Voltamos à auto-estrada, às pontes e aos túneis, tal como à chegada a Génova. De vez em quando, entre túneis, conseguíamos descobrir, lá em baixo, o Mediterrâneo. Até que ultrapassamos uma placa onde se anunciava a chegada a França. Do outro lado do túnel, começava a Riviera francesa. Por altura da cidade do Mónaco, saímos para a estrada nacional que leva a La Turbie. Andámos ao longo de uma estrada que acompanhava o relevo, quase sempre com vista de mar.
Algum trânsito obrigou a andar devagar e o ponteiro da temperatura da moto voltou a aproximar-se da zona vermelha. Parámos para almoçar, no restaurante Le Terrasse, em La Turbie. Ficava num local panorâmico e servia bem a preços módicos.
Estávamos numa zona de paisagem excelente, quer sobre os cerros a montante, quer sobre o Mediterrâneo a jusante. Conforme descíamos, íamos também reconhecendo algumas denominações afamadas daquela zona – Mónaco, Nice – que seriam, depois, locais de passagem.
Entretanto, havia que verificar o aquecimento anómalo da moto. O veredicto obtido numa oficina multimarca, em Beausoleil, paredes-meias com a cidade do Mónaco, foi decisivo: o sensor da temperatura da água do radiador não funcionava. Daí a moto não aquecer em auto-estrada, mas afoguear-se na cidade. Sugeriram que me dirigisse ao representante Honda, em Nice.
Lá fui, enquanto os restantes membros do grupo cumpriam o que estava programado: uma passagem pela cidade do Mónaco. À chegada ao representante Honda, dirigi-me ao recepcionista e expliquei-lhe o problema detalhadamente: estava em viagem para Portugal, tinha de chegar a casa daí a 3 dias, a moto precisava de um sensor de temperatura, uma vez que a ventoinha do radiador não funcionava.
Lá fui, enquanto os restantes membros do grupo cumpriam o que estava programado: uma passagem pela cidade do Mónaco. À chegada ao representante Honda, dirigi-me ao recepcionista e expliquei-lhe o problema detalhadamente: estava em viagem para Portugal, tinha de chegar a casa daí a 3 dias, a moto precisava de um sensor de temperatura, uma vez que a ventoinha do radiador não funcionava.
Tal como se tratasse de uma resposta padronizada, o recepcionista também me informou detalhadamente do método de trabalho da Honda Nice: a oficina fechava dali a duas horas; sendo preciso uma peça, só na 3ª feira (2ª era feriado em França) a podiam obter; só podiam resolver o problema na semana seguinte. Nem sequer viram a moto.
Por tal, o próximo passo era recorrer à assistência em viagem. A primeira chamada foi efectuada para o ACP. Quando ouvi do outro lado da linha a palavra “complicado” fiquei surpreendido, uma vez que é das últimas expressões que se precisa ouvir nestas circunstâncias. Devido às inseguranças que adivinhava, optei por contactar a minha companhia de seguros. Estes foram mais eficazes e, embora a solução não tenha sido a mais confortável, trataram do incidente de forma mais aceitável.
Entretanto, o resto do grupo aparecera para saber novidades. Também ficaram bem impressionados com a “assistência” Honda e sugeriram-me optar por uma oficina de bairro, ou mesmo continuar, evitando as cidades. Talvez tivesse sorte com a primeira hipótese, mas com a segunda teria problemas, uma vez que eles chegaram a ser apanhados por uma dezena de quilómetros de filas na auto-estrada.
Dai a uma hora, chegava o táxi para nos levar a Cannes, onde tínhamos reservado hotel. Daí a mais meia hora, aparecia o reboque para a moto. Despedimo-nos da moto e da Honda Nice com sentimentos distintos. A falta de assistência obrigar-nos–ia a regressar de avião, via Frankfurt. Por outro lado, implicava levantarmo-nos às 4 e meia da manhã para voltar a Nice e apanhar o avião.
Escrevi à Honda (info@honda.com), à Honda Nice (werther@werther.fr) e à companhia de seguros. Expliquei-lhes que, afinal, aquele episódio não tinha sido uma “Nice situation”. A companhia de seguros pagou dois voos, 20 quilómetros de táxi Nice-Cannes-Nice, o reboque e o repatriamento da moto. Como ainda ninguém se manifestou, estou convencido de que, para a próxima, é conveniente levar um seguro de viagem.
Desfrutámos das últimas horas em França, ao longo do Boulevard de la Croisette, entre o mar e os hotéis da avenida, entre a praia privativa do Hilton e o ambiente anilado do Carlton. Jantámos no “72” da Croisette, a refeição mais cara da jornada.
Despedimo-nos de Cannes às 4 e meia da manhã, embarcámos às 6 e meia, chegámos a Frankfurt por volta das 8, íamos perdendo a ligação para Lisboa, mas chegámos à Portela antes das 11, depois do habitual périplo aéreo pela Ericeira e pela Costa de Caparica.
ÚLTIMOS DETALHES
Uma das malas interiores da moto ficou no aeroporto alemão. Quando me chamaram, em Lisboa, apenas utilizaram o apelido “Cordeiro”. Coincidência: no mesmo voo, viajavam dois “cordeiros”, o João Cordeiro, presidente da Associação Nacional de Farmácias, e eu. Ele assegurava que não perdera nada e eu sosseguei-o assumindo o protagonismo. Cumprimentámo-nos e foi cada um ao seu rebanho…
No aeroporto de Frankfurt, tínhamos cerca de 45 minutos para efectuar a mudança de avião. Estivemos fechados cerca de 15 dentro do autocarro e, depois, percorremos não sei quantos quilómetros, entre passadeiras e corredores, escadas e elevadores, para aceder ao terminal de saída. A Julieta foi rapidíssima na ida à casa de banho mas, mesmo assim, chegámos ao terminal e já a companhia fazia um “last call for mr. Cordeiro”…
O mecânico da oficina multimarca em Beausoleil, estava a trabalhar, salvo erro numa Deauville, suspensa num cavalete. Saiu da oficina e não esteve mais do que 5 minutos “à volta” da Pan. A partir de certo ponto, “desapareceu”… para ressurgir a vender uma embalagem de líquido de refrigeração.
À pergunta, “quanto é… quando devo”, o patrão da oficina devolveu um cálculo moroso, mas que se traduziu num valor provavelmente razoável para França: 5 minutos, ah… 5 euros, ou seja, 60€/h. Percebe-se porque é que Portugal deve tanto ao estrangeiro…
Houve refeições para todas as bolsas. Foi possível pagar 6€ por pessoa, numa esquina da Piazza Navona, 13€ numa área de serviço próximo de Saragoça, 17€ numa esplanada em Vernazza, ou 35€ numa “braserie” da Croisette, em Cannes! Mas, mesmo no local mais barato, é surpreendente pagar 2,6€ por uma Coca-Cola…
Por outro lado, Em Roma, 6 quilómetros de autocarro custam 1€, quando metade do percurso em eléctrico em Lisboa custa 3 €! E uma cerveja pode custar 5€ num restaurante normal, enquanto é ladroeira ultrapassar 1€ em Lisboa. Um camarote interior no barco Barcelona-Civitavecchia pode custar apenas 50€, durante 24 horas, mas não conseguimos um quarto em Roma por menos de 100€.
Mas, no fim de contas, o importante foi ir, estar lá, observar, sentir e guardar na memória sobretudo aquilo que nos fascina ou elucide. Desta vez, a viagem foi pródiga sobretudo na visita aos legados monumentais romanos e renascentistas de Roma e de Florença, bem como no ambiente etnográfico e paisagístico de San Gimignano, Cinque Terre e Bussana Vecchia. Todavia, perceberão nos últimos segundos do vídeo que há algo que supera sempre o que a natureza cria e a cultura pensa.
Música: Rick Wakeman, Return to the Center of The Earth