2019 já não foi um ano de grandes viagens. O seguinte, muito menos, sobretudo
a partir do primeiro trimestre, quando toda a gente passou a ficar confinada a
passeios na sua rua e pouco mais. Dos anos anteriores, todavia, resta-nos a
memória, esse cofre de momentos
marcantes, onde guardamos os nossos tesouros mais cativantes. Revendo o
passado, enriquecemos o presente e projectamos o futuro. Por enquanto, retrocedemos alguns anos no tempo. Elegi 4 viagens, em 4 países, em 4 anos diferentes, arrumados em 4 minutos de vídeo. Vou privilegiar as
imagens face ao texto. Hoje, vamos a
FRANÇA, PIRENÉUS ATLÂNTICOS, 2009
Durante anos a fio percorremos de moto a “nacional” que levava a Madrid, quer fosse para assistir às provas no circuito de Jarama, quer para ir além Pirenéus. Próximo da ponte que atravessava o Tejo na região de Almaraz,
era costume parar para reabastecer, após concluir umas quantas curvas valentes,
algumas delas autênticos ganchos. A esse troço, chamávamos-lhe “serra” e
terminava aqui junto do lago que o Tejo formava. Hoje, o restaurante está em
ruínas e o posto de abastecimento já não existe.
O alvo era agora Siguenza, um burgo medieval situado a cerca de
duzentos quilómetros de Saragoça. Quando o alaranjado do ocaso iluminou as
muralhas egrégias do castelo, erigido sobre uma colina que domina o casario da
pequena encosta, pensei que descobrir Shangrila ou El Dorado devia ser
semelhante. Afinal, era "apenas" o Parador de Siguenza. Estava no local certo, à distância que prevíramos, local sossegado e atraente. Ficamos entre muralhas.
No dia seguinte, serpenteámos até Roncesvalles. Assim foi, até à famosa localidade que ainda faz parte do célebre Caminho de Santiago. Trata-se de uma
terra pequeníssima com alguns alojamentos, um complexo de edifícios religiosos e lojas de recordações. Dispõe ainda de um parque de merendas, sendo sobretudo um lugar de paragem mais
que não seja para recuperar alguma energia e arremeter para Santiago ou pela
montanha. Foi o que fizemos, antes de começar a trepar os Pirenéus.
O nosso destino dos próximos dias,
Saint Martin D'Arrossa, estava a
quase 1200 quilómetros percorridos desde casa. Parecia estar praticamente a chover
quando deixámos a recepção do hotel, rumo ao quarto que nos estava destinado no
anexo. Naquela região, a hotelaria não tem muitas camas, pelo que é difícil
alojar um grupo grande no mesmo edifício.
Juntaram-se 25 motos, 14 espanholas, 8 portuguesas, 3 francesas. Corria uma
certa aragem na manhã do dia seguinte. Quando saímos da primeira
prova de
enchidos, começou a chover. Embora o céu estivesse plúmbeo, o ambiente
coloria-se pelo vermelho das portadas e das malaguetas deixadas a secar nas
varandas de madeira pintada.
Mais á frente, foi a vez de visitarmos uma cooperativa de fabricação de
queijos de recente formação. Além de produzirem ainda com algumas técnicas
artesanais, as ovelhas que ordenham são de uma raça autóctone ainda levada
pelos pastores para os viçosos pastos pirenaicos.
A primeira visita da manhã do dia seguinte, levou-nos a um lagar da
região, onde são fabricados os tintos, os ubíquos rosés, e alguns vinhos
brancos. Não fizeram grandes adeptos entre os portugueses. Detalhe curioso, o
facto de cortarem as parras das videiras para melhor deixarem penetrar o sol
nas uvas.
Daí a pouco, estávamos em Saint Jean Pied de Port, vila que pertence
ao Caminho de Santiago, Património da Humanidade. O castelo, a rua principal e
a ponte são de visita obrigatória. Talvez por isso estes locais enxameassem de
turistas. Muitos dos forasteiros eram peregrinos, outros jovens em campos de
férias, outros vizinhos espanhóis, outros emigrantes portugueses.
Depois de almoço, quais lagartos pirenaicos, saímos do restaurante para a apanhar uma réstia se sol quente. Aproveitámos para dar dois dedos de conversa e pousar para o fotógrafo, numa cálida sessão que apanhou... da esquerda para a direita, António Zamith, Carlos Cordeiro, Quim
Soares, António (vizinho português do Bernard), José e Lena Marques, Pinto dos
Santos, António Carvalho, Julieta Libório e António Branco.
Mais tarde, voltámos à estrada. Quanto mais alto estávamos, menos vegetação
alta nos acompanhava. A partir de determinado ponto, os penedos sobrevieram tal
como se estivéssemos nas Beiras. Ao longe, via-se gado, sobretudo ovelhas e
vacas e, no ponto mais alto que atingimos, eram cavalos que também
por lá se passeavam.
À noite, a cidra foi rainha. Rumámos a uma cidraria que distava
cerca de dez quilómetros do hotel, já nos arredores de Saint Jean. Propriedade
de um motociclista francês, a cidraria dispunha de dois tonéis embutidos na
parede, de onde jorrava, através de pequenas torneiras, a célebre bebida de
maçã. Uma boa ideia do Bernard.
No final do jantar, o Bernard, organizador do passeio, fez a
habitual distribuição de recordações do evento. A nós, calhou-nos uma garrafa
de cidra, e um 'cooler' em barro mercê de termos sido os que haviam viajado de
mais longe. A outros, a sorte cobriu-os com véus...
Seríamos os primeiros portugueses a sair no domingo. Viajaríamos sós, tal como
sucedera para lá. Próximo de San Sebastian já chovia. O regresso estragava-se. No
entanto, até Vitoria, o tempo arranjou-se. Nos arredores de Palência, já se sentia
o calor do sol a malhar nos blusões e foi assim até Vilar Formoso. Depois, nem
uma aragem e, perto da Guarda, o calor já era impressionante, a roçar os 40
graus.
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