Visita à Sagres em Fevereiro de 2012
O primeiro navio Sagres, fabricado nos finais do século XIX, era de origem alemã. O mais recente, de 1937, foi navio-escola da marinha alemã, mas embateu numa mina, no mar Báltico, em 1944. Depois de ter sido reparado, chegou a Portugal em 62. Está a comemorar 50 anos ao serviço da Marinha.
Dava-se pelo frio, sobretudo junto ao mar, na zona árida do cais de Alcântara. A Sagres estava engalanada e plena de gente. Fora, havia uma fila de pessoas com cerca de 500 metros para ir a bordo. A meio da tarde já se ouviam alguns acordes da banda da marinha ao ritmo do drapejar de uma enorme bandeira portuguesa que se afirmava a popa da barca.
Previa-se que a visita fosse de uma ponta à outra, ou seja, da popa à proa. Pouco menos de uma hora depois de chegarmos, entramos a bordo. Para quem havia resistido tanto tempo naquela parada gélida, a protecção do convés foi uma dádiva de Neptuno.
Mesmo repleto de visitantes e batido por alguma ondulação, o navio mal mexia, amarado ao cais por cabos que fariam inveja aos atacadores do Adamastor. Uma estabilidade que inspirava confiança, não tanta como eu teria se fosse obrigado a subir as escadas que ponteavam os mastros.
Subir, sobe-se. Aliás, a perspectiva desde o cesto da gávea deve ser deslumbrante. Lá em cima, porém, com o horizonte a ondear, o pensamento diaboliza-se. Que o diga o comandante da Nau Catrineta.
A barca é bonita. Mesmo com as velas recolhidas – só uma não o estava – é imponente. Apesar de não ser muito grande, a sua forma esguia, a cor branca do costado, o número de mastros e velas, as madeiras e os dourados luminosos, dão-lhe uma grandeza expressiva. Fica majestosa quando as 10 velas redondas e 13 velas latinas estão enfunadas.
Apetece andar no convés. A madeira do soalho tem um ar caseiro, um brilho próprio e permite um andar suave. Considerando a proveta idade da barca, vê-se que tem sido bem tratada. Mas não é apenas o soalho que surpreende: os mastros, as rodas do leme, bancos, também são em madeira.
Há alguns detalhes que seduzem. O sino e as rodas do leme foram os mais notórios. O primeiro porque identifica o navio e marca a data de “nascimento” em Portugal. O segundo, porque são três "rodas" em madeira náutica com incrustações de texto português, de um lado, e alemão em lâminas douradas, de outro.
Sabendo-lhe a antiguidade, percebe-se que já muito navegou. A Sagres vai com um curriculum ambicioso: 150 viagens, entre as quais três voltas ao mundo. Mas não vê (eu não vi) essa dimensão, esse ar de viajante. Por outro lado, nota-se a idade e o uso, mas reconhece-se conservação.
Os marinheiros andavam com dois apitos pendurados ao pescoço. Parece que servem para transmitir sinais. Devem ser bastante úteis quando é preciso dar ordens da proa à popa para manobras ou tarefas que envolvam toda a tripulação. Com tanta gente a bordo, ainda julguei que os ouviria assobiar.
Mas foi pena termos ficado a meio do percurso. Estávamos praticamente a ver a vante (proa) quando nos mandaram zarpar dali. Viramos a bombordo, amuramos e largamos ferro. Talvez a Marinha não tenha percebido que muitos estiveram na fila durante uma hora, para depois não estarem a bordo mais do que dez minutos... Apenas visitámos meia Sagres. Para a próxima, bebemos o resto.
A Sagres Num Minuto
Música: The Rippingtons ft. Russ Freeman, Caribbean Breeze
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