terça-feira, 31 de maio de 2011

Itália 2011 - Bussana Vecchia - Etapa 8

O Joaquim deixara-me o registo de parqueamento, de modo que pudessemos pagar e levantar as motos de manhã. Assim foi, embora por um preço mais elevado, uma vez que  tinha deixado o papel nas malas que estavam à porta do hotel. Não o procurei, mas o episódio chamou-me a atenção para as “oportunidades” que (alguns) italianos não perdem quando se trata de conseguir uma situação mais favorável.
A esse propósito, guardei dois documentos que me entregaram no hotel. Um deles, regista 2 pernoitas em “BB mas referente a 6 quartos (camere), no valor de 1030 euros. Um valor impossível de identificar, uma vez que, imaginem, neste hotel, apenas ficamos cinco (2 Cordeiros, 2 Murtas e 1 Joaquim), durante 1 noite. Os quartos duplos custavam 82 euros e o individual 60. Teríamos como total 224 euros...
Mas também me entregaram um outro recibo, este referente ao quarto que realmente ocupei, no valor de uns, hum, parece-me, 70, 80, sim talvez 80 euros.
Há uma expressão italiana engraçada para este tipo de expediente que pa a, uriosamente, pelo termo “portoghese”. Embora seja mais aplicada ao “chico-espertismo”, de obter vantagem para algo não autorizado, (e ao contrário do que possa parecer, são os italianos os protagonistas desta espécie de aldrabice), a verdade é que, no que toca a filas de qualquer género (trânsito, entrada em espectáculos, etc) os italianos são peritos. Em facturas e recibos também não parecem maus...
Mais papel, menos papel, e voltámos a trepar a caminho da auto-estrada. Na primeira paragem, ainda em zona urbana, havia que desviar imeditamente a seguir à exígua praça da portagem. Se alguns o conseguiram fazer com algum esforço, os Marques foram obrigados a seguir em frente, em sentido contrário ao nosso
Fui andando devagar. Atrás, só aparecia uma moto. E, mais devagar andei. Depois, apareceu outra. Olhava de vez em quando para o retrovisor, mas a próxima custava a aparecer. Mais uma e, depois, mais nenhuma. Parámos a seguir, reabastecemos, esperámos e arrancámos. Reunir-nos-iamos em Bussana Vecchia.
Não foi fácil dar com a terra, já que o acesso mais curto ia por espaço rural e as indicações apareciam nos muros. Não fosse o asfalto, e pensaríamos que a Idade Média afinal ainda estava em vigor. Embora à chegada possa não parecer, pouco depois o cenário é singular: a aldeia está em ruínas, ruínas medievais! Com mais ou menos dificuldade em estacionar as motos – o espaço é exíguo, mesmo para as duas rodas – conseguimos começar a trepar, logo após terem chegado os Marques. Estavamos todos, de novo.
A circulação no interior da aldeia é exclusivamente pedestre e, em algumas passagens, não se cruzam mais de duas pessoas. O chão é de pedra, tal como as paredes das casas. Há alguns telhados de telha, mas a maior parte não se descobre. A maioria dos andares superiores está destruída, embora ainda se encontre uma ou outra escada exterior. Uma visão estranha é a dos frescos da igreja, cuja porta e telhado não existem...
Nas ruas descobrem-se alguns pormenores artísticos: uma lâmpada e arames que representa uma aranha, um monte de tecidos em forma de assento, um ”orelhão” a envolver uma figura religiosa. Depois, são as lojas de antiguidades, as de objectos artísticos, as galerias de arte.
Percebe-se que a actividade da aldeia anda em redor da arte, lugar sossegado e paisagístico excelente para motivar a criação. Alguns dos quadros expostos eram magníficos, sobretudo os que versavam temas marítimos. A aldeia não fica a mais de meia dúzia de quilómetros do mar.

A história da urbe é interessante. Foi alvo de um terramoto nos anos 80 do século XIX, que destruiu a maior parte das casas. A torre da igreja é dos poucos vestígios de edifícios públicos que ficou de pé. Foi abandonada até depois da 2ª Grande Guerra, altura em que começou a ser ocupada por artistas vindos de vários sítios da Itália e de países europeus.
Deixámos a povoação depois de bebermos um café com vista para o Mediterrâneo. Descemos para Bussana Nuova por outro percurso rural que levava mais perto das falésias que dão para o mar. Íamos a caminho do almoço.

Música: The Lord of the Rings, Prophecy - Howard Shore