Esta etapa leva-nos às ruínas gregas e romanas de Empuries e a visitar os vestígios do castelo de Tossa e da igreja de Sant Vicent, após um excelente almoço na marginal da ‘Bahia’ de Tossa de Mar.
Fica numa zona de férias tentadora. Primeiro os gregos, depois os romanos, sabiam ao que vinham. A dimensão surpreende e a localização maravilha. O Mediterrâneo está-lhe aos pés e o azul, doce tranquilo das águas puxa-nos para um mergulho ou simplesmente convida a olhar.
Fizemo-lo depois, tal o prazer de estar ali. Comprometemos a visita ao Castillo de Gala, em Pubol mas, naquele dia, pareceu-me que o ‘dolce fare niente’ sobreveio à arte. Nesta manhã, preferimos a arte da contemplação, repimpados à beira do Mediterrâneo.
Entramos na cidade grega com a noção de que o olhar se estava a adaptar ao caminho que levava a três milénios. Comentei com o Arlindo que a entrada se parece com a da Amaia romana, situada perto de Castelo de Vide.
A zona comercial descobre-se com lojas cujas portas estariam viradas para uma rua defendida do sol pela sua estreiteza, mas também tão perto do mar que apetece comprar e vislumbrar a apetitosa água.
Conforme se avança, maior parece o espaço e mais amplo o horizonte. Percebe-se que vastidão dos espaços estava destinada a acolher muita gente. Devia ser ali o centro da cidade e provavelmente o centro de decisão política e o local dedicado ao culto religioso.
Pena é que a dimensão do museu e da zona administrativa seja demasiado alta e contraste de maneira negativa com a pouca elevação das ruínas. Embora tenha sido construído com materiais com textura e sobretudo cor semelhante à das ruínas, é para aquele edifício que vão os olhos ao observar o horizonte.
Todavia, a dimensão das ruínas mostra que se tratava de uma cidade importante, dotada de um conjunto significativo de recursos que nãodiferiam muito da congénere romana que se situa duas centenas de metros acima.
Num dia, passámos das obras artísticas de um homem que viveu no século passado, para os testemunhos de vida de uma comunidade que ocupou aquele espaço há cerca de três milénios. Já não é o talento de um que apreciamos, mas o trabalho de muitos.
Todavia, a arte também lá está, sobretudo no museu, como sejam os mosaicos, as esculturas e outros elementos decorativos. Estão expostos alguns, que datam do IV milénio antes de Cristo, que parecem transcender o próprio Esculápio/Asclepio cuja estátua dominava uma das salas.
A Grécia deixou a Roma tudo o que fez e sabia. Os romanos aperfeiçoaram alguns sistemas, coimo seja o de distribuição de água e complexos termais, aprimoraram o ambiente decorativo sofisticando-o com azulejos, aumentando as áreas públicas.
Nota-se um alinhamento mais cuidado, a tal amplitude de espaços, e obras de engenharia com maior fôlego, bem como uma melhor posição estratégica uma vez que do espaço romano se domina uma parte significativa da costa com o simples olhar.
E que bem se está à beira-mar! Não fosse a areia inda ser do tempo grego e teríamos duas enseadas (calas) de truz. O azul do mar deve ter sido pintado com carinho e a água parece ter sido aquecida eternamente nas termas romanas...
Tão bem se estava que fomos estando. Logo após a saída das ruínas, um café com cobertura em palhinhas levou-nos para lá, à vista do tal quadro edílico do mar e da praia. Afinal, a arte não tinha ficado apenas nos museus.
UMA VT MIL AO ALMOÇO
Não podia imaginar que, vinte e sete anos depois, íamos almoçar nesse restaurante. Imagino talvez a cara do dono da moto, Josep, chef do Bahia, quando viu as nossas plenas de surpresa e júbilo. A sua moto, uma Honda VT 1000, vermelha, estava literalmente no meio das mesas que formavam um quadrado no interior do restaurante.
Foi a melhor recepção que tivemos em toda a viagem, não esquecendo a simpatia com que fomos recebidos em todos os restaurantes da jornada. Tal como no ano anterior, quando do périplo pela Espanha Mudejar, continuamos a ter sorte e ser bem surpreendidos, de uma forma positiva mas sobretudo saborosa pela gastronomia desta feita catalã.
Josep perguntou-me se tínhamos apanhado vento na via-rápida. Depois, confidenciou-me que já lá tinha caído, ele e um amigo com outra moto. Por vezes, o Mistral escapa de França e abana-se até à costa. O impacto é forte mas o que apanhei há anos perto de Perpignan soprava sempre na mesma direcção.
Depois de uma ‘paella’ deleitável acompanhada com Marqués de Caranó, gran selección, deixamos os fatos no restaurante e fomos rampa acima ao longo das muralhas do castelo até à igreja de Sant Vicent.
O caminho é agradável, está ajardinado e a baía vai-se descobrindo à medida que trepamos. De cima, a vista é excelente vislumbrando-se toda a localidade. Fica-se com uma boa ideia do espaço que, porém, no Verão, é exíguo para tanta gente.
Há um mês |
Há 27 anos |
Também aqui, à imagem de Cadaqués, há barcos que chegam à praia, estiram uma ponte articulável e permitem saídas e entradas, como se de cacilheiros se tratasse. Comentámos que, por cá, seria divertido saber quais seriam os entraves a este tipo de iniciativas…
Com o meio da tarde a surgir, recuperamos os fatos e os capacetes e seguimos para as motos, que estavam estacionadas na praia, não em plena areia, mas num espaço em remodelação, a uma vintena de metros da água.
Saímos de Tossa, em direcção a Lloret. Entretanto, a vegetação e as urbanizações cresceram na mesma pro porção, em relação há trinta anos. Agora, a paisagem marítima perdeu-se entre as fachadas e as varandas de veraneio.
A partir de Lloret a estrada torna-se aborrecida com uma sucessão de rotundas em espaço urbano que foi fragmentando o grupo. Depois, com as experiências bem sucedidas e frustradas de utilizar a via-verde, nas portagens da auto-estrada já havia dois ou três grupos.
BARCELONA BY NIGHT
Reagrupamo-nos à entrada de Barcelona na C31, após termos percorrido mais de uma dezena de quilómetros em linha recta. O hotel Eurostars Monumental fica muito perto da avenida Diagonal, pelo que não difícil lá chegar. Sair é mais moroso.
Uma vez que a garagem ficava do outro lado da avenida e convinha entrarmos em grupo para ocupar os poucos lugares disponíveis que ainda restavam, foi a vez em que guiámos mais próximo um dos outros, tao perto que ocupámos toda uma faixa destinada à passagem de peões…
Uma
das características de cidade de Barcelona, excluindo a zona de Montjuic, é a
sua planura e a rectilinidade das suas ruas e avenidas. Por tal, aproveitámos
ambas e fomos a pé até ao Porto Olímpico, diz-se… para criar apetite. Ao fim de
três quilómetros, estava garantido.
Jantámos
num dos restaurantes da marina, por sinal não muito conseguido. À saída e de
regresso ao hotel optámos pelo táxi e, lá como aqui, s taxistas não gostam de
trajectos curtos, razão possível para que dois deles não conhecessem a morada
do hotel…
Mas
a cor do céu no princípio da noite compensou esse no-show. Reforçamos a
indemnização com Guiness e Gin tónico e, à saída, já a silhueta da Sagrada Família
parecia convidar-nos a visitá-la na manhã seguinte.
O vídeo, em
https://vimeo.com/170853575