É sobretudo herdeira da Bética, como lhe chamaram os romanos, onde Itálica e a Ponte Romana de Córdoba, são bons testemunhos dessa era. De permeio, restam ínfimos legados sobretudo visigodos.
Muitos vestígio,s porém, datam do Al Andaluz, como lhe chamaram os árabes, sendo Mérida e o Alhambra, disso belos exemplos patrimoniais. Excluamos desta vez os muitos vestígios da Alta Idade Média e teremos mote para visitar a Andaluzia.
Mas a Andaluzia é muito mais do que o espólio monumental. Flamenco, jamon ibérico, gaspacho, sevilhanas, vinho de Xerez, corridas em Jerez de la Frontera, fiestas tradicionais, são muitos dos exemplos culturais deste espaço e destas gentes.
A praia, o sol e o calor vêm a seguir Mas também lá estão os Pueblos Blancos. É por aí que vamos, desta vez a alguns dos que nos “faltam” nos pneus e na memória.
Ronda para revisitar, mas a estrear por amigos. Dar um mergulho em Marbelha para recordar os 80. Seguir para Cádiz, para recordar umas férias em fim de século e, de novo, debutar os amigos. Era este, mais ou menos, o plano. Tudo, com um Junho caloroso que, na Andaluzia, é mais para derreter.
DE CABANAS A FARO
O feriado do Dia de Portugal acolheu-nos em Cabanas de Tavira, com uma temperatura aceitável. Almoço no “Pedro” e passeio para estrear o passadiço. Paredes-meias, a ria cobria-se de azul, pejada de pequenos barcos. Há pouca gente, talvez decorrente do (ainda no ar) Covid.
E, vamos até Faro, ao encontro dos restantes para, à volta de uma mesa divertida, no rooftop do Lab, podermos alinhavar o dia seguinte, sempre sob um ocaso tremendamente glorioso como é habitual.
Aproveitamos o convite para jantar e o plano fica concluído sob sons de jazz ao longo de uma noite que se estende ao longo de uma temperatura tão amena como a prometer excessos no dia seguinte.
ATÉ ITÁLICA
Reunimo-nos antes da fronteira. Lá estávamos, à hora acordada, mal acordados, mas prontos a sair de acordo com o plano. Ainda estava fresco, mas já dava para tirar o blusão e ficar à sombra dos arbustos. Abastecemos na AS Trigueros, a tal escolhida habitualmente no caminho de Marrocos.
Aquecia. Seguimos para uma das joias do legado romano perto de Sevilha, Itálica, uma cidade fundada duzentos anos antes de Cristo e onde nasceram, pelo menos, dois imperadores romanos, Trajano e Adriano. Estacionamento à porta, à sombra, e entrada gratuita.
Felizmente, das 2 vezes anteriores em que lá estivemos, o lugar nunca foi alvo de muitos visitantes. Talvez passe despercebido. O que é notório, porém, é a dimensão do anfitetaro original - as ruínas não deixam a ideia… - é que tenha tido uma capacidade de albergar 25 mil espectadores, o que o torna um dos maiores anfiteatros romanos.
As infraestruturas do anfiteatro ainda se percorrem sob os degraus e em seu redor. Foram inclusivamente ideiais para protecção face ao sol cada vez mais forte. Ainda são também visíveis as estruturas habitacionais, bem como os bairros e as ruas pavimentadas.
Há pouco tempo, não deve ter mais de uma semana, uma pesquisa arqueológica empreendida a leste da antiga cidade romana, localizou possíveis restos do circo de Itálica, vestígios de um imponente edifício com mais de 500m de comprimento.
Com a temperatura a aumentar significativamente, o hotel em Sevilha pareceu ser a melhor solução, logo após o almoço sob os habituais aspersores de água na esplanada. Só deixámos o hotel ao fim da tarde, ainda sob temperaturas fantasticamente habituais.
SEVILHA TROPICAL
Por tal, a opção foi pelos parques e itinerários próximos do rio. Na Praça de Espanha, ainda lá estava um estaleiro dedicado a um espectacular (deve ter sido) desfile de moda. Aliás, o cenário que já serviu à “Guerra das Estrelas”, deve ter acompanhado bem os manequins nesse evento.
Deve ter sido mesmo um acontecimento valente. Não é todos os dias que a Praça de Espanha, em Sevilha, um dos ex-libris da cidade, fica vedada. Com tanto equipamento audovisual, muito do edifício e grande parte do lago, ficaram ocultos.
Continuamos sob calor intenso, depois atenuado por algumas fachadas mais altas, ao longo das quais chegámos ao centro histórico. Mas a temperatura, já perto do final do dia, parecia não baixar.
Com a ajuda da sombra de pátios e árvores a proteger-nos do calor intenso do fim da tarde, deambulamos depois em redor do Quadalquivir, passando para o bairro de Triana, ora pelos cais, ora pelas esplanadas, assistindo a um fim de dia tropical.
Só de noite, o ar ardente de Sevilha se foi misturando com a frescura dos jardins. De manhã, o ambiente estava mais suave. Os primeiros quilómetros foram percorridos ainda com olhos postos no tranquilo azul do céu.
PARA ZAHARA DE LA SIERRA
Apesar de relativamente árido, o caminho até Zahara de la Sierra foi ponteado por algumas extensões de girassóis. Pena que a última hipótese de paragem… não tenha resultado. Porém, já perto da localidade, o cenário é épico: um rochedo que se agiganta a 500 metros de altitude, ponteado por casas alvas.
Sobe-se, vira-se, trepa-se, mais uma e curvas de virar o pescoço, até que (quase) se chega ao largo central. Mas o acesso e o estacionamento estão proibidos em quase toda a extensão das ruas próximas do centro. Paramos as motos mais abaixo, perto de um miradouro virado a norte. Vamos no sentido da Praça do Rei, praticamente no centro do município. Passamos pelo edifício da Câmara local e pela igreja de Santa Maria da Mesa, a caminho da rua que dá acesso ao castelo.
Porém, a ladeira é valente - no Maps parece suave - e o calor desaconselha a continuar. Ficamos pelo miradouro. É dali que se percebe a dimensão do lago, do tal reservatório. Daí a pouco, percebemos também que a proibição de acesso ao centro se relacionava com uma festividade de carácter popular ligado à ruralidade. Depois de termos assistido à passagem de alguns tractores engalanados, deixámos Zahara descendo o monte em direcção à “nacional”.
PARA SETENIL DE LAS BODEGAS
Aquecia. A retoma da “nacional” não foi fácil. O GPS perdeu a rede e obrigou-nos a retroceder. Pouco depois, voltámos ao bom caminho. Bom, bom, não é muito o caso, uma vez que, quanto mais perto de Setenil, pior ficava o piso. Acabámos por estacionar num parque com vários andares, uma vez que o acesso à localidade é condicionado.
Aquecia ainda mais. Do estacionamento à zona pitoresca não havia muitas sombras. Fomos devagar, a fugir ao sol. Planeado para Ronda, o almoço iria ser mesmo ali. Com uma carga de calor daquela ordem, era preciso refrescar. E não teria sido fácil lá chegar de moto…
….assitimos mesmo, aos apertos em que o condutor de um pequeno carro se viu, quando quis inverter a marcha já próximo do “tecto de pedra”. Com efeito, a maior atracção do lugar é a configuração das rochas e a existência de casas construídas por baixo destas.
Encontrar uma esplanada para almoçar não foi difícil. Sob o tecto do rochedo há muitos restaurante. Mas, o espaço é limitado, por cima e por um dos lados, pela rocha e, por outro, pelo rio. Ficamos em mesas afastadas mas, mesmo assim, bem servidos: a comida, bem saborosa, juntou-se ao fantástico cenário do rochedo e sobretudo da proximidade do rio.
Ali próximo, as lojas de produtos típicos complementam a oferta turística. Por baixo das rochas a temperatura é aceitável. Cavada pelo curso do rio, a singular configuração das rochas permitiu construir sob elas e, assim, conseguir proteção, quer para o calor estival, quer para o frio invernal.
E SEGUIMOS PARA RONDA…
…que está pertíssimo. Deixamos as motos na garagem do Hotel Maestranza e saimos para nos precipitarmos sobre os miradouros da cidade. Começamos pelos mais centrais e deixamos a vista percorrer o horizonte, bem como o declive que vai do cimo daqueles rochedos até aos vales que o circundam.
É sobretudo a paisagem que deslumbra. De um lado, a parte mais urbana, com o casario branco encaixando casas umas nas outras, ao longo de ruas estreitas. Do outro, os cenários amplos que estendem o olhar desde os miradouros.
Passamos a fantástica ponte, percorremos a rua principal, saímos para uma lateral, vislumbramos o cenário desde outro miradouro. Deixamos a Casa del Rey Moro, e vamos caminho das muralhas del Carmen e acabamos na Porta de Almócabar.
Regressamos pela rua principal, rodeamos o Castillo de Laurel, paramos num alpendre - o calor não depega - vamos para a igreja de Santa Maria Mayor -e passeamos ao longo do palácio de Mondragón. Continuamos ao longo da calle Tenorio e desembocamos, de novo, na Puente Nuevo.
Estamos quase a 100 metros da base do desfiladeiro, o Tajo de Ronda, em cujo fundo passa o rio Guadalevin que, do cimo, mal se lhe notam as águas. Havia agora que compensar o esforço do passeio. Fizemo-lo no restaurante “Las Maravillas”, numa refeição à base de petiscos.
“VAMOS A LA PLAYA”
De manhã, deixámos Ronda a caminho da A397, uma estrada de desce a montanha rumo a San Pedro de Alcantára. Elas ficam no passeio a controlar a passagem de peões... habitual nas saídas de garagem de saem da garagem no piso inferior directamente para o passeio em frente dos hotéis.
Esta estrada tem a particularidade de possuir bom piso, curvas interessantes e alguns miradouros estrategicamente colocados, (quase) sempre com cafés e esplanadas, de onde é possível ver em fundo a costa mediterrânica.
Nesta manhã, porém, havia trânsito, pelo que desfrutamos do passeio em ritmo de viagem. Também nem todos os miradouros tinham os cafés abertos. Afinal, nem foi preciso. O panorama era suficiente interessante. Bastava esticar o olhar para sul e ver facilmente o recorte da costa mediterrânea espanhola.
Há muitos anos que não parávamos no porto de recreio em José Banus. Nos nos 80, chegamos aqui a ver cadelinhas com coleiras com pedrinhas brilhantes… hoje, porém, parece estar mais popularizada, mas nem por isso, mais atractiva, parecendo que foi parando lentamente no tempo.
Daí a pouco estávamos no Hotel Baviera, um 3 estrelas, quase no centro de Marbelha - nem ali é fácil estacionar uma moto - com uma garagem mesmo ao lado. Dali, à praia de Venus, é um instante, 700 metros a pé que se fazem devagar a reconhecer ruas e a descobrir um ou outro espaço novo.
O tempo obriga a ter sombra, a sombra a relaxar, o relaxe dá lugar ao mergulho, o mergulho a uma braçadas, as braçadas abrem o apetite, o apetite consola-se no “chiringuito” (bar de praia), Pepes Bar (Marbal-la) , e o consolo conta com uns peixinhos catitas.
A noite tem de passar invariavelmente por um passeio pelo “casco antiguo”, um conjunto de pequenas ruas, estreitas e alvas, polvilhadas de pequenas lojas de artesanato. A muralha do pequeno castelo também é um dos ícones da urbe, bem como a Plaza de los Naranjos.
Jantamos numa esplanada - há muitos restaurantes de rua, por todo o centro histórico -, e completamos o passeio percorrendo as restantes ruas tradicionais. Jantar na rua juntou o cosmopolitismo do lugar ao bom ar que se pretende, quando começava a pairar a suspeita de um contágio “covídico”.
NA PENÍNSULA DE CÁDIZ
Aproveitamos a manhã fresca para ligar Marbelha a Cádiz. Entramos pelo istmo que liga San Fernando à Cortadura, uma recta com mais de 7 kms que entra na cidade quase sem se dar por isso. Continuamos para a Plaza de la Constitucion, e entramos pelas muralhas e pela porta - Puerta de la Tierra - que dá acesso ao centro histórico.
Apanhamos a marginal e andamos lentamente ao longo do edifício da Câmara, passamos pelo Teatro Romano, pela catedral, vemos ao longe o castillo de San Sebastian, passamos pelo Parador local, deixamos o castillo de Santa Catalina e, quando passamos o Baluarte de Candelaria, começamos a teimar com o GPS…
Antes de almoço, entramos no Hotel Alquimia, um pequeno hotel de charme, numa das estreitas ruas da cidade. Mas, chegar lá, obrigou-nos a andar às voltas, uma vez que o GPS obrigava a seguir numa direcção sem saber que estava proibida…
Deixamos as motos numa garagem, não muito próxima mas, naquelas ruas, até é proibido estacionar bicicletas. É apenas permitido durante o tempo necessário para descarregar. Percebe-se, tão estreitas são que os passeios dão apenas para uma pessoa em cada sentido.
Depois, foi andar pelo centro histórico de Cádiz. Catedral, Plaza de las Flores, Torre Tavira, rua após rua, uma cerveja aqui, um gelado ali, aproveitando sempre as sombras proporcionadas pelas altas fachadas dos edifícios da cidade.
No regresso ao hotel ainda esticamos o olhar em redor desde o rooftop, ou seja, perceber todos os telhados da vizinhança, quase ao mesmo nível dos olhos. Curioso, ver um barco de cruzeiros - que não parecia estar ali tão perto - como uma fachada de um prédio de 10 andares…
Além do rooftop pitoresco e fresco, no hotel - um espaço espacial, decorado de uma maneira pessoal, mas muito interessante - cada quarto tinha, além de móveis tradicionais recuperados e decorados com “dedo”, um painel diferente atrás da cama.
Ficamos ainda a saber, quando observávamos um painel com fotos de (na maioria de motos) em muitos lugares do mundo, e descobrimos uma no Terreiro do Paço, em Lisboa, que o proprietário do hotel era um valente viajante, escolhendo a moto durante muitos anos para viajar e conhecer o mundo.
Nenhum de nós passou bem a noite. O virús instalara-se trazendo mau-estar, suores e algumas dores de garganta. Suspeitámos que o “bicho” se estivesse a manifestar, desta feita, sobre 4 de nós, os que ainda não o tinham “apanhado”. Percebeu-se, entretanto, que a gravidade da infecção não seria dramática. Afinal, estávamos todos vacinados.
REGRESSO AO ALGARVE
Excluindo uma paragem para reabastecimento, o regresso ao Algarve foi célere. Tempo para descanso e reabastecimento, meia de conversa e mínima proximidade com estranhos. Embora o tempo continuasse quente, a manhã aguentou-se bem a caminho de Sevilha e, depois, rumo à fronteira portuguesa, onde chegámos praticamente à hora de almoço.
Prudentemente, sentamo-nos numa esplanada, onde eramos os únicos clientes, já em Vila Real de Santo António. Lá voltaram as famosas máscaras a acompanhar-nos a cara. Até cantamos os “Parabéns a Você”, ao aniversariante do dia, dentro de portas. Como diria um bom português: “podia ter sido pior”!
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