sexta-feira, 31 de março de 2017

Mercado de Santarém



O edifício é modernista com traça tradicional, projecto do arquitecto Cassiano Branco – Café Império, hotel Vitória, cinema Eden – que concebeu também parte do friso decorativo patente nos painéis de azulejaria que envolvem todo o edifício.
Estes painéis de azulejos, sobretudo azuis e brancos, mas também policromados, ilustram essencialmente os diversos métodos de produção agrícola, os quotidianos mercantis, as actividades tauromáquicas e a paisagem da região ribatejana.
Até sensivelmente há 90 anos, o mercado realizava-se no mesmo espaço, embora ao ar livre. Era para este espaço que convergiam sobretudo os agricultores da região. No final da década de 20 do século XX, o mercado teria a configuração actual logo após ter sido terminado a sua cobertura.
O conjunto cerâmico decorativo do exterior do mercado de Santarém podia ser definido como uma simples mas elucidativa lição de etnografia e economia de uma comunidade adjacente ao Tejo, ilustrada em cerâmica. 
As fainas regionais, nomeadamente as mais importantes do ponto de vista económico, também estão representadas em dezenas de painéis de azulejo que circundam as fachadas do mercado.

Mas não é só a economia que ali está representada. A história, através do património arquitectónico e edificado, assim como o património paisagístico da região, estão representados por diversos painéis de azulejos.
Estes foram encomendados à Fábrica de Sacavém e a maioria dos respectivos desenhos são da autoria de C. A. Mourinho e de C. Ramos e datam sobretudo de 1932 e 33, embora alguns tenham sido recuperados, por exemplo em 1992, por artistas mais recentes.
A qualidade dos azulejos, a par da estética dos desenhos, assim como o conjunto decorativo que resulta da profusão de painéis, empresta ao edifício mais um elemento de atracção que se multiplica pela diversidade dos temas.
Estão sentadas cenas do quotidiano da criação e mercado de gado, cenários das feiras, da actividade piscatória no Tejo, de actividades agrícolas, aparecendo cenas de ceifas, recolhas de feno e de segadas.
Descobrem-se muralhas, templos românicos e outros edifícios históricos de Santarém. Também se reconhecem palcos de actividades vinícolas. Como se fossem fotografias de época, testemunhos de um tempo que se transformou, alterando sítios, épocas e protagonistas da dinâmica de produção.
Vendedores de sapatos, campinos, pastores, uma vendedora de cereais, outra vendedora de artesanato, aparecem a ilustrar a dinâmica económica da região, quais ícones de um passado que ainda se mantém em alguns casos, embora outros tenham desaparecido.


O vídeo em https://vimeo.com/211197467