quinta-feira, 21 de maio de 2020

Uma História de Assombro. Portugal-Japão Séculos XVI- XX



  
O tema acompanha-nos há cinco séculos, quando a História nos juntou a partir do século XVI. O encontro com o Japão foi para os portugueses uma estreia – Portugal foi o primeiro país europeu a chegar ao Japão – uma novidade que surpreendeu mas também assombrou, um encontro que espantou mas também martirizou.

É parte dessa história de encontros e reencontros que a exposição narra, ao longo de uma mostra de objectos invulgares e apaixonantes. São muitas as peças que ilustram sobretudo a troca de saberes, a língua, a arte e a religião, entre as duas culturas.


Algumas destas peças históricas estão expostas pela primeira vez ao público. Muitos dos objectos em exposição pertencem a coleccionadores particulares. Um dos biombos, pertença de um particular, está habitualmente na sua sala de estar. 

Há livros, provenientes por exemplo da Biblioteca Nacional, um par de estribos, de uma colecção particular, e um crucifixo cristão – kakure kirishitan - muito curioso, também proveniente de colecção privada, em cujo centro foi colocado um pequeno Buda. 

Tal comunhão decorreria da proscrição do cristianismo no Japão, poucos anos depois da sua disseminação, obrigando os praticantes a fazê-lo em clandestinidade, mas mantendo a simbologia, embora “mascarada” porém disponível para o efeito protector e curativo.


Em outra sala, encontra-se um par de catanas e um ‘wakizashi’ (pequenas’ espada) do século XIX, bem como um móvel de sala com um tipo de decoração que influenciou a Arte Nova (japonismo). 

Numa vitrine próxima, estendem-se alguns documentos oficiais, sendo um deles, datado de 1862, a lista de presentes enviadas pelo ‘Xogum’ do Japão a D. Pedro V, proveniente do Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos NE e provavelmente exposto em público pela primeira vez.


Um dos conjuntos de peças mais fascinantes, por isso exposta em sala dedicada, mostra uma armadura de cavalo e outra de samurai. Nunca tinham sido expostas. Foram “desmontadas” no reinado de D. Luís e estiveram mais de um século fechadas numa arrecadação do Palácio da Ajuda. Imaginem o trabalho de recuperação!


A armadura do cavalo é simplesmente notável.  A do samurai é uma peça dos séculos XVIII/XIX, em cabedal lacado, seda, fio de algodão, pele de veado, talvez pele de urso e metal amarelo. Está assinada por Ohtaka Matajirou Shigeaki. Não será das mais vistosas – cf. com as do Museu do Oriente, http://cordeirus.blogspot.com/2018/07/o-um-outro-mundo.html – mas valerá por ser diferente dessas.


Mas a exposição vale pelo seu todo, até mesmo pelo detalhe de os números das salas estarem em vocabulário katagana, um dos três utilizados pelos japoneses, sendo este exclusivo para palavras japonesas.


Não se trata, porém, de uma mostra exaustiva sobre o tema, já que, nas palavras da cicerone da exposição, só sobre Wenceslau de Moraes,  por exemplo, embaixador português no Japão de 1900 a 1913, mereceria outra exposição.