sexta-feira, 3 de novembro de 2023

A mão da espada ou do báculo?


Toda a gente conhece estátuas monumentais romanas. Habitualmente, as mais notórias, são dedicadas aos deuses, aos imperadores, aos militares, às personagens mais importantes. Quando aparece algo insólito, a curiosidade aguça-se, a dúvida instala-se, a descoberta precipita-se.

 

Desta vez, era um fragmento de um estátua de bronze com cerca de 2,2 metros de altura, que representaria um personagem importante, tendo-se avançado tratar-se de um imperador ou de uma figura militar de topo. Esse fragmento, em bronze, é uma mão, uma mão esquerda.

 

Mas não apenas a mão. Essa mão segura uma espada, com a respectiva guarda e o punho com os pomos decorados com uma águia de duas cabeças (bicéfala), datada do séc. I. Ora começa aqui a estupefacção: a águia bicéfala não é um símbolo do Império Romano do Ocidente.

 

Apesar da icónica águia ser um importante símbolo do exército romano dessa época, a “figura da  águia de duas cabeças era desconhecida na iconografia latina” sendo, por tal, um objecto ímpar, uma “peça que apresenta elementos que não foram documentados até o momento”.

 

Esta originalidade trouxe a Lisboa uma conferência, que decorreu no Museu de Arqueologia, em Lisboa, protagonizada por Manuel Doménech, director do Museu Arqueológico de Alicante, que abordou o achado no fórum da antiga cidade romana de Lucentum, em Tossal de Manises, Alicante.



Se a peça já colhia a singularidade de apresentar a águia bicéfala, outra faceta adensa o mistério que a envolve: o anel que envolve um dos dedos tem um lítuo gravado, um símbolo ligado à religião, um bastão recurvado na extremidade  utilizado pelos sacerdotes áugures, contrariando uma das teorias diziam pertencer a uma estátua de um imperador ou a militar proeminente.

Outro elemento que satura o enigma, prende-se com a particularidade de não existirem / nunca terem sido encontrados juntos, em estátuas de bronze, os dois elementos, uma mão e uma espada. Talvez daí, outra hipótese de a considerar, poder ser uma mão com um báculo, eventualmente pertencente a um clérigo. Será?



 


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