Toda a gente conhece a região saloia, habitada pelos saloios, antiga denominação
dada aos residentes naturais dos concelhos que circundam Lisboa a norte e
oeste. Há diversas etimologias do termo saloio – com grafias diferentes, "çalaio"
ou "çaloio" – cujo significado vai desde “cala” ou “salah”, oração,
até à seita dos mouros “çala” ou até aos “descendentes dos provençais colonos
oriundos de Salles d'Ande”.
Num livro reeditado em 2005, pela Câmara Municipal de Sintra, da autoria de
A. Da Cunha Sotto Mayor que, em 1858, escreveu “A Physiologia do Saloio”, pode
ler-se uma descrição de época, meados do século XIX, do modo de vida das
comunidades saloias, revelando aspectos culturais curiosos, divertidos e
sobretudo típicos, que acabam por promover a distinção daqueles face a
outras comunidades rurais e face ao urbanos de Lisboa.
Hoje, o passeio será por aqui. Íamos, também, para comprovar outros
aspectos da região: a gastronomia e a paisagem. Deixaríamos a auto-estrada em
Torres e optaríamos pelas nacionais até à Atalaia. O objectivo era almoçar no
Restaurante Frutos do Mar, situado na falésia junto da praia de Porto das
Barcas. No regresso, a opção seria pela passagem por Porto Novo / Santa Rita,
Santa Cruz, Silveira, etc.
Com um ambiente estival que motivava o passeio, a opção da moto foi
derradeira. A primeira paragem a meio da manhã para um café, foi na esplanada do Parque Verde da Várzea, em Torres Vedras, muito próximo do Museu Joaquim
Agostinho e à vista do castelo. A frescura do ambiente compensou o calor que já
se fazia sentir e, daí a pouco, estávamos de novo na estrada.
A paisagem da região saloia anda entre a variedade orográfica, com a sucessão
de colinas e vales, e a a diversidade das culturas sobretudo hortícolas e frutícolas.
Os pequenos núcleos residenciais contrastam com os campos cultivados e os
moinhos nos cabeços são hoje referências paisagísticas da região.
Tal como as hortas e as noras. Assim como a paisagem vinícola e de criação
de animais. Típica é também a arquitectura das casas, muito ligada ao trabalho,
como afirma Victor Serrão, in Sintra (os aglomerados saloios), “(...) com as
suas típicas coberturas de quatro águas, um peculiar sistema de aberturas,
etc., reflecte sobretudo a actividade agrícola do homem saloio, (...)”.
As estradas da região saloia são manhosas. Estreitas, escorregadias,
praticamente sem bermas. Embora o trânsito não fosse muito e não houvesse tractores
ou carrinhas de trabalho nas estradas, a verdade é que ninguém gostou particularmente
do caminho até à Atalaia.
Aqui, já à vista do mar, o ambiente muda. A maresia desafia-nos o olfato e
o Atlântico estende-nos o olhar até ao infinito. As falésias atlânticas deixam apenas
pequenos vales de acesso às praias, como é o caso da de Porto das Barcas. Agora,
é o oceano que domina a paisagem, outro motivo para nos sentarmos em redor dos
pratos de peixe e de uma boa conversa.
E a conversa fluiu, quer ao longo da refeição numa sala exclusiva para o
grupo, a olharmos as falésias abruptas, quer depois, já na esplanada, qual miradouro,
de onde se vêem ao longe as vagas a estenderem-se
vagarosamente no areal da praia. Tudo, sob um sol de manga curta e uma luz que
só nós temos.
E, há que regressar. Continuamos nas nacionais até ao Porto Novo. Passamos
Santa Rita soalheira, onde andamos ao nível do mar. Avançamos sobre a Praia de
Santa Cruz, acompanhando a falésia. Não tarda em chegarmos, de novo, a Torres
Vedras.
Depois, a estória deixa de se ser contada. É fazer quilómetros até casa.
Mas não só. É também pararmos na última área de serviço da A8, área de serviço de Loures, para um pequeno balanço
da jornada, despedidas e perspectivar novo evento.
Música: America, Ventura Highway
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