sexta-feira, 30 de maio de 2014

World Press Photo

É raro visitar exposições de fotografias. Talvez porque a net está cheia de imagens, também eu faça fotografias, ou estejam habitualmente expostas em locais acanhados. Por isso, talvez não vá. Ou, ao contrário, sejam justificações para ir. Porque são exclusivas, porque têm uma apresentação diferente, porque obrigam a ir ao local onde estão.

Sendo uma exposição de fotografias premiadas, há o incentivo dessa particularidade. Como seja a que está a decorrer no Museu da Electricidade, em Lisboa. O World Press Photo Contest laureou 53 fotografias, de entre quase 100 mil a concurso. Competiram mais de 5 mil fotógrafos de 132 nacionalidades. É o resultado dessa escolha que está exposto no andar superior do museu.
As fotografias exibem algumas características comuns. A que mais me surpreendeu foi o conteúdo. A maioria dos conteúdos é dramático, provocador, mas também muito humano e desafiante. A maior parte das imagens elege como alvo a violência natural ou humana, conflitos armados, terrorismo, cataclismos, doenças e respectivas vítimas.

Vítimas de um tufão nas Filipinas, de um atentado bombista em Boston, de violência doméstica, de discriminação de género, da guerra civil síria, de problemas mentais, de um massacre terrorista no Quénia, do colapso de um prédio no Bangladesh, de um blackout em Gaza, do crime organizado, dos efeitos de ferimentos em combate, de morte.
São fotografias impressionantes. Por isso, capazes de nos sensibilizar e de nos assustar. Sendo imagens imóveis, ficam mais tempo, reforçando a impressão. Têm provavelmente mais força do que outras, semelhantes, passadas através de outros meios, até mesmo da televisão, onde certas imagens já se banalizaram.
São alguns retratos, imagens da natureza, e do desporto (embora nem todas), que suavizam a intensidade dramática da maioria das fotografias expostas. No entanto, poucas são as que não têm uma mensagem, melhor, um significado associado, por mais inocentes que possam parecer.
Muitas são intrigantes, especialmente as que envolvem pessoas diferentes, pessoas que por razões diferentes vivem de maneira diferente. Parecem estabelecer um contraditório, um reverso, especialmente as que traduzem modos de vidas pacíficos e alternativos.
Fotografar fotografias parece redundante. Ir é necessário. Depois, olhar apenas é suficiente. O sítio e o espaço de exposição são também eles diferentes. As “photos” estão aqui na versão digital, em https://www.worldpressphoto.org/awards/2014













quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Samurai Hoje

A cultura asiática como um todo continua ainda a surpreender os europeus. Os comportamentos, as atitudes, a estética, a mentalidade ou a filosofia são alguns dos aspectos em que a diferença cultural mais se nota.


A cultura nipónica per si é uma das mais fascinantes. Durante muitos anos fechada ao mundo, foi com os portugueses de 500 que os japoneses começaram a partilhar alguns aspectos da sua cultura e a incorporar na sua alguns aspectos da cultura nanban-jin (bárbaros do sul).
O Museu do Oriente encerra alguns testemunhos dessa época de descoberta e partilha, como sejam os famosos biombos nanbam, as caixas de medicamentos, os capacetes, as roupas ou as armaduras dos samurais. Mas é sobretudo na segunda metade do século XX que alguns elementos culturais se salientam e começam a ser divulgados um pouco por todo o mundo.


A figura do samurai constitui-se como parte da cultura japonesa, já que congrega um conjunto de elementos culturais, sobretudo os valores éticos e morais, e de comportamento, que o irão singularizar face a outros grupos ou outras figuras da cultura nipónica. Indissociável desta figura - esteta e espiritual, poética e estoica, mas também impiedoso e austero – o uso da espada surge incorporado na identidade e no modo de vida do samurai.
É com base na espada que o samurai vai construir um conjunto de técnicas e práticas que lhe permitirá defender-se (e também atacar). É da revisão e readaptação desse conjunto de técnicas, que nasce o Aikido. Foi esse elencar de técnicas que a escola Tenchi Internacional e a Associação Portuguesa de Kendo levaram ao Museu do Oriente, sob a orientação de Amândio Figueiredo.



Enquadrada na celebração do Dia Internacional dos Museus, a iniciativa "O Samurai de Hoje” privilegiou na demonstração o manejo do sabre (aiki ken), as técnicas de mãos livres (tai jutsu), o manejo do pau (aiki jo), manejo das espadas (kendo) e arte do desembainhar da espada (iaido).


vídeo em




quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Tempo Resgatado ao Mar



Há alguns anos que a arqueologia subaquática não vinha à tona de água.
É raro ver testemunhos do passado - estribos, pontas de machados, chaleiras, compassos, pequenas figuras decorativas, lanças - tantos anos submergidos. 
Por isso, puxa-los para a superfície do olhar é bem-vindo.
É essa a proposta da exposição, "O Tempo Resgatado ao Mar", patente no museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
Há na exposição um fascínio pelas peças.
Uma espada que já partilhou muito com o mar.
Fivelas que não se deixam intimidar (nem) pela água salgada.
Moedas incrustadas em rochas.
Um par de brincos em ouro que parecem novos.
Sextantes, uns irrepreensíveis.
Muitos parecem novos, a estrear.
Outros, deram-se bem com o mar.
Outros, têm uma pátina decorrente das transformações químicas entre os materiais.
Outros ainda, aproveitaram capas naturais para se resguardarem dos efeitos da água.
Outros ficaram para sempre grudados.
São objectos resgatados ao mar, ocultos durante décadas ou séculos, provenientes de ambientes desconhecidos, praticamente inacessíveis e que trazem associados história e transformações químicas.
São mais de 300 peças, entre sobretudo, cerâmicas, metais e madeiras, recuperadas do fundo do mar e dos rios
Algumas dessas peças nunca estiveram em exposição.
Abrange-se um período extenso, desde a Antiguidade até ao século passado.
A diversidade das peças passa por, cordames, faianças, armas, jóias, barros, moedas, pratos em metal, talheres.
Alguns continuam mesmo mergulhados no ambiente em que foram encontrados.
Como é o caso de uma espada e de um mosquete, envolvidos numa espécie de conglomerado (areia, conchas, pedras).


O fascínio pelas peças passa não só pela respectiva genialidade artística, mas também pela sua utilidade técnica e história associada.
É o caso de uma piroga, encontrada no rio Lima, datada entre os séculos VII e IX. https://www.facebook.com/pages/Museu-Nacional-de-Arqueologia/308510899048


África Reencontrada.
O Ritual e o Sagrado em duas colecções
públicas portuguesas

Ao fundo desta exposição há uma outra, mais pequena, também temporária, intitulada, “África Reencontrada. O Ritual e o Sagrado em duas colecções públicas portuguesas”.
Trata-se de uma organização tripartida entre a Direcção Geral do Património Cultural, o Museu Nacional de Arqueologia e o Instituto de Investigação Científica Tropical.
São sobretudo objectos rituais, de festa e/ou de culto religioso, mas também de poder, ou como é comummente aceite em ciências sociais, objectos pertencentes à esfera mágico-religiosa e à da simbologia de poder.
São máscaras, adornos, bastões, que fazem parte dos cerimoniais, neste caso de comunidades guineenses e angolanas.
Trata-se de materiais simples, madeira sobretudo, associados aos ritos das tradições das comunidades.
Assumem simbolicamente uma condição que aliam ao seu possuidor ou utilizador.
São também peças artísticas de produção artesanal, habitualmente distintas umas das outras por semelhantes que sejam.  
As exposições estão bem iluminadas, são espaçosas e a informação escrita não é exaustiva (felizmente).
A entrada é gratuita ao domingo de manhã.
Percorre-se em meia-hora, talvez o dobro se se atender aos detalhes.
E há bastantes.
Um deles, por exemplo, na exposição sobre os achados subaquáticos mostra uma tsuba - parte protectora de uma catana/sabre japonês - encontrada numa nau portuguesa que naufragou à vista de Lisboa.


Demonstração de Kenjutsu


Esta descoberta foi mote para uma demonstração de Kenjutsu, apresentada como 'arte da lâmina', na Noite dos Museus, que aconteceu no último sábado, 17 de Maio, protagonizada por elementos da Associação de Bugei de Portugal.

A apresentação começou pela parte prática da arte na vertente modelar (katas).

Concretizada no exterior, exactamente à porta do museu, sob o "olhar" de um guerreiro lusitano esculpido em pedra.
Passou depois para o interior do museu, para junto da peça em exposição, onde foi feita uma abordagem histórica e técnica do objecto, da diversidade de estilos e dimensões, do trabalho artístico - onde até os motivos cristãos apareciam -, da utilização social - uma vez que eram apenas os samurais que podiam utilizar os sabres -, além de outros aspectos culturais relacionados com a história dos samurais e do Japão.


vídeo da demonstração - versão curta
música: Young Taiko Drumers

ligação para a versão completa do vídeo


Todo Este Chão


“À Noite no Museu” contemplou ainda uma actuação de um grupo musical composto por dois guitarristas e de um contrabaixista, acompanhados por uma voz feminina, num espectáculo da autoria de Ricardo Fonseca, intitulado “Todo Este Chão”, e que interpretou temas de música portugueses.

versão única de vídeo


MARROCOS 2014 - Meknès, Zagora e Agadir


A programação inicial contemplava uma etapa de Tanger a Marraquexe, dali a Agadir, depois Zagora, Marraquexe de novo, para terminar em Meknès e sairmos por Ceuta.
Porém, uma feira de agricultura e um festival religioso em Meknès, a coincidir com as datas previstas, deixou-nos sem vaga nos hotéis.
Todo o trajecto teve de ser refeito e reprogramado exactamente ao contrário.
Os contactos logísticos esticaram-se inclusivamente aos dias de viagem.
Desta vez, a novidade era, Meknès, Zagora e Agadir.
E também repetimos, Tanger, Chefchaouen e Marraquexe.
Andamos por sítios catitas, e outros nem tanto, entre medinas desconhecidas, ruínas esquecidas, mercados de levante, obras infindáveis, paisagens lunares, oásis imensos.
E ainda por vastas planícies, montanhas inóspitas e chegámos quase a pôr o pé no deserto.
Está lá tudo. Fomos aproveitar!

ATÉ TANGER, SOB O SIGNO DOS HORÁRIOS


Saímos às 7 da manhã. Como habitualmente.
Onze dias depois, regressávamos ao final da tarde. Como habitualmente.
Desta vez, éramos dez, em seis Pans. O que já não foi banal.
Há dois anos, somamos 24 pessoas em 16 motos.
Desta feita, o Carlos Mariano havia adoecido em cima da hora e o Luís Pereira partido os óculos no dia anterior .
Mesmo o Justino estava renitente em avançar.
Era importante chegarmos antes das quatro e meia da tarde a Tarifa.
Reservámos os bilhetes da travessia na FRS, mas precisávamos levantá-los no escritório da companhia, a tempo de apanhar o barco das 17 horas. Conseguimos. Mesmo considerando que a única vez que "perdemos" duas das motos foi na entrada de Tarifa.
De manhã, a reunião magna fez-se na área de serviço de Loulé, já um pássaro se deixara apanhar na frente de uma das Pans.
Pouco depois do meio-dia, parámos para almoçar na área de serviço La Florida, no início da autopista Sevilha-Cádis.
Ainda descansamos 5 minutos algures antes de Algeciras e chegamos a Tarifa a tempo de entrarmos para o barco das 5 da tarde.
A ideia era chegar a Tanger à mesma hora, uma vez que em Marrocos é menos uma do que em Espanha.
Contando com uma hora para expediente de fronteira, estaríamos no hotel por volta das seis, a tempo de dar um passeio pela medina.
Na fronteira, em Tanger
Despachamos a papelada fronteiriça em meia hora.
Mas um dos documentos andou perdido.
Desperdiçamos a vantagem.
Entretanto trocamos dinheiro logo a seguir à fronteira e o périplo pela medina foi substituído pelo jantar e por um passeio à beira-mar onde mais parecia estarmos num calçadão andaluz.
Ficámos no Hotel Rif e SPA, na avenida marginal de Tanger, perto da praia e da medina.
Dedicamos a manhã à medina, apesar da má fama de que goza.
Começamos pela bateria militar, no terrasse Borj al-Hajoui, que também é miradouro.
Passamos o hotel Continental, situado numa posição privilegiada entre o porto e a medina, e percorremos algumas das vielas, para depois desembocar numa praça que dá acesso ao Petit Socco, o mercado do sítio.
À porta do hotel RIF e SPA, Tangerr
Peça de artilharia de costa no miradouro Borj El-Hajoui, Tanger
Arquitectura colonial, Tanger
Construção sobre as muralhas portuguesas, Tanger
Banhos árabes na casbá, Tanger
Zona habitacional na Casbá, Tanger
Ainda entramos numa loja, daquelas que lembram a caverna de Ali Baba, recebemos saudações dos empregados dos cafés da medina e ainda nos surpreendemos com a construção de casas sobre as ruínas dos antigos torreões da fortaleza que foi portuguesa.
Saímos de Tanger por volta das 11 da manhã.
A partir daqui os horários estiraram-se bastante
Destino: Chefchaouen.

UM ALMOÇO DEMORADO SOBRE OS TELHADOS DA CIDADE DA MEDINA AZUL

De Tanger a Tetouan vai uma via rápida de faixa dupla.
Mas o piso é manhoso, polido, a aconselhar prudência na inclinação.
Faz-se rapidamente.
De Teouan a Chefchaouen, é pior.
A estrada estreita bastante e as bermas são de terra.
Os camiões sobretudo cortam as curvas e ficamos à mercê da terra e das pedras que saltam para o asfalto em plena curva.
Medina de Chefchaouen
Restaurante "Aladdin", Chefchaouen
Por volta da uma da tarde estávamos de novo na cidade da medina anilada.
Não sem antes a tal estrada manhosa já ter atravessado dois ou três, nós incluídos.
Falhei um desvio e cruzamos um mercado de rua local.
Estacionámos no já conhecido largo do hotel Parador que borda a medina.
Estava calor. Chegamos a acordo sobre o local de almoço e fomos a caminho do “Aladdin”.
Subimos os três andares trepando por uma escada estreita e almoçamos quase no terraço.
Foram praticamente duas horas, na conversa, a tirar fotografias, a olhar a paisagem.
Estávamos tranquilos e provavelmente saudosos.
Afinal, foi naquele sítio que muitos haviam almoçado pela primeira em Marrocos.
Terminamos já depois das três da tarde.
E ainda fomos dar uma volta na medina, cujas vielas são das mais simpáticas de Marrocos…

Voltamos à estrada já sem horário. O piso manteve-se bera e a velocidade ajustada.
Quando a escarpa de Moulay Idriss, a cidade do profeta, apareceu no horizonte, o pôr-do-sol já se havia instalado por trás das casas alvas.
Era tarde para visitar o mausoléu do descendente directo do Profeta Maomé, Moulay Idriss, o santo mais venerado de Marrocos.
Miradouro sobre Chefchaouen
Apesar de serem apenas 300 e poucos quilómetros desde Tanger, foi já ao anoitecer que chegámos a Meknès, em plena hora de ponta.
Quando entramos na garagem do hotel Menzeh Dalia era praticamente hora de jantar.
E valeu a pena. Além de ter sido o melhor hotel da jornada, foi também o que serviu a melhor refeição.
Ficou o despertar matinal pela medina de Tanger, a rapidez da via-rápida até Tetouan, a malvada estrada de Tetouan a Meknès, o agradável almoço em Chefchaouen.
E ainda um desvio desnecessário, mas curto, que nos levou pelo Marrocos profundo, numa estrada rural, a caminho de Zagota…

MEKNÈS: A MEDINA, A PRAÇA, A PRISÃO E O LAGO

Meknès seria um dos pontos de novidade da viagem.
Da cidade, conhecíamos o restaurante do hotel Ibis - onde os nosso blusões haviam deixado uma valente poça de água há uns anos - a praça Hedin e 20 metros dentro da medina - onde havíamos almoçado ao som de música local na mesma ocasião. 
Das cinco cidades imperiais, Meknès é que tem menor oferta hoteleira.
Ficamos alojados a cinco quilómetros do centro da cidade que já foi capital de Marrocos.

De manhã, o tempo molhou-se mas não passou de borrifos.
Abrimos o dia a caminhar para a praça de táxis. Teoricamente, porque tudo é negociado e o hotel não os chamava… A dividir por todos – o (grande) táxi leva seis passageiros, e nós somos apenas cinco por viatura – é barato.
Pouco mais do que se cada um desse gorjeta aos “gardiens” das motos.
Em frente do museu Dar Jamai, Meknès
Deixaram-nos na praça Hedin. É uma espécie de Jemaa Al Fna, de Marraquexe, embora de menor dimensão.
Mas tem os atractivos essenciais: algum caos, cobras, ginastas, comércio de levante, gente sempre a passar.
E, do outro lado da avenida, tem a Bab Mansour, talvez a porta mais bonita de Marrocos.

Duas perspectivas da Bab Mansour
A praça Hedin dá acesso à medina e ao museu Dar Jamai.
Foi este último que visitámos ainda de manhã, um palácio do século XIX, agora dedicado à arte marroquina.
Dez dirhams depois, entravamos nas salas que expunham joalharia, trajes tradicionais, objectos de uso doméstico, trabalhos em madeira e tapetes.
Vistosa é também a arquitectura do edifício, antes pertencente à família Jamai, hoje propriedade do Estado.
O museu é semelhante ao museu municipal de Marraquexe, que havíamos visitado há dois anos.
Enquanto o espaço do de Marraquexe é maior, sobretudo a área do salão central, o de Meknés é mais discreto sendo, porém, museologicamente mais rico.
Interiores do palácio-museu Dar Jamai
Surpreendentemente, tivemos a discreta companhia de um guia.
De vez em quando, chamava a atenção para um ou outro detalhe.
Exceptuando a visita a Chellah, há quatro anos, em Rabat, não me lembro de dispormos de guia em qualquer outro monumento ou museu marroquino.
Os guias, aqui, dedicam-se mais ao exterior, sobretudo às medinas.
Felizmente. Se não, em certos casos, andaríamos horas à procura da respectiva saída. 
Depois, arriscamos pela medina que sabíamos, como tantas, ser labiríntica.
Íamos à procura da Grande Mesquita que, com dificuldade, parecia identificarmos de vez em quando.
Embora não seja tão grande como a de Marraquexe, a medina de Meknès também não parece tão rica, melhor, tão faustosa em matéria de lojas e produtos.
Voltamos à Hedin e almoçamos junto às muralhas, num terraço que dominava a praça e os arredores.

Diversos aspectos da medina, Meknès

Há trabalhos em madeira surpreendentes mesmo no exterior
À tarde, atravessámos a avenida e fomos a caminho de Dar Kebira, a zona histórica da cidade também envolvida por muralhas.
Entrámos pela lateral da Bab Mansour, para a praça ampla Lalla Ouda onde observámos um carro possivelmente da Google a filmar em redor daquele espaço.
Praça Lalla Ouda
Qualquer dia, há mapas detalhados das medinas e já não nos conseguimos perder…
Enganamo-nos e tivemos de voltar para trás após uma tentativa de entrar na zona antiga.
Já não falhamos a Bab Filala e acabamos por desembocar em Habs Qara.
É uma prisão subterrânea cujo projecto foi encomendado pelo sultão Moulay Ismail, o mesmo que consagrou Meknès como capital.
Terá sido um português a realizar a obra, que havia de albergar milhares de prisioneiros.
A dimensão embora vasta, onde se multiplicam colunas, abóbadas e respiradores, não deixa de surpreender imaginando que estiveram ali milhares de pessoas, com luz escassa e ar rarefeito…
Notam-se os respiradores ao fundo, no telhado da prisão subterrânea Habs Qara  
O espaço esta vazio e dispõe de algumas luzes e reentrâncias sem função.
Notam-se os respiradores no tecto, sente-se alguma humidade e pareceu-me haver um leve odor a bafio.
Não houve, como de costume, qualquer acompanhamento, literatura ou informação histórica sobre o sítio.

Próximo, fica o mausoléu daquele sultão fundador da dinastia alauita que transformou a cidade num estilo hispano-árabe que ainda hoje evidencia.
Logo a seguir, ficam os muros esguios do palácio real, que levam às ruínas dos imensos estábulos construídos no reinado de Moulay Ismail.
Porta de acesso ao Mausoléu de Moulay Ismail
Ao longo dos muros / muralhas do palácio real em Meknès
Não entramos neste complexo que também incluía um enorme celeiro, mas andamos em redor do lago Agdal, um imenso reservatório de água destinado a irrigar os jardins vizinhos.
Naquele dia, alguém alimentava os peixes com pão, enquanto os patos iam aproveitando a fartura de peixes…


Homenagem à água, junto ao lago Agdal
Lago Agdal
Saímos por uma zona residencial, calma, moderna, uma espécie de bairro mais parecido com os nossos.
Pouco depois, voltamos a andar junto das muralhas.
Quando chegamos à avenida principal as muralhas continuavam.
Até à praça El Hedin.

Saímos pela Bab En Nouar e acabamos o dia a beber chá numa das esplanadas da praça Hedin, observando a preparação da dinâmica da noite que a tarde já fazia adivinhar.
As cobras e os acrobatas já tinham chegado.
Já se jogava para ganhar um refrigerante. 
Dois “grand táxi” depois e chegamos ao hotel onde já não eramos o único grupo de motociclistas presente no jantar.
À saída do hotel Menzeh Dalia, Meknès
Da cidade, fica a memória das extensas muralhas, da lindíssima Bab Mansour, da cosmopolita praça Hedin, da tenebrosa prisão Qara, dos altos muros do palácio do rei e do lago/reservatório onde os patos não passam fome.

LIGAÇÃO A MARRAQUEXE: AUTO-ESTRADA E PRAIA

Até Marraquexe são cerca de 470 quilómetros. Tudo em auto-estrada.
O trajecto é plano e monótono. Há muito trânsito na proximidade de Rabat, quando surge uma “nacional” de ligação, e perto de Casablanca, onde os 3 milhões de habitantes enxameiam os arredores.
Por isso, fizemos uma paragem em Mohamedia, na Zimmer Beach, um complexo turístico junto à praia., onde ainda trocamos algumas palavras com um casal português e um filho residentes em Marrocos.
Almoço na Zimmerbeach, Mohamedia
Almoçamos peixe junto de uma piscina em recuperação, com uma temperatura excelente, um sol radioso e uma paisagem de praia e mar soberba.
Ainda encontramos um grupo de motociclistas portugueses na auto-estrada Estes dispunham de motos de estrada. Saiam da portagem praticamente quando nós estávamos a chegar.
O sumo de laranja na praça Fna...
...os vidros e 

...aquela confusão que vai até aos fios.
Entramos em Marraquexe ao final da tarde pelo “palmeiral”, uma espécie de cintura ecológica formada por palmeiras que também abriga uma das zonas mais caras da cidade.
Ficamos alojados no já nosso conhecido El Andalous, um hotel de 4 estrelas que dista cerca de 15 minutos a pé da praça Fna.
À procura dos dirhams à porta do hotel
A noite não acabaria sem que alguns dessem um passeio pedestre até à famosa praça que bordeja a medina de Marraquexe. Estava animada. Prometemos lá voltar daí a quatro dias.
Apanhamos uma caleche e regressamos ao hotel ainda cedo.
Afinal, sempre estavamos com quase 500 quilómetros em cima e ainda não tínhamos feito a parte "in" da zona.
No dia seguinte, havia que trepar o Atlas.
Á saída do Al Andalous, Marraquexe

ATRAVÉS DO ATLAS ATÉ OUARZAZATE 

Estacionamento junto ao casbá Taourirt, Ouarzazate
Há dois anos, o piso pareceu-me melhor.
A estrada que sobe o Atlas está bera e continua a ter um tráfego de camiões que obriga a fazer alguns troços a velocidades que envergonham um ciclista.
Embalar é mesmo coisa árdua, a não ser que a subida seja feita com um ritmo mais vivo, mas que também pode afastar-nos uns dos outros.
Estamos a passear no estrangeiro, numa estrada com mau piso, mal conhecida. É para andar “piano”.
E para chegar inteiro ao famoso Tizi N'Tichka, um dos passos do Atlas, já cerca dos 2200 metros de altitude.
Lá estavam os habituais vendedores de artesanato, lá estacionamos próximo da indicação da altitude, lá bebemos o chá da praxe.
Almoço em Ouarzazate
Para baixo, os santos já estavam mais atentos, e quer o piso quer o trânsito melhoraram.
Entramos em Ouarzazate por uma nova rotunda alusiva aos estúdios Atlas que ali próximo já foram cenário de muitos filmes.
Atravessámos a avenida principal até à zona do casbá Taourirt próximo do qual almoçamos.
Desta vez, aproveitamos a vista panorâmica de um dos restaurantes de cujo terraço se domina a parte central de Ouarzazate e permite perceber a mancha rosada que constituiu a parte edificada desta cidade recente.

PELO VALE DO DRAA


Em estrada, a novidade ia começar a partir daqui.
Até Agdz, localidade que faz a ligação com a zona do Erg Chebbi, com Zagora e com Agadir, é a montanha que domina.
O terreno já há muito que se enrolou. As montanhas torcem-se como papéis amachucados, pintando a paisagem de uma variedade incomum de castanhos.
Não fosse o aparecimento de um ou outro oásis, à beira de um ribeiro minúsculo ou a envolver uma pequena localidade, pareceria estarmos fora do planeta.
O cenário aqui não é muito diferente da paisagem marciana.
É comparar e descobrir qual é onde.
Não é difícil distinguir: se aparecer alguém a vender caixas de tâmaras, é porque se trata de Marrocos.
A paisagem é relativamente homogénea de Ouarzazate a Agdz.
Até aqui é a rocha que domina.
Entre Ouarzazate e Agdz. Além do asfalto, daqui não se via outra coisa que não fosse pedra. 
Depois, porém, surge uma imensa e comprida mancha verde que percorre todo o vale do Draa e leva até Zagora.
É um palmeiral infindável que acompanha os cerca de 70 quilómetros de ligam Agdz a Zagora.
Nota-se ser uma zona mais pobre, com muitas habitações em ruínas, incluindo pequenos ksour (castelos) e kasbás (cidadela defendida por muralhas).
Porém, ao contrário de outras regiões, como seja a que fica entre Agdz e Agadir, há muitas aldeias ao longo do vale, algumas envolvidas pelo palmeiral.
Pena é que as edificações antigas mais atraentes e mesmo as ruínas mais majestosas obrigassem a entrar na terra e a fazer trajectos susceptíveis de furarmos.
Por isso, ficamos pela paisagem, aproveitando um ou outro sítio mais representativo para pararmos, descansarmos e observarmos as diferentes paisagens ecológicas da região.
E para cevar a dinâmica dos miúdos, também.

ZAGORA
ENTRE O PALMEIRAL E O DESERTO

Estreamos Zagora com um pé no "Palais" e outro no "Kasbah".
São ambos hotéis Asmaa, mas onde havia vaga era mesmo no mais fraquito.
Era um três estrelas de deserto, arquitectonicamente atraente, enfiado em pleno palmeiral, com condições suficientes para lá passarmos duas noites.
Se a temperatura estivesse mais alta, a piscina era capaz de ter feito jeito.
E uma garagem também.
A poeirada andava sem rédea no ar, sobretudo ao fim da tarde do dia seguinte.
Deixou tudo o que era fechadura com um manto acastanhado pouco recomendável.
A tampa do depósito de gasolina da minha moto – que já não abria muito bem desde Portugal – passou a necessitar de uma ponta de canivete sempre que precisava de a abrir para abastecer. O pó entrou mesmo na parte lateral do bocal do depósito de gasolina…
Saída matutina do Kasbah Asmaa
Saímos de Zagora para Tamegroute, a acerca de 30 quilómetros.
Íamos à procura do deserto, de uma medina coberta e de uma biblioteca do século XVII com manuscritos do século XIV.
A caminho, passamos por um ksar, rodeado por areia e com uma duna perto.
Mas o acesso era em terra batida e até lá a areia devia aparecer.
Continuamos e na primeira rotunda em Tamegroute encontramos de imediato um guia que se propus orientar-nos pela biblioteca, pela medina e pelas lojas da povoação.

Entrada do Palais Asmaa
Marcamos encontro por ali, mas seguimos na direcção de M'Hamid.
Havia souk (mercado) naquela manhã.
Era o chamamento do deserto.
M'Hamid é por assim dizer uma das portas do Saara, uma espécie de Merzouga mas na região do Souss-Massa-Draâ.
Noites serenas no Kasbah Asmaa
Pouco depois, logo a seguir ao único desvio existente no caminho, ainda vislumbramos um torvelinho que andava perdido a cerca de 500 metros da nossa rota. Ficou por lá.
Poucos quilómetros depois, a estrada de asfalto estava em obras, logo após a ponte sobre o rio Draa.
O lugar coincidia com o fim do palmeiral.
As obras continuavam a perder de vista.
Havia muita pedra solta e as faixas de rodagem estreitaram até ficar apenas uma.
A maioria continuou, mas eu dei meia-volta com o João.
Escolhemos mal. Aqui ainda havia vegetação...
Estavamos a cerca de 60 quilómetros de M'Hamid.
Parámos pouco depois, mandei uma mensagem a dizer que a coisa podia sair “furada” e estivemos um bocado no meio do nada entre areia e alguns arbustos.
Daí a pouco, a decisão foi unânime e os restantes voltaram também para trás. As obras vedavam o acesso das Pans ao deserto.

Não se nota, mas lá ao fundo a areia anda pelo ar como nuvem de gafanhotos
Regressamos a Tamegroute para reencontrar o guia e os gardiens das motos.
Deixá-mo-las à sombra, acompanhamos o guia e entramos no marabut de Tamagroute, uma espécie de espaço de recuperação espírito-sanitária onde se juntavam doentes na esperança de receberem as graças do santo.
A biblioteca era do século XX com estantes em alumínio, mas os manuscritos certamente mais antigos. Percebi que um Corão seria do século XI.
A única cadeira de rodas que vi em Marrocos pertencia a um dos guias da biblioteca, o mais velho.
Aquecia. Continuamos para a medina. As primeiras vielas já estavam cobertas, principalmente com canas e palmas, tornando o caminho escuro, mas mais fresco.
No interior da medina, Tamegroute
Deambulamos pelo labirinto, passámos pela forja e por bandos de crianças.
Até que o guia, Abdul, nos levou até à sua casa.
Entrava-se por uma escada estreita que se abria num primeiro piso para uma pequena sala, para a cozinha e para um quarto.
Estava uma tajine ao lume, mas aparentemente a casa estava vazia de gente.
Um piso acima, no terraço, ficava o redil, onde uma cabra enfezada esperava o destino.
Saímos e continuamos para a zona de olarias, onde os oleiros estavam “enterrados” até à cintura e o girar do barro se fez com os pés frescos…
A seguir, estavam os fornos. É difícil imaginar o calor que, no Verão, não estará ali, mesmo tratando-se de um espaço aberto.
Acabámos numa loja que vendia os produtos ali manufacturados.
O oleiro trabalha meio enterrado
A seguir, ficamos por uma tenda enorme onde almoçamos.
Talvez fosse mesmo o único albergue da aldeia.
Foi aí que nos disseram estar em obras a estrada de montanha logo a seguir a Agdz, que teríamos de ter atenção à estrada uma vez que também tinha uns “fundões” de vez em quando.
Se para estes já vínhamos a ser avisados desde Tetouan. Para tanta obra é que não estávamos preparados.
Uma cozinha numa casa da medina
A tarde foi passada em Zagora, uma cidade com uma avenida principal extensa mas sem grandes pontos de interesse.
Antes de anoitecer o céu turvou-se. Uma nuvem de poeira passou a rasar a copa das palmeiras e a dar um ambiente amarelado a uma espécie de pôr-do-sol que não tinha existido.
No dia seguinte, vimos o efeito da tempestade de areia.
Era mais terra e estava enfiada em tudo o que era fechadura ou estava oleado.
Terminamos a tarde a recordar em imagens o passeio de Marrocos de há dois anos, salvo erro.
Ficou o passeio pela medina de Tamegroute, pela biblioteca, pela casa do guia, a compra de um colar a um artífice local, e claro, a poeirada que nos acompanhou de manhã e a revoada do fim da tarde.

DE ZAGORA A AGADIR
ENTRE OBRAS E AO LONGO DO SOPÉ DO ATLAS

Já sabíamos. Esta devia ser a etapa mais longa em estrada nacional e a mais penosa.
Mas em Tamegroute avisaram-nos: há obras na montanha.
Com efeito, na zona mais alta do trajecto, o asfalto desaparecera.
Passamos a andar sobre terra batida e pedras.
Em vez de terem escolhido uma das faixas para recuperar e a outra para permitir a passagem, arrasaram as duas.
Foi assim durante cerca de 20 quilómetros. Daqui a uns anos, aquele troço deve ser interessante.
Com piso novo, no meio de uma zona acidentada com montes de formas caprichosas, é capaz de ser um belo terreno para andar de moto.
Agora, porém, não passava de uma chacina de pneus, sob os quais resvalavam calhaus que saltavam como pipocas.
Até o regresso da estrada nacional bera se revelou tranquilo. Mas o piso não perdoava. Por isso, fizemos uma paragem "técnica" em Tazenakht.
À sombra em Tazenakht
Almoçamos numa tenda gigante à entrada de Taliouine.
Tínhamos feito 250 quilómetros durante a manhã.
Nada mau, para um piso daqueleS.
Talvez se perceba no vídeo que aquele chão é para cabras, não para motos de estrada...
A refeição foi à vista do ksar que tem o mesmo nome da localidade.
Estavamos num restaurante que também tinha quartos e dispunha de alguns metros quadrados para guardar animais, uma piscina em recuperação e umas quantas árvores de fruta.
A temperatura estava catita para andar de moto.
Almoçar à vista do ksar Taliouine
Cento e poucos quilómetros depois, paramos em Taroudant, uma cidade muralhada que dista pouco mais de 70 quilómetros de Agadir.
Entramos num hotel que ficava dentro das muralhas e ocupamos o jardim junto da piscina para beber uma Coca Cola, repondo açucares e recuperando os músculos mais doridos dos últimos quilómetros em estrada nacional.
Um copo algures em Taroudant
Preparávamos a entrada em Agadir. Até lá, vai uma via rápida que liga alguns "domaines" de produção frutícola e em cujas bermas pastam rebanhos de cabras ou pedalam em bando centenas de crianças.
Chegamos ao hotel Garden Beach ao fim da tarde e assistimos a um pôr-do-sol admirável.
À noite, à laia de reconhecimento, fizemos a digestão ao longo do passeio marítimo que ficava logo abaixo do complexo.
O monte da antiga casbá ao por do sol., Agadir
De manhã, reunímo-nos numa casa de câmbios, trocamos dinheiro e entramos na loja ao lado para procedemos à transferência do valor da reserva para o nosso guia habitual em Marrocos.
Ficamos a saber que o espírito motociclístico está ali a despontar.
O empregado da Wafacash tinha uma YZF, mas já tinha andado fora de estrada na montanha com essa moto de estrada e preparava-se para fazer meio milhar de quilómetros para participar numa concentração em homenagem a um motociclista falecido por acidente. Saiu do guichet só para trocar dois dedos de conversa sobre motos…
Vista de Agadir desde a ruína do casbá
A manhã foi dedicada a visitar a antiga casbá, no cimo do monte que domina a cidade a norte.
O terramoto de 60 destruiu-a, tal como metade da cidade que perdeu cerca de 20 mil pessoas.
A ruína, como a palavra indica, está muito degradada. Parece que apenas os palácios são conservados com uma bitola próxima da europeia.
Almoçamos no passeio marítimo, um espaço muito Europa do sul, onde o peixe reinou.
À tarde, deambulamos pela medina Coco Polizzi, uma edificação que reproduz de forma estilizada uma medina marroquina.
Junta a concepção do arquitecto italiano com a organização do espaço das medinas marroquinas.
Cores, materiais, espaços, dimensões, articulam-se de uma maneira harmónica.
Os 10dh de entrada valem a pena. 
Foi desenhada no início da década de 90 pelo arquitecto italiano Polizzi, nascido em Rabat, e dispõe de muitas lojas onde os artesãos, desde sapateiros a ourives, fabricam as suas peças à vista dos visitantes.
É um espaço nobre, muito atraente, pensado ao detalhe, com cantos e recantos simpáticos.
Porém, está longe da zona mais movimentada.
Foi construída em terrenos relativamente áridos, com mau acesso viário e pedestre.
Seria improvável apanhar um taxi por ali.
Felizmente, os nosso esperaram que visitassemos o complexo. 
Passamos o fim da tarde na marina de Agadir, que passa pelo padrão europeu, com esplanadas, lojas de moda e restaurantes.
A arquitectura é semelhante à de outras tantas marinas do Mediterrâneo.
E a de Vilamoura ou a de Lagos não são muito diferentes.
Está encostada ao enorme porto de pesca da cidade que é o maior exportador mundial de sardinha.  
Vista parcial da marina, Agadir

MARRAQUEXE, DE NOVO, PELO NOVO

São apenas 250 quilómetros que separam Agadir de Marraquexe.
parámos para beber um café numa área de serviço e, antes de almoço estávamos de novo à porta do hotel Al Andalous.
Almoçamos ao ar livre junto da piscina e saímos a pé.

Passamos pelo La Mamounia, um dos hotéis mais famosos e mais caros da cidade, que está a meio caminho entre o Al Andalous e a praça Fna.
Percorremos uma zona comercial e residencial onde algumas surpreendiam pela criatividade. 
Depois, desviamos para o palácio Badi.
Trata-se de uma ruína que dá ideia da grande dimensão do original.
No interior, numa sala fresquinha e bem iluminada, a exposição de um fotógrafo de guerra ilustrava diversos conflitos mundiais.

Duas perspectivas das ruínas do palácio Badi
Saímos a caminho dos Túmulos Saadis mas, tal como o palácio Badi, aquele também fechava às 5 menos um quarto…
Ficamos por ali, observando uma ou outra loja que para nós já são montra do passado, como seja o funileiro ou a drogaria, ou outras mais exóticas, como a dos fósseis ou do artesanato africano.
Depois, fomos direitos à Fna.
Estava muita gente, mesmo para aquele hora, a caminho do fim da tarde.
Não tardamos a enfiar pelas vielas principais da medina.
Conforme íamos andando as ruas mostravam produtos e objectos organizados por tema.
Ora eram as especiarias, ora cerâmica. ora antiguidades, ora cestaria.

Apesar de já as conhecermos, parece que aquela canseira de objectos não fadiga. 
Talvez por o assédio da compra ser escasso nesta zona os possamos olhar com mais tranquilidade.
Saímos de lá uma hora depois.
Infelizmente não nos perdemos.

Combinamos jantar na varanda de um dos restaurantes que ladeiam a praça.
Não foi fácil encontrar lugar vago.
Estava muita gente na praça, nos restaurantes, a espreitar desde as varandas.
Apesar de estarmos na semana a seguir à Páscoa, Marraquexe estava pejada de turistas.
É verdade que na Europa, nem todos passam férias antes da Páscoa...
E a animação correspondia a essa dinâmica.
Além dos vendedores de levante, lá estavam os diversos grupos que dançam, cantam, jogam, fazem teatro.
As pequenas lanternas continuavam a enxamear o chão e a contribuir para criar uma atmosfera de magia dificilmente conseguida em qualquer centro histórico de uma cidade europeia.
O tempo colaborava. Quase não havia vento.

MARRAQUEXE / CEUTA
A ULTIMA ETAPA EM SOLO DE MARROQUINO

Amanheceu fresco.
Esta foi a etapa mais longa em Marrocos por auto-estrada, 640 kms.
Também a mais monótona, não fosse a parte final com o atravessar dos montes próximos de Ceuta e aquela sensação de borboleta que o vento forte da zona impõe.
Almoçamos na área de serviço de Bouznika, logo após termos parado a seguir a uma portagem onde estava um grupo de portugueses com motos TT à volta de uma delas que, segundo nos disseram, tinha um problema grave.

Animada esta gente, na avenida principal de Ceuta.
Ceuta surgiu por volta das seis da tarde.
Atestámos em Fnideq para gastar os últimos dirhams e percorremos a marginal que liga a localidade a Ceuta.
A passagem na fronteira, apinhada de gente e de angariadores, foi rápida.
De carro, a coisa tinha dado para o triplo do tempo.
Preenchemos os papéis individuais de saída, entregamos os passaportes e os papéis da moto.
Esperamos pelo carimbo no passaporte e pela aferição do documento da moto.
Um quarto de hora depois, estavamos no último controlo fronteiriço marroquino.
E, além do passaporte, o polícia devolveu-me uma esfuziante informação: “o Benfica ganhou 2 a 1 em Itália!”.
Já tínhamos notado que os marroquinos estão muito adictos ao futebol. Em Tanger, havia muitos cartazes a anunciarem que alguns espaços transmitiam o desafio entre o Real Madrid e o Barcelona em ecrã gigante.
Plaza de los Reyes, Ceuta
O escudo de armas de Ceuta, um testemunho da nossa história
Estacionamos as motos no parking do Parador, a tempo de tomar uma banho, descer, beber um Gin tónico musculado e sair para o assador que fica na zona pedestre.
Exceptuando as Muralhas Reais, no centro da cidade, ainda não foi desta que visitamos as diversas fortalezas de que Ceuta dispõe.
Jantamos bem, em jeito de tirar a barriga de misérias.
Uma alegria a coincidir com o fim de festa.

BEQUE OUME

Nascer do dia em Ceuta
Apanhamos o barco das 9 da manhã.
Não estava muita gente, como é habitual.
Uma hora depois, estavamos a sair em Algeciras.
Paramos na primeira área de serviço da autovia para Jerez de La Frontera e despedimo-nos.
Fomos ficando pelo Algarve por Lisboa, Coimbra e Aveiro.
Nós, três áreas de serviço depois e depois de nos separarmos do João, chegávamos a casa no final da tarde.
Última foto da viagem na área de serviço de Palmela

POR LÁ

Desta vez, a logística foi facilitada pelo diminuto número de participantes.
Tomávamos refeições rapidamente, continuamos a ter desconto no ferry por ser um grupo “organizado”, despachamos a fronteira num instante, trocamos dinheiro rapidamente, reabastecíamos em dez minutos, a entrada nas cidades era mais simples, as motos estacionavam mais próximo uma das outras, dividíamos o grupo por dois táxis.
Nos hotéis não foi preciso fazer registo, pelo que bastou entregar uma folha com os dados dos participantes aposto o numero de entrada em Marrocos.
Ninguém se perdeu ou ficou sozinho durante muito tempo. Um susto ou outro. Algumas surpresas boas e outras nem tanto, mas tudo dentro do previsível em Marrocos.
Os bilhetes da travessia Ceuta-Algeciras
Os preços estão mais altos. O crescimento económico faz destas coisas.
Também há mais tráfego, mesmo na estrada. Há mais camiões e até meia dúzia de motos com matrícula marroquina.
E também mais carros, de todas as marcas, incluindo Mercedes, embora não se vejam tantos BMW’s como em Portugal.
A frota de “petit taxis" foi praticamente toda renovada, agora com muito material Renault.
E também há muitas casas, muitas delas ainda devolutas. Faz lembrar um país que com um perfil semelhante anda entroikado até às orelhas.
Parece no entanto que é o estado (por mão do rei) que está a assumir os empréstimos, pelo que a banca pode não vir a arrogar o protagonismo que por cá vingou.  
A gasolina subiu 3 cêntimos em dois anos, ou seja, cerca de 30%. O preço dos hotéis também subiu cerca de 20%. O sumo de laranja na Fna já vai em 4 cêntimos, mais 30% face há dois anos.
A discussão dos preços e o valor aparentemente insano do primeiro preço pedido mantém saudável o contacto entre os forasteiros e vendedores.
Os miúdos andam em bandos ao sair da escola.
E vão todos de bicicleta.
Mas só elas têm bata.
A polícia continua a estar à entrada das povoações.
Em alguns locais dispõe de dispositivos anti-fuga.
Os condutores marroquinos encostam e quase param nesses controlos.
Felizmente, a políca também “fecha” os olhos às secantes aos traços contínuos, essas linhas infinitas que se dão tão mal com os estrangeiros…
O famigerado documento de importação temporária de veículos
Vêem-se mais “seguranças” nas grandes cidades, mas nem por isso se nota mais insegurança.
A manutenção continua a ser algo com que os marroquinos lidam de uma maneira particular.
As estradas podiam ter um piso melhor se a maioria das obras não contemplasse apenas poucos quilómetros.
A circulação viária na estrada continua a ser lenta e nas cidades mantém-se o salve-se quem puder habitual.
A higiene também parece que não sofreu alterações.
As toalhas costumam ditar o padrão de limpeza e raramente mereceram nota positiva.
Desta vez, visitamos mais. Mas nem por isso sentimos que o que é mostrado tem sido valorizado ou interessa ser divulgado, muito menos “vendido”.
Almoço de grupo
Os preços das comunicações móveis são assustadores. Embora Marrocos esteja mais próximo de Portugal do que de França, o custo das chamadas por telemóvel atingem facilmente os dois dígitos.
A moda de reconhecimento dos portugueses chega a ser irritante, já que os vendedores, especialmente os de Zagora, repetem até à exaustão a eloquente expressão: "...se queres, queres! Se não queres, não queres"...

Apesar de o nível de vida estar mais caro, de haver muitas obras, mais carros, mais prédios, que estão a transformar o ambiente marroquino, a temperatura do ar, a simpatia das pessoas, as paisagens diferenciadas, o aumento da rede viária, a saborosa gastronomia, são aspectos que continuam a deixar uma estrada aberta para quem queira descobrir ou voltar ao Magrebe.

link para o passeio em vídeo       MARROCOS 2014 - VÍDEO