Na medida em que seríamos obrigados a pernoitar entre Marraquexe e Fez, a escolha recaiu sobre Afourer, onde ficamos alojados num “4 estrelas” - hotel Tazarkount - recente e espaçoso, situado num local tranquilo, a dispor de hammam – banho de vapor com passagem de “savon noir” destinado à limpeza da pele. Fomos ao banho. Apesar de acanhado, o espaço e o sistema proporciona-se à farra e, mais balde menos balde de água, enfiado pela cabeça abaixo, todos sobrevivemos à água a escaldar e àquela espécie de geleia. Uma alegria.
A noite começou a revelar os planos de regresso de alguns, que queriam voltar mediante outro calendário ou horário. Ficamos a saber que o Arlindo faria o trajecto de Fez a Isla Canela e o Joaquim tentaria fazer o caminho directo para a Trofa. Depois, outros três também manifestaram a intenção de seguir mais cedo, passando para Espanha no último dia, em vez de ficarem em Tanger. Assim foi, com algumas peripécias pelo caminho.
Entretanto, tínhamos programado um almoço em Ifrane, uma localidade que aparenta ser como qualquer uma congénere europeia de montanha. Terra de emigrantes, situada a cerca de 1700 metros de altitude, tem perto uma estância de esqui. Muitos parques, envoltos em árvores altas, telhados das casas em bico, cadeiras em palhinha nas esplanadas, fazem da povoação um misto de ambiente parisiense e cenário suíço.
Foi lá que almoçámos. Também estava programada uma paragem em Azrou, poucos quilómetros antes, mas não sei se por faltar pouco, se por algum trauma da viagem anterior, não o fizemos (1). Ifrane estava perto e era bom caminho. Possivelmente não valeria mesmo a pena parar previamente. Talvez se o fizéssemos naquele saliência onde estavam montadas diversas lojas de artesanato em madeira, tivéssemos aproveitado da aprazível vista sobre o vale.
(1) Há 3 anos, havíamos sido surpreendidos pela neve, quando trepámos a Floresta de Cedros, e Azrou foi o local de partida para essa jornada não muito auspiciosa.
Verificámos mais uma vez mais que choveu bastante em Marrocos no último Inverno. Era um vasto lençol de água que banhava o sopé de uma zona montanhosa que deixava Azrou rumo a Fez. Os efeitos da chuva também foram sendo aferidos pelas suspensões que não se fatigavam de ir negociando buracos e lombas. Mas continuávamos distraídos por cenas bíblicas – as célebres imagens da anciã de véu escuro montada num burro - ou de transportes insuspeitos de limpeza e armazenamento da carga – como o que levava duas vacas numa grade e, prudentemente, fazia as curvas sem qualquer inclinação de risco. Outros vagares.
Música: Kitaro, Silk Road
Sem comentários:
Enviar um comentário