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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Uma Valquíria no MAAT



Plug-in, uma exposição individual de Joana Vasconcelos no MAAT. Apesar de a exposição envoler outras obras da artista, focámo-nos na Valkirie Octapus, obra criada quase oito anos antes e feita para o MGM, um resort chinês, em Macau. É a peça que ocupa lugar de destaque na nave central do edifício do MAAT.


Tal como outras obras da artista, esta surpreende pela dimensão, pelo articulação de volumes, enfim pela notoriedade. E, pela diversidade dos materiais e soluções de realização: croché manual, aplicações de feltro, malha, tecidos, alé de outros adereços. Mas, não é só a grandeza e a diversidade que espantam.


 

O mote das Valquírias - figuras femininas que encerram  forças e intenções que se materializam em divindades e que elegiam os heróicos guerreiros mortos em batalha para os levar ao salão dos mortos, no palácio de Valhalla - não deixa de ser uma escolha estranha.


 

E estranha porque, se relacionado com o destino (Macau/China) e com os materiais utilizados (sedas incluídas), parece mais ter interligado as tradições portuguesas e chinesas, e não com a mitologia nórdica.



 

Mas é sempre a estética que encanta, no sentido de quase enfeitiçar, ou não. O deslumbre vai para o fluxo das linhas, para os motivos dos tecidos, para os detalhes fusiformes, para a harmonia de alguns talhes, até para a sensação de leveza que as suspensões talvez queiram irradiar.


 

Todavia, o que vemos, não é o original exposto em Macau. Houve muitas adaptações ao espaço. É a própria artista que realça a relação entre a obra e o espaço. O que não deixa de ser, também, criativo. Não é todos os dias que se adequa uma Valquíria a um ambiente.


sábado, 24 de agosto de 2013

Joana no Palácio


Mesmo considerando que o palácio Nacional da Ajuda se encontra inacabado na ala poente, apesar dos vários projectos existentes para o seu remate final, mesmo verificando que há muita gente nas bilheteiras, mesmo aproveitando os meses de férias da maioria dos portugueses, a verdade é que ainda foi preciso estar na fila cerca de meia hora para visitar a exposição de Joana Vasconcelos.
A partir de 13 de Agosto, a notícia dizia mesmo que se tornara na exposição individual temporária mais vista de sempre em Portugal, ao atingir o visitante número 178 mil. A fórmula não é nova. Juntar arte e história sempre foi um motivo de romagem e apreço, duas forte razões pelas quais se viaja e se observa. Foi também esse o mote da exposição da artista em Versailles, também ela recordista em número de visitas desde há cinquenta anos. Fosse a exposição em Queluz, no Pitti de Florença ou no Real de Madrid e o encantamento seria idêntico.
O Palácio Nacional da Ajuda foi residência oficial da monarquia portuguesa até Outubro de 1910. Construído na primeira metade do século XIX, talvez até mais do que a história e o seu actual protagonismo em algumas cerimónias protocolares de representação do Estado, seja o património artístico que encerra, agora enriquecido pelas obras de Joana Vasconcelos, a relevar essa atractividade.
Embora não se perceba de imediato, para além da antiga biblioteca régia e da Galeria de Pintura do rei D. Luís, o palácio é farto em cerâmica com um acervo de 17 mil peças, em escultura com cerca de 400 obras, fotografia com cerca de 7 mil peças, joalharia com as Jóias da Coroa e as do Quotidiano, ourivesaria com as pratas da coroa, a religiosa e a decorativa, para além dos 450 óleos e das 12500 peças de vidro provenientes da antiga Casa Real.
É entre estes milhares de peças artísticas, que a Noiva – o lustre mais salutar da exposição - o Coração Independente – o músculo mais plástico daquele espaço – ou, Marilyn - o par de sapatos de mulher português mais icónico – que Joana Vasconcelos escolheu expor as suas obras mais antigas.
Ilha dos Amores
A par destas, estão outras, mais recentes, como o Lilicoptère – um helicóptero que tinha feito as delícias de Liberace - Perruque – uma espécie de esporo ornamental – ou, War Games - um estilizado veículo de gangsters.
A criatividade é um dos elemento comuns à exposição. Logo associada ao lugar também. É raro ver obras recentes expostas em palácios. Depois, se no conceito de criatividade envolvermos a dimensão, a articulação das cores e dos materiais, alguns dos temas, e a associação entre o espaço de exposição e as obras.
Ou seja, foi preciso olhar para o espaço para depois o complementar. Foi preciso olhar para as peças expostas para lhes juntar as agora criadas. Foi preciso juntar os dois olhares e articulá-los com as ideias. O resultado revelou-se gracioso, provocatório e mesmo divertido.
Vitrail
Apesar do tema de algumas peças ser repetitivo – casos dos animais – outras, destacam-se pela característica de singularidade - caso dos ramos de flores animados feitos com ferros de engomar - outras ainda pela particularidade de mimetismo – caso da “Noiva”, “lustre” feito com preservativos.
Embora a dimensão da maioria das peças seja grande, algumas são enormes e outras gigantescas. Na maioria dos casos, o espaço deve ter ditado essa abordagem. Em outras, algumas peças enchem o espaço, chegando a subjuga-lo, como seja o caso da “Royal Valkyrie” que parece não caber na sala.
As texturas também são variadas, embora os animais tenham recolhido a preferência do croché.  As plumas, os plásticos, os metais, os tecidos, os acrílicos, conjugam-se com cores garridas, dégradés ou monocromáticas.
Outra articulação particularmente feliz e julgo que facilmente reconhecida é a que se estabelece entre algumas peças e o espaço e/ou a decoração do espaço, como seja o caso de War Games, Vitrail, Marilyn, Noiva ou Lilicoptère, tão bem enquadrados, que parecem ter estado ali o tempo todo.
Lilicoptère
No palácio, é habitual algumas salas estarem numa semi-obscuridade pungente. A falta de luz prejudica muito a observação das peças. As filas desmotivam, o calor exterior e o preço que podia ser mais acessível, também não favorecem. Palácio e exposição são gigantes.
Apesar de encerrar peças de valor artístico e estético excelente, o acervo do palácio é, digamos, pesadão, escuro, repetitivo. E a falta de luz não ajuda a observação. Na exposição há demasiadas coisas para ver, pelo que talvez se percam algumas árvores em favor da floresta.

Oliver Shanti - Beautiful of This World
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