Parece um torreão gótico, uma fortaleza
singular. Guarda, porém, um vasto lago de água trazida pelo Aqueduto das Águas
Livres. É o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, uma obra do arquitecto
Carlos Mardel, a pedido do Marquês de Pombal, que hoje ainda exibe um ambiente místico.
Olhando para a rudeza pétrea da torre,
dir-se-ia que o gótico das gárgulas das cornijas e das janelas longilíneas lhe
daria mais uns séculos. Nasceu ainda não há 300 anos, no século XVI, mas foi no seguinte que terminou, mais de oitenta anos depois de a obra ter
sido começada.
Ao olhar a torre nota-se nitidamente a
opulência da arquitectura, em contraste com a simplicidade das formas. É o
barroco a manifestar-se. Mas também se veem as delicadas geometrias e simetrias
do neoclássico.
É no interior que aparecem as abóbadas de
aresta que sustentam a cobertura em terraço e cobrem o tanque imenso. Nas
fachadas laterais surgem as janelas em arco de volta perfeita, esguias mas
uniformes.
O espaço interior parece um salão com um
pé-direito significativo, mas a luz é difusa provavelmente devido aos muitos
reflexos e à estreiteza das janelas, o que lhe confere uma aura de intimista e
de e de sacralidade.
Para tal, a luz que penetra no salão
reflecte-se no espelho do lago de mais de cinco mil metros cúbicos de água,
dando ao espaço um aspecto soturno azulado. No fundo, outro reflexo parece
devolver a base das colunas que sustentam a cobertura.
Não fosse uma película oleosa que insiste
em boiar na superfície do lago e os reflexos seriam certamente fantásticos.
Mais ainda se a noite os potenciasse quer através de holofotes dedicados, quer
com luzes submersas.
No centro do salão pétreo o lago
quadrangular recebe água que jorra em cascata alimentada pela boca de um
golfinho. Do tanque surgem quatro colunas quadrangulares que apoiam a
cobertura.
A água provinha de Belas, da Mãe de Água
Velha, e era conduzida até Lisboa por diversos aquedutos, sendo o último a
chegar à Mãe de Água Nova, o de Alcântara que culmina um pouco antes de
alimentar o Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras.
A ladear a cascata surge uma escada que
leva a um túnel estreito, passando este por trás da fonte. Dali, continuando
para norte, entra-se no aqueduto das Amoreiras. Para oeste, surge nova escada
que leva à cobertura.
É do terraço dessa cobertura que o
horizonte vai para lá da Mouraria, alarga-se ao castelo e corre até Alcântara.
No rio, estica-se desde o cais da Baixa até aos cumes da Arrábida. Ali à beira,
o olhar prega-se em baixo no Rato, mas vai também às Torres das Amoreiras.
Mais próximo, destaca-se a cúpula da
Basílica da Estrela e logo após pedaços da Ponte Sobre o Tejo, que antecedem o castelo
de São Jorge e a sua colina. Para a direita, o Tejo estende-se até ao poente.