Quase bastava o ar
cristalino, a alvura das casas, o dourado dos campos e o voar das aves. Os
olhos dariam por bem empregue o tempo de os descobrir. Depois, os silvos dos
pássaros, os estalares das cigarras, o balir das ovelhas ou o som dos chocalhos
das vacas emprestariam aos ouvidos uma tranquilidade ecuménica.
Porém, o deslumbre
não fica por aqui. Os sabores sumptuosos e os néctares celestiais juntam-se às
sensações de paz e beleza. Até o calor, por vezes excessivo, convida à pausa
mas também ao desfrute da água ou mesmo ainda ao usufruto comedido da calidez
do ar.
É possível
associar tudo isto e muito mais, no Verão, durante um fim de semana no
Alentejo. Se a este quadro edílico juntarmos ainda um grupo de pessoas insuspeitamente
aprimoradas na nobre arte do bem-estar, o sucesso está garantido.
BARRAGEM DOS
MINUTOS
Aproveitamos o
facto de irmos sozinhos e sem itinerário fixo, para rodarmos ao sabor da
descoberta. Saímos da A6 em Vendas Novas para a N4 e fomos andando apenas
cativos da eventualidade de haver muito trânsito e do calor aumentar demasiado.
A indicação,
“Barragem dos Minutos”, apareceu de repente pouco depois de Montemor. Junto
estava outra informação que indicava a existência de um restaurante. O tempo estava
quente e apetecia parar para beber. Optámos pelo desvio. O acesso ao
restaurante era em terra batida e a esplanada pareceu-nos estar empoeirada. Não
fomos. Paramos junto da barragem, vimos que não havia outro sítio com água
potável, fotografamos e voltamos para trás, à procura de sombra e água.
HOTEL RURAL DE
SANTO ANTÓNIO
Além dos suspeitos
do costume, encontramos água e sombra em Arronches. O grupo dividiu-se pela
piscina, cuja água motivava ao mergulho, e pela sala de estar do hotel, onde
passava na televisão o jogo do Campeonato da Europa entre o País de Gales e a
Bélgica.
Se à tarde já
lotávamos a sala de estar do hotel, à noite enchíamos a sala de jantar,
distribuídos em mesas corridas em mesas dispostas em quadrado. Actualizámos a
conversa, relembramos os últimos e fomos sabendo dos próximos eventos.
E saboreamos um
excelente lacão assado no forno, logo após diversas boas entradas. Deu até às
tantas, como é habitual, sobretudo porque, mais tarde, na esplanada, sob um céu
estreladíssimo, ficámos ao corrente dos detalhes do programa do fim-de-semana.
Alguns, até iriam cumpri-lo de moto. Imaginem.
E mais. Connosco estaria um estreante, o Pedro Cunha, da Trofa claro, que "estagiava" para uma ida à Concentração de Faro, a ter lugar daí a duas semanas. Além dele, regressavam o Armando e a Teresa, estando ele já apto para continuar a fazer muitos quilómetros de moto e não só.
E mais. Connosco estaria um estreante, o Pedro Cunha, da Trofa claro, que "estagiava" para uma ida à Concentração de Faro, a ter lugar daí a duas semanas. Além dele, regressavam o Armando e a Teresa, estando ele já apto para continuar a fazer muitos quilómetros de moto e não só.
Como é costume, o
Arlindo aplicou-se para nos proporcionar um excelente fim-de-semana na raia
alentejana. Desta vez, a proposta tinha ênfase no património histórico-militar
de Elvas e na vila espanhola de Olivença. Para isso, saímos de Arronches ainda com o ar fresco, mas já acompanhados de perto por aquele ambiente cálido prometedor de dia ardente. Não tardou muito que tal se consumasse.
Com efeito, na
subida para o Forte da Graça o calor já se fazia sentir. Depois de
estacionarmos as motos junto da fortaleza, pudemos contactar que as previsões
meteorológicas no que dizia respeito à temperatura iriam ser comprovadas assim
que voltássemos às motos.
O acesso ao forte
faz-se através de uma estrada que trepa uma colina, serpenteando em bom piso
até ao parque de estacionamento fronteiro ao portal da fortaleza. À medida que
se vai subindo, o panorama vai-se alargando sobre a cidade de Elvas.
Não deixa de ser
curioso verificar que, muitos séculos passados sobre o modelo de implantação
das fortalezas, o forte da Graça construído no século XVIII segue exactamente o
mesmo padrão de há séculos. Lugar elevado e panorâmico, preferido desde a
pré-história como sítio ideal para assegurar a defesa de uma comunidade.
No tempo medievo,
as muralhas de pedra também estavam rodeadas por fossos susceptíveis de serem
inundados. O forte da Graça também partilha essa característica, bem como a
existência de um último reduto, a torre de menagem nos castelos medievais, a
Casa do Governador, no forte da Graça.
Também partilha
com as fortalezas mais antigas a existência de muitas atalaias, sítios
dedicados à vigia e/ou à comunicação para o exterior, especialmente protegidos
e em locais estratégicos.
A semelhança entre
as torres de reforço da muralha e os baluartes, entre as portas de acesso e/ou
fuga, entre os adarves e as ameias medievais e as do forte da Graça, fazem
notar que ao longo dos séculos a estrutura e a função das fortalezas não mudou muito.
Significativo e
diferenciador em matéria de arquitectura e engenharia de defesa foi a criação
dos baluartes. O forte da Graça é um dos exemplos mais notórios desta
estratégia de configuração, uma das mais poderosas fortalezas abaluartadas do
mundo.
A CASA DO
GOVERNADOR
Por outro lado,
uma caraterística que se mantém desde tempos remotos é, como já referi, a
existência de um último reduto que, no caso do forte da Graça, se trata da Casa
do Governador.
Trata-se de um
espaço protegido dedicado a abrigar os dirigentes e a hierarquia mais elevada
da fortaleza em caso de ataque, sobretudo no caso das diversas linhas de defesa
soçobrarem ao inimigo.
A importância de
defender os supostamente “mais fortes” do ponto de vista político-militar é um
elemento sociológico marcante nas sociedades humanas desde sempre.
A organização
social é feita de contradições. E não se pense que se trata de uma situação
conjuntural, geográfica ou racial.
Pode parecer um contrassenso, mas numa
situação de calamidade, são habitualmente os socialmente mais fracos que sofrem
os impactos mais significativos, antes de a catástrofe chegar aos socialmente mais
fortes.
Mais, são os
socialmente mais fracos que estão mais vulneráveis, ocupando posições mais
frágeis, sujeitos na primeira linha às investidas do inimigo. Têm por missão
defenderem os socialmente mais fortes…
Daí a ênfase da
existência de reduto, de uma última hipótese de defesa dedicada a que manda, a
quem dirige. No forte da Graça, esse último reduto era a Casa do Governador
que, para além de sua residência, também tinha funções de protecção.
No topo da casa do
Governador, o local mais elevado da fortaleza, servia também como local de
observação, e permitia uma perspectiva alargada dos arredores e uma soberba
vista sobre Elvas, especialmente sobre o aqueduto e até mesmo sobre o forte de
Santa Luzia.
PELO ADARVE PROTEGIDOS PELAS MURALHAS
O passeio pelo
interior das muralhas é um exercício que, além de aeróbico e paisagístico, tem
interesse histórico-militar. Nesse périplo fomos sempre assistidos pela
informação do nosso guia, José Belfo, que nos acompanhou durante estes dois dias.
Foi ele que nos
foi elucidando sobre a história, a arquitectura e a função do Forte da Graça.
Andamos pelas atalaias, ao longo das ameias, espreitámos os túneis por onde
andava a bombarda e a água potável.
Chamou-nos a
atenção inclusivamente para a existência de “tocas de lobos”, uma espécie de
buracos redondos no solo, mas que estavam armadilhados dispostas nos declives
junto das muralhas, dedicados à infantaria inimiga.
Informou-nos ainda
das diversas ocupações do forte ao longo do tempo, tendo sido a última a de
prisão, mais propriamente a de “depósito disciplinar”, onde estiveram detidos
vários presos políticos até 1975.
Foi também
presídio militar, correndo uma espécie de ritual, em que os presos
transportavam barris de água meio cheios ladeira acima e abaixo. Se o tipo de
transporte já é penoso, é possível imaginar o que seria ali a época de Verão,
mesmo considerando que eram barris de água…
Mesmo sob um calor
que já se anunciava abrasador à medida que o sol trepava no céu, fomos
percorrendo os adarves das muralhas parando a espaços para observar a
panorâmica que envolve o forte e se divisa desde aquele outeiro.
Nota-se que tem
havido a preocupação de recuperar sobretudo o património edificado da
fortaleza. O facto de praticamente não existirem móveis ou outros objectos nas
salas diz dessa prioridade.
Não deixa de ser
curioso que a obra tenha sido da responsabilidade do francês Lippe e que anos
mais tarde os franceses tenham regressado a Portugal, com intenções de agressão
bélica e tenham encontrado resistência nas fortalezas edificadas pelos
conterrâneos…
FORTE
DE SANTA LUZIA, O DA RESTAURAÇÃO
Deixámos o forte
da Graça e fomos de imediato para o de Santa Luzia., situado a sudeste de
Elvas. É mais antigo do que o da Graça, do tempo da Guerra da Restauração,
mandado construir logo em 41, após a Restauração de 1640, com o objectivo de
defender na raia o acesso a Lisboa.
É semelhante ao da
Graça mas de menores dimensões. É composto por quatro baluartes e dispõe de um
reduto central onde se encontra a Casa do Governador, de uma igreja e de uma
casa à prova de bomba no subsolo.
A Casa do
Governador, significativamente mais pequena do que a do forte da Graça, possui
uma escada de acesso ao ponto mais alto de observação assaz curiosa uma vez que
distribui degraus por duas paredes paralelas. O Monteiro verificou serem
eficazes.
Também dispõe de
um fosso e, em redor das muralhas interiores, aproveitando-as, distribuem-se
várias casernas e duas cisternas. Os baluartes defendem sobretudo o lado sul e
oeste, locais de onde poderia chegar mais facilmente a ameaça espanhola.
Nas antigas
casernas está montado um pequeno museu militar com peças interessantes sobretudo
dos séculos XVIII-XX, exibindo capacetes, armas e vestuário em geral que, curiosamente está vedado a fotos e filmes...
Para norte, do
cimo dos baluartes a vista alcança com facilidade as diversas linhas de
muralhas de Elvas – incluindo as Fernandinas – o aqueduto a poente e, para
norte mais ao fundo, ainda está visível, no cimo do morro, o forte da Graça.
Para leste, é
Badajoz que fica à vista em dias claros. Hoje, havia uma névoa de calor que não
deixava o olhar percorre mais de meio caminho. E o sol, inflamado, também já
nos queimava a pele e nos aconselhava a sair para almoço.
VINHA DA AMADA
Ao contrário dos
baluartes, que nunca nos defenderam do sol, o estacionamento do Vinha da Amada,
na raia de Elvas, tinha muitos lugares à sombra para deixarmos os bancos das
motos protegidos.
O almoço privilegiou
o borrego e depois a sericaia, mas é capaz de ter sido avaro em vinho. Talvez por tal, tenha
sido lavrada uma acta – talvez não esmeradamente fundamentada - onde se
denunciava o roubo – e não o eventual furto – de uma garrafa de vinho.
O caso
resolver-se-á provavelmente em instâncias superiores mas, de imediato, tomou-se
em consideração uma eventual compensação e, como contrapartida inesperada,
surgiu nova garrafa na mesa magoada, diz-se que desviada algures…
OLIVENÇA CALIENTE
Atravessada a nova
ponte sobre o Guadiana, Olivença é logo ali. De um lado e do outro, apenas o
rio marca a diferença no ambiente. O calor, bem como a paisagem, são os mesmos. Neste aspecto,
Portugal e Espanha são irmãos.
Deixámos as motos
à sombra e partimos rumo ao centro histórico a caminho do museu etnográfico.
Passámos pelo antigo Cuartel de Cabalaria e continuámos para o castelo. Andámos
pela Porta de Alconchel – uma localidade mais a sul perto da raia com um
castelo simpático – e pela de Los Angeles.
No caminho é fácil identificar muitos elementos de origem portuguesa, alguns históricos - como sejam, o pórtico de uma igreja ou um brasão de armas portuguesas - outros que dão continuidade à arquitectura alentejana.
No caminho é fácil identificar muitos elementos de origem portuguesa, alguns históricos - como sejam, o pórtico de uma igreja ou um brasão de armas portuguesas - outros que dão continuidade à arquitectura alentejana.
O museu está
situado dentro de muralhas logo após o pátio de armas. Considerado um dos
museus etnográficos mais interessantes da Península, alberga cerca de sete mil
peças, provindo a maioria de ofertas dos habitantes de Olivença. Na visita,
fomos de novo acompanhados pelo guia português que nos acompanhara em Elvas.
O espaço de
exposição contempla dois andares e privilegia representações dos trabalhos
agrícolas e dos espaços domésticos urbanos e rurais. Tem ainda colecções
dedicadas à pré-história, à ocupação árabe e à época medieval.
No espaço rural,
há muitas reproduções de cenas e de utensílios agrícolas. No espaço dedicado à
área urbana, não faltam a escola, o gabinete médico, os quartos e as salas das
moradias labregas, incluindo o vestuário típico e os móveis de época.
Nota-se que foi
possível juntar no espaço de dois andares várias colecções de mobiliário e
utensílios rurais e urbanos ocupam todo um andar. O museu possui realmente um
espólio completíssimo mas talvez sejam peças a mais em algumas áreas de exposição.
Quem quis, subiu à
torre de menagem que se ergue desde a alcáçova do castelo e pode mirar desde as ameias
aqueles que optaram por ficar à sombra das muralhas. Trata-se da torre mais
alta de todas as existentes em castelos da raia com quase quarenta metros de
altura. Nós ficámos pelo pátio de armas à beira do poço...
Embora a torre
seja posterior, a alcáçova em que nos encontramos foi mandada construir pelo
rei português Afonso IV, na terceira década d século XIV. A cidadela que a
envolve está rodeada por muralhas intermediadas por catorze torres.
Deixámos o museu e
seguimos a pé sob um sol abrasador. Aproveitamos a sugestão do guia e entramos
na igreja da Magdalena. Já sob a frescura daquele espaço provecto datado da
primeira década do século XVI, nota-se de imediato a influência portuguesa.
Mandada construir pelo
então bispo de Ceuta, frei Henrique de Coimbra, destacam-se na igreja da
Magdalena, as oito colunas retorcidas de mármore em estilo manuelino, o
altar-mor em talha dourada e a fachada que ostenta uma poderosa torre
quadrangular.
Regressámos às
motos, saímos em grupo, voltamos ao calor e a passar a ponte nova deixando à
direita a Ponte da Ajuda, uma obra do rei Manuel I, datada do início do século
XVI. Diz-se que os espanhóis têm um projecto para a respectiva recuperação.
MEIA BOLA E ZUMBA
A piscina foi um dos elementos que fez a diferença, sobretudo face aos quase quarenta graus que andaram pelo ar nestes dias. O jacuzi também teve os seus momentos de fama, inclusivamente entre os gaiatos, como se diz por ali.
Apesar do calor que se fazia sentir um pouco por todo o lado, a zona relvada do hotel estava à sombra o que deixava mesmo assim o rectângulo de jogo com muitos graus acima do permitido para uma partida de futebol entre solteiros e casados.
Apesar do calor que se fazia sentir um pouco por todo o lado, a zona relvada do hotel estava à sombra o que deixava mesmo assim o rectângulo de jogo com muitos graus acima do permitido para uma partida de futebol entre solteiros e casados.
Ao lado, também
escoltada pela sombra das sete da tarde, decorria uma sessão de introdução à
Zumba, e não só. Aqui, julgo que aqui ninguém se queixou do árbitro, nem da má sorte, da
baliza esquiva ou de sarrafadas, enquanto a Rosa nos fazia seguir um ritual de
iniciação enérgico e harmonioso que não provocou baixas.
Já no futebol… não
é habitual haver tanta tranquilidade. Mas foi um bom jogo. Houve entrega,
espírito de equipa e uma vitória sem contestação. É importante. Sobretudo
quando essas condições são a favor da nossa equipa...
Ficou apenas a
dúvida sobre o que tinha aquela baliza de especial, que não entrava uma mosca…
ou, aventou-se, o Zamith teria tomado algum estimulante ilegal - há que fazer testes anti-doping para a próxima -, capaz de
possibilitar uma quantidade de defesas in extremis…
Porém, julga-se
que, de futuro, as equipas vão ser mais razoáveis, vão ter o mesmo número
de jogadores, não haverá reforços com gente que "veste a camisola" e ainda serão
distribuídas chuteiras aos jogadores pobres que estejam descalços…
ARRONCHES BY NIGHT
Embora houvesse
uma festividade nocturna na vila, nós entretivemo-nos a jantar. Mas não só. A
coisa estava agendada para as nove da noite e deu até à meia–noite, entre
conversas, anedotas e estórias improváveis.
Foi no restaurante
Estalagem, do outro lado do hotel Rural, coisa para menos de cinco minutos a
pé. Distribuímo-nos por diversas mesas, umas redondas outras quadradas, e
atirámo-nos ao bacalhau espiritual e às bochechas de porco como não houvesse
amanhã.
Felizmente
apareceu uma sopa de tomate que encantou., uma vez que o Alemanha-Itália ia
desiludindo. Valeu o ritmo da terra, a tranquilidade do servir e do degustar, o
saber ouvir e a serenidade do ambiente. Tão aquieto foi que à meia-noite já era uma
balbúrdia servirem ali sobremesa...
NA FORTALEZA DE ELVAS
Na manhã seguinte,
tínhamos como atractivo a visita ao Centro de Interpretação do Património de
Elvas, CIPE para facilitar, e convinha chegar cedo, mais que não fosse por
causa do calor que mais cedo ou mais tarde não nos abandonaria.
O horário de
prontidão voltou a ser o das nove e pouco. Por tal, ainda não estava muito quente
quando deixámos o hotel. Despedimo-nos dos nossos companheiros franceses,
Bernard, Jean e Wilhelmine (?), que regressariam nessa manhã a França. Como é habitual, e apesar das diferenças linguísticas, o entrosamento faz-se de maneira simples e o Jean até alinhou connosco na “peladinha”.
O Bernard é um
incorrigível motard francês, da região de Perigod, que organiza regularmente
passeios internacionais, onde costumam estar presentes muitos dos sócios do
CPEP. Desta feita foi o Clube que o acolheu, bem como ao casal amigo que o acompanhou.
Quando chegámos às
instalações do Regimento de Infantaria de Elvas, RIE, tínhamos uma surpresa à
nossa espera, composta por um conjunto de veículos militares clássicos
recuperados pelos próprios militares com a ajuda da Associação Portuguesa de
Veículos Militares, APVM, http://www.apvm.org/.
Distribuímo-nos
por diversos jipes e outros veículos de transporte de tropas – Berliets,
Unimogs, etc - e demos início a um périplo ao longo do caminho que acompanha as
muralhas do complexo militar.
Ficamos a saber
que aqueles veículos, alguns que andaram em África durante o conflito nas
ex-colónias, além de “fortes e feios”, ainda estão ali para as curvas, para a
subidas e descidas, menos para as rectas e para as travagens.
Se já nestes
veículos se notava o trabalho de recuperação efectuado – e a Associação apenas
lá está durante um fim-de-semana por mês – mais tarde, havíamos de passar por
outras viaturas que já fazem parte da exposição interior e se encontram em
excelentes condições de conservação.
O passeio foi
interessante, não apenas pela experiência de muitos que nunca tinham andado em
veículos militares, bem como pelo cenário paisagístico que se podia observar
sobre a cidade de Elvas.
O Centro de
Interpretação do Património de Elvas, CIPE, pretende “valorizar a importância
militar e estratégica de Elvas ao longo dos séculos”, organizar, explorar e
divulgar o acervo museológico de modo a preservar a herança histórica mais recente do património elvense.
Após o passeio
motorizado entrámos nos núcleos expositivos situados nos Quartéis do Casarão
que mostram um conjunto de equipamentos militares, uma evolução morfológica da
cidade que abrange cerca de dez séculos, além de um espaço dedicado à
diversidade patrimonial de Elvas.
Em destaque está
toda a panóplia de equipamentos e utensílios que envolviam o transporte a
cavalo – as instalações chegaram a acolher homens e cavalos -, bem como
estruturas para intervenções médicas e equipamentos de transmissões.
De seguida,
espreitamos a cidade desde o cimo de um dos baluartes – o RIE ocupa todo o
espaço interior da muralha situada a leste, aproveitando exactamente essa
muralha e os respectivos baluartes – de onde é possível também contemplar o
forte da Graça.
Foi aqui que o
Ten. Cor. Bucho nos elucidou sobre a técnica e a função do baluarte, um
dispositivo ou melhor uma edificação que pretende reforçar as muralhas
exteriores, uma vez que junta atrás destas algumas toneladas de terra. Mesmo
que as muralhas de pedra sejam destruídas pelo impacto do fogo inimigo, a terra
concentrada logo após resistirá.
Outra área
museológica dedicada à memória do transporte militar, leva-nos desde os
veículos puxados a cavalo (alguns por muitos cavalos), para outros veículos com
muito mais cavalos.
Dentro de portas,
há mais exemplares de viaturas militares, que vão das mais ligeiras às mais
pesadas, todas recuperadas, local onde surpreendemos até uma Hercules 125 com
motor Sachs pintada com o verde seco militar…
Após regressarmos à parada, onde estão expostas várias peças de artilharia, terminamos a visita
no claustro do convento de São Domingos, hoje dentro das instalações do Museu
Militar de Elvas, http://www.operacional.pt/museu-militar-de-elvas/.
Foi unânime o
agradecimento que dirigimos ao tem. Cor. Bucho e à sua equipa, fazendo votos
para que continuem o excelente trabalho que têm feito em prol da museologia,
bem como pelo admirável acolhimento de que fomos alvo.
GASPACHO E VITELA
NO ‘BOLOTA’
Saímos do CIPE já
o sol propunha uma tarde tórrida. Até ao restaurante “A Bolota”, que fica na
Terrugem, são cerca de 18 quilómetros que percorremos num instante. Desta vez,
estacionamos ao sol no quintal do restaurante, a caminho dos quarenta graus à
sombra.
Depois, distribuídos
por diversas mesas redondas, foi desfrutar do gaspacho e do assado de vitela, e
em particular de uma mousse de chocolate especialmente bem feita, entre amenas
conversas que iam já dirigidas à gastronomia como é habitual, mas também ás férias
e ao próximo evento.
Saímos em pequenos
grupos ou sozinhos, como foi o nosso caso, uma vez que os nossos companheiros
de jornada ou já tinham saído de manhã ou iam de carro. Optámos pela “nacional”
até Estremoz, onde entrámos na auto-estrada sobretudo devido ao ritmo mais
lento da estrada nacional que obrigava a apanhar calor durante mais tempo. Na
auto-estrada era possível andar mais rápido.
AO SOL DO ALENTEJO
AO SOL DO ALENTEJO
Talvez por isso,
também, o pneu traseiro aqueceu mais do que aguentaria. E, por volta de
Montemor-o-Novo, a faixa central de borracha começou a derreter para, pouco
depois, se desfazer literalmente, deixando um buraco jeitoso de um lado ao outro. Quais arames, qual estrutura reforçada.
Embora se tratasse de um pneu cuja referência de modelo
fosse adequado à Paneuropean, o índice de velocidade “H”, não foi suficiente
para um andamento mais vivo acompanhado neste dia pelos cerca de setenta graus que estariam no asfalto. Este índice de velocidade "H", não vai além dos 210 kms/h. Aparentemente, esta velocidade é apenas um mero indicador, sendo preferível andar com pneus cujo índice de velocidade seja acima dos 270 km/h, ou seja, superior a “W”.
Por vezes, quando não há pneus indicados em stock e a alternativa é colocar um “semelhante”, aconselhado por uma oficina de “vão de escada” o que acontece é o pneu não aguentar velocidades pouco acima da velocidade de cruzeiro. Eu já não devia escorregar nestes detalhes, mas o pneu até tinha gravado, "Harley Davidson"...
Recorremos à assistência
em viagem e, ao fim de meia hora de espera, a moto foi colocada no reboque, que
acompanhámos até um depósito de viaturas acidentadas. Daí apanhámos um táxi até
casa. Estávamos a cem quilómetros da capital.
Para o ano, já com
pneus novos, está prometido mais um passeio valente com base em Elvas, com temperatura
semelhante à deste ano e com o mesmo espírito e ambiente de divertimento que é
habitual experimentarmos.
O vídeo, em https://vimeo.com/176884898