sábado, 24 de novembro de 2012

Riso A Sério



Quase cem anos de humor. Até 17 de Março próximo. No piso de exposições do museu da Electricidade. É gratuito e divertido. A sério, não é piada. Desde os cães de cerâmica ao ditador Chaplin, passando por uma mulher que folega de rabo para ar, a coisa é a sério.



Não sei se será piada. Mas, “Riso: Uma Exposição a Sério”, é mais sobre o humor. Sobre as diversas facetas, suportes, géneros, abordagens e respectivos protagonistas. São muitas centenas de peças, entre clássicas e algumas inéditas, de mais de uma centena de autores.
Abre com um careto e passa pelos clássicos espelhos distorcidos de feira, por uma caveira autografada, por um burro estilizado, representações ambíguas que tanto podem provocar o riso como convocar o medo. Ou por outros objectos impregnados de um humor mais vago, como fosse um caniche esfíngico ou um Salazar de porcelana. 
Mais do que o riso, é o humor que está presente da pintura à ilustração, dos desenhos às fotografias, do cinema à televisão, sendo estas últimas as mais representadas, provavelmente também as mais “fáceis”, as mais consumidas e por isso as mais próximas de muitos de nós.
É fácil reconhecer muitos: Simpsons, Raúl Solnado, Charlot, Herman José, Gato Fedorento, Paula Rego, Monty Pythnon, Joana Vasconcelos, Danny Keye, Contra-Informação, Bocage, Woody Allen, além de outros menos suspeitos como Mario Cesariny, Vieira da Silva ou até Da Vinci. Mas também lá estão as séries humorísticas e sitcoms portuguesas, inglesas e americanas

É uma exposição séria e a sério, diversa em suportes e proveniências, historicamente abrangente e vasta em matéria de obras e autores. Talvez a montagem e o percurso tivessem mais piada se não parecessem um dédalo de armazém chinês. Acrílicos, seriam mais caros certamente. 
Talvez haja televisão a mais, mas é sinal dos tempos. Talvez faltem (poucos) cómicos e comediantes, haja uma ligeira ausência de anedotário e não esteja presente mais  provocação. Talvez lá falte mais riso, mais risos, os risos das pessoas. Mas "Riso" é uma exposição, não um catálogo, um museu ou uma antologia.


Já foi alvo de reportagem pela RTP2, no Câmara Clara, de 4 de Novembro último. 
Se tiverem pachorra para aquelas perguntas prenhas de erudição, têm aqui as respostas
Como é habitual, o importante é ir. Ao vivo é mais divertido.



O Riso em pouco mais de um minuto de imagens.
Música: The Who, Want Get Fooled Again



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

XIX Aniversário CPEP


Como não consegui calcular a que horas podia sair, não combinei nada com ninguém. Chegámos à fila que andava no Aqueduto das Águas Livres, ali pela Serafina, perto das cinco e meia da tarde. Passámos o aperto habitual da migração diária para a margem sul do Tejo através da ponte 25 de Abril, acompanhando a serenidade do rio que deixava fazer esteira aos barcos que o sulcavam.

Ainda hoje, aquela passagem, aquela fronteira, é algo de inspirador, sinónimo de que há festança, que a viagem começou. Estava uma ligeira brisa, mas como não chovia e o sol ainda estava relutante a desaparecer no mar, o início da viagem prometia.

Um pouco mais tarde, o céu alaranjou-se, o vento amainou e o mar encrespou-se apenas junto à praia. Numa das dunas, um par de noivos pousava para a posteridade. No bar da praia havia sapateira recheada. O cenário não podia ser mais auspicioso. Foi assim, no Meco, por volta do final da tarde de sexta, a caminho do XIX aniversário do Clube Pan European de Portugal.
Pôr do sol no Meco
A partir da rotunda de Fernão Ferro a estrada piora a caminho da Lagoa de Albufeira. São as raízes dos pinheiros que levantando o alcatrão corcundam o piso. É preciso reconhecer a linha em que se desenvolvem e seguir ao lado para chegar à lagoa sem sobressaltos. Depois da aldeia do Meco, a estrada de acesso à praia também está muito estragada.
Nascer do sol na baía de Sesimbra
Mau, mau, está o piso da estrada que vai do castelo de Sesimbra e dá acesso à vila pelo poente – que só nós fizemos. Há mais buracos do que asfalto. Porém, aquela hora, o sol ilumina toda a concha sesimbrense, incluindo o castelo, e o panorama é muito agradável para a vista.

Ao descer entre as urbanizações mais recentes que pontuam a vertente oeste, é possível vislumbrar toda a baía e o cenário das casas alvas incrustadas na encosta leste, que aparecem no extremo da falésia como um balcão pendurado sobre o mar.
Jantar de sexta em Sesimbra
O Hotel do Mar, em Sesimbra, tem uma situação invejável. Implantado numa zona sossegada, domina toda a baía desde a lota a oeste até à encosta nascente. Está a poucos minutos do centro da vila e a dois elevadores de distância de uma praia extensa e tranquila. Ao chegar, depois de encontrarmos o António Cunha foi a vez de conhecermos o casal Miguel e Carla Silva.

Já era tarde quando deixámos o hotel à procura de restaurante no centro da vila. Jantámos n' "O Velho e o Mar" e, tal como o pescador da estória de Hemingway, também tivemos o nosso quinhão de sorte e quase conseguíamos um low cost, se tivessem aparecido mais um ou dois casais... 

CRISTO-REI, UM CLÁSSICO

Na manhã de sábado, a praia estava lotada de gaivotas e nós extasiados com a cumplicidade de azuis entre o mar e o céu. Saímos pouco depois das nove da manhã, percorremos a vila e deixámo-la pelo lado nascente. O João liderou o cortejo que levou até Almada, a caminho do Cristo Rei. No terreiro do estacionamento, já lá estava o Manuel Arez que num instante ficou cercado pela comitiva.
O edifício do Cristo-Rei tem mais de 50 anos e é uma das mais altas construções de Portugal, com 110 metros de altura. Constitui-se como um dos miradouros mais interessantes de onde pode ser vista a cidade de Lisboa, de onde pode ser observada a travessia da ponte 25 de Abril - incluindo a mais recente passagem do comboio – uma plataforma de onde pode ainda ser visto o ocaso do Tejo na foz de Cascais.
Detalhe da ponte, com o comboio a passar
Tal como o Porto, também Lisboa se estende até à foz, onde encontra Cascais, local onde o pôr-do-sol costuma ser idílico. Sob o rio, estava a habitual névoa matutina que costuma também mascarar a capital sob um manto translúcido que, muitas vezes, apenas cobre o rio.
Olhámos Lisboa de frente, pendurámo-nos nos sobre o Tejo e dobrámos o pescoço para ver a estátua de Cristo que encima o pórtico. Pouco depois, deixávamos Almada, atravessávamos a ponte e parávamos em Alcântara para nos juntarmos ao Carlos Santos, ao João Pereira, ao Mário Louro e aos novos sócios Luís Cravo e esposa. 

Sesimbra e Cristo-Rei em vídeo
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Música: Santana, Caravanserai

CÂMARAS, REGIES, PIVOTS E ESTÚDIOS

Seguimos pela 24 de Julho, atravessámos o Terreiro do Paço, seguimos pela Infante D. Henrique, passámos a estação de Santa Apolónia, virámos para Xabregas, subimos Chelas e chegámos à RTP. Um a um, ultrapassámos a cancela, passámos pelo primeiro carro de exteriores da televisão portuguesa - arrumado numa garagem, à direita, na curva - deixámos o refeitório e cercámos o parque de estacionamento central.  
Depois, "formámos” em frente da entrada principal e registámos o momento em fotografia. O João encabeçou o grupo e foi o guia de serviço nos meandros da televisão pública. Começámos pelo estúdio de Informação, centro nevrálgico das notícias que a o serviço público emite através de vários canais. Andámos pelo “set” ao sabor daquela quantidade de novidades, que vão à dimensão das mesas, à abundância de holofotes, à multidão de botões, às cores e texturas dos materiais.
Na 'regie' de Informação
Aproveitámos para sentir o lugar do pivot das notícias – espaço central dotado de uma mesa gigantesca - para espreitar a régie de informação – uma espécie de aquário cheio de monitores – e para notar o movimento das câmaras de estúdio. Ficou talvez ainda a ideia que endeusa aquele espaço e a função, mas o passar por ali também é capaz de ter criado alguma proximidade com esse imaginário que todos os dias nos entra em casa.
Continuámos para os estúdios de rádio - quase duas dezenas - que se estendem ao longo de um corredor como favos de abelhas. Exíguas como são a maioria dos espaços dedicados à rádio, aproveitámos para entrar no centro de distribuição dos sinais, onde nos foi explicado sinteticamente por onde anda a radiofrequência. Deixámos os “aquários” da rádio e atravessámos a rua a caminho dos estúdios de produção de programas.

São maiores, mais altos mas, sem os cenários completos, parecem nus. Por isso, estava frio naquele espaço que habitualmente recebe o talk show da tarde de semana, Portugal No Coração. Anexo, está o armazém de cenários e adereços, uma espécie de sótão, onde se vai buscar tudo o que falta para preencher o espaço dos programas. Deixámos a RTP era quase uma da tarde.

Lisboa e RTP em vídeo
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Música: Santana, Caravanserai

BAÍA DE CASCAIS

Marginal fora, demos com um mar tranquilo, pouco trânsito e um sol esplêndido. Estacionámos as motos na marina de Cascais e fomos até ao Baía do Peixe, um restaurante situado no mesmo espaço do antigo Baluarte. Já lá estavam duas novas caras do clube, o Nuno Brás e a Cátia, de Sintra. O lugar é excelente, sobretudo do ponto de vista paisagístico, a dominar uma serena baía de Cascais.
Quando saímos da Baía do Peixe, tínhamos mais de uma hora de atraso face ao horário do programa, a tempo porém de nos despedirmos do Tejo e rumar ao Guincho, seguir para a Malveira da Serra, subir para a Penhinha, desviar para o cruzamento dos Capuchos e parar no Castelo dos Mouros. 
Um itinerário que funde o mar bravio e a imponência da serra, que vai do azul oceânico ao verde forte dos bosques sintrenses, da marginal do Guincho às florestais da serra. Caminho estreito mas com pouco trânsito sobretudo a partir do Guincho.

NO ADARVE, ESPREITANDO ATRAVÉS DAS AMEIAS

Foram poucos os que quiseram conquistar o castelo. Uns porque não gostam, outros porque já conheciam. O castelo de Sintra é um dos bons exemplos de arquitectura militar anterior à nacionalidade, cujas muralhas se encontram em boa condição de conservação. Julga-se que a construção original seja de finais do século VIII, princípio do IX, depois reparado no século XII e seguintes.
Em piores condições de preservação está a capela românica/gótica do castelo que, embora mais recente do que as muralhas e torres – remonta ao século XII – está numa fase de recuperação. A entrada do castelo também mostra uma obra destinada à edificação de um centro de interpretação. Mais à frente, parece que haver escavações.

Mas é também a paisagem que se avista desde as muralhas – e nós só fomos às do lado norte e poente – que surpreende. Dali domina-se toda a zona costeira que vai do cabo da Roca até muito para além da Ericeira. Alguém reconheceu mesmo as Berlengas envoltas numa mescla de névoa e céu azul.
O Castelo dos Mouros está inserido num parque florestal lindíssimo que vai desde a estrada, antes ainda da entrada do Portão de Armas, até São Pedro, por meandros entre rochas e árvores centenárias, conseguindo-se chegar ao castelo e ao palácio num passeio pedestre fácil, diferente e agradável.

Eu sou suspeito, porque sempre que posso vou para Sintra. Hoje, nota-se mais preocupação sobre a serra, palácios e jardins incluídos, embora também se pague por isso. Capuchos, Pena, Monserrate, Mouros são locais que sofreram intervenções recentes e que vale a pena serem visitados. Monge e Peninha é que tardam em ser atendidos...

Sobre Sintra,

http://cordeirus.blogspot.pt/2010/10/trilhos-de-sintra.html http://cordeirus.blogspot.pt/2008/06/trepar-sintra-de-novo.html




Saímos do castelo quando o sol já ameaçava mergulhar no Atlântico. Passámos pelos portões do palácio da Pena, descemos para São Pedro, entrámos no IC19 e parámos à porta do palácio de Queluz. Daí a pouco, o Luís Cravo surgiu com várias caixas de pastéis de nata da Marianita, vulgo Sebastião, pastelaria que é um dos ex-libris de Queluz. Se bem havíamos almoçado, melhor saboreámos o lanche acompanhado pela excelência das fachadas da pousada e do palácio.

Sobre os palácios da "linha" de Sintra

MUITOS ANOS DE VIDA!


Já anoitecia quando voltámos ao IC19, rumo a Lisboa, numa altura em que já se haviam formado dois grupos. Chegámos a Sesimbra antes das oito da noite, já escuro, mas ainda a tempo de descansar ou fazer tempo para sair para o jantar. Nós aproveitámos o cenário panorâmico que o bar oferecia e estivemos à conversa com o casal Nuno/Cátia.

Pouco depois, pusemo-nos a caminho do jantar de aniversário e percorremos a pé toda a marginal até ao restaurante Canhão II. Partilhámos o espaço com um casamento barulhento que foi necessário sossegar durante a refeição. Notícia foi também o reaparecimento do Vasco, um dos mais antigos do Clube que parece ter vontade de nos voltar a acompanhar.


Cascais, Castelo dos Mouros e jantar de aniversário em vídeo
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Música: Santana, Caravanserai

NINHO DE ÁGUIAS

A manhã de domingo alvoreceu sombria, confundindo os cinzentos do céu e do mar. Apesar disso, não chovia. Despedimo-nos do Hotel do Mar e dos que saiam mais cedo para rumar a norte. Voltámos à estrada, agora para um curto passeio até ao castelo de Sesimbra.

Embora tenha origem remota difícil de datar, as muralhas actuais do castelo não têm mais de dez séculos, julgando-se serem do início de 1200. Tal como o de Sintra, nunca sofreu assaltos devastadores e, por tal, as muralhas estão praticamente intactas.
O panorama é excelente desde as ameias. Estivesse um dia soalheiro e a baía de Sesimbra teria ficado registada em admiráveis postais fotográficos. Mesmo assim, e visto que não chovia, pudemos andar ao longo dos adarves e espreitar pelas ameias de onde se pode contemplar toda a zona urbana.
Detalhe do painel de azulejos da igreja do castelo
Mais antiga, mas bem conservada, está a igreja de Nossa Senhora do Castelo, situada no centro do recinto muralhado. O interior é amplo, com apenas uma nave, e as paredes estão revestidas por azulejos azuis e brancos seiscentistas. Em redor do altar é a talha dourada que domina.
Saíamos em direcção ao cabo da Roca, percorremos uma dezena de quilómetros e paramos no moinho da Azóia, o único da zona que ainda trabalha. Nesta manhã, porém, ainda estava à espera de que a brisa que soprava se transformasse em vento. Tirámos algumas fotografias junto às velas, eu deixei cair a moto por causa de uma entrada de quinta mais elevada e depois arrancámos para a Arrábida.

GRELHADOS E "CHÔQUE FRITE"


Assim que começámos a subir a serra, a estrada já se mostrava molhada e o céu ficou mais carregado de nuvens negras. Mesmo assim, ainda foi possível parar na berma e observar a paisagem que vai do cimo da serra para o assoreado estuário do Sado e para a península de Tróia. Caíram mais umas pingas enquanto descíamos para Setúbal, mas não passaram de um falso alarme.

Mais tarde, durante o almoço, caiu uma bela carga de água, mas também foi curta. Tivemos a companhia do Gonçalo, da Joana e do mais recente membro do CPEP que já anda em três rodas. A caminho de casa, ainda na auto-estrada, e agora apenas na companhia do Armando e da Teresa, voltou a chover mas nada de especial.
Fechava o XIX aniversário do CPEP que, apesar de pouco concorrido, permitiu ir de Sesimbra a Lisboa, depois a Cascais através da marginal, a seguir a Sintra atravessando a serra, e parar em frente do palácio de Queluz, fazendo pouco mais de duzentos quilómetros. E, no dia seguinte, ligar Sesimbra a Setúbal, através da estrada cénica da Arrábida, num périplo de mais cerca de sessenta quilómetros. Ou seja, um passeio de fim de semana que envolveu cerca de duzentos e trinta quilómetros, e que elegeu o miradouro do Cristo-Rei, a visita à RTP e aos castelos de Sintra e de Sesimbra, como seus pontes fortes.

Para o ano há mais. O Vigésimo.
Parabéns CPEP!