A Covid-19 surgiu e instalou-se.
Nessa altura, a vida mudou!
Alteramos quase toda a vida pública, privada, familiar, social, profissional, desportiva.
As actividades de grupo, por pequenos que fossem - duas pessoas, até, p.e. - cessaram.
Neste cenário de afastamento, as artes marciais também foram arrastadas para o isolamento.
Que época!
Todavia, nestas alturas as pessoas reagem, criam, reinventam-se, solidarizam-se.
Foi preciso “juntar” de novo os praticantes, dar seguimento aos treinos, continuar o Caminho.
Fosse como fosse. Ou antes, da melhor maneira possível.
Foi preciso usar a imaginação!
Foi preciso esticar o Ma Ai (distância de segurança) até garantir que não nos contaminávamos uns aos outros.
AIKIDO À DISTÂNCIA
O que se faz quando não podemos estar juntos, quando a proximidade, desaconselhada, chega mesmo a ser proibida?
O que fazemos quando precisamos de outro para praticar e aprender?
“Fazemos” à distância!
O “on line” perfilou-se como uma das melhores soluções para trocar informações, opiniões, intervenções.
Tudo através da net.
Por este meio, através das palavras e das imagens, as artes continuaram a ser divulgadas.
Privilegiando, quer a teoria, quer as maneiras de fazer.
O conhecimento continuou a ser passado de uns para outros.
Os conceitos, práticas, evoluções, passaram a ser comentadas e até discutidas.
Até mesmo as diferenças e as semelhanças foram contempladas.
A cultura das artes marciais teve aqui um momento fascinante e enriquecedor.
Os praticantes juntaram-se em redor do ecrã do computador e partilharam ideias, práticas, anseios, problemas, alternativas, soluções.
Enfim, um conjunto de temas que, se não aprimorou, dinamizou a arte.
Prevaleceu sobretudo um espírito de partilha.
O NOSSO ESFORÇO
No nosso AikiDojo, chamámos-lhes “videoconferências do confinamento”.
Através delas, pudemos percorrer em conjunto um Caminho, por,
- Sugestões de treinos, nomenclaturas e links para vídeos;
- O Fundador, Morihei Ueshiba;
- Aikido no Feminino;
- Trabalho de Armas: Tamura Sensei e Sugano Sensei;
- Aiki Taiso: de O'Sensei a Tamura Sensei;
- José Azevedo e Silva Sensei, homenagem;
- O Desequilíbrio (kuzushi) no Aikido;
- Defesa pessoal: Tsuneo Ando (Yoshinkan Aikido); yudansha do Laos (linha Tamura/Fukakusa); Shirakawa Shihan (linha Kobayashi);
- Semelhanças técnicas entre o Aikido e Shorinji Kempo, Karate GoJo Ryu e o Judo;
- Atemi e Kuzushi;
- Aikido e o Movimento da Espada;
- Aikido e os Sistemas de Espada: Chiba Sensei, Saotome Sensei; Sugano Sensei;
- Pioneirismo do Aikido em Portugal: De G. Stobaerts Sensei a T. da Cunha Sensei
- Yoshimitsu Yamada Sensei e Donovan Waite Sensei, prática e influências;
- Antoine Vermeulen Sensei;
- Ueshiba Sansei (três gerações), Morihei, Kisshomaru e Moriteru,
e, mais, muito mais, conteúdos que abriram horizontes, mostraram outras maneiras de fazer, diversidades, afinidades e homogeneidades do Aikido.
Na nossa Associação, ACPA, o Zoom foi também um elo de ligação importante.
Manifestou-se, quer em matéria administrativa - discutimos alterações ao Regulamento Técnico, ao calendário técnico, votámos o PAO -, quer em termos culturais - a língua japonesa e o Aikido, p.ex.
Mas não só.
A possibilidade de estar com outras artes marciais, concretizou-se.
Foi possível ouvir, perceber e até reconhecer problemas comuns
As plataformas digitais, que permitiram, por exemplo, estarmos presentes no Fórum Artes Marciais Simultâneas, foram decisivas..
AIKIDO INDIVIDUAL
Enquanto as condições não o permitiram, os esforços para manter viva a prática, foram realizados por vários instrutores.
Mesmo isolados e em espaços exíguos, proliferaram demonstrações.
Por exemplo, de Jumbi Dosa (exercícios de aquecimento, flexibilidade e respiratórios), Aiki Taiso (exercícios preparatórios de técnicas) ou Bukiwasa (técnicas com armas).
Esse tipo de acções também favoreceram a prática individual, Hitori Geik.
Foi possível praticar um conjunto de exercícios de mobilidade, rolamentos, movimentação de corpo e dos pés, e exercícios respiratórios.
E, até, havendo espaço suficiente, exercícios com armas.
PRÁTICA DE ARMAS
Quando a situação pandémica criou condições para as pessoas voltarem a treinar juntas, mas não próximas, a prática focou-se nas técnicas com armas.
Os parques revelaram-se excelentes locais de prática.
E esta, de tão repetida, manifestou-se positivamente no desempenho dos menos experientes.
Em pouco tempo, poucos meses, os principiantes estavam a agir quase como conhecedores.
As técnicas que habitualmente se praticam com graduações médias, passaram a ser feitas frequentemente por principiantes.
Estes, não demoraram muito a executar com mérito, suburis (movimentos básicos), katas (movimentos padronizados), kumijo (bastão contra bastão) ou kumitachi (espada contra espada).
LEGADO
A pandemia teve alguma mais valia no contexto do Aikido.
Creio que foi, por um lado, na prática de armas que melhor serviu em matéria de continuidade.
E, por outro, melhores resultados demonstrou, especialmente nos principiantes.
Hoje, a prática de armas está a ser preterida face às técnicas de corpo.
Diz-se que, por falta de tempo para ensinar/aprender estas últimas.
Todavia, ainda se recorda com gosto esse período em que as técnicas de armas foram um elemento valioso, quer nessa altura, quer para o futuro da prática.
Ouvir alunos dizerem que, “algo ficou daqueles dias, que não mais se esqueceu”, é reconfortante e sinónimo de que realmente os praticantes sentiram que, aquele tipo de treino, foi uma mais valia na evolução do seu Aikido.
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