Em árabe, Aljube significa “poço seco”,
cisterna ou masmorra, mas já era prisão desde o tempo romano. Encerrou clérigos
e mulheres, além de activistas políticos
durante quase quatro décadas. Hoje, é museu com vista para o rio, para a Sé e
para o teatro romano de Lisboa.
Trata-se de um museu dedicado ”à história e à memória do combate à ditadura
e ao reconhecimento da resistência em prol da liberdade e da democracia”. Conta
com uma exposição permanente nos pisos superiores e com exposições temporárias
no piso térreo.
Nesta altura, era Jaime Cortesão que protagonizava a exposição temporária, um
cidadão, patriota e resistente – como o identificava o desdobrável respectivo -,
um dos muitos presos na cadeia do Aljube. Esteve presente e empenhado nos mais
importantes momentos da vida política e cultural nacional.
Tendo sido deputado em 1915, voluntariou-se para a frente de batalha na
Primeira Grande Guerra. Uma das fotos exposta mostrava-o, a cavalo, em Dohem,
França em 1917. Regressou a Portugal
para ser preso durante a vigência do consulado sidonista.
Com uma vida de luta anti-fascista, Jaime Cortesão esteve ligado a várias revoltas e exilado em Espanha, França e Brasil, pelo menos. Um dos documentos mais curiosos expostos é um relatório do agente Luis Almeida, da PVDE, quando do partida para o Brasil, em 1940.
O edifício actual data do século XVIII, cuja reedificação se tornou
necessária a seguir ao terramoto de 75. Nesta visita não estava prevista a
passagem pela cave, dedicada à área arqueológica, onde é possível conhecer,
além das respectivas infraestruturas, a história do edificio desde o período
romano.
O MUSEU
Á medida que se trepa a escada de pedra, a caminho do
primeiro piso, a vista poisa-se ora na Sé ora no rio. Até parece impossível que
tenha existido ali uma prisão. Porém, neste piso, percebem-se vários exemplos
do que foi a censura, o controlo da informação, a polícia política e a
ideologia do regime dictatorial.
Em contraponto, também estão expostos muitos testemunhos acerca
da resistência e da produção de informação clandestina sobre o que se passava
no país e no mundo. Desde as publicações humorísticas às notícias do
quotidiano, muitos mostravam os traços azuis do lápis da censura.
Outros documentos mostram comunicações oficiais oriundas
da Comissão de Censura a exigir imagens consideradas censuráveis, recortes de jornais
cujas notícias foram censuradas, folhas de prospectos, revistas e jornais considerados
clandestinos.
O espaço não é amplo e os visitantes têm de seguir em pequenos
grupos de forma a conseguirem ver e ouvir o exposto. Talvez por isso os
gavetões com fichas de presos ocupem uma parede de cima a baixo. Não tanto pela
falta de espaço, mas suponho pela vontade de condicionar comportamentos e
torturar, as celas - conhecidas como "curros" -, tinham dimensões exíguas.
De Mário Soares a Miguel Torga, de Nuno Teotónio Pereira
a Carlos Brito, de Emídio Guerreiro a José Mário Branco, de Jaime Serra a José
Manuel Tengarrinha, foram milhares os opositores do regime que passaram pelo
Aljube. Alguns destes conseguiram fugir. Uns quantos até apanharam um táxi ali
perto...
O Aljube fechou em meados de 1965, após muitos protestos e da avaliação da PIDE quanto às condições de segurança e higiene da prisão, não são antes terem sido destruídos os "curros". Fechava-se um ciclo de isolamento, degredo e tortura.
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