São escassos 8 kms desde o centro de Ao Nang, na Tailândia. Vamos de 125, alugada, e ainda dá para a Ana treinar a condução. Há um altar na base, um dragão numa das plataformas, outros animais mais abaixo e, ainda, um barco enigmático com velas e um texto ainda mais misterioso que diz da Deusa das Graças, além de personagens que parecem sair das navegações portuguesas.
A meio da subida, a uma dezena de metros da escadaria, descobre-se um sítio de fazer inveja ao Masterchef. A bateria de cozinha surpreende de nova e sofisticada. Ameaça chover e o céu deixa de ter graça. Ali perto, há um mercado enorme de levante, com mais motos no estacionamento do que bancas...
Chegamos ao topo. Os sinos parecem estar ali para replicar a alegria de não termos finado a meio caminho. Tocam-se, mas não são ruidosos. Numa espécie d eredoma, somos "vigiados" pela representação muito verídica de um trio de monges. A vista alcança meia dúzia de quilómetros para norte. Há mais gente a chegar ao cimo. Ameaça chover.
A meio da subida, a uma dezena de metros da escadaria, descobre-se um sítio de fazer inveja ao Masterchef. A bateria de cozinha surpreende de nova e sofisticada. Ameaça chover e o céu deixa de ter graça. Ali perto, há um mercado enorme de levante, com mais motos no estacionamento do que bancas...
Chegamos ao topo. Os sinos parecem estar ali para replicar a alegria de não termos finado a meio caminho. Tocam-se, mas não são ruidosos. Numa espécie d eredoma, somos "vigiados" pela representação muito verídica de um trio de monges. A vista alcança meia dúzia de quilómetros para norte. Há mais gente a chegar ao cimo. Ameaça chover.
Começa a chover. Dizem que na Tailândia as chuvas são rápidas. Continua a chover 5 minutos depois. Há um casal russo e outro francês que nos acompanham no cativeiro. Só deixa de chover quase meia hora depois. Mas, 250 degraus depois, a estrada está completamente seca.
AGORA SIM, SÃO MAIS DE MIL DEGRAUS
Dizem que do cimo a vista é divina. Em Banguecoque os templos não vão além de um quinto andar em altura. Aqui, este, está mais alto do que um arranha-céus. Dizem que, do cimo de uma escadaria com mais de 300 metros de altura, a vista alcança dezenas de quilómetros em redor. E, a melhor versão diz que o pôr do sol é sublime.
Dizem que do cimo a vista é divina. Em Banguecoque os templos não vão além de um quinto andar em altura. Aqui, este, está mais alto do que um arranha-céus. Dizem que, do cimo de uma escadaria com mais de 300 metros de altura, a vista alcança dezenas de quilómetros em redor. E, a melhor versão diz que o pôr do sol é sublime.
Entre nós e essa excelência estão, porém, mais de 1000 degraus. A julgar pelos primeiros, talvez seja mais fácil ascender do que estava previsto. Mais dois ou três lanços e o cenário muda. Só o declive se mantém. Os degraus parecem os das escadas das muralhas dos nosso castelos. Vamos primeiro obter graças para a ascensão.
Estamos no Templo do Tigre ou Templo da Caverna do Tigre, a cerca de 20 kms de Krabi, Tailândia. O Wat Tham Suea (Templo da Caverna do Tigre) é relativamente recente, de meados dos anos 70 do século passado. Dizem que o lugar onde costumava ir meditar um monge era morada de vários tigres. Ou isso, ou a existência de uma caverna em forma de pata de tigre.
Na base do monte, no interior de um edifício amplo, há realmente uma caverna plena de elementos simbólicos e decorativos religiosos relacionados com tigres. No espaço mais amplo, há monges que escutam os crentes e lhes entregam uma oferenda. Não percebi se devia ter sido ao contrário.
Em redor, há pagodes, um deles recentemente recuperado. E um ou outro altar, um deles parecendo ter uma representação do monge dos tigres. Há estátuas de Buda e figuras de guardiãos distribuídos por sítios estratégicos. E macacos, muitos macacos. São pequenos, mas ariscos. Andam em liberdade, alimentados pelo menos pelos turistas.
Próximo, começa (e acaba) a escadaria. Esta trepa por entre árvores frondosas, felizmente. O calor a meio da manhã já exige alguma sombra. Aqui, a escada só permite que se cruzem duas pessoas e com alguma dificuldade. Para facilitar a subida há pequenas plataformas - para 3 ou 4 pessoas - ou maiores, que permitem descansar sem obstruir a passagem.
Pior. A partir de algures, os degraus começam a não ser uniformes, dificultando ainda mais a subida. Ainda pior. A progressão começa a ser mais lenta. Encontram-se cada vez mais pessoas a descansar nas plataformas. Estávamos avisados: a subida iria demorara entre 45 e 60 minutos. Estamos a cumprir.
Quem nos acompanha nos primeiros cem metros é uma turma de pequenos macacos. Num instante, conseguem roubar uma garrafa de água e um pacote de lenços. Tudo o que brilha e restolha ou abane é alvo dos símios. Em baixo, acabariam por roubar um gelado da mão de um distraído. Felizmente, parece que não fazem muitas carteiras.
A partir de metade do percurso, também passamos a ser acompanhados por uma família paquistanesa. Vivem na planície junto dos Himalaias e vêm os cumes todos os dias. Estão, pelo menos, habituados a ver altitude… Os pais ficam para trás, mas o rapaz é mais atlético, simpático e divertimo-nos a imaginar uma competição na subida Portugal-Paquistão.
Ele deve ter um terço da minha idade, mas desconhece que eu já passei dos 60 há uns anos… E vamos trepando, por entre pequenas estátuas e símbolos budistas. Há gente com cara de “coitados, ainda têm muito que trepar!”, mas que não nos desmotivam com a realidade. Em outros, nota-se que já perceberam que a descida não vai mais fácil do que a subida.
O espírito é que conta. A alma ajuda. Sobretudo, quando s etrata de incentivar, aliás, não desmotivar os restantes trepadores. Apesar de não estar muito calor, a subida cansa, aquece, desidrata e vai cavando alguma desânimo na vontade de chegar ao topo.
Perdemos a contagem do tempo. Não é isso que interessa. O objectivo é chegar ao topo, numa espécie de olimpíada. Os últimos cem degraus são mais suaves, parece. Perdemos por uma plataforma com o Paquistão. Mas estamos no alvo, numa penúltima plataforma, que parece uma varanda sobre o norte do morro.
Primeiro descanso a sério, mais hidratação e primeiras sensações panorâmicas. Em redor, tudo é plano, o que permite levar o olhar para longe. Porém, há um véu nevoento que nos pára o alcance da vista em meia dúzia de quilómetros. Estamos à sombra e podemos finalmente sentar-nos, coisa que não fazemos há cerca de uma hora.
Subimos mais um lanço de escadas e estamos no topo, quase junto a um dos Budas. Dali, a vista estica-se para Krabi - que fica a 10 kms da Tiger Cave - e, mesmo com o céu enevoado, veem-se alguns edifícios junto ao mar. Não há nada entre os nosso olhos e Krabi. Apenas uma pequena aragem que nos refresca.
Subimos outro lanço de escadas e ficamos junto de outro Buda, Daqui, a amplitude do olhar vai a 360 graus. Para sul, levantam-se os habituais montes em forma de Pão de Açúcar. São muitos, uns após outros, até os perdermos de vista. Até que os mais afastados ficam apenas numa espécie de penumbra.
Algures damos com a placa que nos parabeniza pela ascensão. Trepámos 1260 degraus, ao longo que um caminho de 600 metros e ascendemos 309 metros verticalmente. É mais ou menos isto. Um dos Budas é enorme. Ainda existe um “chedi”/santuário mais afastado. O objectivo foi atingido, o tigre está dominado.
Agora, o ânimo está revigorado. Descemos antes de almoço, pelo que não pudemos assistir ao pôr do sol, um dos ex-libris da caminhada. Tal como a subida, a descida faz-se ao ritmo da respiração. Ainda encontramos uma portuguesa destemida, cuja subida apoiamos a 100%.
Afastamo-nos da zona turística, onde a macacada reina. Não temos pôr de sol, mas almoçamos envoltos em plantas com raízes aéreas. Estão em redor do restaurante, por todo o lado, muitas e longas, do tecto ao chão.
Hoje, para além do exercício tão exigente quanto revigorante, fica a memória do ambiente vegetal, animal, arquitetónico e humano que partilhámos. Mais de três degraus depois, de sobe e desce, algo deve ter ficado para nos levar ao Nirvana.
Sem comentários:
Enviar um comentário