quarta-feira, 2 de outubro de 2013

LUGANO DO LAGO

Na Europa ocidental, os cenários de montanha sobretudo da alta montanha, são exclusivos dos Pirenéus e dos Alpes.
Os primeiros são mais selvagens, maciços, estendem-se como cordilheira.
Os segundos parecem uma mão cheia de montes.
Os Pirenéus parecem toscos e bravios.
Os Alpes, graciosos e arrumadinhos.
Os primeiros estão para a Península Ibérica, tal como os Alpes estão para a Suíça.
“Homens e natureza organizam-se de maneira diferente.
Outra natureza, outra cultura…”, escrevi há uns anos.
Queria relevar distinções sociogeográficas das áreas montanhosas.
Lembrei-as há pouco.
Com efeito, a montanha fecha-se nas pequenas comunidades mas abre-se à natureza.
Rua do centro de Lugano
Esta encapela-se montanha acima e abaixo, com extremos de calor e frio, de sol e chuva, de floresta e aridez, de vales e declives.
As pessoas vivem essas condições de forma simples e determinada.
Mas têm normas rigorosas.
Uma delas, continua a obrigar a comprar um selo para atravessar a Suíça por auto-estrada.
Custa 30€ mas garante a possibilidade de circular durante 14 meses.
Não é caro, face ao custo de atravessar França.
Porém, as informações viárias já não são o que eram.
Talvez os GPS’s e a internet tenham comprometido o padrão das dezenas de placas informativas que há anos proliferavam em cada cruzamento.
E, quando se espera mais de meia hora para entrar num túnel – São Gotardo – sob uns valentes 35 graus e, depois, lá dentro, a temperatura sobe até aos 39, a neve nos píncaros ali próximos parece uma miragem.
Na auo-estrada ficamos a saber mais sobre o consumo livreiro suíço.
E 'As Montanhas Ecoaram', de Khaled Husseini, sobre as relações familiares no seio de uma família afegã, estava no primeiro lugar de vendas.
Não só aqui, mas também nos EUA, em Itália, na Irlanda, na Austrália.
Logo a seguir, estava o incontornável sentimental Nicholas Sparks.
E depois, E. L. James, a mais recente heroína dos romances eróticos.  
O livro colocado em quarto lugar das vendas custava 5 euros.
Os campeões de vendas estavam com 15% de desconto.
Não parece difícil aderir à cultura livresca.
Lugano segue o padrão das restantes povoações que se erguem desde a margem dos lagos e polvilham as encostas como presépios de casas com telhados inclinados.
As ruas estão eximiamente limpas especialmente as que são exclusivamente pedestres na parte nobre da cidade.
Lugano, capital da Suíça italiana, embora apresente o mesmo padrão, tem uma grande influência das Rivieras mediterrânicas.
Até tem praia.
Mas não tinha muita gente na água.
Outra particularidade é a partilha do lago e o enclave italiano no espaço suíço.
Há partes do lago que pertencem a Itália, assim como a localidade de Campione, quase fronteira a Lugano junto à margem.
Há carreiras regulares de barcos a ligar as diversas localidades do lago, em muitos casos a ligar a Suíça à Itália.
A cidade está construída em socalcos para fazer face ao declive acentuado, por vezes abrupto.
A paisagem é soberba.
Toda a encosta parece uma sucessão de varandas ajardinadas.
Quando se trata de subir ou descer, os túneis e os elevadores são preciosos.
Encontramos um dos túneis decorado com jornais.
Sobre os quais haviam sido pintadas cenas de lazer a preto e branco.
Ao fundo do túnel, além da luz, descobrimos um jornal português.
Um Destak, de uma 3ª feira. 
O túnel evitava a travessia de uma artéria viária.
E colocava-nos próximo da catedral.
Para evitar o túnel, podíamos ter apanhado o funicular.
A distância não grande, uma vez que o perfil da subida é muito íngreme.
Há-os por todo o lado, inclusivamente dentro do espaço urbano.
Um dos mais famosos é o do Monte Bre, nos arredores de Lugano.
A distribuição das casas pelas encostas anula o crescimento de prédios em altura e a ocultação do sol imprescindível às restantes habitações ou pisos inferiores. Um luxo.
Outro, está à porta do casino: são alguns topos de gama de marcas míticas italianas ou alemãs. 
Ainda outro: uma débil circulação automóvel na cidade.
As pessoas preferem andar a pé. Com tanta gente por lá, seria impensável levar o carro para a “baixa” em dia de festa.
Aparentemente as pessoas não são sofisticadas, embora possuam produtos de qualidade.
Os produtos têm preços elevados.
No dia nacional da Suíça os restaurantes estavam repletos, havendo mesmo fila de espera para os mais caros.
Mesmo assim, não parece haver um consumo de ostentação.
Da festa faziam parte dois momentos principais.
O desfile das comunidades, ou seja, um cortejo que praticamente se cingia às colectividades e outras entidades com carácter mais institucional (bombeiros por exemplo).
E um fogo-de-artifício, cerca das onze da noite.
É que, no dia seguinte, é dia de trabalho.
Se o desfile foi rápido e simples, o fogo foi longo e sofisticado.
Também não deve ter sido barato.
Monte Bre
A proximidade ao lago é directamente proporcional ao custo do alojamento.
Quanto mais central e junto à água mais caro é.
O panorama, esse, funciona na razão inversa.
É de cima que se pode apreciar aquela espécie de baía que margina a cidade.
Praia de Lugano
Nos multibancos da “baixa” de Lugano, a nota mais pequena disponível era de cinquenta euros.
Não foi a refeição mais cara.
Mas foi aqui seguramente que a água - abundante Alpes fora - foi comprada mais cara.
Uma garrafa de água mineral custou 8,5 francos suíços (mais ou menos o preço médio de uma garrafa de vinho em Portugal) num restaurante low cost. 


Lugano ganha com o lago.
Embora a água seja tão escura como a dos canais de Veneza, o lago também ilumina a cidade.
Mas aqui há montanhas a nascente e a poente.
São elas que dominam, que dominam a luz.


Música: Avatar, James Horner
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