sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Sob Véus de Flores, Festas do Povo




A tradição diz que as Festas do Povo de Campo Maior são quando os habitantes querem. Não se realizavam há sete anos, quando em 2011 a população reactivou o festejo. Estando envolvidos na organização cerca de seis mil voluntários, poder-se-à dizer que toda gente participa nos arranjos florais que são um ex-libris da vila.



A população do concelho não ultrapassa os 8500 habitantes e a vila não vai além dos 7500. Caberiam 4 vilas de Campo Maior na minha freguesia de Massamá. Mesmo assim, estando lá, perante a dimensão do espaço decorado, é espantoso ver a quantidade e qualidade dos arranjos.


Campo Maior parece uma pequena vila antes de a circundarmos e antes de calcorrear as ruas. E antes de sabermos que, pelo menos, são cem as ruas que estão engalanadas com flores. E não apenas as ruas. Este ano, até o “Palácio de Belém” foi alvo de intervenção…


A decoração envolve sobretudo as ruas do centro histórico da vila e são predominantes as flores de papel, quer em grinalda, quer em vasos, quer em filas extensas. Porém, os trabalhos em papel vão além dos motivos florais. Candeeiros, frutas, pipas vasos, até soldados e carros de combate, fazem parte do portefólio exposto.



As flores produzem um conjunto curioso de sensações. Por um lado, o ambiente torna-se mais feérico, mais alegre, devido à profusão de cores. Por outro lado, a maioria das cores utilizadas – claras - dão uma sensação de leveza, sendo que em certas ruas, os tons azulados refrescam o ambiente.




Andar sob os véus consecutivos de flores oferece uma sensação de conforto agradável, talvez até de protecção. Deslizar ao longo das ruas, mesmo em pleno Agosto, mês de calor extremo este ano, não foi penoso. A par da protecção das fileiras de flores, o branco das paredes das casas completava a sensação de frescura experimentada.


Esta tradição, de cariz singular e popular, está já a ser alvo de candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade, nomeadamente no seio da UNESCO. Aliás, uma tamanha colaboração entre vizinhos revelará seguramente, além das estratégias de manufactura das flores e dos objectos de papel – que envolvem, por exemplo, o cantar das “saias” (género musical da vila) - provavelmente um conjunto de relações sociais que se estreitam ou distinguem entre a população.



Nas ruas não estão apenas as flores em exposição. A veia poética do povo vai aparecendo nas janelas ou nas portas em quadras relacionadas com as pessoas, a vila, as actividades dos moradores ou as culturas agrícolas.


Mais um aspecto interessante do ambiente das ruas da vila passa pela colocação de cadeiras ou bancos, disponibilizados pelos habitantes, no exterior das suas habitações, possibilitando um lugar de descanso aos visitantes.


Um outro aspecto que, pessoalmente, me surpreendeu, foi o facto de o comércio ser diminuto e da restauração ser escassa. Ou seja, a população não aproveita o ensejo da festa para divulgar ou vender os produtos da terra. Por outro lado, em função dessas ausências, a tranquilidade do lugar mantém-se inalterada, exceptuando o ruído produzido pelo aumento de pessoas a circular. 

Música: "Lumina", BrunhVille