sábado, 20 de dezembro de 2008

PIAZZA, FOLIA, CAMINHOS. Pedaços Artísticos



















“Temos a arte para não morrer da verdade”
Friedrich Nietzsche

















Esforço, talento, percepção transformação, harmonia, emoção, criatividade, espírito, ritmo, ideias, matéria, vontade, amor, invenção, fazem arte. Mas é habitualmente o carácter estético, a qualidade técnica e a destreza da comunicação que lhe subsiste, que a distingue, que a premeia.
É difícil atribuir a uma obra essa definição, tão débil é a fronteira entre arte e quotidiano, belo e feio, bom e mau, hoje e ontem, aqui e ali. Mais fácil é reconhecer uma técnica, um desempenho, uma intervenção. Ou seja, não decidir como arte, mas definir (se for necessário) como artístico.
A representação, a música e a dança estão intimamente ligadas à condição artística.

A representação marca-se pela teatralidade, pela aparência, pela criação de personagens. A música evidencia-se pela invenção dos ritmos, pela harmonia dos sons dos instrumentos e pelo toque, encadeamento, melodia das palavras. A dança distingue-se pela relação fecunda entre o movimento e a sua natureza ou significado.

Em comum, porém, encerram exultação, diversidade, envolvimento estético, intencionalidade. É a alegria na representação, a agilidade na dança, a fantasia na música. São os múltiplos cenários da representação, os variados estilos de dança, os diversos acordes e instrumentos da música.
Três exemplos.

FOLIA, TU ÉS ISSO
Quinta da Regaleira, Sintra, Setembro 2007
















Um espectáculo dos Tapa Furos de difícil catalogação. Uma itinerância pelas sensações, pela alegria, pela alma, pela reificação da vida, mas também pelos vícios, iniquidades, enganos da natureza humana. Deambula-se pelos jardins, e por sítios místicos da Quinta da Regaleira. A entrada leva à fachada do edifício principal, daí a uma ponte vizinha, a um caminho iluminado por lamparinas. Os músicos intervêm, as personagens interagem com o público, os cenários assomam no caminho. Depois imagens, duras e denunciantes, que o público é “obrigado” a ver numa espécie de gaiola/prisão. Sucede-se um itinerário iniciático e purgatório através de passagens misteriosas. A finalizar, o espaço de convívio, de festa, de folia. Sempre acompanhados por convites, hospitalidades, reconhecimentos iniciáticos. Culmina com uma espécie de banquete, à luz de uma representação derradeira, seguida de um baile em que participam actores, músicos e público.

Música: Alegria - Cirque du Soleil




ORCHESTRA DI PIAZZA VITTORIO
CCB, Lisboa, Final de Agosto 2007









Seriam dezasseis os músicos a actuar, se não fosse uma lei néscia sobre imigração decretada por Belusconi, o Primeiro-Ministro italiano nessa altura. Dizia-o o condutor da Orchestra ao denunciar que a riqueza da diversidade musical e étnica daquele grupo havia sido comprometida politicamente. O grupo surgiu da consciência da riqueza da fusão de culturas e de tradições, que se juntou no quarteirão Esquilino, próximo Stazione Termini, em Roma. Foi esta diversidade de sonoridades, traquejos e fantasias que músicos do Equador, Argentina, Senegal, Hungria, Estados Unidos, Cuba, Brasil, Tunísia e Itália, trouxeram ao CCB numa noite de Verão. Um misto de ritmos latino-americanos, de motivos árabes, de precursões africanas, de tonalidades de samba. Sonoridades que puxam, que excitam, que exultam. A alegria dos músicos, embrulhada com intervenções críticas do maestro, marcadas quer pelo ritmo, quer pela harmonia das diversas entoações, extravasou do concerto.

Música: Ao Gi - Orchestra di Piazza Vittorio




CAMINHOS
Praça do palácio da Vila, Sintra, Início de Setembro de 2007















Fado, flamenco e música árabe. Local, praça fronteira ao Palácio Nacional de Sintra. É a Dança Contemporânea de Sintra e o grupo Al Mahira. A fachada do palácio de um lado, o casario que trepa para o castelo, de outro. Dança contemporânea, oriental e flamenco. Música, voz, multimédia, luz, cenários, alegria. A música, guitarras de fado, alaúdes árabes, tambores populares. A voz, de fado. Multimédia, com um preto e branco intimista a perder-se nos tons sombrios da noite. A luz, a mudar entre tonalidades frias e quentes, com azuis gélidos e amarelos tórridos. Cenários, escadarias com fado, palco com dança, as escarpas da serra e a frontaria do palácio a envolverem o espectáculo. E a alegria do empenho, dos temas, dos movimentos

Música: Caminhos