Quem esteja em
pleno Largo Infante Santo não demora a descobrir a estátua do rei Fernando I,
cujo enterramento teve lugar no convento de São Francisco, ali próximo, tendo
sido o monarca um dos maiores patrocinados de obras de ampliação e recuperação
do edifício e que chegou inclusivamente a ordenar a transladação das ossadas da
sua mãe para um dos espaços que mandara fazer.
Depois, os olhos
vão para outra estátua, a de São Francisco de Assis, que parece dirigir-se à
fachada da igreja fronteira, onde até a textura da parede é interessante. O
pórtico apesar de simples, seduz. No
topo da fachada, antes do remate circunflexo do telhado abre-se uma bela
rosácea. Estamos no gótico, na capital do gótico.
Num canto, ao lado
da fachada da igreja, abre-se uma porta. Mal se vê. Ao longe, supõe-se que deve
lá estar alguma indicação. Está discreta. Entramos, é gratuito. Espreitamos e
abre-se um claustro, imponente, encantador. Estamos no convento de São
Francisco, em Santarém.
O claustro convida.
Salientam-se os delicados arcos ogivais duplos que correm ao longo do piso
térreo. Destacam-se os capitéis e as portas ornadas com motivos manuelinos,
vegetação e cordames. Mas é sobretudo o conjunto que fascina, o silêncio que
seduz, a arquitectura que cativa.
Quando o olhar vai
para o tecto, notam-se as abóbadas nervadas, de nervuras estreitas e ajustadas,
que culminam em escudos de armas. Nota-se, enfaticamente, o peso dos anos na
textura da pedra especialmente nas colunas, compensado no entanto pela sua gracilidade.
O edifício data de
meados do século XIII, cuja fundação foi atribuída ao rei Sancho II, por altura
do estabelecimento da ordem dos Franciscanos na cidade. A escultura alva de São
Francisco de Assis, a contemplar a fachada principal da igreja adjacente ao
convento, diz da sua origem.
O templo está em
mau estado há muitos anos. A breve trecho começou a ser recuperado, sendo
visíveis nesta altura alguns andaimes e fachadas protegidas por plásticos, Não
fossem também as filas de cadeiras de plástico colocadas como plateia frente ao
espaço do altar, estaríamos envolvidos praticamente por uma ruína.
É sobretudo no espaço das capelas laterais, uma delas inclusivamente vedada ao público por causa das obras, que se observa o estado de degradação e agora também o de recuperação que o edifício está a sofrer. Há ainda algumas peças que estão dispostas junto às parede na nave central.
Todavia, o espaço merece
e ajusta-se à contemplação. A cor e a longevidade da pedra, a austeridade e a textura
das paredes, e a dimensão das colunas e das capelas, conferem ao espaço da nave
central a religiosidade que os construtores lhe quiseram atribuir. A anteceder a porta principal os ogivais criam uma espécie de alpendre.
Tal como no tecto
do claustro, a abóbada também nervada, mostra igualmente nos respectvos fechos
as armas do rei Fernando. Já de cada lado do lugar do altar, abrem-se duas
capelas com interessantes arcos, um maneirista e outro renascentista.
Á vista, dentro de
algumas capelas, há estruturas tumulares como, aliás, era comum nas edificações
religiosas. Logo após a entrada principal, o alpendre está dotado de colunas
com capitéis com motivos clássicos e renascentistas, motivos que se estendem à
maioria dos capitéis.
Nesta fase das
obras de recuperação – que se imaginam morosas – é possível perceber algumas
estruturas mais antigas sobretudo no interior das capelas que, eventualmente,
não estarão tão visíveis no final da intervenção.
Apesar de estar nua e fria, por enquanto, a igreja tem uma beleza e charme próprios, mas
sobretudo uma imponência que a raiz românica inicial não lhe tinha conferido. Aliás, são notórios os diversos estilos arquitectónicos e decorativos, bem como as diversas fases de construção do edifício.
Hoje, visto do exterior, sobretudo do lado sul, o convento mostra-se como um edifício multifacetado, notando-se as diversas e diferentes intervenções, acrescentos sobretudo, que foi tendo ao longo dos séculos de existência.
O vídeo em https://vimeo.com/207788397
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