quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Valência I. Os Ocres da Zona Histórica

“Lo que existe en Valencia es el Aire”
José Martínez Ruiz, Azorín, escritor

















Agosto 2008

Já não existem as muralhas que testemunharam os embates seculares entre muçulmanos e cristãos, embora o porte das Torres de Serranos e das Torres de Quart, digam da importância da cidade que, na época árabe, era conhecida por Balansia. El Cid andou por aqui.

A diversidade de estilos arquitectónicos marca a zona edificada do centro histórico. Românico, gótico, renascentista e barroco preenchem as diversas fases de construção dos edifícios, sobretudo a Catedral de Santa Maria.


Singulares, a torre-campanário da catedral, bem como uma passagem-ponte para o edifício contíguo, réplica da Ponte dos Suspiros veneziana. Aliás, respira-se muito de medieval, de renascentista, respectivamente na configuração das ruas e na decoração das frontarias das edificações mais antigas.

Tal como muitas cidades que ainda dispõem de uma zona histórica, a de Valência está degradada, com muitos prédios condenados e fachadas a esfarelarem-se ou repletas de grafitos. A Plaça Redonda, por exemplo, era um refúgio de sem-abrigos. Porém, nota-se o esforço da recuperação em cada rua, deixando muito da traça antiga associada aos novos materiais e a cores mais claras.

A matizar as rugas das frontarias o ocre iluminado cede harmonia à diversidade das formas. A tonalidade amarelada da luz sossega a observação e arcaíza ainda mais o espaço em grande parte exclusivo a pedestres ou a circulação automóvel controlada.

Nas zonas resgatadas, surgem lojas com peças exóticas, gabinetes de design, bares com decorações temáticas, um teatro antigo de fachada recuperada, instalações camarárias em edifícios medievos. Por cima, sobretudo habitação. À noite, nas ruas, a animação habitual que vagueia entre bares, esplanadas e as Plaças Tossa e Del Negrito.

Conforme se avança em direcção ao Mediterrâneo, mais moderna se torna a cidade, mais amplas se tornam as vias, mais luz chega do mar, mais atractivo para ser o espaço para a profusão de condomínios de luxo. No entanto, o mar não se percebe imediatamente.

A luz, porém, mantém-se a salientar o barroco, os edifícios novecentistas e os mais recentes. Não são cores escuras que dominam, como em muitas cidades castelhanas, são antes os beijes, os cinzas, as tijoleiras claras e os holofotes de brancos gélidos que sustentam o fulgor nocturno da urbe.
Com um brilho especial, a estação de caminho de ferro, o edifício da Câmara valenciana, bem como outros nessa área, iluminam-se como filigranas. Contrastam com a intimidade áurea das pequenas praças arborizadas da zona histórica, que ligam ruas estreitas bordejadas de edifícios esguios.




Música: Gloria
Músicos: The Doors