O evento Open House Lisboa, de Outubro deste ano, contemplou a possibilidade de visita a setenta locais em Lisboa, desta feita subordinado ao tema “arquitectura de portas abertas”. Um dos sítios que podia ser visitado foi o Centro de Investigação para o Desconhecido, em Belém, vulgo Centro Champalimaud.
O exterior
assemelha-se a um navio, com as suas múltiplas amuradas, chaminés, vigias, que
“navega” à beira do Tejo. Por fora, o conjunto articula-se com o rio e com a
margem, mas de lá destacam-se sobretudo as descomunais “vigias” elípticas e
aquela espécie de diapasão em pedra virado a poente que parece esperar pelo
ocaso para o amarrar ao dia. Porém, segundo o arquitecto que concebeu o projecto, aquelas duas colunas pretendem indicar o "caminho para o desconhecido".
A abordagem face ao espaço exterior - ainda com o projecto em fase de conclusão - está aqui, em http://cordeirus.blogspot.pt/2011/07/centro-para-o-desconhecido.html
O Open House tem a
particularidade de possibilitar, para além de mostrar lugares habitualmente
vedados ao público na maior parte dos casos, uma visita guiada por quem, de
alguma maneira, está familiarizado com os espaços onde regularmente se move.
Nesse sentido, do
ponto de vista informativo, o começo da visita elucidou-nos em detalhe sobre os antecedentes e sobretudo acerca dos objectivos da Fundação
Champalimaud, que passam pela investigação em neurociências, oncologia e
biomedicina, para além de apoios financeiros a projectos na área da
oftalmologia um pouco por todo o mundo.
O breafing
efectuado no átrio junto de uma maqueta do complexo feita em Lego foi sobre
essa matéria, completado com o historial da Fundação e a perspectiva do que
iríamos ver. Se por acaso ainda
não tivesse sido notado, perante a maqueta é fácil identificar um corpo
principal do complexo, mais operacional
dedicado ao estudo, investigação, intervenção e tratamento, e um outro ,
estilo satélite, com funções de apoio.
Se do lado
exterior se adivinham grandes e espaçosos e se antecipa que os jardins são
frondosos, melhor se acham quando os vemos de uma plataforma superior no átrio
de entrada. Lá, o espaço ajardinado é uma espécie de floresta tropical. Verifica-se, porém, que é fechado ao exterior.
A explicação
decorre do objectivo do espaço, destinando-se sobretudo aos doentes em recuperação
sujeitos a tratamentos invasivos e habitualmente dolorosos (quimioterapia), para
os quais o recato e/ou a tranquilidade é requerida.
E se o piso térreo
está dedicado a recuperações ou estudos, o piso imediatamente superior está
dedicado à intervenção, quer prática, quer de investigação. Aqui, a organização
dos espaços também contemplou o horizonte exterior.
A compartimentação
está por todo o edifício. A comunicação entre a zona de investigação e os gabinetes
de coordenação, por exemplo, é garantida por corredores curtos, mas que
asseguram a separação pretendida entre as duas áreas.
A zona de
intervenção operacional ocupa outras dependências, contudo situadas perto da
investigação, de modo que o contacto e a interacção possam ser praticamente imediatos,
além de permitir também o contacto visual com o exterior.
Assim que voltamos
ao piso inferior e entramos na zona de tratamento, as cores, as dimensões e a
organização do espaço muda. As cores são mais ténues, as dimensões reduzem-se e
individualizam-se, os espaços comuns diminuem, a luz circunscreve-se e o campo
de visão para o exterior fica mais limitado.
No outro corpo do edifício
encontramos os espaços de apoio: a restauração, o auditório, salas de reunião e
um espaço de exposições. Visitamos o auditório. Notória, é a ampla janela
elíptica que domina o anfiteatro cujo declive é assinalável, o que permite assegurar
que de praticamente todos os lugares se tenha uma visão completa do resto do
espaço mas sobretudo do palco.
Notável é também
ao panorama que se vislumbra através da janela, quer para a entrada do Tejo,
quer para a Torre de Belém. O vidro, também ele imenso, foi trazido em partes e
“colado” numa operação protegida.
No exterior, o
espaço foi deixado para as pessoas poderem ter diversas perspectivas, quer do
complexo, quer do rio, quer das margens. Com simples elementos arquitectónicos
e/ou decorativos, é fácil olharmos para a foz do Tejo balizados por duas colunas
esguias ou contemplar o leito rio a partir de um pequeno lago.
Ou espreitar o passar
dos barcos entre os pinheiros, mesmo estando circundados por muros de mármore roseados a circunscrever áreas que se pretendem distintas e/ou relativamente privadas, como seja o caso do anfiteatro exterior e da área de restauração.
Mas também é possível vigiar a Trafaria através de uma janela aberta
num muro (do auditório exterior), observar o bebedouro sistemático das gaivotas, varrer o Tejo com um olhar lento e detalhado ou descansar na relva fronteira à fachada do edifício principal.
Ou ainda vaguear entre espaços
abertos e luminosos, ajardinados ou não que circundam o complexo, errando entre
o miradouro e o anfiteatro, ou entre o jardim fronteiro e o lago, quer perscrutando
o rio, quer divisando a zona urbanizada.
Interior e exterior articulam-se de forma serena e harmoniosa. Lá dentro, é mais notória a tranquilidade nas cores, nas dimensões, nas texturas, na luz, na orientação espacial. Propósitos e ambientes parecem estar especialmente bem relacionados.
Interior e exterior articulam-se de forma serena e harmoniosa. Lá dentro, é mais notória a tranquilidade nas cores, nas dimensões, nas texturas, na luz, na orientação espacial. Propósitos e ambientes parecem estar especialmente bem relacionados.
Música: Craig Chaquico e Russ Freeman, Sweetwater
Sem comentários:
Enviar um comentário