segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

SAGRES... mini


Visita à Sagres em Fevereiro de 2012

O primeiro navio Sagres, fabricado nos finais do século XIX, era de origem alemã. O mais recente, de 1937, foi navio-escola da marinha alemã, mas embateu numa mina, no mar Báltico, em 1944. Depois de ter sido reparado, chegou a Portugal em 62. Está a comemorar 50 anos ao serviço da Marinha.
Dava-se pelo frio, sobretudo junto ao mar, na zona árida do cais de Alcântara. A Sagres estava engalanada e plena de gente. Fora, havia uma fila de pessoas com cerca de 500 metros para ir a bordo. A meio da tarde já se ouviam alguns acordes da banda da marinha ao ritmo do drapejar de uma enorme bandeira portuguesa que se afirmava a popa da barca.
Previa-se que a visita fosse de uma ponta à outra, ou seja, da popa à proa. Pouco menos de uma hora depois de chegarmos, entramos a bordo. Para quem havia resistido tanto tempo naquela parada gélida, a protecção do convés foi uma dádiva de Neptuno. 
Mesmo repleto de visitantes e batido por alguma ondulação, o navio mal mexia, amarado ao cais por cabos que fariam inveja aos atacadores do Adamastor. Uma estabilidade que inspirava confiança, não tanta como eu teria se fosse obrigado a subir as escadas que ponteavam os mastros.
Subir, sobe-se. Aliás, a perspectiva desde o cesto da gávea deve ser deslumbrante. Lá em cima, porém, com o horizonte a ondear, o pensamento diaboliza-se. Que o diga o comandante da Nau Catrineta.
A barca é bonita. Mesmo com as velas recolhidas – só uma não o estava – é imponente. Apesar de não ser muito grande, a sua forma esguia, a cor branca do costado, o número de mastros e velas, as madeiras e os dourados luminosos, dão-lhe uma grandeza expressiva. Fica majestosa quando as 10 velas redondas e 13 velas latinas estão enfunadas.
Apetece andar no convés. A madeira do soalho tem um ar caseiro, um brilho próprio e permite um andar suave. Considerando a proveta idade da barca, vê-se que tem sido bem tratada. Mas não é apenas o soalho que surpreende: os mastros, as rodas do leme, bancos,  também são em madeira. 
Notório é o conjunto de cordames e o sistema que comanda as velas. Tudo aquilo leva a olhar para cima, acompanhando o estirar dos mastros, sobretudo do principal que se eleva a uma altura considerável. É uma teia de cabos, mastros e redes que parece cobrir o navio.
O conjunto dos cabos de atracagem também é evidente. Parecem pequenas cordas que se vão enrolando umas nas outras, mas resultar em cabos que embora tenham uma boa flexibilidade, conseguem agarrar ao cais as muitas toneladas do navio.
Há alguns detalhes que seduzem. O sino e as rodas do leme foram os mais notórios. O primeiro porque identifica o navio e marca a data de “nascimento” em Portugal. O segundo, porque são três "rodas" em madeira náutica com incrustações de texto português, de um lado, e alemão em lâminas douradas, de outro.
Na proa, a carranca do Infante D. Henrique dá-lhe um ar barroco. Aliás, veleiro que se preze tem de ostentar uma figura de proa considerável. A popa também ostenta o que julgo ser uma onde estilizada em dourado.
Sabendo-lhe a antiguidade, percebe-se que já muito navegou. A Sagres vai com um curriculum ambicioso: 150 viagens, entre as quais três voltas ao mundo. Mas não vê (eu não vi) essa dimensão, esse ar de viajante. Por outro lado, nota-se a idade e o uso, mas reconhece-se conservação.
Os marinheiros andavam com dois apitos pendurados ao pescoço. Parece que servem para transmitir sinais. Devem ser bastante úteis quando é preciso dar ordens da proa à popa para manobras ou tarefas que envolvam toda a tripulação. Com tanta gente a bordo, ainda julguei que os ouviria assobiar.
Mas foi pena termos ficado a meio do percurso. Estávamos praticamente a ver a vante (proa) quando nos mandaram zarpar dali. Viramos a bombordo, amuramos e largamos ferro.  Talvez a Marinha não tenha percebido que muitos estiveram na fila durante uma hora, para depois não estarem a bordo mais do que dez minutos... Apenas visitámos meia Sagres. Para a próxima, bebemos o resto. 


A Sagres Num Minuto
Música: The Rippingtons ft. Russ Freeman, Caribbean Breeze
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