Salinas foi o mote, especialmente pela atractividade estética. Aliás, já da Ponte Vasco da Gama, se vê aquele reticulado aquático que decora as margens do Tejo naquela zona. Fomos por aí.
Porém, antes de chegar à Fundação para Protecção e Gestão Ambiental das Salinas do Samouco, a praia e, depois, (o que parecia) a entrada de uma quinta secular, apareceram sugestivas. Virei para a praia.
Esqueci-me das salinas, meti as rodas na terra, depois pela areia e avançei na praia. Quando as poças imensas me mandaram para trás, havia uma espécie de plantação de cavaletes de cimento, qual exército de terracota de Xian.
Aqui, surgiam pequenas construções - pareciam suportes -, que se estendiam pela areia como barreiras antitanque. Ali perto, erguia-se um conjunto de edifícios baixos, pouco comuns ao pé da praia. Eram ruínas.
O fascínio pelas ruínas continua a alimentar-me a imaginação. Sobretudo, mais a fantasia do que a creatividade. Talvez porque o sonho ainda “comande a vida” e a inspiração esteja a sumir com o tempo.
Mudei de intenção. Voltei para trás até perceber qual era a entrada do complexo. Não foi difícil. Bastou ler, “Secadouro de Alcochete”, numa placa de azulejos, na entrada da tal quinta que já viu melhores dias.
Ao longe, a Ponte Vasco da Gama, domina a paisagem. Aqui perto, de um lado e de outro, é o rio e a areia que imperam. Mais à frente, como um ariete no rio, o farolim de Alcochete é guia costeiro das embarcações fluviais.
A chamada “Seca do Bacalhau”, aqui estabelecida, corresponde às antigas instalações industriais atribuídas às salinas onde,durante décadas, se procedeu à salga e secagem do bacalhau proveniente da Terra Nova.
Estas fábricas dependiam diretamente da produção de sal das salinas vizinhas. O espaço, hoje integrado na Reserva Natural, é atravessado por trilhos pedestres e habitat de várias espécies de aves.
A interligação entre a indústria do peixe e a exploração salineira encontrava aqui um forte elo, enquanto durou a actividade da frota bacalhoeira portuguesa, cuja actividade cessou em 1974.
Embora desativadas desde 1990, as ruínas existentes constituem um importante testemunho histórico e patrimonial. Porém, nos edifícios é sobretudo a probabilidade de derrocada que contribui para a perigosidade do espaço.
Fora, os dispositivos de seca, que também parecem obstáculos antitanque ;-)), formam um conjunto quase artístico, estruturas construídas em betão armado com ferro e arame galvanizado.
Talvez possa ser esse o elegante legado, um símbolo da antiga actividade de seca do bacalhau. E, é possivel que, a curto/médio prazo, as ruínas sejam substituídas por um projecto de reconversão que prevê um grande complexo turístico no local.


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