Há excertos de poemas de Ruth Padel sobre a vida e obra do seu
trisavô, ao longo do caminho que acompanha Charles Darwin na narrativa da sua
extraordinária viagem a bordo do navio Beagle à volta do mundo durante cerca de
cinco anos. É com ele que vamos visitar a exposição.
Estamos no segundo quartel do século XIX, e o HMS Beagle tem
como missão o levantamento cartográfico da América do Sul. Darwin, na altura
com 22 anos, fará observações minuciosas e um levantamento detalhado da fauna,
da flora e da geologia dos (novos) territórios por onde o Beagle ia passando.
Foi nessa viagem que Darwin observou e anotou a diversidade do
meio ambiente, reflectindo sobre o facto de que cada lugar tem a sua singularidade
em matéria de fauna e flora, bem como o facto de existirem espécies semelhantes
em ambientes distintos.
Mas não só. Com base nas suas observações geológicas,
considerando as modificações que o meio ambiente foi sofrendo ao longo de
milhões de anos, assinalou que essas alterações foram obrigando algumas
espécies a a daptarem-se a um novo ambiente.
A sua teoria da selecção natural das espécies nasce daquele
conjunto de observações. Mas não apenas essa formulação. Outras, como seja, a
das variações das características entre indivíduo da mesma espécie, da capacidade
de descendência ser diferente, da manutenção do número de indivíduos de uma
espécie.
Dizia-nos Darwin, assim que chegámos ao primeiro andar que, para
além da intenção científica da viagem, o comandante via com muito bons olhos a
sua companhia. Afinal, o comandante não tinha praticamente ninguém com quem
falar, ou seja, não conseguiria ter uma conversa de cavalheiros…
Sob uma luminosidade excelente – que o dia chuvoso parecia
querer comprometer – o nosso anfitrião chamou a atenção para um terraço onde
tinha sido reproduzido o convés do Beagle. Percebiam-se de imediato as acanhadas
dimensões e também se presumia que essa exiguidade levasse um naturalista
aplicado a investir no seu estudo.
Depois, fomos passando por alguns documentos históricos – o diário e anotações de Darwin e ainda um manuscrito da sua passagem pelos Açores -, uma miniatura do
Beagle, um manequim do naturalista na idade com que empreendeu a viagem.
Há ainda um conjunto de reproduções de espécies vizinhas (uma ema e outro semelhante) – e de espécies descendentes de outras pré-históricas, como o caso do tatu e das tartarugas, enquadrados em reproduções dos seus ambientes naturais.
Existe ainda uma área dedicada à paleontologia, com reproduções
de ovos fossilizados e ainda um painel que ocupa uma parede inteira onde está desenhada uma genealogia
craniana.
Um dos aspectos mais marcantes das exposições foi o da evolução, um
dos temas mais significativos da obra de Darwin. Porém, não apenas o tema da evolução das espécies, mas sobretudo
o da evolução no tempo. E, nesse capítulo, por vezes os números simplificam a
ideia e ajudam a imaginação. Quando o número se aproxima de um milhão,
percebe-se a dimensão, o estender do tempo.
A vida geológica começou na Terra há pouco menos de 4 mil
milhões de anos (Dalrymple ou Newman). A vida biológica começou há menos de 3,5
mil milhões de anos (Brasier, McLoughlin, Green e Wacey). Só a solidificação da
crosta, decorreu ao longo de 100 milhões de anos (Cavosie, Valley e Wilde). É
muito, muito tempo.
Até aos dias de hoje, há transformações rápidas e lentas. Há
espécies que se mantêm fiéis às suas características ancestrais, como seja o
caso das lulas e dos polvos, do celacanto ou do caranguejo-ferradura. que já cá
andam há cerca de 500 milhões de anos.
Outras espécies desapareceram, como seja o caso das trilobites
ou das sinapsidas. Outras ainda, foram sofrendo modificações / adaptando ao meio
ambiente, como seja o caso do homem.
Poucas semanas depois de termos acompanhado a viagem de Darwin, assistimos
a uma conferência realizada no anfiteatro do Templo da Poesia, cuja ênfase foi
para a complementaridade de alguns aspectos da paleontologia e da biologia.
Foi interessante sobretudo foi a abordagem da espécie humana
enquanto ser evolutivo do ponto de vista biológico e paleontológico. A
longínqua ligação entre os seres humanos, as aves e os dinossauros.
Alguns desses dinossauros são espécies apenas encontradas em Portugal. Foi com
este mote que depois visitámos o Museu da Lourinhã, em
http://cordeirus.blogspot.pt/2016/08/dinossauros-no-museu_71.html
Música: Audiomachine, Tempest
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