quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

O Caminho Até Aqui


Na adolescência, o Aikido era apenas uma palavra distante e misteriosa. Raros o praticavam, poucos o conheciam, ninguém o via. Um colega de liceu era a excepção, mas estava ainda no início do Caminho.




Um dia, aos cinquenta anos, vi entrar num pavilhão um estranho grupo de praticantes. E assisti à demonstração. Movimentos suaves, firmes, quase poéticos. Havia ali ciência e arte, energia e leveza. Conhecia a ACPA.


Fiquei curioso: poderia eu também aprender? Quem lá estava: jovens, idosos, todos fluíam. Pensei: chego tarde, mas ainda a tempo. Onde praticar? Seria mais perto e mais familiar do que eu supunha.

Descobri o Dojo numa cave, com tapetes que tingiam o Gi. O Mestre, já septuagenário, ensinava com calma e rigor. E foram três meses de treino a dois, um privilégio raro.

Chegaram novos praticantes e o primeiro sarau. Senti-me parte de algo maior. Mas uma lesão no basquetebol obrigou-me a parar. Sete meses de pausa, sete meses de espera.

Voltei ao Dojo, mais prudente, mas também mais determinado. Vieram encontros, estágios, exames. Agora num espaço maior e mais digno, o Dojo crescia em praticantes e eu em motivação.

A Hakama marcou um novo patamar. E uma nova queda. O chão e o ombro encontraram-se violentamente. Outro hiato, mais fisioterapia, mais paciência. Mas o Caminho não se perde, apenas muda o ritmo.

Retomei o treino, passo a passo, com humildade e atenção. O corpo aprende, a mente desperta, a vontade sustenta. Chegou o Primeiro Dan, conquista e renascimento.

O Japão cruzou-se no meu percurso, juntando prática e cultura, em Tóquio e em Kamakura. Uma hora eterna de prática no Hombu Dojo da Aikikai, é outro privilégio, o de aprender na fonte.


Também estive com a Federação. A juntar as mesmas vontades e práticas diferentes. Pelo bem de todos. Excelente tempo de aprendizagem, do que fazer e do que não fazer.




A hipótese de ensinar surgiu no Caminho. Ensinar tornou-se a continuação natural do aprender. O aluno dá (também) lugar ao instrutor. Partilho o que recebi, repito o que aprendi, transmito o que compreendi.

A pandemia implicou mudanças. Transformou salas em parques e casas em Dojos. O Aikido resistiu e adaptou-se a novos espaços. Muitos aprenderam armas em meses o que demorava anos.

Recuperado o bem-estar, o regresso aos Dojos foi lento mas constante. Pouco a pouco, a magia do Aikido reforçou vontades e estimulou o Caminho. A cerveja também ajuda.

Hoje, há tantos ou mais praticantes do que naquela época, e mais eventos. Continuo, com amigos, Mestres e alunos, no mesmo Caminho, o bom Caminho do Aikido.

Dezoito anos depois de começar, a maioridade da prática é tão deliciosa como responsável, tão festiva como profícua.





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