segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Turquia 2021. 3ª Parte. De Istambul a Kusadasi

 

Pode parecer que já vimos tudo... mas as grandes cidades enganam. Parece que "está feito", parecemos "cheios" de novidade, mas falta sempre qualquer coisa. Afinal, muita coisa. E, depois, falta o resto até à `Festa: Pamukkale, Bodrum, Kusadasi... 

ADEUS ISTAMBUL, OLÁ ÁSIA


Percorremos a marginal, ao longo das muralhas bizantinas, o que vai oferecendo um cenário que nos coloca mais próximo da velha Constantinopla. Isto, num domingo tranquilo de trânsito, apenas interrompido por uma paragem forçada por um polícia que, afinal, nos deixou seguir assim que percebeu sermos estrangeiros. Acontece!


Deixámos a Ponte Gálata e, num instante, estávamos na Ponte do Bósforo, semelhante à nossa “25 de Abril”, a passar não para a Margem Sul, mas para outro continente. Entrámos pela primeira vez de moto na Ásia, através da auto-estrada, passando pelas cabinas de portagem dedicadas ao cartão que havíamos adquirido depois da fronteira. 

UM DERVICHE NO TELHADO


Íamos a caminho de BURSA, quarta maior cidade da Turquia, a cerca de 150 kms de Istambul. Começava a aquecer. Trepámos a colina, arrumámos as motos num pequeno parque vigiado e entrámos no PARQUE TOPHANE de onde se vê praticamente toda a cidade. Descansámos, bebemos  chá e admirámos a paisagem.



Ali perto, a MESQUITA VERDE - mais uma que é possível visitar mesmo não sendo muçulmano – apesar de relativamente pequena, possuía uma decoração diferente das que tínhamos visto até ali. Lá fora, porém, desde o pequeno jardim fronteiro à mesquita, era ímpossível não dar de caras com um elegante derviche, parecendo rodopiar por cima de um telhado: surpreendente!


Mas, "não há bela, sem senão". Ou seja, não há fechadura que não tenha chave. Se não, não abre. Ao reabastecer em Bursa, a chave da tampa do depósito partiu-se. Spray lufricante, alicate de pontas, jeito deste lado, puxa do outro, parecia difícil. Ás tantas, mercê de jeito e paciência de quem o/a tem, metade da chave saiu. Podemos continuar com a chave suplente.

A CAMINHO DO NASCER DA LUA


Saímos da cidade e continuámos na nossa etapa mais longa da jornada, pouco mais de 400 kms a percorre naquele dia. Após sairmos da auto-estrada, entrámos na estrada nacional, a deixar duas faixas de rodagem em cada sentido e, pontualmente, pequenas rotundas para desviar ou mudar de sentido. O tráfego continua a ser escasso.



Da estrada principal, passámos para uma secundária e desta para o que parecia uma municipal, piorzita, a passar por aldeias, cujos campos estavam sempre cultivados. O entardecer concedeu-nos uma das melhores imagens da jornada, com a lua a aparecer junto de um planalto alvo, praticamente junto a PAMUKKALE.

VENUS SUITE


Apesar de a estrada ter sido uma das piores que pisámos e as povoações circundantes serem desinteressantes, nada nos diria que, ali, numa zona rural desprovida de fascínio, iríamos chegar a um excelente oásis denominado HOTEL VENUS SUITE, um dos melhores desta viagem. Um caso sério!


Parte deste charme, estava nos quartos, na piscina central, na esplanada junto desta, no espaços funcionalmente dedicados, no serviço praticado. E, do ponto de vista estético, até as pequenas lanternas distribuídas pelas árvores que cobriam a esplanada nos proporcionou um agradável “jantar em família”.

HIERÁPOLIS


Aproveitámos a boleia da carrinha do hotel – um serviço gratuito, de realçar – para treparmos ao que julgávamos ser apenas o tal maciço branco, que havíamos visto no crepúsculo do dia anterior. Todavia, o que nos surgiu algo foi muito diferente. Logo à chegada, os olhos davam com um gigantesco teatro romano que dominava a paisagem. O primeiro, e é enorme! Começa bem!


Estamos em HIERÁPOLIS, uma cidade grega fundada no século II, antes de Cristo! É realmente o teatro romano que o olhar vai buscar. É enorme! Talvez a dimensão se agigante, uma vez que, à volta, para além de alguma aridez, as ruínas que se estendem em redor também são imensas. Porém, são ruínas jazentes, decorrentes de dois grandes terramotos, um no século I e outro no século XII. 

NOS BANHOS DE CLEÓPATRA



Do cimo do anfiteatro é possível ter uma ideia da grandeza da urbe. É surpreendente! E, mais longe, o que parece ser um pequeno oásis, é afinal um conjunto de fontes, e de piscinas termais que, juntamente com Hierápolis, foram consideradas Património Mundial da UNESCO. O tal monte alvo que havíamos visto no entardecer do dia anterior, era afinal esse conjunto de piscinas de origem calcária. Singular!


É realmente uma espécie de “castelo de algodão” – significado de Pamukkale, em turco – essas piscinas consecutivas que descem a colina em cascata e dão a sensação de uma manta branca e azul gigantesca que a cobre. Andamos entre as piscinas sobre carbonato de cálcio solidificado, que parece oleoso, mas nem por isso é escorregadio. 

Segundo a lenda, Cleópatra teria tomado banho aqui, tendo sido o lugar conhecido pelo nome de Banhos da Cleópatra. Porém, não é permitido tomar banho, excepto numa área reservada, junto da recepção. Toda a gente se descalça para poder andar sobre a plataforma calcária. A profusão de cores, sobretudo da roupa dos visitantes, contrasta com o azul esbranquiçado da água. Lindíssimo!

NA CONCHA DE BODRUM


Não é longe, pouco mais de 250 kms. BODRUM fica a cerca de 2 horas de caminho, ao longo de uma costa bastante recortada, banhada por águas tranquilas. Alojámo-nos num hotel da colina, com uma configuração em socalcos, que dominava a baía da cidade como se de um miradouro se tratasse. Que vista!


Dali, inclusivamente desde as piscinas, era possível ver o castelo, o porto e a marginal que lhe dava acesso, bem como o manto de casas brancas que se estendia pelas colinas. Percorremos a marginal à noite, entre animação musical de 100 em 100 metros, quer com grupos musicais, quer com cantoras folk.


A marginal serpenteia por entre bares, restaurantes e lojas de artesanato. O mar está ali a meia dúzia de metros e, embora a praia seja de pequenos seixos, tal facto permite estender as esplanadas até sentirmos os pés dentro de água. A tranquilidade da maré faz o resto, duplicando no mar as luzes de terra.

A CAMINHO DA FESTA


Volta a não haver trânsito significativo. Sabíamos da localização de Mileto a meio do trajecto seguinte, mas precisaríamos desviar e queríamos chegar relativamente cedo para proceder às inscrições no Mototour. Fica para a próxima, dissemos. Optámos por ir parando ao sabor da paisagem.

Realmente, até Kusadasi é um instante, desde que se opte pelo itinerário directo. Pena a parte final da estrada que bordeja o mar e se enrola pelos montes, tenha um piso degradado e o alcatrão um perfil rasgado, originado provavelmente pelo trânsito a pisar asfalto a temperaturas valentes. 


À chegada ao hotel Le Bleu, em KUSADASI, já se viam no parque de estacionamento, exclusivo para o evento, um grande número de motos. Outras, chegavam continuamente. Após o registo na recepção, assistimos a um dos mais bonitos ocasos da jornada. Se em Bodrum já havia sido sério aqui, em cima do mar, aqui o pôr do sol foi espectacular.


A apresentação do programa revelou uma mudança face ao previsto, para melhor, contemplando mais locais a visitar. O briefing nocturno, à beira-mar numa esplanada do hotel, sob temperatura estival, alertou ainda para um aumento de quilometragem, que se estenderia a cerca de 200 kms, também no segundo dia. 

De Istambul a Kusadasi


NO MERCADO DE URLA


Organizados em 4 grupos, fizemos a primeira paragem do périplo onde julgamos tratar-se apenas de um porto de pesca. Aqui, ficámos aquém do que nos podia ter sido mostrado, uma vez que a área contemplava, além da marina, ruas típicas de localidades mediterrânicas, praias, marginais, ruínas, etc.
Logo após rumámos a URLA, local de reunião de todos os grupos. Estacionámos as motos em plena praça central e saímos para um almoço volante, tão rápido - como convém com tanta gente – mas, demasiado frugal – como não convém a gente que gosta de comer. O passeio na zona do mercado completou a romagem com um café excelente e gelados compensadores.

À TARDE, NO MUSEU


Oitenta quilómetros depois, estávamos no KEY MUSEUM, inaugurado em 2015, o museu de clássicos mais abrangente da Turquia. Conta com 76 carros e 40 motos, veículos que constituem o acervo principal do museu. Espaçoso, requintado e luminoso, o museu mostra ainda mais de dois mil modelos de miniaturas de carros em diferentes escalas.
O espaço dedicado às motos contempla diversos modelos de BMW’s, Harley’s e Indian’s, entre outras marcas, de diversos anos, sendo a armada alemã que conta com mais modelos. É possível ver ainda o primeiro modelo de moto do mundo produzido com motor de combustão interna, Daimler Reitwagen, produzido em 1885.

APOTEOSE EM KUSADASI

Prevista para o dia seguinte, a chegada simultânea de todos os grupos para registo fotográfico do evento, iria ter lugar algures em Kusadasi. Antecipada para o primeiro dia, aconteceu na marginal da cidade anfitriã, no sítio junto da escultura de El Heykeli, praticamente ao pôr do sol, a desaparecer atrás do castelo genovês situado na ilha de Güvercinada.
Foi aqui que a diversidade de origem dos participantes foi mais notória, quer pelas matrículas – raras na Europa Ocidental – quer pela exuberância de alguns grupos. Curiosamente, os mais excitados era os de origem árabe. Certos pneus ostentavam sinais dessa euforia... 

Para além dos europeus do sul - portugueses, espanhóis e italianos - ali estavam, croatas, eslovenos e até nórdicos. Porém, também havia, para além das turcas, matrículas sírias e iranianos, com quem raramente nos cruzamos, 

NO SÍTIO DE TALES E ANAXIMANDRO


De manhã, magia! Rumámos a MILETO, cidade de origem grega onde, além de ter sido muito activa comercialmente, surgiu a filosofia e a primeira escola filosófica. São daí originários nomes sonantes da filosofia, matemática, astronomia, como Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Em boa hora deixámos a visita para esta oportunidade!
À chegada, onde o imponente anfiteatro domina a colina, vemos imediatamente ao que vamos. A dimensão é impressionante. Estamos em ruínas cuja antiguidade remonta a mais de cinco séculos antes de Cristo. Além do teatro, Mileto conta ainda com uma fortaleza bizantina e com os “Banhos de Faustina”, uma área termal com designação curiosa.

APOLO E DAFNE ANDARAM POR LÁ... E A VIRGEM MARIA REFUGIOU-SE AQUI PERTO

Voltamos à costa mediterrânica mas continuamos sob o signo dos deuses. Em DIDIM, fomos recebidos pelo presidente da autarquia local, na antiga cidade de Didyma ou Dídimos, um antigo santuário jónico, lugar de oráculo e do TEMPLO DE APOLO. Apesar de o templo original ter sido destruído, o actual data de mais de 300 anos a.C.

O complexo inclui outros espaços profusamente decorados – alguns com referências teatrais – mas é o templo – a dimensão, a escadaria, as bases das colunas – e são sobretudo as colunas que espantam. As colunas jónicas são esteticamente ricas e belas, talvez por isso o arquitecto Vitruvius tenha associado o jónico às proporções femininas.
Fizemos uma pequena paragem na CASA DA VIRGEM MARIA, local atribuído mas não confirmado à estada da mãe de Cristo. Trata-se de um santuário cristão (também muçulmano, aparentemente), com uma pequena ermida e uma panóplia de lojas de recordações, sítio visitado quer por cristãos quer por muçulmanos. Daí, saímos para o que seria o último lugar de visita, mas também o mais espectacular.

ESTAMOS EM ÉFESO
Andámos ora em planícies amplas cultivadas, ora no sobe e desce de montes florestados. Sobretudo nas zonas urbanas, mas também no acesso aos locais de visita, fomos acompanhados, quer pela polícia, quer especialmente pelos batedores da organização, inexcedíveis naquele vai-vem de controlo de acessos. Por tal, a merecida homenagem que naquela noite os contemplou.
ÉFESO! É aqui que cai o queixo e a Trindade! São três ou quatro quilómetros de História, entre lajeados, templos, bibliotecas, portais, fóruns, num continuum urbano com muitos edifícios preservados. Percebe-se, também, que os vestígios que ainda estão no chão, constituiriam (mais) “outra” urbe.
Em certos pontos, o espaço identifica-se praticamente com as configurações actuais do traçado viário urbano, com ruas, praças e locais amplos e funcionais dedicados às actividades económicas e culturais. Cada um é diferente do anterior, cada um de acordo com a função, surpreendendo, não só pela funcionalidade, mas também pela sobriedade.  

NOITE DE GALA


Estava previsto. A organizou gizou uma noite de festa, incluindo fotos à chegada, entrega de prémios e sobretudo animação. O jantar não convenceu. Afinal, somos latinos e estamos sempre à espera de um bacalhau, de um cozido ou de uma feijoada. Valeu o espumante nos brindes.


A subida ao palco dos diversos protagonistas deste evento, foi um dos momentos mais marcantes. Estiveram ali os que tinham percorrido mais quilómetros – Portugal, evidentemente – os mais velhos, os mais novos, etc, habituais estrelas destes acontecimentos. Assim como, organizadores, instituições e dirigentes. De notar, infelizmente, a ausência de gregos no evento. E, não só. Também não há turcos em eventos gregos...

O entretenimento musical foi outro ‘must’ da noite. A música e as canções pareceram universais, e os diversos grupos nacionais presentes – evidentemente com preponderâncias para os que bordam o Mediterrâneo – fizeram a festa e não deixaram de dançar, alimentando uma noite de gala que deixámos já próximo da meia-noite.

Mototour







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