Começámos por Aveiro, num pedestre, ao correr das margens, sobre uma ou outra ponte, ao longo de um ou outro painel de azulejos, entre miniaturas, moliceiros, sabonetes com óleos essenciais e milhares de fitas presas numa ponte.
Em Espinho, o horizonte abre-se a um pôr do sol de cores quentes, a cair no fim do oceano e a empurrar para a passeata. Fizémo-lo sobre a barreira de pedregulhos que protege a costa, praticamente ao mesmo nível do mar.
Há anos que não visitávamos um dos locais mais atractivos do Porto, onde a arte se mistura com a natureza, onde o espaço parece deixa-nos mais tempo, onde a diversidade nos abre horizontes. Por isso fomos a
SERRALVES COM YAYOI
Num instante, estamos no Porto. Começamos por Serralves com Moda, à moda do Porto, e com painéis de livre expressão estética quase bilingue e desenhos animados para todos os gostos.
Depois, vamos para o espaço de Yayoi Kusama, artista plástica e escritora japonesa. Uma parte das obras parece ter tido inspiração nas pedras do rio que ficava perto da casa onde nasceu. Ela cola, pinta, esculpe.
E tem uma fixação por pontos e bolas, que tanto vai da repetição em superfície até ao escultórico de nódulos. Chamou-lhes “acumulações”, que se estendem por paredes e pelo chão. Há sofás construídos com luvas cheias e um manequim vestido de tubérculos.
E mais. Há árvores criadas com dezenas de rolos e corais do mesmo género. Há cerca de duas dezenas de tentáculos de polvo, polvilhados de pequenos círculos pintados. E uma quantidade de manequis femininos pintados com pontos.
E quadros com pinturas de formas reptilíneas também repletas de pontos. Todo o conjunto reflete uma refinada , singular e criativa expressão e visão estética, por vezes reflexiva, outras vanguardista. E, até parece ter inspirado Joana Vasconcelos…
Vamos para o exterior, para o parque de Serralves, ao longo da floresta, dos jardins, do passadiço. Mais a dar para o clássico. Há cor (com o verde a dominar), sombra (que está quente) e das formas antropomórficas (nos troncos mais vetustos).
O passadiço é alto mas não cria grande inquetação. É curto, com diversas opções de caminho, fácil de percorrer. Aproveita o declive do terreno e leva-nos por algumas copas de árvores e troncos retorcidos.
E vamos aos edifícios. No topo de um dos jardins, também decorado com duas enormes esculturas, fica a Casa de Serralves, também ela singular como exemplar da arquitectura Art Deco dos anos 30 so século passado.
Ali perto, fica a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, projeto de Álvaro Siza, que possui uma exposição permanente no domínio do cinema, inserida num ambiente polvilhado de cartazes de filmes e de mobílias antigas.
Deixamos Serralves. Vamos descer até à Ribeira, lugar obrigatório do Porto, mesmo que esteja "na mesma". Mas é daquelas "mesmas" que apetece rever. Também "fazemos tempo", uma vez que vamos estar
À TARDE NO PALÁCIO DA BOLSA
Estava na “calha” há anos. É para lá que vamos logo após conseguimos um horário disponível. Data de meados do século XIX, construído sobre as ruínas do antigo convento, alberga a Associação Comercial do Porto, ACP.
Construído ao longo de mais de 70 anos, o edifício ostenta traços de estilo arquitectónico Neoclássico oitocentista, arquitetura toscana e neo-paladiano inglês, com dependências em estilos Império e estilo Árabe.
Entramos pelo Pátio das Nações, um átrio com um pé direito correspondente a toda a altura do edifício. No cimo, estão vinte brasões alusivos aos países com os quais Portugal tinha relações comerciais privilegiadas.
Mas era o Salão Árabe que motivava a visita. Paredes, tectos, portas e colunas reflectem decisivamente o estilo Árabe, com uma profusão de dourados em redor e de azuis no tecto e uma cúpula de vidro a servir de telhado.
Mais acima, logo após a escdaria nobre feita à mão , em granito, há pintura, escultura, azulejaria, frescos em tectos, mobiliário de época. Algumas das salas possuem um tipo de soalho encastrado, por vezes com efeitos visuais ilusórios.
Uma sala singular é a das Assembleias Gerais, pintada em estilo “trompe l’oeil” parecendo posuir paredes em madeira. A Sala do Tribunal, envolta por pinturas e a Sala Dourada onde se realizam as reuniões da Direcção a ACP.
Na Sala Dourada realizam-se as reuniões da Direcção da ACP, na Sala dos Retratos é possível ver os dos últimos reis de Portugal e na Galeria dos Antigos Presidentes as paredes estão preenchidas xom todos os anteriores presidentes da ACP.
Sobram, a Sala dos Jurados ou Sala Museu Medina onde está patente uma pequena colecção de pinturas, e a Sala do Presidente destinada a gabinete de trabalho do presidente da Direcção da ACP. Em certos sítios, ainda são notórios alguns elementos monárquicos.
GAIA COM AMIGOS: WOW!
Passamos para a outra margem do Douro e chegamos ao mais recente happening de Gaia. Estamos com o Porto à distância de um curto mas extenso olhar. O fim do dia destaca silhuetas e as luzes da cidade realçam os contornos das ruas e das casas.
Agora é a vez do WOW, um complexo de galerias, comércio, eventos, arquitectura, restauração, museologia, workshops. Estamos entre madeiras, pedras e vidros., numa articulação entre o antigo e o moderno. Com a vista privilegiada do Porto.
Aqui, o vinho domina. Desde a arte de beber, passando por especialistas, até workshops de harmonização, há muitas propostas, onde o Vinho do Porto está sempre em destaque. E até possuiu um “escape room”.
Museus, são sete. Da indústria corticeira ao chocolate, do vinho ao Porto antigo, para adultos e crianças. Foram privilegiados os grandes espaços, mas também há lugar para recantos singulares e para as pequenas lojas.
Um pátio panorâmico, corredores espaçosos, soalhos de cerâmica estilizados, muita luz nos interiores. E, até, um nada labiríntico, para mexer com as celulazinhas cinzentas. Para ver, admirar, passear, ficar. Excelente para levar amigos, tal como fizeram connosco.
Continuámos a olhar para o Porto, mas mais abaixo, à pontinha de Cabedelo. É foi o passadiço do antigo Cais de São Paio o cenário escolhido para o reencontro de amigos, local escolhido para as melhores fotos de grupo do ano…
NO NOVO BOLHÃO
Está lá desde meados do século XIX. Deve a designação à prévia existência de um regato que formava uma enorme bolha de água, em cuja proximidade, já existia uma bica, precisamente a Fonte do Bolhão.
É um dos Monumentos de Interesse Público e de Interesse Patrimonial do Porto. O “novo” Bolhão, mantém a estética e recupera a identidade original, mostrando autenticidade, funcionalidade e limpeza.
Pena que a escolha de cores, sobretudo no interior, tenha sido sobre o cinzento, que torna o espaço, quando vazio, algo pardo. Porém, essa palidez é compensada decididamente com a diversidade das cores dos produtos expostos nas bancas.
Com efeito, das flores, aos vegetais, passando até pela variedade dos rótulos das latas de conservas de peixe, a cor domina as bancas. Algumas conservas, até acentuam o pasmo quando se percebe o preço do quilo…
No exterior, praticamente do outro da entrada principal, fica a Mercearia do Bolhão, uma loja com 144 anos de existência - dizem ser a mais antiga do Porto - que irá dar lugar a uma nova loja, tendo causado polémica o seu encerramento.
O Porto fica sempre na memória. Pela cidade mas, sobretudo, pelas pessoas. Pela recepção, amabilidade e alegria que representam e transmitem. Esse encantamento podia ser expresso pelos “Treze a Rir uns dos Outros”, ali na Cordoaria.
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