este homem misterioso – dizia-se que a silhueta, criada no final dos anos 20, era a de um estudante com a sua capa mas com um sombrero espanhol -, passou a saltar entre ameias de um castelo num dos mais famosos anúncios de televisão dos anos 70. A imagem teve tanto impacto como a das Bodegas Osborne, cuja silhueta era a de um touro.
Esperamos cerca de meia hora pela entrada nas caves. Entretanto fomos deambulando pelo museu que nos leva até à ultima década do século XVIII e nos remete para o jovem empreendedor escocês através de cerâmicas, garrafas antigas e fotografias de época.
Depois, entramos no mundo das pipas e dos tonéis com alguns milhares de litros de vinho do Porto, vimos até que altura andou a água em 1909 e em 1962 – mais alto do que a minha altura – passamos por alguns vintage que são mais “cent age”, andamos pela “garrafeira dos ingleses”, sempre acompanhados pelas misteriosas figuras da capa negra, o tal estudante e a guia.
Acabamos com uma prova colectiva de um tinto “Imperial Reserve” e de um “White Porto” bem mais saborosos do que aquele que nos serviram no Museu do Vinho do Porto na Régua, no último Verão.
Se entre pipas já tínhamos pousado para o fotógrafo oficial da cave, à saída voltamos a fazê-lo à porta da Sandeman tendo em frente a placa alusiva aos 225 anos da marca a separar-nos da Ribeira que ainda rutilava do outro lado do Douro. E para melhor lhe mirar os detalhes saímos

AO ENCONTRO DE GAIA


Estava previsto um pequeno voo sobre os telhados do cais de Gaia. Cumprimo-lo enfiados numa espécie de ovo voador que abana ao sabor da brisa e se vai elevando à medida que a colina o obriga a trepar quase até ao mosteiro da serra do Pilar.
Ficamos pelo tabuleiro superior da ponte D. Luís que atravessamos a pé acompanhados pelo eléctrico, aliás “andante”, que faz o favor de a tremelicar cada vez que passa felizmente a passo., e ainda fomos a tempo de beber uma bica, aliás um “cimbalino” no “Armazém do Café”, na Sá da Bandeira.
Neste dia, percorremos quatro quilómetros a pé até ao Cais de Gaia, mais dois quilómetros e meio desde a saída do teleférico até à residencial. Com o quilómetro e meio da noite anterior percorridos até ao Tasco e a volta pela noite dos bares, foi uma boa dezena de quilómetros que pisámos neste fim de semana portuense. Por isso, fomos de táxi.

AO ENCONTRO DO ANTIGO CLUBE INGLÊS


de onde é possível desfrutar de “vista privilegiada sobre o Douro, Gaia e as muralhas Fernandinas”. Era este o alvitre para o jantar, sábado fresco e pouco estrelado que não augurava nada de bom para o passeio do dia seguinte.

Estávamos na rua das Virtudes, num edifício setecentista que já foi sede da Ordem de Malta. Está virado à foz do Douro e o jardim assenta sobre uma antiga torre medieval que fechava a muralha do século XIV. Quem desce as Escadas do Caminho Novo vê-a à esquerda a murar os degraus.





Hoje o edifício alberga uma instituição de carácter social e beneficência que, entre outras actividades ministra cursos de cozinha, quer eminentemente gastronómicos, quer no que respeita ao serviço, e cujo alvo são as pessoas que foram afectadas por problemas de delinquência.

Numa época em que a gastronomia se tornou tão cosmopolita e anda de mãos dadas com o turismo, pareceu-me uma aposta ganha, não apenas pelo projecto de solidariedade mas também pelo sucesso que a experiência – própria – me diz ter sido brilhante, não apenas pelo delicioso javali mas também pelas entradas, sobremesas e serviço.

A noite começou bem no Clube, com um excelente cocktail de espumoso. Se já antes o detalhe decorativo dos tectos havia surpreendido, após passarmos ao salão de refeições o ambiente espantou pela dimensão da mesa, pela decoração, depois pela organização e simpatia dos empregados.
Pareceu-me que todos partilhamos essa empatia, uma vez que o ambiente esteve sempre divertido com uma quantidade de conversas trocadas e boas referências ao que foi oferecido. Melhor ainda, quando no final passamos ao miradouro sobre as muralhas.
Soubemos entretanto que será inaugurada para o Verão uma esplanada a instalar no miradouro – este sim, mira o Douro – que terá uma vista aprazível sobre Gaia, o rio e a foz. Talvez por isso, em jeito de ante-estreia, estivemos acompanhados por uma bizarra irmandade de cobertores, a mesma que, no dia seguinte iria de moto


Música: Memória de Peixe, 74
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AO ENCONTRO DA MARGINAL



A manhã puxou-nos para o passeio. O céu estava limpo, azul e deixava o sol estourar em pleno. Pegamos nas motos e fomos Constituição fora até Matosinhos, acompanhando o bulício matinal dos que saem para correr, andar de bicicleta ou simplesmente dar um passeio a pé.
Regressamos num ritmo lento pela marginal do Porto, com tempo suficiente para olhar as fachadas mais cuidadas, alguns prédios recuperados e outros à espera de melhor sorte. Não havia muito transito, o sol foi-nos acompanhando o ritmo e a margem direita estava plenamente iluminada.
Lá nos fomos desenvencilhando o melhor possível das linhas dos eléctricos e do empedrado, à medida que íamos chegando ao Porto. Mesmo aqui o trânsito era diminuto e o nosso andamento permitia olhar calmamente para o cenário da marginal portuense, deixando-nos inspirar talvez à imagem de Nasoni.
Atravessamos a Ponte D. Luís e só quando passamos no cais de Gaia, onde é habitual reunirem-se motociclistas do Porto e arredores, começou a chuviscar. Quando paramos na marina de Gaia, já chovia. Por isso, ficamos abrigados na esplanada a mirar o Porto e o eventual regresso do bom tempo.


Música: António Pinho Vargas, Vilas Morenas
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Foi o tempo de bebermos um café e trocarmos mais dois dedos de conversa. O sol regressou mais tarde, mas quando deixou de chover aproveitamos de imediato para sairmos para o almoço. Este teria lugar em Lavadores, no restaurante Casa Branca.

Deram-nos as boas-vindas com um aperitivo antes de nos lançarmos sobre um buffet de carne e peixe acompanhado por uma larga e agradável panorâmica marítima, paredes-meias com as ondas atlânticas que, nesta manhã – sabemos que em poucas, todavia – estava quase apetecível.
Almoçamos em mesas redondas – sempre mais simpáticas do que as longas mesas rectangulares – durante um bom par de horas. Às tantas, apareceu um bolo de aniversário e gente em pé a cantar “parabéns”, que se estenderam também ao anterior aniversariante.


Deixamos na Casa Branda os de mais perto e tomamos a direcção da A1. Não voltou a chover. O dia só escureceu já perto de casa. Trouxemos mais um pedaço do porto na memória e de certeza outro bocado no coração. E ainda sobrou muito Porto para a próxima
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Música: Cirque du Soleil, Alegria
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