quinta-feira, 9 de maio de 2013

Galgar Sintra



Saída às dez e meia, por entre um ar embaciado por nuvens cínzeas mas pálidas de água. Chegada ao meio-dia e meia já sob sol, porém frequentemente envergonhado. Catorze à partida, catorze à chegada, sem que ninguém se perdesse. Cerca de seis quilómetros percorridos, com algumas, poucas, paragens, as necessárias para manter o grupo coeso.




Estava fresco mas rapidamente aqueceu no cimo da primeira escadaria que nos levou do estacionamento próximo do Museu Anjos Teixeira ao centro da vila, trepando ali perto do antigo hospital de Sintra. Na subida, percebe-se a degradação a que chegaram algumas das casas, mas também cedo se vislumbra a beleza do conjunto ambiental que domina toda a vertente norte da serra e que serve de cenário à vila de Sintra.


A proposta desafiava desta vez um percurso acessível, desde o íntimo da Volta do Duche até à majestade do Castelo dos Mouros, por entre o cenário apaixonante da floresta sintrense, trepando entre quintas. E assim foi, mal vencemos a subida da Quinta da Regaleira e deparámos com os portões de Seteais. Não sem antes experimentar o desconforto de um dos bancos fronteiros à Quinta do Monteiro dos Milhões, mas que convenceu alguns a guardar alento para mais uma subida.









O passeio começava aqui, entre os muros das quintas que trepam a serra, desta vez muitos esmagados pela queda de portentosas árvores mercê do temporal das semanas anteriores. Algumas, jaziam arrancadas pela raiz, outras já estavam cortadas – até para permitir a passagem de pessoas – outras ainda estavam partidas a meio.





Sensivelmente a meio caminho, uma delas derrubou mesmo os muros recentemente reconstruídos, de um de outro lado do trilho, empilhando pedras de um aldo ao outro, que dificultavam a passagem sobretudo aos que desciam a vereda em duas rodas.



Andamos a par ou em fila indiana. O solo não é regular em algumas passagens, está escorregadio embora não ensopado e sente-se muita humidade no ar. À volta é o verde que domina, deixando aparecer de vez em quando ora o castelo dos mouros, ora o palácio da Pena.



O ambiente húmido atenuou-se ao chegarmos ao asfalto, praticamente no topo da subida da Pena. Pouco depois, estávamos a virar para o castelo, onde o piso passa a paralelepípedos e a ladeira dá lugar à estrada plana. Isto até aos lagos da Pena. Depois, há mais um esforço até à entrada dos jardins do castelo.


A partir daqui, vamos ao longo da muralha escarpada, passamos por um túmulo que ladeia a igreja românica de S. Pedro de Penaferrim, continuamos a descer, ultrapassamos a sepultura do escritor Ferreira de Castro e deixamos as muralhas em S. Pedro, esgueirando-nos por uma viela antes da igreja de Santa Maria. 



Partilhámos o percurso com alguns turistas que aproveitam, como nós, o céu azul, a calma da floresta e a mistura de odores do caminho, de um caminho com piso aceitável mas, que quer seja a subir ou até mais a descer, deixa os joelhos atentos ao esforço. 






Continuamos a descer, entramos no Parque da Liberdade, baixamos por entre as acácias e os fetos, passamos pela gruta/ermida da senhora da Pena, surpreendemos alguns animais excentricamente exóticos.



Pouco depois, estávamos e praticamente no final do pedestre, o que só acontece depois de deixarmos o museu Anjos Teixeira e voltarmos ao estacionamento encimado pelo perene palácio da vila.



Há quem se apaixone pela frescura dos caminhos, pela cor da mata, pelo cheiro da floresta, pelo gigantismo do arvoredo, pelo som dos riachos e pelo cantar dos pássaros ou até mesmo pelo silêncio da serra, e queira voltar. Outros ficam imediatamente prisioneiros da alma da montanha e do bosque, atrás das grades do prazer que é andar por Sintra.




Música: Hiroshima, Long Walks
ver neste formato

terça-feira, 7 de maio de 2013

A Arte do Rock


O título soa bem, The Art Of Rock, a Arte do Rock. É alegre, sonoro e envolvente. Mas a exposição não é sobre a arte da música rock. Vai para além da música. É sobre o talento plástico dos artistas de rock.
Dezembro 2012. Chegou a 14, saiu a 26. Em pouco menos de duas semanas o talento plástico dos músicos do rock esteve presente no Hard Rock Café de Lisboa. No piso superior do antigo cinema Condes, nos Restauradores. Trata-se de uma exposição itinerante. Lisboa e o Hard Rock Café foram os últimos sítios onde estará aberta ao público. Uma tournée que envolve quatro dezenas de obras de uma vintena de músicos.
Manhã de domingo. Estava pouca gente no rés-do-chão. Todos estrangeiros, praticamente. À entrada, pedimos para subir: "faz favor!", disseram-nos de imediato, um pouco mais à frente: “espere que não está limpo...”, de seguida, “pode subir!”. Subimos. Em cima, as paredes do andar superior estavam preenchidas com os quadros das vedetas, numa espécie de caleidoscópio artístico de artistas do rock. No chão, porém, as cadeiras ainda estavam de pernas para o ar...
Tramada, estava a luz da exposição. Se, por um lado, o ambiente é soturno no meio do daquele espaço, por outro, a luz que iluminava os quadros incidia de maneira tal que chegava a ofuscar a vista. Propositado ou não, a verdade é que as fotografias não ficaram grande coisa. E valia a pena divulgar as imagens, já que, estavam ali quase meia centena de obras de artistas como Ringo Star, dos Beatles, Ronnie Wood, dos Rolling Stones, Paul Stanley dos Kiss ou Pete Twonshend dos The Who
Os elementos dos The Who eram os mais representados na exposição. Além do guitarrista Pete Townshend, estavam lá também obras de Roger Daltry e de John Entwistle. Era possível descobrir auto-retratos de Michael Jackson e Jim Morrison, uma estrela de Ringo Star e uma colecção de máscaras dos Iron Maiden. 
Podia-se ver ainda Jerry Garcia (Grateful Dead) como anjo a voar sobre o planeta. Também lá estavam obras de Frank Zappa, Alice Cooper, Billy Idol, Lou Reed e Mike Oldfield. O de cima é de Ringo Star. 

Música: Deep Purple - Smoke On The Water



A Arte da Escultura

É uma arte antiga, tão antiga como a história, como a pré-história. Começou como representação antropomórfica dos deuses, mas hoje já representa conceitos, estados de alma ou simplesmente intervenções sobre espaços e materiais.
A escultura é essencialmente visual, táctil, até auditiva. São sobretudo imagens plásticas em relevo. Estéticas fundamentalmente. Muitas, percebem-se imediatamente. Outras, dificilmente se entendem. Ainda outras, só explicadas se hão de apreender.
Há uma pluralidade de condições na arte em geral e na escultura em particular que balizam o entendimento, a emoção e as concepções. Perceber a origem, o significado, as relações estabelecidas, o tema frequentemente, a ordem, a linguagem, a distribuição espacial, a dimensão, nem sempre é fácil, raramente é simples. Sobretudo quando não é representada uma forma reconhecível.
Para além das mais antigas peças em bronze e em pedra descobertas na Índia, também a China produziu vasos em bronze dez séculos antes de Cristo e, já no II a.C., possuía o famoso exército de terracota de Xian. Na América, são famosos os altos-relevos maias e aztecas, em África são as reproduções antropomórficas em madeiras nobres e, na Europa, já os gregos esculpiam em mármore e bronze dez séculos antes de Cristo.
Se bem que a pré-história e a antiguidade clássica tenham representado figuras simples criadas à imagem humana - para além de peças meramente decorativas - a evolução histórica e a distribuição geográfica dos autores criou uma grande diversidade na arte em geral e na escultura em particular.
Essa multiplicidade pode ser percebida quer nos materiais – argila, pedra, madeira, cera, metal, plástico, etc – quer na evolução cultural dos estilos – vidé Europa, com o românico, o gótico, o renascentista, etc – quer nas diferentes concepções e experiências dos artistas, quer na distribuição geográfica.
A escultura em espaço público continua a contemplar representações de temas clássicos, mas também a problematizar, a interpretar e a metamorfosear as coisas do mundo, sejam elas naturais, construídas ou simbólicas, sejam elas abstracionistas, simbólicas, surrealistas ou simplesmente estilizações, em criações alusivas a personagens, ideias ou peças.
Hoje fala-se muito de intervenção e do carácter de comunicação da escultura no espaço público enquanto forma de partilhar conhecimentos, estéticas e emoções. Contudo, a dificuldade de as perceber mantém-se como desafio às competências, à imaginação e ao gosto de todos os que, pelo menos, param para apreciar uma obra escultórica ou vão propositalmente a uma exposição de escultura. 

Os JARDINS DA GULBENKIAN

reúnem desde há anos um conjunto de esculturas que já parecem fazer parte daquele espaço sem tempo. São os casos da simbólica Papisa, de Clara Menéres, do abstrato Satirycon (imediatamente a seguir), de Ruben Nakian, ou do metamorfótico Sauterelle (imediatamente anterior), de Germaine Richier.

A do paredão de Cascais, intitulada ARTEMAR

constituída por obras que defendiam a relevância da preservação marinha com um enfoque expressivo na mensagem ecológica, incidia também na reciclagem de desperdícios de materiais. Aqui, valorizava-se de uma forma simbólica o mar enquanto energia que alimenta a vida.
Estavam lá os David’s (imediatamente antes), de Ricardo Lalanda, aquelas formas geométricas gigantescas que pareciam guardiões dos oceanos; a Distância (imediatamente a seguir), de Cecília Costa, com aquele (também) convite ao descanso com cadeiras nas rochas e um tapete vermelho para uma cadeira em posição-chave para também contemplar o mar; ou, a Arca de Msanbweni, de João Parrinha e Xani Kreuseder, aquela simpática tartaruga voadora, a denunciar a poluição marítima; ou, ainda, aquela estilizada “Linha do Horizonte” (a encimar a Artemar), de Pedro Léger Pereira.

Já na SINTRA ARTE PÚBLICA IX 

na Volta do Duche, em Sintra, no âmbito de exposições periódicas mostra-se, por exemplo, o Titã Fragmento (no topo da mensagem), de Beatriz Cunha, o Fauno, de José Alves (imediatamente antes), ou a Eva, de Diogo Rosa (imediatamente a seguir), cerca de uma dúzia de esculturas sob o tema dos mitos e das mitologias, criadas sobretudo em pedra no âmbito do projecto Sintra Arte Pública IX.

Fim