quarta-feira, 2 de outubro de 2013

À PARIS


Paris é vasta, imponente, imperial.
Tem muito para ver e visitar.
Mas num domingo, em que muitas visitas são gratuitas, é impossível não estar algumas horas em filas.
Para visitar o Louvre gratuitamente ou, mesmo pagando, subir à Torre Eiffel, há que contar com tempo de espera na bilheteira e, depois, à porta.
Um dia de visita não pode ir além de um percurso pelas ruas, pelas margens do rio, pelos monumentos principais e pelas fachadas mais atractivas.
Num périplo previamente delineado.
Ficámos pelas fachadas.
Descartada a possibilidade de visitar interiores, optámos por um passeio pedestre.
Inicialmente, devia ultrapassar uma dúzia de quilómetros.
Como em Roma.
Mas ficámos pelos oito.
Tantos quantos dos de Veneza, talvez tão cansativos como os três a subir e descer em Lugano. 
Paris até merece mais...
Lago no Palais Royal
De manhã, o “metro” de Bagnolet para Saint-Lazare ia praticamente vazio.
Ao princípio, não havia muita gente nas ruas.
Os jardins do Palais Royal tinham meia dúzia de pessoas.
Contudo, à aproximação do Louvre, era notório que todos para lá convergiam aos 
No túnel de acesso à “pirâmide” o tráfego era mais intenso do que o da “Etoile”.
A Pirâmide, apesar de ser de vidro monopoliza o olhar.
É no subsolo desta que está situada a recepção dos museus do Louvre.
Percebe-se que a logística se encontre ali.
Mesmo assim, a fila ia para além dos 500 metros.
E, neste dia, não se pagava.
O museu Louvre são vários museus, distribuídos por outros tantos edifícios.
À “vista desarmada” a extensão e a altura dos edifícios fazem supor que uma visita serão sempre várias visitas.
É impossível visitar todos os museus num dia.
Nem em dois, provavelmente nem numa semana.
Além da fila gigantesca na recepção, havia que contar com a que existia à porta de cada museu.
E nós chegámos lá pouco depois das 9 da manhã…
Se o Louvre é grande, o Jardim das Tulherias é enorme, extenso, um parque grandioso.
A multidão do Louvre não o enche.
Sensivelmente a meio, é onde está mais gente, em redor de um lago, sentada em cadeiras de metal.
As pessoas querem apanham sol, o sol precioso que banha Paris nesta altura.
E que não se iria demorar por lá.
No entanto, nos jardins não falta arte.
Próximo da roda gigante, há uma área de recreação.
Em redor, uma zona de restauração ao estilo “feira popular” serve comida mediterrânica.
Pode-se almoçar a olhar para o obelisco de Luxor que ocupa a parte central da praça da Concórdia ou deixar os olhos na estatuária urbana do parque.
Típicas, parecem ser as cadeiras de braços em metal distribuídas um pouco por todo o parque.
Um dos sítios mais visitados de Paris é o Arco do Triunfo.
Trata-se de uma obra napoleónica feita à imagens dos arcos de triunfo romanos e com a mesma intenção de glorificar os vencedores.
É na sua base que se encontra o túmulo do soldado desconhecido francês.
Há nos, tinha sempre guarda de honra.
Hoje, apenas a chama relembra as vítimas das guerras.
Há anos, quase não tinha turistas.
Hoje, estava pejado.
Nas paredes do arco estão gravadas as batalhas napoleónicas.
Entre outros, ressalta o nome de “Almeida”, alusivo ao cerco da cidade pelas tropas anglo-lusas.
Foi de lá que os franceses conseguiram efectuar uma fuga prodigiosa.
Almeida possuiu hoje um museu – que aproveita os edifícios e as muralhas dessa altura – alusivo às invasões napoleónicas.
Arco do Triunfo
Paris é uma cidade cara.
Sobretudo no centro, e mais provavelmente ao fim de semana.
Nota-se no preço das garrafas de água de 20 cl dos vendedores ambulantes (1€);
no preço de um café numa esplanada dos Champs Elysée (9€);
no preço de um dia de estada no Hotel Amarante, um quatro estrela, ali perto da Etoile (250€).
Mas como serviço é serviço, é natural que os preços na loja Hugo Boss dos Campos Elísios também sejam surpreendentes.
Até têm porteiros.
Os sítios de risco também se percebem.
A caminho do Trocadero, passa-se pela embaixada do Irão.
Há grades no passeio e logo após carrinhas de polícia de choque.
Mais à frente, está a torre Eiffel.
Aí, uma patrulha que mais parecia de para-quedistas, vigiava a base da torre.
Armados com metralhadoras e em passo ligeiro…
A Torre Eiffel estava em obras.
Mas nem por isso as pessoas desistem de subir, de fotografar, de “acampar” em redor.
Aos seus pés, o Champs de Mars, um extenso jardim semelhante ao das Tulherias, acolhe os milhares de turistas que aproveitam a relva para descansarem.
A torre só se encaixa nos ecrãs das máquinas fotográficas se visada de longe.
Além dos enquadramentos que podem ser ensaiados desde o Trocadero, a torre fica excelente ajustada ao monumento “Le Mur de La Paix”.
Trata-se de um pedido do governo francês – encomendado na comemoração do ano de 2000 - para promover a paz e a tolerância.
Está do lado oposto ao Trocadero, do lado nascente do Champs de Mars.
Colocar um monumento à paz no jardim do deus da guerra é capaz de ter sido propositado…
Florença já tem multas para os adictos dos cadeados.
Paris parece que ainda não adoptou a medida.
Pelo menos na ponte des Arts, a julgar pela colocação sistemática dos chamados “cadeados do amor”.
A intenção é catita, mas em alguns sítios, o arame que liga a estrutura dos corrimãos da ponte já está partido.
Mas como Paris é a “cidade do amor” o peso dos cadeados deve estar de acordo com as expectativas…
O Sena integra-se bem no espaço parisiense.
Parece estar sempre presente.
As margens também o acompanham nessa assimilação.
Há muito que o rio acolhe barcos-casa nas suas margens.
Os extensos e largos passeios à beira-Sena aproximam as pessoas do rio, mas afastam-nas das ruas que o marginam.
Casa-barco no Sena
Praia nunca tinha visto, ou melhor, de espaços com areia e cadeira de praia, não estava à espera.
Mas lá estão, ao longo do rio, na margem soalheira.
Com uma ou outra palmeira envergonhada dentro de um vaso.
Com pedaços de areia dispostos como se de um jardim se tratasse.
A Notre Dame, o ícone gótico de Paris tem agora à sua frente uma estrutura com rampa que dá acesso a bancadas.
O espaço frontal à catedral está agora muito mais curto.
E estranho.
A solução pode ser interessante do ponto de vista do conforto.
Mas o exterior do lado da fachada perde o enquadramento, o espaço de circulação amplo e os ângulos de observação naturais do monumento.
Detalhe na fachada da Notre Dame
Na rua das traseiras, não havia praticamente ninguém.
Porém, à frente da fachada do Centro Georges Pompidou, a fila de espera já ia a metade da praça.
Ali próximo, imergindo de um lago, um conjunto de esculturas de metal pintado substituíam a visita ao ‘Beaubourg’ como é conhecido o mais famoso centro cultural parisiense.
Não deixa de ser estimulante (e auspicioso) ver tanta gente interessada em arte e cultura.  
Já estavam muito presentes em Roma e Veneza.
Este ano os asiáticos parecem ter escolhido Paris como destino de férias.
Poucas vezes ouvimos falar português.
No entanto, nos sítios mais visitados ainda surpreendemos algumas famílias de turistas portugueses.
Entrada do Centro Georges Pompidou
Há muitos vendedores ambulantes, sobretudo africanos.
Nas avenidas que marginam o Sena há muitos alfarrabistas.
Os poemas esotéricos de Pessoa também lá estavam, em francês.
Bem como muitas réplicas de cartazes de espectáculos dos anos 60/70/80.
Há muitas esplanadas em Paris.
As cadeiras estão habitualmente voltadas para o passeio.
Tasmbém voltadas para o sol.
Os franceses também devem gostar de olhar uns para os outros.
Cosmopolita esta Paris.

Música: Avatar, James Horner
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