Diz-se que águas da chuva caídas na serra da Lapa podem desaguar na Figueira da Foz, Aveiro ou Porto. O declive dá-lhe essa condição e a altitude oferece-nos paisagens vastas, muitas manchas verdes, milhares de socalcos, avultados picos e miradouros. Parece estarmos mais perto do céu.
Na sua maior quota chega praticamente aos mil metros de altitude. No castelo de Numão, onde estamos, o nosso olhar vai quase desde os 700. Do adarve, avistam-se as muralhas dos castelos de Ranhados e Penedono, depois as de Castelo Melhor e Castelo Rodrigo.
Como tantos outros, teve ocupação humana anterior, neolítica/calcolítica, castrense, romana e árabe. Antes da passagem do primeiro milénio já havia ali uma fortificação no domínio do Condado Portucalense, doado aos territórios propriedade do mosteiro de Guimarães.
Por volta do ano mil foi árabe, depois reconquistada, retomada por Fernando Magno, entregue posteriormente por Afonso Henriques ao cunhado que o reconstruiu. É do reinado seguinte a construção da torre de menagem. Depois da crise de 83-85, o castelo ficou na posse dos Coutinhos, condes de Marialva, até à extinção da família nos anos 30 do século XVI.
De então para cá, exceptuando a instalação de iluminação cénica no início deste século, pouca atenção tem sido dedicada ao castelo que é monumento nacional. Eleva-se sobre Numão aos 667 metros de altitude – a antiga Naumam, como consta numa das placas informativas dos percursos pedestres nacionais, colocada próximo - e ocupa uma área significativa, cerca de 2 hectares.
Apesar do abandono, ainda é possível observar algumas paredes de casas no interior das muralhas. Todavia, é do adarve que se vislumbra o amplo horizonte, para lá de vila Nova de Foz Côa, que está a escassos vinte quilómetros. Para norte, o Douro está, mas não se vê dali, escondido atrás das encostas.
A dimensão nota-se no perímetro e na altura das muralhas, nas torres que as reforçavam – quinze no total, actualmente seis visíveis – e nas quatro portas que as rasgam. Apesar de não ser muito alta, a Torre de Menagem está situada num dos pontos mais elevados do castelo, local de onde a vista se espraia por quilómetros em redor.
Próximo da porta principal fica a igreja românica de Santa Maria do Castelo e um cemitério de campas rasas. Nas paredes da igreja ainda se notam as marcas de pedreiro ou marcas de canteiro, destinadas a identificar a autoria do trabalho de configuração e colocação das pedras, para posterior pagamento desse trabalho.
A enorme cisterna que ocupa o centro da praça de armas tem cerca de 7 metros de diâmetro. Mais longe, é possível observar uma dezena de sepulturas antropomórficas, rectangulares, trapezoidais e de extremos arredondados, por vezes com a forma do recorte do corpo, esculpidas em granito, lugar denominado como Cemitério dos Mouros.
Tal como a maioria dos castelos, o de Numão eleva-se na paisagem como um gigante que leva o olhar para lá das inúmeras colinas que o rodeiam. Aquele sentir altivo dos miradouros está lá, entre o longe verde e castanho e a aridez da proximidade feita de terra e pedra.
Música: https://www.ashamaluevmusic.com/cinematic-music
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