segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Mãe de Água das Amoreiras



Parece um torreão gótico, uma fortaleza singular. Guarda, porém, um vasto lago de água trazida pelo Aqueduto das Águas Livres. É o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, uma obra do arquitecto Carlos Mardel, a pedido do Marquês de Pombal, que hoje ainda exibe um ambiente místico.
Olhando para a rudeza pétrea da torre, dir-se-ia que o gótico das gárgulas das cornijas e das janelas longilíneas lhe daria mais uns séculos. Nasceu ainda não há 300 anos, no século XVI, mas foi no seguinte que terminou, mais de oitenta anos depois de a obra ter sido começada.
Ao olhar a torre nota-se nitidamente a opulência da arquitectura, em contraste com a simplicidade das formas. É o barroco a manifestar-se. Mas também se veem as delicadas geometrias e simetrias do neoclássico.
É no interior que aparecem as abóbadas de aresta que sustentam a cobertura em terraço e cobrem o tanque imenso. Nas fachadas laterais surgem as janelas em arco de volta perfeita, esguias mas uniformes.
O espaço interior parece um salão com um pé-direito significativo, mas a luz é difusa provavelmente devido aos muitos reflexos e à estreiteza das janelas, o que lhe confere uma aura de intimista e de e de sacralidade.
Para tal, a luz que penetra no salão reflecte-se no espelho do lago de mais de cinco mil metros cúbicos de água, dando ao espaço um aspecto soturno azulado. No fundo, outro reflexo parece devolver a base das colunas que sustentam a cobertura.
Não fosse uma película oleosa que insiste em boiar na superfície do lago e os reflexos seriam certamente fantásticos. Mais ainda se a noite os potenciasse quer através de holofotes dedicados, quer com luzes submersas.
No centro do salão pétreo o lago quadrangular recebe água que jorra em cascata alimentada pela boca de um golfinho. Do tanque surgem quatro colunas quadrangulares que apoiam a cobertura.
A água provinha de Belas, da Mãe de Água Velha, e era conduzida até Lisboa por diversos aquedutos, sendo o último a chegar à Mãe de Água Nova, o de Alcântara que culmina um pouco antes de alimentar o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras.
A ladear a cascata surge uma escada que leva a um túnel estreito, passando este por trás da fonte. Dali, continuando para norte, entra-se no aqueduto das Amoreiras. Para oeste, surge nova escada que leva à cobertura.

É do terraço dessa cobertura que o horizonte vai para lá da Mouraria, alarga-se ao castelo e corre até Alcântara. No rio, estica-se desde o cais da Baixa até aos cumes da Arrábida. Ali à beira, o olhar prega-se em baixo no Rato, mas vai também às Torres das Amoreiras.

Mais próximo, destaca-se a cúpula da Basílica da Estrela e logo após pedaços da Ponte Sobre o Tejo, que antecedem o castelo de São Jorge e a sua colina. Para a direita, o Tejo estende-se até ao poente.


Na cobertura, existiu em tempos um bar, talvez um dos primeiros “rooftop bars” de Lisboa. Continua a ser uma espécie de miradouro de Lisboa. O sítio não mudou, Lisboa é que se tem transformado.

O vídeo em https://vimeo.com/201669054