Habitualmente, um museu mostra um universo, normalmente
organizado num conjunto de mundos, entre outros, estético, histórico, artístico,
simbólico, temporal, sensacional. É possível, por tal, passear pelos espaços
que mais nos entusiasmam, surpreendem ou maravilham.
O Museu Reina Sofia, em Madrid, do outro lado da estação
de Atocha, dispõe de cerca de 23 mil obras de arte. Um número suficiente para motivar passeios permanentes, itinerários interpretativos, circuitos
temáticos, percursos históricos, etc.
As propostas do museu são, até, bastante actuais. Não vão
além de pouco mais de um século. Aliás, organiza-se inicialmente em quase meio
século - A irrupção do século XX: utopias e conflitos (1900-1945) – continuam
para o Pós-Guerra, com “A guerra acabou? Arte em um mundo dividido (1945-1968),
e termina com a contemporaneidade de “Da revolta à pós-modernidade”.
Só se revela no final. Mas, ao longo deste passeio, a
sensação, a interpretação, a opinião, até a história e, provavelmente nada
surpreendente, a lógica, o gosto e a estética, vão sendo postos à prova. Pela
configuração, pelo título, pelos materiais, pelo simbólico.
Desta vez, cumprimos o circuito histórico, porém sem ordem
cronológica organizada. E, começar pelo princípio, neste caso pelo pátio,
significa dar de caras com o Pássaro Lunar, de Juan Miró.
Depois, ao virar da
esquina, surgem os “Vencedores de Leningrado Apoiados pelo Monstro Daltónico
Matisse”, um desafio tremendo de um artista islandês, Erró.
A seguir, está a proposta de Yves Klein, que parece se
ter deitado ao relento sobre a tela para
produzir “Antropometria”, e ter explicado que os materiais utilizados foram, “pigmento
seco em resina sintética sobre papel colado à tela”. Interessante, logo após,
uma obra de César Baldaccini, com tiras de madeira.
Na parte das sensações, foi a leveza de uma estrutura
intrincada, de GEGO, (Gertrud Goldschimidt) – projecto Lausanne – que fascina,
tal como o “Dr. Cotlenko”, de Jesus Soto, uma pintura sobre tela com tiras de
madeira ou, ainda, o “Paralelo 42”, de David Smith, em aço.
Sobre materiais, não é todos os dias que se vê um homem
e uma mulher esculpidos em madeira e vidro, uma obra do espanhol Antonio López; nem,
“Magestade”, em madeira e barro policromado, de Angel Ferrant.
Acabámos o primeiro circuito com “bestas”. O primeiro
também tem um homem – “Homem e Bestas” – do belga Corneille. Picasso tem lá
mais bestas, “Três Cabeças de Cordeiro”, um óleo sobre tela, e escultura “Homem
com Cordeiro”, dos tempo da ocupação alemã de Paris.
Mais à frente, passamos para a “arte num mundo dividido”.
Começamos com o luso-brasileiro Artur Barrio e terminamos com o vanguardista
Eusebio Sempere. Entramos nos mundos da luz (e da sombra), da geometria, pela
arquitectura, pela arte abstracta.
Subimos e chegamos ao pátio do telhado. Trata-se de uma plataforma
que também permite o acesso ao edifício contíguo. Em redor, os últimos pisos
dos prédios fronteiros de habitação. A panorâmica foi ampliada com a colocação
de anteparas de vidro.
Depois, entramos pelo surrealismo de Dali e de Man Ray. Logo após, o
trabalho escultórico de Alberto Sánchez, inspirado na natureza vegetal e humana
da figura, com “Maternidade”, uma obra em pedra plena de elementos simbólicos,
e com “Bailarina”, em gesso colorido e patinado.
Continuamos com óleo sobre tela, “Família em Estado Metamórfico”, de André
Masson, com influência do cubismo e de Juan Gris. passamos para a escultura em
bronze fundido de “Maria, a Cigana”, de Julio Antonio, uma abordagem que
combina o idealismo e o realismo num contexto etnológico.
Terminamos com um óleo sobre tela, denominado “Garrote Vil”, de Ramón
Casas, uma espécie de crónica de acontecimentos, que o pintor presenciou e
retratou com detalhe quase fotográfico, considerando que a obra tem apenas 12x16
cm.
Agora é a vez do cubismo de Juan Gris, com “Guitarra e Fruteira”. Sobressai
todavia o seu ”Retrato de Madame Josette Gris”, que teve como modelo a sua
companheira. Passa-se por uma ‘natureza morta’ de Dali e deixa-se a Europa
ocidental.
Mais à frente, estão os artistas russos ou da influência russa. Entramos
com Ivan Kliu, pintor, escultor e designer gráfico vanguardista, e o seu “Auto
Retrato com uma Serra”. Logo após, estão expostas obras de Véra Pestel, outro
vanguardista russo, que também tem influência de Malévitch.
Este, partilha textos de Mayakovski, num conjunto de obras onde o tema é a
invasão alemã da Rússia. Mayakovski também lá
figura, com duas telas de técnica mista. Mais à frente, quatro obras de El Lissitzky, artista, designer, fotógrafo,
tipógrafo e arquitecto russo, cujo mentor era também Mayakovski.
Desde o
pátio ao rooftop, todos os andares do edifício mostram arte. Fora do edifício,
embora com ligação ao museu, através do piso terreo, está o restaurante Arzábal, que significa cozinha
tradicional, da memoria e dos bares de tapas. Uma taberna
reinventada, segundo eles.
O que levamos do Reina Sofia é o que esperávamos. Um espaço dedicado, amplo , luminoso, bem preenchido e indicado. A configuração das exposições é clássica sem margem para queixa. O pé-direito das salas é enorme, o que favorece o espaço. Pena é que, como na maioria destes espaços museológicos, sejam raros os sítios para sentar, descansar e observar com mais detalhe algumas obras.
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