segunda-feira, 1 de março de 2021

Um Palácio, Muitos Palácios. Mafra


Toda a gente conhece o Palácio Nacional de Mafra. É gigantesco! Como a maioria dos palácios reais. Este tem a particularidade de possuir o maior passeio real interior da Europa, uma galeria com cerca de 230 metros de comprimento, tão ao gosto das cortes do século XVIII. Muitos metros para receber, exibir, conspirar... mas, não só!

O complexo, que já fez 300 anos, inicialmente um projecto de mosteiro para poucos monges, tornou-se na obra imensa que ocupa quase 40 mil metros quadrados, dispõe de 1200 dependências, 156 escadarias, e... não fica por aqui! São famosos os dois carrilhões, dotados de 57 sinos, considerados os maiores e mais pesados da Europa da sua época. E uma biblioteca ‘rocaille’ com mais de 36 milhares de obras.


UM PALÁCIO, MUITOS PALÁCIOS


O palácio são vários palácios: o do rei, o da rainha , parece que ainda havia dependências destinadas aos príncipes e outras às princesas. Possui também uma das biblioteca mais importantes da Europa. E, ainda, uma área conventual, inicialmente pequena, depois significativamente aumentada. 

As dependências reais distribuem-se pelo (elevado) primeiro piso. Abaixo, ficavam as dependências dos fidalgos e das fidalgas que serviam a família real. No sótão, viviam os criados. As cozinhas situavam-se na cave e, no piso térreo, as despensas. 

Mais tarde - imagina-se a logística e respectivos custos de tais dependências – o torreão norte ficou exclusivamente destinado a hóspedes e a família real passou a ocupar apenas o torreão e a ala sul. Antes de partir para o exílio, em virtude da revolução de 5 de Outubro, o rei Manuel II passou neste palácio a sua última noite de reinado.


SALAS, SALÕES, TECTOS

 

O palácio está repleto de salas. A sala Vermelha é uma espécie de sala de espera, que dá acesso à sala Amarela, também designada por sala de Música, onde a família real recebia os convidados. Depois, a sala de Jogos, com diversos mesas de jogos de época.


A sala de Caça está decorada, desde os candeeiros até ao mobiliário, com motivos alusivos a esta actividade relacionada com a Tapada de Mafra onde a família real caçava. Existe ainda uma sala dedicada a Diana, deusa da caça, cuja pintura do tecto a representa.


A sala do Trono não é grande, tem as paredes decoradas com representações pintadas das oito virtudes reais e uma pintura no tecto que representa uma alegoria à "Lusitânia". A mitologia e a história épica nacional estão também representados nos tectos de outras salas, como sejam, a da Guarda, dos Destinos e das Descobertas.

 

IMENSA GALERIA REAL

 

A ligação entre as salas faz-se através da extensa galeria que une os dois torreões - os aposentos do rei e da rainha - situados nas extremidades da fachada, o tal corredor com mais de duas centenas de metros, um recorde em matéria de galerias reais europeias.

É possível imaginar o cortejo solene, quer do rei, da rainha ou da corte a percorrerem a galeria, a serem saudados pelos criados ou baixa fidalguia dispostos nas numerosas salas que acompanham o imenso corredor, recriando diariamente no interior do palácio os rituais da comunidade real.

 

DE CONVENTO A ESCOLA MILITAR

 

Chegaram a estar alojados cerca de 300 frades franciscanos no convento – dedicado a Francisco de Assis -, num espaço que teria sido inicialmente pensado para “meia dúzia”... e, tal, só teve lugar durante cerca de 117 anos, desde a fundação em 1717 e a extinção das ordens religiosas em 1834.

Hoje, o salão grande dos frades foi recriado com mobiliário original, assim como as celas fradescas, a enfermaria e o refeitório. Há muitos objectos relacionados com os tratamentos dos enfermos, estudos para estátuas de santos, materiais de copa, etc, etc.


Não contando com a ocupação quando das invasões francesas e, posteriormente durante pouco tempo pelos ingleses, a área conventual tem estado ocupado por militares. Diz a lenda urbana que, nem mesmo os esforços militares conseguiriam dar cabo de uma praga de ratos, que ainda vivem nos subterrâneos...


BIBLIOTECA, DE XV A XIX

A biblioteca é uma das bonitas e importantes europeias. Um dos acervos manuscrito, de início do século XIX, tem oito volumes. Actualmente conta com cerca de 36 mil obras, destacando-se a famosa Crónica de Nuremberga, de finais do século XV. Tem cerca de 83 metros de comprimento.

O acervo possuiu ainda um conjunto de partituras musicais escritas para o conjunto dos seis órgãos, quer de autores portugueses quer de estrangeiros, destacando-se especialmente, entre outros, João de Sousa, Marcos Portugal e João José Baldi. 

Um dos réis que impulsionou a constituição do acervo foi João V, o Magnânimo, que enviou emissários à Europa para aquisição de importantes e recentes obras. Hoje, do acervo fazem parte muitos temas, como sejam, entre outros, Teologia, Direito, História, Geografia, Arte, Medicina, Música ou Matemática.

Trata-se uma biblioteca conventual – durante muitos anos, eram os monges que copiavam os livros e os estudavam, além de serem também professores – talvez daí a sua planta em cruz e um acervo religioso importante. Curiosamente, do acervo faziam parte livros proibidos, da filosofia à anatomia, passando inclusivamente por um exemplar da “Barca do Inferno”, de Gil Vicente, um livro proscrito na altura.

A beleza da arquitectura e decoração da biblioteca deve-se a Manuel Caetano de Sousa que a concebeu em estilo “rocaille”, tão replicado desde meados do século VII até meados do século seguinte. São notórias as estilizações de conchas, ondas, vegetais, pássaros ou crustáceos, uma utilização vasta de elementos da natureza.


Música: epic Cinematic music copyright free


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