quarta-feira, 10 de março de 2021

Viagem ao Japão, Janeira na Sommer




Muita gente conhece a Casa Sommer, em Cascais, uma moradia de finais do século XIX, de quatro pisos, planta rectangular, em estilo neoclássico, antiga propriedade da família Sommer, e que, durante muitos anos, esteve ao abandono, decorrente de um complicado processo judicial de partilhas.  


Construída na última década do século XIX, foi recuperada pela Câmara Municipal de Cascais, a Casa Sommer encerra desde 2016 a Livraria Municipal  e o Arquivo Histórico da vila que possibilitam a reconstituição da história do município, desde finais do século XIV.


É esse Arquivo que alberga o espólio documental de Armando Martins Janeira – aliás, Virgílio Armando Martins - professor, ensaísta, dramaturgo, poeta, diplomata, japonólogo/orientalista, fundador da Associação de Amizade Portugal Japão, que o doou aquela instituição da vila onde passou os seus últimos anos de vida.


A Exposição “Viagem ao Japão”, que teve lugar em 2019, suportada num conjunto de peças e testemunhos muito interessantes e enquadrada em diversos eventos comemorativos do centenário do nascimento de Martins Janeira, visava divulgar a extraordinária vida e obra do diplomata para o reforço das relações entre Portugal e o Japão.


A recordação desse elo de ligação entre Portugal e o Japão reconhece-se através dos objectos mas também de obras literárias e fotografias, colecionados por Martins Janeira, em dois períodos, ao longo de dez anos, aspectos que testemunham quer a cultura nipónica, quer o que o encontro de culturas criou no protagonista.


Para além de cidadão do mundo, Martins Janeira era um humanista universalista, defensor da multiplicidade cultural e de um valor de suma importância e icónico para o Aikido – criado por um japonês -, a não-violência activa como meio de unir civilizações que reconhecia divididas.


Ao longo de dois andares, é possível passar em revista um numeroso e variado conjunto de peças, nomeadamente Máscaras do Teatro Nô, livros de Venceslau de Moraes e referências aos biombos Namban, além dos seus próprios livros e ensaios. Expostos dois quimonos, alertava-se para a dimensão das mangas que diz do estado civil de quem os veste.


Mostra também livros infantis japoneses da década de 60-70, peças com caracteres hiragana (um dos alfabetos japoneses) com que Janeira começou a aprender a língua, alguns origami (arte de dobrar papel) e muitas fotografias de lugares e eventos culturais japoneses, alguns inclusivamente em que o diplomata participou.


Outras peças e objectos relacionavam-se com as novidades levadas para o Japão pelos portugueses sobretudo dos séculos XVI e XVII, estando expostas, entre outras, uma tesoura (hasami), uma panela (pan) e cartas de jogar (karuta).


Um das peças historicamente mais interessantes cultural é uma bala de arcabuz, uma espécie de bacamarte, encontrada em Tanegashima, ilha onde os portugueses desembarcaram pela primeira vez no Japão, em 1543.



Este tipo de espingarda, arma que alterou a forma de combater no Japão poucos anos depois de os portugueses a revelarem, onde ainda é conhecida como “Tanegashima”, contribuiu também para pôr fim a uma era de guerra civil entre os Daimios, os senhores feudais japoneses.


Música: Perytune, Sakuya



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