O tema acompanha-nos há cinco séculos, quando a História nos juntou a
partir do século XVI. O encontro com o Japão foi para os portugueses uma
estreia – Portugal foi o primeiro país europeu a chegar ao Japão – uma novidade
que surpreendeu mas também assombrou, um encontro que espantou mas também martirizou.
É parte dessa história de encontros e reencontros que a exposição narra, ao
longo de uma mostra de objectos invulgares e apaixonantes. São muitas as peças
que ilustram sobretudo a troca de saberes, a língua, a arte e a religião, entre
as duas culturas.
Algumas destas peças históricas estão expostas pela primeira vez ao
público. Muitos dos objectos em exposição pertencem a coleccionadores
particulares. Um dos biombos, pertença de um particular, está habitualmente na
sua sala de estar.
Há livros, provenientes por exemplo da Biblioteca Nacional, um par de
estribos, de uma colecção particular, e um crucifixo cristão – kakure kirishitan
- muito curioso, também proveniente de colecção privada, em cujo centro foi
colocado um pequeno Buda.
Em outra sala, encontra-se um par de catanas e um ‘wakizashi’ (pequenas’
espada) do século XIX, bem como um móvel de sala com um tipo de decoração que
influenciou a Arte Nova (japonismo).
Numa vitrine próxima, estendem-se alguns documentos oficiais, sendo um
deles, datado de 1862, a lista de presentes enviadas pelo ‘Xogum’ do Japão a D.
Pedro V, proveniente do Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos NE e provavelmente
exposto em público pela primeira vez.
Um dos conjuntos de peças mais fascinantes, por isso exposta em sala
dedicada, mostra uma armadura de cavalo e outra de samurai. Nunca tinham sido
expostas. Foram “desmontadas” no reinado de D. Luís e estiveram mais de um século
fechadas numa arrecadação do Palácio da Ajuda. Imaginem o trabalho de
recuperação!
A armadura do cavalo é simplesmente notável. A do samurai é uma peça dos séculos
XVIII/XIX, em cabedal lacado, seda, fio de algodão, pele de veado, talvez pele
de urso e metal amarelo. Está assinada por Ohtaka Matajirou Shigeaki. Não será
das mais vistosas – cf. com as do Museu do Oriente, http://cordeirus.blogspot.com/2018/07/o-um-outro-mundo.html
– mas valerá por ser diferente dessas.
Mas a exposição vale pelo seu todo, até mesmo pelo detalhe de os números
das salas estarem em vocabulário katagana, um dos três utilizados pelos
japoneses, sendo este exclusivo para palavras japonesas.
Não se trata, porém, de uma mostra exaustiva sobre o tema, já que, nas
palavras da cicerone da exposição, só sobre Wenceslau de Moraes, por exemplo, embaixador português no Japão de
1900 a 1913, mereceria outra exposição.