A
população do concelho não ultrapassa os 8500 habitantes e a vila não vai além
dos 7500. Caberiam 4 vilas de Campo Maior na minha freguesia de Massamá. Mesmo assim,
estando lá, perante a dimensão do espaço decorado, é espantoso ver a quantidade
e qualidade dos arranjos.
Campo
Maior parece uma pequena vila antes de a circundarmos e antes de calcorrear as
ruas. E antes de sabermos que, pelo menos, são cem as ruas que estão
engalanadas com flores. E não apenas as ruas. Este ano, até o “Palácio de Belém”
foi alvo de intervenção…
A
decoração envolve sobretudo as ruas do centro histórico da vila e são
predominantes as flores de papel, quer em grinalda, quer em vasos, quer em
filas extensas. Porém, os trabalhos em papel vão além dos motivos florais.
Candeeiros, frutas, pipas vasos, até soldados e carros de combate, fazem parte do portefólio
exposto.
As
flores produzem um conjunto curioso de sensações. Por um lado, o ambiente
torna-se mais feérico, mais alegre, devido à profusão de cores. Por outro lado,
a maioria das cores utilizadas – claras - dão uma sensação de leveza, sendo
que em certas ruas, os tons azulados refrescam o ambiente.
Andar
sob os véus consecutivos de flores oferece uma sensação de conforto agradável,
talvez até de protecção. Deslizar ao longo das ruas, mesmo em pleno Agosto, mês
de calor extremo este ano, não foi penoso. A par da protecção das fileiras de flores,
o branco das paredes das casas completava a sensação de frescura experimentada.
Esta
tradição, de cariz singular e popular, está já a ser alvo de candidatura a Património
Cultural Imaterial da Humanidade, nomeadamente no seio da UNESCO. Aliás, uma
tamanha colaboração entre vizinhos revelará seguramente, além das estratégias
de manufactura das flores e dos objectos de papel – que envolvem, por exemplo, o
cantar das “saias” (género musical da vila) - provavelmente um conjunto de relações
sociais que se estreitam ou distinguem entre a população.
Nas ruas não estão apenas as flores em exposição. A veia poética do povo vai aparecendo nas janelas ou nas portas em quadras relacionadas com as pessoas, a vila, as actividades dos moradores ou as culturas agrícolas.
Mais um
aspecto interessante do ambiente das ruas da vila passa pela colocação de cadeiras
ou bancos, disponibilizados pelos habitantes, no exterior das suas habitações,
possibilitando um lugar de descanso aos visitantes.
Um
outro aspecto que, pessoalmente, me surpreendeu, foi o facto de o comércio ser
diminuto e da restauração ser escassa. Ou seja, a população não aproveita o
ensejo da festa para divulgar ou vender os produtos da terra. Por outro lado,
em função dessas ausências, a tranquilidade do lugar mantém-se inalterada, exceptuando
o ruído produzido pelo aumento de pessoas a circular.
Música: "Lumina", BrunhVille