sábado, 19 de janeiro de 2013

DIS MANIBUS


Rituais da Morte Durante a Romanidade



Dis Manibus significa “dedicado aos deuses Manes”. Os deuses Manes eram os “deuses caseiros” e representavam as almas dos parentes falecidos. A exposição Dis Manibus está então relacionada com o culto dos mortos, mais propriamente com o culto dos antepassados.
Se forem, vão agasalhados. O espaço é amplo, mas o orçamento para aquecimento é curto. Em tempo: já não está em Sintra. Vai para Odrinhas no início de Fevereiro. Duas salas e um corredor. Uma das salas recebe a exposição, na outra assiste-se a um documentário audiovisual sobre o Museu Arqueológico de Odrinhas.
É de lá que chega um conjunto de peças arqueológicas que mostram a evolução das concepções e das práticas funerárias, e ajudam a perceber aquela imediação entre a vida e a morte, a relação entre os vivos e os mortos.
A exposição envolve um conjunto de apetrechos artesanais, de objectos funerários, de fotografias e de esqueletos, ilustrativos do tema dominante, a morte. Mas de uma morte que revela a vida, os preparativos e os rituais da morte.
A nossa atenção é levada por um conjunto de telhas, depois para o esqueleto de uma criança de meses encontrada inumada nessas telhas, depois para outro esqueleto praticamente completo, de um adulto.
Nas fotografias reconhecem-se algumas similitudes, como sejam a existência de objectos do quotidiano enterrados junto dos sepultados, artefactos que o acompanhariam as suas necessidades para além da morte (semelhantes às que teve em vida).
É através das fotografias e de um mapa que se pode ter uma ideia da quantidade e da diversidade de sepulturas, muitas do final da romanidade, encontradas na região que vai de Sintra à Ericeira.

A área é rica em vestígios arqueológicos de estruturas funerárias, quer correspondentes ao período mais longo de domínio romano, quer da sua fase final, quer inclusivamente do início do medieval.
A chamada história longa é, durante longos períodos de tempo, uma contemporaneidade, tão estável é a ritualização de certos costumes. Por vezes, porém, a similitude dos rituais/práticas atravessa praticamente a história do mundo. Como seja o caso dos rituais de enterramento de há 2 milénios e os actuais, ou entre aquelas mais remotas e a de há 3 milénios no Egipto, entre as concepções mais antigas da vida depois da morte e as mais recentes.
Uma das actividades que não sofreu praticamente alterações até aos nossos dias é o artesanato. São sobretudo as vasilhas, os pratos, os copos, os frascos, as lamparinas, os tachos, em barro ou em vidro, que mantêm a forma e a textura ancestral, não se notando por tanto grandes modificações em três séculos de história.
Pregos pertencentes  a duas sandálias do período da ocupação romana
Todavia, avaliando a crescente ausência de objectos que acompanham os corpos nas sepulturas, percebe-se que, com a proximidade do medieval, se atenua a crença egípcia e greco-latina da vida para além da morte.
Mostra-se um dos aspectos mais significativos e distintos que passa pela diversidade das estruturas funerárias, salientando-se a diferenciação entre os estatutos sociais dos defuntos – altos dignatários ou populares -, a sinalização – da simples lápide ao mausoléu - e a distribuição dos locais de enterramento – à beira da estrada ou num columbário resguardado.

O medieval, porém, continua a assinalar o local de enterramento, agora de uma maneira mais individual, continuando a existir toda uma epigrafia funerária sobretudo dedicada a altos clérigos e nobres.


Música: Yes - Tormato - Onward
A exposição, que não tem informação on line dedicada, esteve patente até 30 de Dezembro no Museu de Arte Moderna de Sintra (cuja informação camarária on line ainda consta a Colecção Berardo). Vai para o Museu Arqueológico de Odrinhas a partir de 5 de Fevereiro.

Chiado De Nariz No Ar


A partir do século XII, depois da reconquista de Lisboa, a colina fronteira à do castelo passou a ser habitada por clérigos e fidalgos. Nascia a zona do Chiado. Diz-se que foi um taberneiro quinhentista que lhe deu o nome, mas hoje o epíteto está mais ligado ao poeta António Ribeiro, o Chiado, contemporâneo de Camões.


Foi ele que escrever “Aviso para guardar: do Chiado, frade que foi em Lisboa”
(…)
guardar de quem de ligeiro
em tomar nunca se peja;
guardar de quem deseja
o alheio e quanto vê;
guardar de esperar mercê
por modo de lisonjear
(…)
A zona do Chiado fica entre Sacramento e Mártires, ou seja, entre o Bairro Alto e a Baixa Pombalina. Já foi referência do romantismo com Eça e morada de Pessoa e Rafael Bordalo Pinheiro. É espaço de teatros - Trindade e São Carlos -, e de um museu, o de arte contemporânea, conhecido como Museu do Chiado
A placa da Antiga Casa José Alexandre parece ter sofrido mais com o vendalismo do que com o incêndio 

Referência é também o “Carmo”, o Largo do Carmo, onde chega o elevador de Santa Justa e de onde é possível vislumbrar de um miradouro a colina do castelo. Ali perto, estão as ruínas do Convento do Carmo - hoje museu arqueológico -, paredes-meias com o quartel-sede da GNR, palco da revolução do 25 de Abril.
No largo do Chiado, porta de entrada no Bairro Alto, pontuam a estátua do poeta e as duas igrejas barrocas, do Loreto e da Senhora da Encarnação. Para lá vai a rua Garrett em cujo topo fica a famosa “Brasileira”. Mais acima, está a famosa cervejaria Trindade e a sua rica azulejaria.
O lema do proprietário, Francisco Grandela, na fachada dos antigos Armazéns Grandela 
Apesar do incêndio que deflagrou na rua do Carmo há cerca de 25 anos, destruiu algumas edificações oitocentistas e obrigou à reconfiguração de alguns espaços e à reconstrução de alguns edifícios, outros resistiram e foi possível manter a traça que tornou célebre a zona do Chiado.
Mas o incêndio deixou marcas. Algumas só se percebem se andarmos com o nariz no ar. Um outro outro muro de sustentação, um ou outro remate arquitectónico para criar harmonia espacial. Outras vezes, é apenas a degradação que tomou conta de algum cimo.

Hoje o Chiado voltou a ser uma zona comercial e de lazer, com muitas lojas cujas fachadas conservaram a arquitectura original, sendo raras, mesmo em áreas não afetadas pelo incêndio, intervenções que tenham alterado a harmonia estética da zona. Alguns prédios de habitação foram memso aumentados de um ou dois andares.
É esse desenho regular, disciplinado, essa repetição por superfície que se reconhece na maior parte do conjunto de fachadas. É essa estética com que nos relacionamos sistematicamente. Ora, por tal, habituámo-nos a ver o Chiado que está no primeiro e no mesmo plano dos nossos olhos, como se fosse um rosto, uma identidade daquele espaço. 


Habitualmente não é preciso levantar o olhar para reconhecer um espaço. Não é frequente levantarmos a cabeça, sobretudo quando já conhecemos bem um lugar. Além disso, é desconfortável, inseguro, desvantajoso. É raro pormos o nariz no ar.
A proposta é, então, dobrar o pescoço e esticar a vista para o céu e, ao olhar para cima, descobrir o que lá está. E está lá muita coisa: beirais, varandas, últimos pisos, coberturas, painéis, janelas, placares, alguns candeiros, uma cruz...
É passar da comodidade do horizontal para o ânimo do vertical, buscar a raridade na altura. Lá facilmente se encontram descontinuidades e roturas, se descobrem limites, fronteiras, finitos.
Não é preciso levantar muito os olhos para achar o que está exposto. As fachadas ainda mostram muitos detalhes em que habitualmente se não repara. Como seja, um conjunto de palmas na fachada dos “Armazéns do Chiado”; “Armazéns do Chiado” cujo placar luminoso encima o telhado; uma chaminé ou outra fora do vulgar; dois tipos de candeeiros de iluminação pública colocados nas paredes dos prédios.
Mas a descoberta finda nos detalhes do cume. O olhar fica na raia das cumeeiras dos telhados, na ponta das antenas, no polo das abóbadas, no topo das chaminés. A partir daí, deixa de haver novidades. O azul passa a dominar o imenso cenário celeste, um azul especial, o azul de Lisboa. A partir daqui já não é o nariz que domina.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Pueblos Blancos

A paisagem não é muito diferente das do Além Tejo. Na Andaluzia, o relevo é baixo, as aldeias estão afastadas mas as habitações encontram-se muito próximas umas das outras. O branco domina nas fachadas, o azul e o ocre as ombreiras, as casas são baixas e pequenas, as janelas estreitas.
As casas juntam-se ao longo de ruas compridas, como muralha de defesa face ao calor (e antes, face às incursões inimigas), e quase se tocam devido à magreza das ruas, o que não deixa nada a dever às vielas de Fez nem aos quelhos de Chefchaouen.
O contraste e a luminosidade são excelentes, os cheiros suaves e prolongados. A paisagem vai da proximidade das fachadas das casas aos espaços amplos do campo raso. A vegetação é baixa, rara e pouco diversificada. As povoações de montanha são igualmente fechadas, sobretudo na zona mais antiga, com ruas íngremes, irregulares, por vezes sinuosas mas ornamentadas.
Um dos contrafortes da Basílica de Santa Maria, Arcos de la Frontera.
Contudo, as aldeias andaluzas sobretudo as mais isoladas nas arribas, são mais fechadas, as casas são amis altas e as ruas mais estreitas. Há mais ocres nas ombreiras e nos portais, as telhas são menos frequentes, formigam os pátios interiores. O relevo também é mais acentuado na Andaluzia.
Mas, quer as aldeias alentejanas, quer as andaluzas, são acolhedoras, luminosas, limpas e enfeitadas. E impressionantemente conservadas. Vive-se devagar ao ritmo do costume e do ambiente. As pessoas são tranquilas e discretas. É agradável lá ir. Desta vez, foi por Arcos de la Frontera, Vejer de La Frontera e Medina Sidónia, três dos melhores exemplos de

PUEBLOS BLANCOS
partilham o impacto que provoca a majestade do cenário onde estão implantadas, no cume de penhascos incomuns, que repartem também com Marvão e Monsaraz. São cenários que a ficção épica costuma usar e agigantar, tão poderosas parecem aquelas paisagens.
É dado assente que as estradas espanholas sofreram melhorias nos últimos anos. Muitas são hoje vias rápidas, levando em melhor e mais largo piso e mais depressa aos destinos que antes demoravam o dobro do tempo a ser atingidos. O acesso de Jerez a Arcos é um caso desses.
Há cerca de vinte anos, quando o GP de Motociclismo foi transferido de Jarama para a nova pista de Jerez e o acesso desde o autódromo à auto-estrada chegava a demorar uma hora – mesmo para quem ia de moto - a saída por Arcos, morosa ainda assim, chegou a ser uma alternativa. Hoje, os vinte quilómetros que separam as duas localidades não demoram quinze minutos e do circuito a Jerez não se leva mais de que cinco.
Naquela altura, o cenário ao chegar a Arcos era é diferente. O enorme penhasco surgia depois de uma curva, imponente, coroado pela brancura das casas. Agora, o acesso desde a via-rápida leva à entrada directamente para a zona mais alta de

ARCOS DE LA FRONTERA

no acesso à zona histórica, recebe-nos o ocre robusto da reprodução em madeira de uma porta nas muralhas exteriores do antigo castelo. Ao subir, as ruas vão ficando cada vez mais estreitas, até que em uma ou duas, os condutores de veículos mais largos são obrigados a calcular rigorosamente o espaço disponível para passarem. Os lugares de estacionamento são raros e difíceis.
Aqui, tal como nas vilas e aldeias alentejanas, é o branco que domina, bem como as flores nos balcões e nas janelas. As fachadas estão imaculadamente pintadas de branco, um branco talvez mais brilhante dos que o dos caiados alentejanos. Os átrios de entrada e os pátios interiores multiplicam-se. Na zona histórica os passeios desaparecem.
Um almoço volante numa espécie de bar-restaurante com esplanada ficou pelas tapas perto da zona monumental. A leste da antiga praça de armas do castelo está a basílica de Santa Maria de la Assunción, um edifício pleno de estilos, do mudéjar ao gótico, do renascentista ao barroco oitocentista. Estava fechado. Os interiores góticos ficaram para a próxima.
Fechado estava também o castelo medieval, com alcácer do século XI, que remata a praça a norte, esteve mais tarde em poder do famoso Ponce de Leon. Ainda hoje lá anda o fantasma de uma moura (tal como nos castelos alentejanos…).
Acessível estava porém um miradouro excelente que se estende do outro lado da basílica, sobre o rio Guadalete, de onde se vislumbram vários quilómetros para sul e para poente. Daí também se vê a sala panorâmica do Parador, um edifício baixo que fecha a praça do lado nascente.
Volta-se por ruas estreitas. Vem à memória a herança árabe a par com a necessidade de protecção face ao sol cruel do Verão. A vida exterior ou se passa na rua ou se passa nos pátios interiores, donde a extrema proximidade das habitações não implica qualquer ausência de privacidade.
O chão de pedra rústica, irregular, não tem passeios nem lugares de estacionamento. Aqui e ali, notam-se alguns elementos arquitectónicos clássicos, heranças de que não identifiquei origens. Mas é a mancha luminosa do conjunto, a estreiteza das vielas, o contraste entre os brancos puros das habitações e o cínzeo dos monumentos que fascina e fica na memória.
Também fica como lembrança a habitual algazarra dos espanhóis, sobretudo à volta das tapas e das cañas, quer dentro dos bares quer fora nas esplanadas. Havia muita gente na rua como também é costume, mais gente do que é habitual nas aldeias alentejanas.

ARCOS NUM MINUTO
Música: Amethystium - Strangely Beautiful



PUERTO DE SANTA MARIA

A célebre localidade que era palco das diversas manifestações festivas por ocasião do GP de Gerez estava vazia. O tempo estava bera, chovia, havia pouca gente na rua e o entardecer ainda não tinha levado as pessoas aos bares de tapas, como é habitual em Espanha como preâmbulo do jantar.


O famoso Romerijo – local de encontro de muitos portugueses por altura das corridas – restaurante onde era habitual ver cartuchos e cartuchos de camarão comprado na loja contígua e acompanhado por cañas pedidas na esplanada, estava vazio. Talvez motivado pela crise, talvez também pelo preço exagerado do marisco que ainda se vende na loja vizinha.

CÁDIS

Cádis, a antiga Gades e mais tarde Julia Augusta Caditana – daí os habitantes serem cagitanos – é uma cidade extensa mas estreita, que ocupa um istmo com quase uma dezena de quilómetros. Entra-se pela parte nova através de uma avenida que divide o istmo em duas partes, qualquer delas ocupadas por prédios altos e modernos.
Catedral Nueva, Cádis.
A alameda leva à parte antiga que se alarga em leque mas onde os edifícios não vão além de quatro ou cinco andares. Enquanto a parte nova tem ruas largas e direitas, a parte antiga possui ruas estreitas, algumas sinuosas, outras perfeitamente rectilíneas. Desaparece a brancura das fachadas das aldeias brancas, mas mantêm-se os átrios de entrada e os pátios interiores.
Percebe-se a configuração. A falta de espaço obrigou a construir em altura e a juntar muito as habitações. Por outro lado, o calor impiedoso do Estio seria atenuado pela criação de sombras. Apesar de estar junto à água, no Verão Cádis é quente.
Mas também é esse feitio que dá identidade à zona antiga. São esses meandros que marcam a diferença. Não chegam, porém, a fascinar. Com a extrema proximidade entre as casas perde-se as fachadas perdem destaque, luz, sol, lugares de estacionamento.
Castelo de Santa Catalina, Cádis.
O ambiente é triste e sombrio nas ruas mais estreitas. Em algumas, há casas degradadas. Naquele dédalo, são três ou quatro pequenas praças que quebram a monotonia da distribuição urbana.
Atractivas são, no entanto, as duas catedrais, as duas fortalezas de mar, a torre de Cádis, os vestígios do castelo medieval, as ruínas de um (anfi)teatro romano, a marginal sul. Tudo fica situado na parte antiga, uma espaço possível de conhecer a pé sem grande esforço. Cádis é plana, anda-se facilmente inclusivamente no piso da zona antiga.
Estivemos à porta da catedral velha, à espera que deixasse de chover e a observar uma fila de pessoas junto a uma das portas da catedral nova. Alinhavam-se para a assistir a um concerto de música clássica que incluiu também um grupo coral formado maioritariamente por crianças. A boa acústica fez o resto.
A catedral nova é bastante variada do ponto de vista arquitectónico. Com base numa antiga igreja gótica, reconhecem-se os estilos, barroco, rococó e neoclássico, mas o que mais surpreende é a abóboda de azulejos dourados e a diferença de cor e textura das pedras utilizadas nas paredes. Muitas provêm do mar.
Essa espécie de manta de retalhos arquitetónica, percebe-se melhor ao percorrer o passeio marítimo a sul, de onde é possível ver as traseiras da catedral. Continuando pela marginal, nota-se que os blocos de pedras de protecção da avenida são o reino dos gatos de Cádis.
Mais à frente, chega-se às fortalezas que fecham a clássica praia de La Caleta, em cujo passeio se distribuem algumas esculturas e uma personagem excêntrica que não se importa nada de ficar em grande plano nas fotografias que os turistas querem tirar ao edifício do balneário.
A seguir, ainda na ampla avenida que circunda a área antiga, está praticamente construído o novo Parador de Cádis, um edifício enorme, moderno, revestido de vidro, situado muito próximo das praias.

Parador de Cádis. A estrear.
Flectindo para dentro dos bairros, surge depois da Universidade de Cádis o Teatro Falla, um edifício cuja arquitectura lembra o estilo mudéjar, pouco representado na cidade, notório porém naquela zona.
Depois, aparece a torre Tavira, uma casa-palácio de estilo barroco de meados do século XVIII, que está a cerca de 40 metros acima do nível do mar, sendo o edifício mais alto de Cádis, o melhor miradouro da cidade.
Saímos pela via rápida na direcção de Algeciras e passámos por San Fernando, onde há três décadas havia acampado durante um passeio de moto pela Costa do Sol espanhola e me surpreendeu agora pela dimensão. Nessa altura, o acesso fazia-se desde Tarifa por uma estrada nacional, estreita e ventosa.
Desta vez, não foi preciso ir tão longe, à capital espanhola do vento. Quando o relevo se começa a elevar timidamente, ainda à vista do Atlântico, flecte-se para o interior seguindo-se o horizonte que passa a mostrar alguns pequenos montes em primeiro plano. 

CÁDIS NUM MINUTO
Música: Amethystium - Strangely Beautiful


Chega-se a
                                         VEJER DE LA FRONTERA

trepando-se uma vez mais. Conforme se vai subindo descobre-se a semelhança com Arcos e até com Medina Sidonia, percebendo-se a origem árabe de ambas. As casas imaculadamente brancas voltam a ser anfitriãs. O estacionamento é de novo exíguo. A zona histórica volta a ser acessível através de ruas estreitas mas, desta vez, não há circulação automóvel na maioria delas.
A parte mais antiga, que ocupa uma das colinas da urbe, não é maior do que a de Arcos. Ruas estreitas e sinuosas, a mesma brancura nas fachadas, um recinto amuralhado, uma igreja centenária e um castelo medieval do século XI.
O aceso ao castelo de origem árabe faz-se por uma porta em ferradura que se descobre num beco rodeado por habitações muito recentes. Entra-se para um pátio pequeno que daria lugar aos torreões mas onde já existem casas de traça recente. 
Antes havíamos passado pela igreja do Divino Salvador, um caleidoscópio de estilos depois de uma origem gótica construída sobre uma mesquita árabe, sendo a parte românica e a mudéjar que sobressaem. Situada dentro do recinto muralhado ocupa uma posição panorâmica ímpar de onde é possível ver praticamente toda a povoação.  
Não muito longe, a meio caminho entre o castelo e a igreja, uma porta nas muralhas dá acesso a um miradouro. É um lugar simpático que parece uma pequena praça, onde foi colocada uma escultura que homenageia a mulher de Vejer. Vislumbra-se dali a outra colina da urbe, uma mancha de um branco gigantesco apenas cortado pelas sombras das paredes das casas.
Trata-se da zona de construção recente, quase exclusivamente habitacional, que mantém a escala, a textura e a cor dominantes, mas obedece a uma traça geométrica mais homogénea. Preserva o aperto das ruas e a escassez da vegetação, sobre um chão mais moderno. 

VEJER NUM MINUTO
Música: Amethystium - Strangely Beautiful


MEDINA SIDÓNIA

Deixámos Vejer e continuamos para nordeste na direcção da localidade mais alentejana das que visitámos na área dos pueblos blancos. Essa identidade percebe-se na alvura das fachadas, nas coloridas molduras das portas e remates das sancas exteriores, na estreiteza das ruas, na pouca altura das casas, nas pequenas praças, na zona monumental. Diferentes, apenas as típicas grades negras nas janelas.
Como tem sido habitual, num dos cerros da povoação, domina a igreja e o castelo. A igreja de Santa Maria Mayor, construída sobre uma antiga mesquita, é do século XVI estilo gótico tardio cujo topo da fachada é coroado por uma espécie de muretes rendilhados. Estava fechada, como as demais.
Mais acima, na parte mais elevada da urbe, fica o alcácer da antiga fortaleza árabe, construído sobre vestígios de um castelo romano, depois muralhado pelos cristãos. Não sei se estaria acessível, mas já não tínhamos tempo para visitar o conjunto arqueológico situado no topo do cerro.
Descendo, descobre-se a pequena praça central de Medina Sidonia, pouco diferente de uma qualquer congénere alentejana. A diferença descobre-se nos detalhes: nas grades das janelas, nos pátios interiores, nos rendilhados de pedra, nos azulejos, nos pisos das ruas. 
Apesar de partilharem as ruas brancas e estreitas, outras das diferenças mais notadas é no frenesi da conversa entre andaluzes, mais vibrantes do que as dos alentejanos cujo alvoroço é bem mais comedido.  
Deixamos Medina Sidonia com destino a casa e sem outro momento mais interessante de paragem. O cerro do castelo e a igreja de Santa Maria estão iluminados pelo sol que desce rapidamente o seu poente. Daí a pouco a temperatura iria descer aos seis graus centígrados. E aí, o Alentejo batia-se de igual para igual. 

MEDINA SIDONIA NUM MINUTO
Música: Amethystium - Strangely Beautiful