segunda-feira, 16 de maio de 2011

Itália 2011 – Ruas, Praças e Fontes - Etapa 3


I
DO TRASTEVERE AO ANOITECER DE ROMA

Há poucos restaurantes próximo da Piazza Venezia. Os raros, que ocupavam exíguas praças, são pequenos e estavam cheios. Afastámos-mos com as ideias peregrinas de que iríamos comer rápido, pouco e barato, para continuar a jornada. Nenhuma resultou. O que parece resultar, pelo menos ao nível da moda, é colocar cadeados em tudo o que são correntes...
Entretanto passámos por duas BMWs dos Carabinieri e lembrei-me que a polícia não está muito à vista e, dos que se vêem, sobretudo nas zonas turísticas, todos ocupavam posições discretas. Em Florença, a visibilidade da vigilância também é moderada. Em Génova,não tanto.

Atravessamos uma ponte para a ilha Tiberina e outra para a zona do Trastevere. Daí a pouco estávamos no restaurante Comparone, do “capo” Severino Graziosi. Foi aqui que nos estreámos no esparguete com amêijoas e ficámos adeptos. Comemos bastante, lentamente e a preço europeu.
Demoramo-nos bastante, o que deu tempo ao tempo para fazer (mais) caretas. Atravessámos a ponte Garibaldi e fomos apanhados por primeiros borrifos de água quando estávamos em plena Piazza Campo de' Fiori. Continuámos, agora apenas os dois, sem rumo definido.
Estávamos perto da Pizzza Navona. Foi para lá que nos dirigimos. Também ali, era impossível fotografar apenas uma pessoa. Os turistas distribuíam-se à volta da fonte central como se se tratasse de um cenário único (que é), procurando o melhor ângulo para se imortalizarem junto das admiráveis estátuas que envolvem uma espécie de obelisco.
É aqui que está a maioria dos artistas. Pelo menos foi onde vimos um maior número de pintores, de caricaturistas, de homens e mulheres-estátua e de outros performers. Pouco espaço, algo caótico, mas sem atropelos, sem grandes estrilhos, e com um envolvimento plástico muito agradável. Lembrei-me das típicas Plazas Mayor em Espanha. Esta seria muito parecida, não fosse a sua planta demasiado assimétrica.

Aproveitámos a embalagem para completar o circuito que nos levaria de novo à Piazza Venezia, e onde apanharíamos o autocarro para o hotel. O Panteon ficava em caminho. Demos com ele pelas traseiras, paredes redondas muito degradadas, numa espécie de tijolo e argamassa. A fachada, porém, revela-se grandiosa.
Não entrámos. Estava previsto visitá-lo na manhã seguinte. Observamos o burburinho que o envolvia e seguimos até à Fontana de Trevi. Havia mais luz, mais reflexos, mais barulho. O sítio é estreito e não há vagas na base da fonte. Todos querem posar em frente de mais uma obra emblemática de Bernini. Os flashes multiplicavam-se à medida que os protagonistas mudavam junto à água.
 
Descreve-se melhor a fonte através de imagens. É um lugar de rara beleza. Toda a gente fica ali bem. O sítio é apertado, o que talvez evidencie ainda mais a fonte, A água, a pedra e os motivos esculpidos são muito suaves. Apetece ficar, com um olho na arte e outro no movimento das pessoas.
Roma anoiteceu suavemente. A luz do final do dia serpenteou entre os prédios, de rua em rua, à procura das praças. Perdeu-se sobretudo nas fachadas, nas tais fachadas sujas e escuras, embora penetre pelas muitas janelas altas e estreias. Nas ruas, as sombras misturavam-se com as luzes das lojas e a fraca iluminação urbana. Como praticamente o raro trânsito viário é de scooters, eram os pequenos faróis dianteiros que nos iam alumiando o passeio a caminho do jantar.


II
MAIS RUAS, PRAÇAS E FONTES


As ruas de Roma são estreitas, escuras, sombrias e curtas. Em muitas, não passam dois carros um pelo outro. Por serem estreitas e os prédios terem habitualmente mais de 3 andares, só no Verão o Sol consegue penetrar com mais vigor e aclarar as ruas. Há ruas curtas, com três ou quatro prédios. As fachadas, devido à cor e/ou à sujidade, mostram sistematicamente uma mancha sombria.
 
Na zona central de Roma anda-se sem esforço, apesar da existência de sete colinas como em Lisboa. Estas são suaves e as ruas não são íngremes. Para nós, o que se revelou mais escarpado foi a escadaria que leva da Piazza de Spagna à zona de Villa Borghese. Mas até esse desconforto era minorado pela "simpatia" do espaço, especialmente pela tal harmonia que as ruas transmitem. Não há alumínios brilhantes, neons suspeitos, cores berrantes, cartazes nas paredes. arquitecturas chocantes.
O plano da manhã deste dia apontava para um circuito pelas ruas, praças e fontes da capital italiana. O périplo revelou-se uma estratégia conveniente para conhecer Roma, apesar de ter implicado quase 6 quilómetros a pé durante a manhã. Voltámos a utilizar o autocarro que nos deixou na Piazza Venezia.
Daí, arremetemos sobre a Piazza del Popolo, ao longo da Via del Corso, uma rua comercial com cerca de 3 quilómetros, que termina no Coliseu. A Piazza del Popolo [B] deve ser a maior praça da capital italiana. É dominada ao centro por um obelisco proveniente do Egipto e, em uma das entradas, por duas igrejas gémeas. É árida, mas não destoa.
Talvez por isso, tenhamos rumado à Piazza di Spagna [C], essa sim, famosa pelas passagens de modelos, é local de visita e paragem de milhares de pessoas. Tal como muitas outras praças notáveis da capital, também aqui é obrigatório posar para a câmara. Mas talvez seja mesmo mais agradável parar, sentar nas escadas e observar todo aquele ritual de vai-e-vem, pára, posa, chama os amigos, ri, sobe, senta-se, sai, vai embora.
O Hard Rock Café ficava perto. Aliás, tudo parecia perto em Roma, ou nós estamos numa forma física nunca vista. No dia anterior, tínhamos percorrido cerca de 7,5 quilómetros a pé como se fosse de moto. Hoje, o plano previsto era mais ambicioso.
Daí a pouco, estávamos em Villa Borguese, sítio de ruas largas, edifícios centenários, árvores no passeio. É uma das zonas mais abastadas da cidade. Hotéis e mansões, lojas de marcas famosas, até lugares de estacionamento para automóveis em plena rua…!
Na próxima esquina ficava a Via Veneto, uma das ruas famosas de Roma, imortalizada por Felini no filme Dolce Vita. Trata-se de uma zona alta, gira e cara, com hotéis, casas particulares e lojas de alto nível. Tudo muito arranjado, com preços a condizer. O Hard Rock Cafe [D] só tinha a loja acessível. O de Lisboa é mais atraente.
Agora, o destino era ir até à Fontana de TrevI [E], ver de dia a célebre fonte. Lá chegados, atestamos o mesmo cenário da noite anterior: turistas, poses, máquinas, fotógrafos “a la minute”, muita gente. A fonte, essa, mostrava-se ainda mais resplandecente, iluminada pelo sol matutino.
Voltámos às ruas estreitas e agitadas, hoje mais alvorecidas por um sol que queria desforra do dia anterior, mortiço e chuvoso. Chegámos à Piazza Navona [F] com a praça amotinada por turistas que enxameavam as muitas bancas de arte. Optámos por “comer qualquer coisa” que pedimos no balcão exterior de uma cafetaria.
Ao longo das ruas fomos surpreendendo o movimento pedestre, a beleza das lojas, os vestígios romanos aqui e ali, uma ou outra estátua ou escultura numa pequena fonte. Mas aparecia também frequentemente, na esquina dos prédios, o que chamei "santinhos", uma espécie de altares cuja representação desconheço. Exemplo em baixo.
Mas também fomos notando que o parque motorizado era sobretudo composto por scooters, que havia frequentemente parques de estacionamento exclusivamente dedicados às duas rodas. Mais, que o tal trânsito caótico, "à italiana", não se percebia. Notava-se, sim, uma agilidade comum a carros e motos cuja meta era ocupar qualquer espaço minúsculo, quer no trânsito quer no estacionamento.
Voltámos ao Panteão. Entrámos. No único edifício da época greco-romana,  identificável imediatamente pela esplêndida fachada, embora exteriormente se note alguma degradação, o interior é irrepreensível. Aí, a multidão observava sobretudo o óculo que encimava a cúpula que ilumina o espaço redondo interior (e que dá uma estranha luminosidade às fotografias). Tal como no Panteão de Lisboa, também neste repousam  figuras ilustres de Itália, como Rafael ou Vittorio Emanuele II.
Baguetes, pizzas, sumos e coca-cola, a única refeição rápida que tomámos em toda a viagem. Fechamos com um gelado divinal, da Gelataria do Teatro, o melhor de todo o périplo. O Teatro era um edifício que parecia abandonado, mas a gelataria… como é que uma casinha pequena, escondida, consegue vender gelados tão bons…? Consegue!
O Castel de Sant’Angelo era o passo seguinte. Serviu como defesa do Vaticano e os guias dizem que existe um túnel que o liga à área religiosa. Estava em obras e nós estavamos em cima da hora para entrar no Museu do Vaticano. Deixámos para a próxima, a possibilidade de ver Roma do cima das suas muralhas.
A partir daqui é outro mundo que se abre à vista do Vaticano, outro que se percebe dentro dos museus. Não tanto pelo ambiente religioso, mas sobretudo pelo universo artístico que encerram. Aqui começa outro capítulo, outra "overdose" de arte.
Também por isso, neste segundo dia em Roma, batemos o nosso recorde e percorremos a pé mais de 11 quilómetros. E não estão aqui contados os que fizemos dentro do museus do Vaticano. E sem desistências, queixas ou descanso. Gladiadores...

Música: Premiata Forneria Marconi, É Festa