quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ROMA ET URBI


Roma não parece uma capital.
Os prédios não são altos e as ruas não são amplas.
E, neste final de Julho, nem o trânsito é caótico.
Os edifícios são harmoniosos, os monumentos fascinantes.
Os turistas destacam-se, os romanos mal se notam.
Mas há por ali uma fusão simpática entre uns e outros.
Estar é como pertencer.
É fácil sentirmo-nos romanos.
Talvez seja da parecença com as urbes portuguesas.
Mas em bom.
Piazza Torre Argentina
De Remo e Rómulo na colina capitolina a Vitor Emanuel na Piazza Venezia;
de Júlio César na via dei Fori Imperiali a Marco Aurélio na Piazza del Campidoglio;
de Garibaldi na piazza do mesmo nome ao tritão da piazza Barberini;
de Giordano Bruno no Campo de’Fiori à Minerva na piazza do mesmo nome;
a estatuária de Roma é um ícone da capital italiana.
Piazza que se preze, possui uma estátua.
Outras, além das estátuas têm fontes.
Outra ainda, além de ambas, tem um obelisco.
O Coliseu continua a ser um dos pontos-chave de Roma.
Culmina a via dei Fori Imperiali, que atravessa o fórum.
É neste fórum que está o maior número de vestígios romanos da capital italiana.
Em redor, há quase tantos guias como turistas.
Mas a monumentalidade continua a fascinar.
Ali, a imaginação fica mesmo à mercê da realidade.
É outro mundo que nos envolve.
O tempo e a história continuam a ser cúmplices da felicidade.
Num dia, consegue-se cumprir um percurso que leve aos monumentos principais do centro de Roma.
Mas fica muito por ver, por fora, por dentro e na periferia.
Mesmo no núcleo central, não se vai além das fachadas.
Não por lentidão ou desinteresse.
É que, cada exterior é uma tela de arte, cada interior um ninho.
É para ser visto devagar e com carinho.

 Música: Avatar, James Horner
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Tropeça-se a cada passo em vestígios históricos.
Está muito calor.
Mas ninguém morre de sede em Roma.
Também se tropeça em fontes.
No largo de Torre Argentina, tropeça-se também no passado.
Aqui, a fila para o chafariz era internacional.
Em redor, são quatro os templos que nos despertam os sentidos.
Estrasburgo, cujo nome original era Argentoratum, dá nome à praça.
 
Os dourados e os mármores do Vaticano continuam levar magotes de turistas ao Vaticano.
Nos museus é a riqueza artística das obras que fascinam.
Na basílica de São Pedro é sobretudo a dimensão que esmaga.
Sem os ombros cobertos as mulheres não podem entrar.
Ficam à porta ou compram um lenço nos vendedores ambulantes.
Praça de São Pedro, Vaticano
Originalmente, o edifício destinava-se ao túmulo do imperador Adriano.
Não há muitas fortificações como a do Castel Sant’Angelo.
Aliás, não há castelos medievais em Roma.
A pé, desde o Vaticano é um instante.
Há quem diga que o mesmo trajecto pode ser feito através de túneis.
Estes ligariam o centro nevrálgico da igreja romana ao castelo.
Não fosse o Papa precisar de sair à pressa…
Castel Sant'Angelo
Sem sorte, não se descobrem tesouros.
Nem um excelente esparguete ‘ao pesto’ numa esplanada do outro lado da ponte que desemboca no Castel Sant’Angelo.
Nem se chega à excelente Gelateria Del Teatro, que saiu do beco - onde neste dia gravavam - e veio para a esquina da rua.
O mesmo preço e qualidade, mas agora num ambiente de luxo.
A arte existe, saborosa, doce e fresca.
Mesmo numa ruela ou num beco.
Beco do Teatro
Na Piazza Navona a arte também continua presente.
Quer nas obras expostas, quer nos desempenhos dos artistas de rua.
Muitos expositores, mas pouca gente a deambular.
Mas, a Fontana dei Quattro Fiumi continua a não ter vagas para poses fotográficas.
E os restaurantes mantêm os preços pouco convidativos.
O ambiente, esse, é ímpar.
Com tantas praças em Roma, parece não haver duas iguais.
 
O Mausoléu de Augusto fica praticamente à beira do Tevere, na piazza do mesmo nome.
Está totalmente envolvido por ciprestes.
Mais depressa se encontra a exposição de fotografia de Sebastião Salgado no Museo dell'Ara Pacis.
Estão ambos perto de uma das fontes mais concorridas de Roma.
Sobretudo em dias em que o termómetro chega facilmente os 35 graus.
 
Dali à Via del Corso, uma das ruas comerciais da capital italiana, é um instante.
Ainda lá anda muita gente as compras.
E, até à Piazza di Spagna, sítio da famosa escadaria dos desfiles de moda, são mais dois ou três quarteirões.
A primeira podia ser uma rua da Baixa lisboeta mas mais limpa e apertada.
A segunda pode-se comparar à escadaria da Assembleia da República em São Bento, se fosse mais estreita e melhor decorada.  
A missa terminava dentro de meia hora no Panteão.
É mais bem conservada obra do período greco-romano.
O edifício parece não ter dois milénios de vida.
No exterior, a animação ainda era iluminada pelo sol tardio.
O mesmo que aclarava a Fontana de Trevi, uma excepcional concepção barroca.
Tinha a lotação esgotada, como habitualmente.
Voltámos a prometer regressar.
Nem que seja de Vespa!
Roma não cansa.
Doze quilómetros a pé, desde as 9 da manhã às 6 da tarde fazem-se bem.
Mesmo com a temperatura acima dos 30 graus.
Não fosse a varanda do edifício Vitor Emanuel, no cimo da colina capitolina, nem se perceberiam muitos dos telhados de Roma, já que o percurso que liga os sítios mais emblemáticos é plano. 
Roma ao fundo, desde a Nomentana
Se criarmos um roteiro de sítios, as ruas de ligação parecem-se umas com as outras.
Independentemente de estarmos no Trastevere, entre a piazza di Spagna e a via del Corso, nas proximidades da piazza Navona, ou da piazza de La Rotunda até à piazza Venezia, ou ainda desta até ao Pantenon.
O centro de Roma é um hino de homogeneidade e simplicidade com refrões históricos grandiosos.
O que está em Roma deve ficar lá durante muito mais tempo.
A ideia e a vontade de preservar revelam-se muito fortes.
Roma  parece muito próxima de nós, da nossa cultura.
Está perto do nosso quotidiano, sobretudo do ponto de vista histórico e do ritmo diário.
Mas Roma não é Lisboa.
Alguns dos seus traços identitários - harmonia, estética e herança histórica - continuam a fazer a diferença.


Música: Avatar, James Horner
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