Vamos ao longo das portadas quinhentistas da rua de Santa Maria. Passamos pela Praça de Camões, deixamos o Centro de Interpretação do Bordado e trepamos para o Museu Cargaleiro.
Procuramos a entrada, num edifíco que parecia barroco, e descobrimos outra, num edifício vanguardista bem enquadarado na zona antiga de Castelo Branco. Entramos neste último.
Estamos prontos a espantarmo-nos. A cor, as formas e a diversidade aparecem de imediato. Mas, não só. Percebem-se algumas interacções entre perspectivas, modalidades e mesmo durações.
Embora a pintura pareça surgir como central na expsição, foi a cerâmica que o iniciou na arte. O desenho, a escultura, a gravura, sobretudo, também lá estão. Todavia, é realmente a pintura que o destaca.
Principalmente a partir do início dos anos 50, tal como na cerâmica, onde a representação do concreto deu origem a uma maior imaterialização, a pintura também foi apresentando cada vez mais abstração.
Em meados dos anos 50, quando se fixa em Paris, é notório que se encontram mais “motivos abstratos de contornos definidos, signos e geometrias, cores fortes e pinceladas gestuais”.
Ainda longe dos conceitos digitais que a informática divulgaria anos mais tarde, as obras de Cargaleiro passam a mostrar “estruturas geométricas mais elaboradas, aliadas a ritmos de linhas gestualistas numa dinâmica raionista”.
O que melhor se conhece de Cargaleiro é da sua adesão ao raionismo - expressão de imagens abstratas através de raios de luz - que o pintor representou através de “pinceladas espessas, manchas expressivas e o jogo de raios de luz e linhas de cores vibrantes”.
A geometria está representada permanentemente nas usas obras. Por vezes, compõe-na com elementos figurativos e abstractos. Outras vezes, integra pinceladas instintivas na rede geométrica primordial.
Os motivos florais, que surgem quer em cerâmica, quer em tela, são significativos na escolha da natureza como motivo principal e fonte de inspiração de Cargaleiro. Na exposição, além das obras em tela, há suportes em madeira, papel e cerâmica.
“Estrela do Norte” e “Pássaros da Noite”, óleo sobre platex, ou “Estrela do Mar”, guache sobre papel - o guache está muito representado, mesmo sobre cartão - ou “Poema de José Tolentino de Mendonça”, óleo sobre tela, são algumas das obras emblemáticas.
Vale a pena lá ir. É tempo de observação, deleite e relaxe, talvez ainda de comparação. Por vezes, surge a ideia de que o contacto com Vieira da Silva, também lhe estimulou a criatividade, o traço e a geometria.



















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