domingo, 29 de outubro de 2023

PALÁCIO BIESTER, mais romantismo




Mais romantismo ou não estivéssemos em Sintra. Mais um palácio ou não estivéssemos em Sintra. Luigi Manini ou não estivéssemos em Sintra. A profusão arbórea de espécies raras e exuberantes ou não estivéssemos em Sintra. Palácio Biester ou não estivéssemos em Sintra, mais uma jóia recuperada e aberta ao público no ano passado.

 

O jardim, que trepa desde a vila (onde está situada a recepção), segue o deslumbre do modelo romântico, ou não estivéssemos em Sintra. Essa envolvente inclui cursos de água, um relvado (pelo menos), pequenos lagos e vegetação exuberante, ligados por caminhos de gravilha fina. Vê-se o mar e o castelo desde os miradouros. Ou não estivéssemos em Sintra.

 

À imagem da Quinta da Regaleira, o vulgo Palácio Milhões, também parece haver uma simpatia em matéria de aura enigmática e esotérica. O chalet Biester (como eu ouvi há anos), ou o palácio Biester (como agora é conhecido), como outras casas de Sintra, está ligado ao misticismo cultural. Ou não estivéssemos em Sintra.

 

O PARQUE

 

Mal se passa o Chafariz , antes da Cascata de Pisões, o portão do palácio dá acesso à recepção. Daí, é sempre a trepar, não muito, através do jardim. Pouco depois, as torres pontiagudas do palácio começam a descobrir-se à medida que se trepa, à medida que se percorrem os meandros do jardim.

 


O que, à partida, parece relativamente pequeno, tem seis hectares. O edifício domina o olhar qualquer que seja o lugar do parque. Por tal, mesmo com aquela dimensão, é dificil perdermo-nos. Mas, se isso acontecer, podemos sempre recolher-nos na Gruta da Pena, um refúgio em forma de caverna onde as rochas parecem estar suspensas e, surpreendentemente, é possível encontrar azulejos da autoria de Bordalo Pinheiro.

Continuando a subir, chega-se a um miradouro, relvado, com um pequeno varandim e uma incrível vista para o Castelo dos Mouros e para o palácio da Pena. Mais à frente, outro miradouro deixa ver todo o parque e permite estender o olhar até ao mar, por entre o arvoredo denso e luxuriante de Sintra.

 

A seguir, existem outros elementos que complementam os caminhos do parque. Entre eles, o Tanque das Faias. o Lago dos Fetos, as Estufas e a Casa de Chá. Praticamente de todos eles é possível vislumbrar o cenário da vegetação exuberante sintrense.

 


O olhar vai ainda para a vila, onde realça o alvo e o tijolo das telhas. Parede-meias, surpreendemos alguns caminhantes, afinal visitantes da quinta contígua, a da Regaleira, cuja silhueta surge, tal o castelo e o palácio, por entre o arvoredo.

 

O PALÁCIO

 

Os telhados veem-se de longe. Fazem lembrar os das casas de bruxas, das mansões assombradas dos livros e dos filmes. O restante, as mansardas, as chaminés, a cobertura cónica do torreão, completa a suposta imagem “tenebrosa”.

 

É, também, a presença do gótico a manifestar-se nos formatos das janelas, dos telhados, nos pináculos que decoram as extremidades das mansardas, da torre e do telhado que, a par da trama decorativa romântica, constroem um edifício singular.

Chegados ao chalet, é a decoração (desde as paredes às escadas), a configuração dos espaços (alguns, complexos e/ou misteriosos), os materiais nobres que sobressaem. Os detalhes decorativos, ímpares e diversificados, estão sempre presentes.

Logo à entrada, percebe-se que as dimensões não são exageradas, parecendo que a majestade do espaço passa mais pelos conteúdos do que pela grandeza. O átrio de entrada, a sala de música, a sala de festas e a sala de estar estão nesse plano.

 

No andar imediatamente acima, os quartos - um deles com uma rara área dedicada para vestir -, e uma capela - também pouco habitual dentro da casa/no andar de cima -, voltam a repetir o padrão decorativo do piso inferior, entre elementos de art nouveau e neoclássicos, além de detalhes esotéricos.

 

O quarto principal, além do espaço de vestir singular para a época, mostra no tecto a arte de Paulo Baudry e Luigi Manini. Apesar de o pé-direito das divisões ser elevado,  o efeito tridimensional das pinturas aumenta a sensação de altura do espaço.

 

O trabalho de pintura nas paredes, um pouco por toda a casa, nas paredes e nos tectos - inclusivamente nas paredes das escadas, mas sobretudo na sala de música -, da autoria de Luiji Manini, além da beleza das composições, reforça ainda mais a atmosfera romântica do espaço.

 

A escada, a propósito, é toda ela um repositório de arte, misticismo e modernismo. Os animais esotéricos - dragões alados -, os efeitos decorativos simbólicos - flor de lis estilizada -, os frescos nas paredes e o ascensor de accionamento manual, são disso exemplos.

 

Se as lareiras, que apresentam elementos de Bordalo Pinheiro, são peças excepcionais, na capela, em estilo neogótico, também ela ligada ao espírito, simbolismo e herança templária, são as pinturas do tecto e os vitrais multicoloridos que mais surpreendem.

 

E, finalmente, quando descemos para um piso inferior ao da entrada, surge um espaço em pedra, que dá acesso a uma bifurcação de túneis, cuja saída - neste dia inacessível -, conduz ao jardim. Dizem que esta câmara iniciática está ligada à igreja, associando convicções religiosas ao hermetismo templário.




 

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