quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Tall Ships Races


Creoula, Portugal

Lá vem a Nau Catrineta,
que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar.

Poema anónimo

Os Tall Ships voltaram a Lisboa. Estiveram atracados no Passeio dos 7 Mares, em Santa Apolónia e, como em anteriores edições, disponíveis para receber visitas. Zarparam, em desfile náutico pelo Tejo na última segunda-feira de Julho.

Mir, Rússia
Pogoria, Polónia

Como é habitual, o Tejo e as suas margens engalanaram-se para se despedirem da Tall Ships Races. Desta feita, os maiores veleiros do mundo desfilaram a partir das três da tarde desde Santa Apolónia.


Bolivar, Venezuela
Se o rio estava pleno de todo o tipo de embarcações que acompanharam o desfile durante largo tempo – julgo que exceptuando os habituais cacilheiros e os cargueiros -, nas margens estavam milhares de pessoas que assistiam ao evoluir dos Tall Ships.


Amerigo Vespuci, Italia e Belem, França

Uma das áreas que tinha mais público - e também mais carros mal estacionados - foi a zona de Belém, entre o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém. Notava-se sobretudo a afluência pela parede humana que se estendia ao longo da margem.

Quando chegámos, já muitas das embarcações estavam perto da ponte 25 d Abril numa espécie de grelha de partida. Com efeito, seria dali que partiriam para a segunda etapa da regata.
Amerigo Vespuci, Italia
Pareceu-me que, por volta das três da tarde a Vera Cruz já ia em Algés e o Crioula não estava longe. Iam a “meio Tejo”, mais próximo da margem direita, mas rumariam pouco depois a sul, em direcção a Cádiz, onde permaneceriam alguns dias.


Talvez seja aquela leveza estranha que os embala mar fora ou a ausência de esforço com que rompem as ondas. Talvez seja a estética das velas ou o esguio do casco, a magreza dos mastros, a flexão das velas, o passar leve ou voador. Talvez seja tudo isto. Até talvez seja também o desfile, o desafio, a aventura. 


Belem, França
Statsraad Lehmkuhl, Noruega

Ou talvez seja apenas a poesia que acompanha o marear, uma inspiração para os que partem e para os que observam as naves a fazer-se ao mar. Talvez seja um inebriar de sentidos, uma comunhão com as águas que iluminam e guiam o destino dos marinheiros. 



Seja o que for que leva uns a partir e outros a acompanharem essa deriva marítima, a verdade é que as pessoas estão lá, vão, gostam, admiram, alegram-se ou simplesmente observam. Muitos voltarão, uns para velejar, outros para ver os outros zarparem.   






“E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipoerene.”

“Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões, Canto I, Estrofe 4

vídeo em https://vimeo.com/195816759