Na sequência de
uma exposição, “A Viagem de Darwin”, no Parque dos Poetas, em Oeiras, assistimos
pouco depois a uma conferência no auditório do Parque dos Poetas. O tema ia da
paleontologia à biologia, foi apresentada por dois lentes, Carlos Silva,
geólogo doutorado em paleontologia, e Rui Castanhinha, doutorado em biologia
evolutiva.
Durante a
apresentação, um dos assuntos que mais interesse manifestou foi o da evolução dos dinossauros, nomeadamente o legado genético de algumas espécies, quer pelo facto de existirem em
Portugal muitos, bons e únicos testemunhos desse passado pré-histórico. Um dos oradores mencionou várias vezes a riqueza paleotológica do museu da Lourinhã. Por tanto, lá fomos. Íamos essencialmente pelos dinossauros, mas também pela riqueza que encerra a antiguidade pré-histórica, um período onde a cultura ainda não tinha sido inventada e onde dominava a natureza.
É uma natureza
bestial sucedânea de um período ainda mais brutal, em que a geometria do
planeta ainda sofria mutações profundas, com choques entre placas tectónicas,
erupções vulcânicas terríveis e e marés incontroláveis. Ao olhar as falésias abruptas que já guardam alguma areia, não é fácil imaginar que há milhões de anos andaram já andaram por aqui dinossauros.
Porém, há cerca
de 150 milhões de anos a terra sossegou. Nesta altura havia cortejos imponentes
de espécies mastodônticas, mas também se davam batalhas terríveis entre animais
cujo porte e ferocidade estava de acordo com a violência das manifestações telúricas. Mas nem todos os
dinossauros eram gigantescos e assustadores. Alguns eram mesmo muito pequenos e
frágeis. Outros, no entanto, seriam tão altos como prédios de três andares. É difícil, quase
impensável, termos uma ideia mesmo que aproximada da dimensão de um
brontossauro ou de um torvossauro, sem os comparar com uma enorme estrutura
actual.
Também parece
surpreendente que Portugal seja um país, com um pequeno território, mas possua
espécies próprias de dinossauros, tendo sido alguns dos maiores existentes no
planeta. Foi também por eles que viemos. Porém, para
chegarmos aos dinossauros temos de passar pelo passado recente, ou seja, para
nos aproximarmos da pré-história temos de atravessar primeiro os meados do
século passado, um período onde as máquinas, ainda que maioritariamente
mecânicas, já colhiam uma modernidade notória.
Mesmo assim, a
exposição começa pela arqueologia destacando uma estátua-menir do Calcolítico, além de alguns bifaces e machados polidos.
Depois, damos um salto descomunal no tempo e damos com a etnografia rural, com
produtos e utensílios ligados à produção de cereais, hortícolas e vinhos.
Há diversos
espaços dedicados às profissões – onde se destaca a de barbeiro, com cadeira e
utensílios de época, - às coletividades – salientando-se a banda filarmónica -,
aos jogos populares e aos brinquedos. Também não é estranho encontrar por ali uma Triumph, bem como dar com uma Cocciolo em
bom estado.
Deixámos a sala
dedicada à arte sacra, onde sobressaía a maqueta de uma igreja nunca
construída, para passarmos à casa tradicional saloia, com quarto e cozinha,
senda nesta última divisão que se tomavam refeições, e ainda com o forno e
espaços para os produtos e utensílios agrícolas.
Entre esta casa e
a área de paleontologia, há um pátio de dimensões generosas com uma velha carroça e algumas mesas
dispostas em esplanada. Existem ainda diversas reproduções de dinossauros
dedicados às crianças.
DINOSSAUROS NO MUSEU
À entrada do
Pavilhão de Paleontologia é difícil perceber que está a maior colecção de
fósseis de dinossauros d Portugal, exemplares com cerca de 150 milhões de anos,
pertencentes ao período do Jurásico Superior. Talvez seja também pelo aspecto ameaçador que o Miragaia, qual porteiro, deixa no visitante...
Se se tomasse em
linha de conta apenas a dimensão de Portugal, o nosso país seria o mais rico do
mundo em matéria de vestígios de dinossauros pertencentes ao Jurásico Superior. É que, além de
possuirmos em Portugal diversas jazidas de embriões de dinossauros, contamos
com a diversidade de dinossauros, como sejam os carnívoros os herbívoros de
pescoço comprido e estegossauros herbívoros protegidos por couraças.
O nosso país é muito rico em pegadas de
dinossauros, conhecendo-se mais de trinta jazidas. Isso permite conhecer outros
aspectos deste tipo de animais, como por exemplo, comportamentos, velocidade de
deslocação e localização geográfica e idades geológicas. O espaço do museu parece
pequeno face às peças expostas (bem como à importância científica das mesmas,
mas também destaca algumas delas já que estas ocupam espaços exclusivamente a
si dedicados.
Há luz,
informação, espaços exclusivos, critério e distribuição temática entre dois
pisos, aproveitando-se inclusivamente o espaço permitido por um pé-direito de
dois andares para expor um dinossauro alado. O mais interessante e importante nesta mostra é realmente a exclusividade de alguns fósseis, como sejam os do Lourinhosauro, do Torvosauro e do Lusotitan, entre outras, espécies autóctones e únicas no mundo. Curioso é que,
quando o Tiranossauro Rex dominava, já as espécies portuguesas de dinossauros
estavam a fossilizar há cerca de 80 milhões de anos… como o carnívoro Torvossauro,
um dos maiores predadores do período Jurásico.
Exclusivo é também
o Draconyx Loureiroi, um dinossauro herbívoro bípede, um exemplar de referência
em Portugal. Outro exemplar importante é o Dinheirosaurus Lourinhanensis, um
herbívoro encontrado na Praia de Porto Dinheiro, na Lourinhã, estimando-se que
seja o mais comprido dinossauro português que teria 25 metros.
A exposição vê-se
em cerca de meia hora. Após observarmos os fósseis, se não nos espantarmos a
cada passo com as dimensões de alguns dinossauros, com a distância temporal
entre eles e nós e com o legado fóssil que ainda temos oportunidade de visitar,
então mais vale deixar vaga na visita para quem ainda tem capacidade de se
surpreender com a natureza.
Música: Globus, In Memorian
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